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O PARAÍSO?
Maldivas.
Para uns o arquétipo do céu na terra, onde peixes exóticos jorram de recifes banhados por mares de esmeraldas cristalinas. Para outros, um mero grupo de calhaus de origem vulcânica no meio do nada, desprovido de interesse, isolados num profundo aborrecimento e polvilhados de letargia inútil.
Para mim, o meu primeiro paraíso. Dos destinos tropicais por onde passei até hoje, foi o primeiro que teve o condão de me provocar arrepios de felicidade cada vez que saia do bungalow e pisava a areia que me acariciava os pés com a sua textura incrivelmente suave e finíssima. Ou quando o meu olhar se perdia no verde incrivelmente translúcido e opalino daquelas águas. Longe de tudo e (quase) todos.
O primeiro destino que me fez desejar que, caso o paraíso exista, o tenham feito à sua imagem.
Para mim, foi como que um primeiro degrau de paraíso que é necessário trepar, até um dia atingir o Santo Graal que será viajar até à Polinésia Francesa, e deliciar-me com a beleza etérea de Moorea, Bora Bora ou Taiti, enquanto me trazem o pequeno almoço de barco ao meu bungalow de água. Como degustar vinhos gradualmente melhores, até um dia ter um palato suficientemente maduro para saber apreciar aquela reserva daquele ano especial, que todos os especialistas dizem que é O melhor vinho que há. Sou uma pessoa de gostos simples, mas todos nós temos um pequeno guilty pleasure hedonista escondido algures nos meandros do nosso ser
A INSPIRAÇÃO
Tenho dentro de mim um desejo insaciável de conhecer novos lugares, pessoas que me inspirem e que me encham a alma e me digam algo. Quanto mais conheço, mais a natureza do mundo e a natureza das pessoas me mostram quão pequenos somos, e quão mais humildes devemos ser. Que grão irrelevante somos no planeta fantástico criado pela natureza, quão triviais e irrelevantes são muitos dos nossos problemas, quando comparados com outras realidades, umas vezes longínquas, outras vezes nem tanto. Conhecer o mundo ajudou-me a perceber melhor o meu lugar nele.
Não poucas vezes, ainda estou num destino e já oiço as engrenagens do meu cérebro a engendrarem qual será o próximo. A juntar a isso, tenho sempre muito presente a noção a que alguns se referem como Carpe Diem, ou seja, nunca sabemos o dia de amanhã ou quanto mais tempo temos neste planeta. Com a areia esvaindo-se aos poucos, a minha ampulheta subconsciente mantém-me em sentido para aproveitar a vida, sem urgências ou pressas, mas com consciência qb de que isto não é um free pass permanente. Como tal, e como ainda me faltam várias das minhas viagens de sonho, por norma e pelo menos para já, ainda regresso muito pouco a destinos onde tenha estado, por muito que me tenha apaixonado por esses locais. Há tanto ainda por ver. É um pouco como na leitura: adoraria ler novamente alguns dos meus livros favoritos, mas ao mesmo tempo tenho tantos outros que estou em pulgas para ler!
A RETROSPECTIVA
Como já tive oportunidade de partilhar convosco antes no meu report de Maldivas 2012, a minha primeira viagem em 2004 às Maldivas foi feita em condições muito especiais, após uma longa poupança com esse objetivo e praticamente numa abordagem de viagem “é uma vez na vida”. Isto alimentou de forma intensa todas as emoções que nos inundavam à medida que viajávamos para as Maldivas nesse ano, enquanto lá estivemos, e mais ainda quando de lá tivemos que sair.
Quis a boa sorte, à mistura com perseverança pessoal, que a vida entretanto me permitisse lá regressar em 2012, cumprindo outro sonho de lá levar a minha filhota aventureira. Pasmámos juntos com a beleza das praias, passámos horas juntos dentro de água, fizemos corridas de caranguejos e nadámos de mãos dadas enquanto acompanhávamos as tartarugas. Ri-me perdidamente enquanto a ouvia trauteando alegremente pelo tubo de snorkelling enquanto admirávamos “nemos” nas suas anémonas, agitados com as nossas figuras gigantes e desajeitadas, pairando sobre as suas casas. Pasmámos nervosos e excitados enquanto tubarões adultos de ponta preta passavam por nós, aparentemente desinteressados.
Podendo, não é difícil arranjar motivos para voltar. Cada vez mais, tenho por norma escolher o destino não só pelo que é, pelo que permite ver, mas também pelas experiências que me pode proporcionar e a quem viaja comigo. Penso que faz parte da nossa evolução como viajantes, mas também como pessoas. Quando olho para trás e comparo o meu perfil de viajante de hoje com o meu perfil de turista de há 15 anos, olho também para quão diferente sou hoje como pessoa do que era há 15 anos. E quanto isso se reflete nas escolhas que faço hoje em dia. Reconhecer esta evolução em nós, revisitar defeitos e caprichos passados ajuda-nos e compreender melhor as pessoas, a criar empatia com as mesmas e a julgar cada vez menos os outros. Com esta evolução, e mais uma vez fazendo uma retrospetiva, sinto-me também mais feliz comigo mesmo, reconhecendo mais os defeitos próprios e sendo menos irritável com as pequenas falhas dos outros, sejam as pessoas do nosso dia a dia, sejam as que encontramos quando viajamos. Desta vez, entre visitar as Maurícias pela primeira vez, fazer um muito desejado regresso às Seychelles (onde já temos novo itinerário planeado) ou regressar às Maldivas, ganhou este último. As Maurícias perderam derivado acima de tudo aos preços superiores dos voos, bem como à distância adicional em termos de horas, algo que não ajudou.
Porquê então regressar, pela terceira vez, a um destino algo unidimensional, ainda que espetacular nessa dimensão?
O MOTIVO
Este vídeo ajuda a explicar mais um pouco, acima de tudo a partir dos 30 segundos.
Como fã acérrimo da mãe natureza e de toda a incrível fauna e flora com que o nosso planeta foi brindado, há já alguns anos que venho desenvolvendo uma admiração especial por um animal em particular: o tubarão baleia. Este gentil gigante dos nossos oceanos, o maior peixe do mundo (a baleia azul, maior, é um mamífero, não peixe) e o maior dos tubarões que pode chegar a medir 18 metros e a pesar 13 toneladas, tem vindo a fomentar em mim um interesse especial em conhecer melhor esta maravilha da natureza.
Há outros locais com maiores probabilidades de avistamento, inclusivamente alguns quase 100% garantidos em certas alturas do ano (como por exemplo próximo de Isla Mujeres no México no Verão) mas tendo ido já duas vezes ao México e tendo visto já muito do que há para ver, não tinha muita vontade de lá voltar desta vez. Especialmente neste Verão, uma vez já tínhamos planeado que o Verão seria dedicado a uma roadtrip por Itália ou safari em Africa.
A esta nova viagem às Maldivas, juntou-se outro fator muito interessante e para nós inédito: o facto de apadrinharmos a primeira viagem às Maldivas de uma família amiga que conhecemos numa viagem anterior ao Brasil. Esta amizade foi crescendo ao ponto de fazermos uma viagem destas juntos.
A RESERVA
Roteiro: Lisboa > Dubai > Malé
Tempo de voo: Lisboa > Dubai: 8h. Dubai > Malé: 4h
Companhia aérea: Emirates
Hotel: Holiday Island Resort + 2 dias de visita ao Sun Island Resort
Transfer: Avioneta (25 mins) + Barco (5 mins)
Tempo completo “porta a porta”: cerca de 21 horas
Noites: 8 em meia pensão (pensão completa não compensava para nós)
Marcação: acabei por marcar com a Top Atlântico de Miraflores, onde tenho já de há alguns anos muitíssimas boas referências e experiência, em particular num certo ano em que me desenrascaram à ultima hora. Comecei por marcar esta viagem por conta própria, mas quando comecei a somar tudo, incluindo os impostos locais que não fazem parte dos preços do booking.com nas Maldivas, mais os preços dos transferes de avião, vi que fazia mais sentido ir por esta agência, já que tinham um pacote para a zona/hotel que eu pretendia com preços mais baixos para aquela que é, infelizmente, uma das semanas mais caras do ano.
Período: época alta, uma das semanas mais caras do ano (semana da Páscoa que termina no Domingo de Páscoa).
Custo: 5.800 EUR (3 pessoas) Se fosse 2 ou 3 semanas depois, o preço por pessoa rondava uns meros 1.300 EUR/pessoa ao invés de cerca de 1.900 EUR.
A ESCOLHA
Voltando às Maldivas, um pequeno problema é que quase todos os hotéis no South Ari atol que tinham estes tours ou eram caríssimos ou já estavam cheios na semana em que podíamos viajar. O ideal seria por exemplo o fabuloso Conrad Maldives Rangali Island quefaz parte do programa de pesquisa e conservação do tubarão baleia nas Maldivas (MWSRP), mas quando vi os preços, tive uma aguda dor de dentes, acompanhada de uma súbita quebra de tensão e uma incontrolável vontade de ir a correr para a casa de banho, tudo ao mesmo tempo. Preços ...proibitivos, para ser simpático.
Depois de muito procurar, os únicos resorts que tinham preços aceitáveis, disponibilidade, que estavam na zona que eu pretendia, tinham zonas de praia bonitas e snorkelling de alguma qualidade eram principalmente o Holiday Island Resort, e alternativamente o Sun Island Resort. Era muito importante que tivessem boa praia e algum snorkelling, na medida em que queríamos umas férias de qualidade na mesma, naturalmente que valessem o dinheiro, independentemente do resultado da busca pela tubarão baleia. Sim, porque já nessa altura tinha a consciência que isto de procurar animais selvagens que não querem ser encontrados acarreta um certo risco que a pessoa tem que compreender e aceitar, logo à priori.
Ambos os hotéis dispunham de dois tours por semana para o tubarão baleia. Entre os dois (Holiday ou Sun) o Sun Island aparentava ter uma das zonas de praia/areais mais bonitos das Maldivas mas tirando isso, era demasiado grande para o meu gosto (ao ponto de serem necessárias bicicletas para deslocações na ilha), as muitas reviews (no tripadvisor e inclusive aqui no fórum) falavam na quantidade insana de russos que para lá iam e que, regra geral, não era muito bem comportados, criticava-se a o excesso de desportos motorizados que cortava a aura de tranquilidade que se busca nas Maldivas, bem como a comida de muita quantidade mas pouca qualidade. As opções de snorkelling também pareciam excessivamente escassas nessa ilha.
A juntar a isso, o Holiday e o Sun distam uns meros 10 minutos de barco um do outro. Como pertencem ao mesmo grupo hoteleiro, ambos dispõem de vários transferes diários grátis para os convidados de ambos os hotéis poderem visitar a outra ilha. Isto abria uma possibilidade muito interessante de também ficar a conhecer a Sun Island, mesmo não estando alojado lá (ou vice-versa, para quem prefira o Sun).
Assim, finalmente optámos pelo Holiday Island como ilha principal e fizemos logo planos de ir um ou dois dias à outra ilha.
A VIAGEM
Como já tive oportunidade de referir noutros reports das Maldivas, a Emirates apresentou mais uma vez uma boa qualidade para estes voos de longo curso: os aviões confortáveis do costume, boa seleção de filmes, razoável comida, peluches e lápis de pintar para as crianças e pontualidade razoável. Nos últimos 4 anos, viajei 3 vezes com a Emirates pelo Dubai, em trânsito para outros destinos. De cada vez que chego ao aeroporto do Dubai, há sempre grandes alterações e mal reconheço certas zonas, tal a sua evolução a cada ano que passa. Novas e cada vez mais longas pistas, terminais, etc. Estão de facto empenhados em serem o principal hub que liga o mundo ocidental ao mundo oriental. Haja petróleo.
Ao contrário de anos anteriores, este transfer no Dubai assumiu contornos quase dramáticos. Apesar de o avião de Lisboa ter aterrado no Dubai com apenas 20 minutos de atraso, o nosso tempo de ligação algo reduzido (1h e 30m) não nos deixava tempo para engonhar. Arrastando o pessoal todo meio ensonado por não ter dormido nada de jeito no avião, seguimos com eficiência e rapidez as indicações para o nosso terminal, mas nunca mais chegávamos. Quase 30 minutos haviam passado e após uma curva, verificamos que depois de tudo o que tínhamos andado, ainda tínhamos que apanhar um shuttle para chegar à nossa porta. O embarque já tinha começado, de acordo com os painéis. Argh! O que vale é que costumam ser sempre aviões grandes e o embarque demora. Passados 45 minutos, chegamos finalmente à porta de embarque e somos dos últimos a embarcar. Estamos suados, peganhentos e agora bem acordados.
Detenho-me uns segundos a pensar que alguém que tivesse vindo um pouco mais lentamente ou que se tenha detido um pouco numa loja ou casa de banho não terá chegado a tempo. Não faz sentido nenhum um tempo de ligação tão curto quando se atribui uma porta tão longínqua a voos de ligação, mas enfim... companhias aéreas grandes e aeroportos enormes. À medida que nos aproximamos de Malé, começa a sentir-se no avião o burburinho daqueles que avistam pela primeira vez os nenúfares maldivianos, ilhas e atóis que pintam o oceano Índico num quadro surreal até então apenas uma miragem em revistas e panfletos.
Começa então a batalha: toda a gente do avião disparando para baixo, as máquinas fotográficas em ação frenética, com uma trovoada de flashes a ressoar pelo avião, os passageiros a encavalitarem-se uns nos outros, tão escassas e preciosas parecem agora as janelas. Já tinha preparado os amigos que connosco viajam para este momento, pelo que são dos primeiros a registar estes momentos.
Como apaixonado confesso pelas Maldivas, o meu olhar mergulha uma vez mais no azul profundo do mar e perco-me por entre os rasgos das ilhas coralinas. Algumas, já se sabe, cobertas agora pelo manto oceânico que, lenta mas gradualmente vai subindo o seu nível. Outras, resistem estoicamente a este avanço, impedindo que o mar engula para sempre estas pequenas maravilhas. Aterramos em Malé no horário previsto, e somos envolvidos pelo sufocante, mas igualmente desejado bafo húmido, tão típico destas latitudes. O sol dá-nos as boas vindas como que anunciando que já falta pouco.
Não nos entregaram no avião os papéis da imigração para preencher (falha da Emirates, em minha opinião), pelo que à chegada, é cada um por si para tentar agarrar os últimos formulários que estão nas bancadas. Sejam rápidos e assertivos, mas pela vossa dignidade, não atropelem ninguém, nem se chateiem por outros terem ficado com os últimos impressos, como vi acontecer. Perguntem e peçam aos (ahem) oficiais de emigraçãoque porali andam perdidos. Durante largos minutos, ninguém tem formulários que possam preencher e há muita gente à espera, alguma confusão, totalmente desnecessária num país tão habituado a turistas. Passado meia hora, tudo tranquilo, regularizado e o pessoal segue para ir buscar as malas.
O nosso transfer para a ilha faz-se através de um pequeno avião da Maldivian Airlines, que nos levará à pequena pista do mini aeroporto da ilha Maamigili, de onde é possível avistar a nossa ilha. Uma hora de espera, mais 30 minutos de novo voo, que provoca nova corrida às fotografias das ilhas que desfilam por baixo de nós.
Chegados ao Villa International Airport em Maamigili (não é mais do que um pequeno pavilhão de rés do chão que mais parece uma loja de souvenirs), somos transportados por um dhoni para a nossa ilha (típico barco maldivano, muito utilizado nestas deslocações dos turistas). Há pessoal que vai para o Sun Island Resort faz exatamente o mesmo trajeto que nós, só que apanham um dhoni diferente que segue diretamente para a Sun Island. Deixam-nos na nossa ilha (trajeto de 5 minutos). Está um calor absolutamente tórrido, mas ninguém se queixa. Estamos todos demasiado ocupados a ficar embasbacados.
O resort dá a sensação de se situar no centro de uma gigantesca piscina oceânica. Mesmo sendo a terceira vez que venho para estas paragens e tendo já visto algumas das praias mais bonitas do nosso planeta, arrepios percorrem-me a espinha, tal a beleza deste mosaico transparente criado pelo mar e luz solar. Sem nenhum coral ou alga que polua esta visão, o oceano é um manto uniforme e imperturbado de verde esmeralda a perder de vista.
O hotel quase parece uma miragem, visto do fim do embarcadouro, tão visíveis que são as deformações provocadas pelas ondas de calor na estrutura retilínea do mesmo. Só pensamos no momento em que faremos a primeira bomba para dentro de água, embora já haja alguma fome à mistura.
O nosso horário é fenomenal. Pouco passa do meio dia e já estamos na ilha, preparados para uma banhoca. Normalmente, o primeiro dia pauta-se por uma chegada tardia, quanto muito por volta das 16:00/17:00, por vezes até pior. O nosso horário de saída será igualmente excelente: o vôo é às 23:00 em Malé, pelo que a saída da ilha será por volta das 19:00, o que nos confere praticamente o ultimo dia inteiro para gozar a ilha. Wohoo!
Maldivas.
Para uns o arquétipo do céu na terra, onde peixes exóticos jorram de recifes banhados por mares de esmeraldas cristalinas. Para outros, um mero grupo de calhaus de origem vulcânica no meio do nada, desprovido de interesse, isolados num profundo aborrecimento e polvilhados de letargia inútil.
Para mim, o meu primeiro paraíso. Dos destinos tropicais por onde passei até hoje, foi o primeiro que teve o condão de me provocar arrepios de felicidade cada vez que saia do bungalow e pisava a areia que me acariciava os pés com a sua textura incrivelmente suave e finíssima. Ou quando o meu olhar se perdia no verde incrivelmente translúcido e opalino daquelas águas. Longe de tudo e (quase) todos.
O primeiro destino que me fez desejar que, caso o paraíso exista, o tenham feito à sua imagem.
Para mim, foi como que um primeiro degrau de paraíso que é necessário trepar, até um dia atingir o Santo Graal que será viajar até à Polinésia Francesa, e deliciar-me com a beleza etérea de Moorea, Bora Bora ou Taiti, enquanto me trazem o pequeno almoço de barco ao meu bungalow de água. Como degustar vinhos gradualmente melhores, até um dia ter um palato suficientemente maduro para saber apreciar aquela reserva daquele ano especial, que todos os especialistas dizem que é O melhor vinho que há. Sou uma pessoa de gostos simples, mas todos nós temos um pequeno guilty pleasure hedonista escondido algures nos meandros do nosso ser
A INSPIRAÇÃO
Tenho dentro de mim um desejo insaciável de conhecer novos lugares, pessoas que me inspirem e que me encham a alma e me digam algo. Quanto mais conheço, mais a natureza do mundo e a natureza das pessoas me mostram quão pequenos somos, e quão mais humildes devemos ser. Que grão irrelevante somos no planeta fantástico criado pela natureza, quão triviais e irrelevantes são muitos dos nossos problemas, quando comparados com outras realidades, umas vezes longínquas, outras vezes nem tanto. Conhecer o mundo ajudou-me a perceber melhor o meu lugar nele.
Não poucas vezes, ainda estou num destino e já oiço as engrenagens do meu cérebro a engendrarem qual será o próximo. A juntar a isso, tenho sempre muito presente a noção a que alguns se referem como Carpe Diem, ou seja, nunca sabemos o dia de amanhã ou quanto mais tempo temos neste planeta. Com a areia esvaindo-se aos poucos, a minha ampulheta subconsciente mantém-me em sentido para aproveitar a vida, sem urgências ou pressas, mas com consciência qb de que isto não é um free pass permanente. Como tal, e como ainda me faltam várias das minhas viagens de sonho, por norma e pelo menos para já, ainda regresso muito pouco a destinos onde tenha estado, por muito que me tenha apaixonado por esses locais. Há tanto ainda por ver. É um pouco como na leitura: adoraria ler novamente alguns dos meus livros favoritos, mas ao mesmo tempo tenho tantos outros que estou em pulgas para ler!
A RETROSPECTIVA
Como já tive oportunidade de partilhar convosco antes no meu report de Maldivas 2012, a minha primeira viagem em 2004 às Maldivas foi feita em condições muito especiais, após uma longa poupança com esse objetivo e praticamente numa abordagem de viagem “é uma vez na vida”. Isto alimentou de forma intensa todas as emoções que nos inundavam à medida que viajávamos para as Maldivas nesse ano, enquanto lá estivemos, e mais ainda quando de lá tivemos que sair.
A caminho do Kuredu, Maldivas 2004
Quis a boa sorte, à mistura com perseverança pessoal, que a vida entretanto me permitisse lá regressar em 2012, cumprindo outro sonho de lá levar a minha filhota aventureira. Pasmámos juntos com a beleza das praias, passámos horas juntos dentro de água, fizemos corridas de caranguejos e nadámos de mãos dadas enquanto acompanhávamos as tartarugas. Ri-me perdidamente enquanto a ouvia trauteando alegremente pelo tubo de snorkelling enquanto admirávamos “nemos” nas suas anémonas, agitados com as nossas figuras gigantes e desajeitadas, pairando sobre as suas casas. Pasmámos nervosos e excitados enquanto tubarões adultos de ponta preta passavam por nós, aparentemente desinteressados.
Filitheyo, Maldivas 2012
Podendo, não é difícil arranjar motivos para voltar. Cada vez mais, tenho por norma escolher o destino não só pelo que é, pelo que permite ver, mas também pelas experiências que me pode proporcionar e a quem viaja comigo. Penso que faz parte da nossa evolução como viajantes, mas também como pessoas. Quando olho para trás e comparo o meu perfil de viajante de hoje com o meu perfil de turista de há 15 anos, olho também para quão diferente sou hoje como pessoa do que era há 15 anos. E quanto isso se reflete nas escolhas que faço hoje em dia. Reconhecer esta evolução em nós, revisitar defeitos e caprichos passados ajuda-nos e compreender melhor as pessoas, a criar empatia com as mesmas e a julgar cada vez menos os outros. Com esta evolução, e mais uma vez fazendo uma retrospetiva, sinto-me também mais feliz comigo mesmo, reconhecendo mais os defeitos próprios e sendo menos irritável com as pequenas falhas dos outros, sejam as pessoas do nosso dia a dia, sejam as que encontramos quando viajamos. Desta vez, entre visitar as Maurícias pela primeira vez, fazer um muito desejado regresso às Seychelles (onde já temos novo itinerário planeado) ou regressar às Maldivas, ganhou este último. As Maurícias perderam derivado acima de tudo aos preços superiores dos voos, bem como à distância adicional em termos de horas, algo que não ajudou.
Porquê então regressar, pela terceira vez, a um destino algo unidimensional, ainda que espetacular nessa dimensão?
O MOTIVO
Este vídeo ajuda a explicar mais um pouco, acima de tudo a partir dos 30 segundos.
Foto tirada da internet
Quis o meu ouvido esquerdo desenvolver características particulares que me impedem de fazer mergulho ou de mergulhar a profundidades superiores a 4/5 metros (a menos que eu tenha prazer que o meu tímpano rebente ou tenha dores incríveis). Não há truque de equalização de ouvidos que aguente. Assim, vendo-me limitado ao snorkelling (que ainda assim é capaz de proporcionar experiências incríveis), nadar ao lado de tubarões baleia é uma dessas experiências que figuram no topo da minha lista. Neste processo de aferir se e onde seria possível nadar com o tubarão baleia, comecei a analisar quais os sítios no mundo onde há maiores probabilidades de ser ver o animal enquanto se faz snorkelling (e não mergulho de botija), em que altura do ano, em que condições, distâncias, etc. Verifiquei com agrado que as Maldivas, e em particular na zona do atol South Ari, é um local onde há frequentes avistamentos durante todo o ano, e que haviam hotéis com tours regulares para este efeito.Há outros locais com maiores probabilidades de avistamento, inclusivamente alguns quase 100% garantidos em certas alturas do ano (como por exemplo próximo de Isla Mujeres no México no Verão) mas tendo ido já duas vezes ao México e tendo visto já muito do que há para ver, não tinha muita vontade de lá voltar desta vez. Especialmente neste Verão, uma vez já tínhamos planeado que o Verão seria dedicado a uma roadtrip por Itália ou safari em Africa.
A esta nova viagem às Maldivas, juntou-se outro fator muito interessante e para nós inédito: o facto de apadrinharmos a primeira viagem às Maldivas de uma família amiga que conhecemos numa viagem anterior ao Brasil. Esta amizade foi crescendo ao ponto de fazermos uma viagem destas juntos.
A RESERVA
Roteiro: Lisboa > Dubai > Malé
Tempo de voo: Lisboa > Dubai: 8h. Dubai > Malé: 4h
Companhia aérea: Emirates
Hotel: Holiday Island Resort + 2 dias de visita ao Sun Island Resort
Transfer: Avioneta (25 mins) + Barco (5 mins)
Tempo completo “porta a porta”: cerca de 21 horas
Noites: 8 em meia pensão (pensão completa não compensava para nós)
Marcação: acabei por marcar com a Top Atlântico de Miraflores, onde tenho já de há alguns anos muitíssimas boas referências e experiência, em particular num certo ano em que me desenrascaram à ultima hora. Comecei por marcar esta viagem por conta própria, mas quando comecei a somar tudo, incluindo os impostos locais que não fazem parte dos preços do booking.com nas Maldivas, mais os preços dos transferes de avião, vi que fazia mais sentido ir por esta agência, já que tinham um pacote para a zona/hotel que eu pretendia com preços mais baixos para aquela que é, infelizmente, uma das semanas mais caras do ano.
Período: época alta, uma das semanas mais caras do ano (semana da Páscoa que termina no Domingo de Páscoa).
Custo: 5.800 EUR (3 pessoas) Se fosse 2 ou 3 semanas depois, o preço por pessoa rondava uns meros 1.300 EUR/pessoa ao invés de cerca de 1.900 EUR.
A ESCOLHA
Voltando às Maldivas, um pequeno problema é que quase todos os hotéis no South Ari atol que tinham estes tours ou eram caríssimos ou já estavam cheios na semana em que podíamos viajar. O ideal seria por exemplo o fabuloso Conrad Maldives Rangali Island quefaz parte do programa de pesquisa e conservação do tubarão baleia nas Maldivas (MWSRP), mas quando vi os preços, tive uma aguda dor de dentes, acompanhada de uma súbita quebra de tensão e uma incontrolável vontade de ir a correr para a casa de banho, tudo ao mesmo tempo. Preços ...proibitivos, para ser simpático.
Depois de muito procurar, os únicos resorts que tinham preços aceitáveis, disponibilidade, que estavam na zona que eu pretendia, tinham zonas de praia bonitas e snorkelling de alguma qualidade eram principalmente o Holiday Island Resort, e alternativamente o Sun Island Resort. Era muito importante que tivessem boa praia e algum snorkelling, na medida em que queríamos umas férias de qualidade na mesma, naturalmente que valessem o dinheiro, independentemente do resultado da busca pela tubarão baleia. Sim, porque já nessa altura tinha a consciência que isto de procurar animais selvagens que não querem ser encontrados acarreta um certo risco que a pessoa tem que compreender e aceitar, logo à priori.
Ambos os hotéis dispunham de dois tours por semana para o tubarão baleia. Entre os dois (Holiday ou Sun) o Sun Island aparentava ter uma das zonas de praia/areais mais bonitos das Maldivas mas tirando isso, era demasiado grande para o meu gosto (ao ponto de serem necessárias bicicletas para deslocações na ilha), as muitas reviews (no tripadvisor e inclusive aqui no fórum) falavam na quantidade insana de russos que para lá iam e que, regra geral, não era muito bem comportados, criticava-se a o excesso de desportos motorizados que cortava a aura de tranquilidade que se busca nas Maldivas, bem como a comida de muita quantidade mas pouca qualidade. As opções de snorkelling também pareciam excessivamente escassas nessa ilha.
Vista no Holiday Island Resort, a partir do ancoradouro
Por outro lado, o Holiday Island tinha uma ponta e parte do lado da ilha nada bonita (virada para a pequena ilha em frente onde aterram os pequenos aviões que trazem as pessoas para o Holiday e Sun Island), e a nível de hotel não parecia nada de espetacular. No entanto, tirando isso, era uma ilha muito mais pequena, parecia ter o outro lado da ilha todo pautado por uma praia fenomenal, várias referências a snorkelling bastante aceitável, um ambiente muito mais tranquilo e algo muito importante para nós que viajamos com crianças, referências consistentes a comida boa.
A juntar a isso, o Holiday e o Sun distam uns meros 10 minutos de barco um do outro. Como pertencem ao mesmo grupo hoteleiro, ambos dispõem de vários transferes diários grátis para os convidados de ambos os hotéis poderem visitar a outra ilha. Isto abria uma possibilidade muito interessante de também ficar a conhecer a Sun Island, mesmo não estando alojado lá (ou vice-versa, para quem prefira o Sun).
Assim, finalmente optámos pelo Holiday Island como ilha principal e fizemos logo planos de ir um ou dois dias à outra ilha.
A VIAGEM
Como já tive oportunidade de referir noutros reports das Maldivas, a Emirates apresentou mais uma vez uma boa qualidade para estes voos de longo curso: os aviões confortáveis do costume, boa seleção de filmes, razoável comida, peluches e lápis de pintar para as crianças e pontualidade razoável. Nos últimos 4 anos, viajei 3 vezes com a Emirates pelo Dubai, em trânsito para outros destinos. De cada vez que chego ao aeroporto do Dubai, há sempre grandes alterações e mal reconheço certas zonas, tal a sua evolução a cada ano que passa. Novas e cada vez mais longas pistas, terminais, etc. Estão de facto empenhados em serem o principal hub que liga o mundo ocidental ao mundo oriental. Haja petróleo.
Ao contrário de anos anteriores, este transfer no Dubai assumiu contornos quase dramáticos. Apesar de o avião de Lisboa ter aterrado no Dubai com apenas 20 minutos de atraso, o nosso tempo de ligação algo reduzido (1h e 30m) não nos deixava tempo para engonhar. Arrastando o pessoal todo meio ensonado por não ter dormido nada de jeito no avião, seguimos com eficiência e rapidez as indicações para o nosso terminal, mas nunca mais chegávamos. Quase 30 minutos haviam passado e após uma curva, verificamos que depois de tudo o que tínhamos andado, ainda tínhamos que apanhar um shuttle para chegar à nossa porta. O embarque já tinha começado, de acordo com os painéis. Argh! O que vale é que costumam ser sempre aviões grandes e o embarque demora. Passados 45 minutos, chegamos finalmente à porta de embarque e somos dos últimos a embarcar. Estamos suados, peganhentos e agora bem acordados.
Detenho-me uns segundos a pensar que alguém que tivesse vindo um pouco mais lentamente ou que se tenha detido um pouco numa loja ou casa de banho não terá chegado a tempo. Não faz sentido nenhum um tempo de ligação tão curto quando se atribui uma porta tão longínqua a voos de ligação, mas enfim... companhias aéreas grandes e aeroportos enormes. À medida que nos aproximamos de Malé, começa a sentir-se no avião o burburinho daqueles que avistam pela primeira vez os nenúfares maldivianos, ilhas e atóis que pintam o oceano Índico num quadro surreal até então apenas uma miragem em revistas e panfletos.
Começa então a batalha: toda a gente do avião disparando para baixo, as máquinas fotográficas em ação frenética, com uma trovoada de flashes a ressoar pelo avião, os passageiros a encavalitarem-se uns nos outros, tão escassas e preciosas parecem agora as janelas. Já tinha preparado os amigos que connosco viajam para este momento, pelo que são dos primeiros a registar estes momentos.
Como apaixonado confesso pelas Maldivas, o meu olhar mergulha uma vez mais no azul profundo do mar e perco-me por entre os rasgos das ilhas coralinas. Algumas, já se sabe, cobertas agora pelo manto oceânico que, lenta mas gradualmente vai subindo o seu nível. Outras, resistem estoicamente a este avanço, impedindo que o mar engula para sempre estas pequenas maravilhas. Aterramos em Malé no horário previsto, e somos envolvidos pelo sufocante, mas igualmente desejado bafo húmido, tão típico destas latitudes. O sol dá-nos as boas vindas como que anunciando que já falta pouco.
Não nos entregaram no avião os papéis da imigração para preencher (falha da Emirates, em minha opinião), pelo que à chegada, é cada um por si para tentar agarrar os últimos formulários que estão nas bancadas. Sejam rápidos e assertivos, mas pela vossa dignidade, não atropelem ninguém, nem se chateiem por outros terem ficado com os últimos impressos, como vi acontecer. Perguntem e peçam aos (ahem) oficiais de emigraçãoque porali andam perdidos. Durante largos minutos, ninguém tem formulários que possam preencher e há muita gente à espera, alguma confusão, totalmente desnecessária num país tão habituado a turistas. Passado meia hora, tudo tranquilo, regularizado e o pessoal segue para ir buscar as malas.
O nosso transfer para a ilha faz-se através de um pequeno avião da Maldivian Airlines, que nos levará à pequena pista do mini aeroporto da ilha Maamigili, de onde é possível avistar a nossa ilha. Uma hora de espera, mais 30 minutos de novo voo, que provoca nova corrida às fotografias das ilhas que desfilam por baixo de nós.
Chegados ao Villa International Airport em Maamigili (não é mais do que um pequeno pavilhão de rés do chão que mais parece uma loja de souvenirs), somos transportados por um dhoni para a nossa ilha (típico barco maldivano, muito utilizado nestas deslocações dos turistas). Há pessoal que vai para o Sun Island Resort faz exatamente o mesmo trajeto que nós, só que apanham um dhoni diferente que segue diretamente para a Sun Island. Deixam-nos na nossa ilha (trajeto de 5 minutos). Está um calor absolutamente tórrido, mas ninguém se queixa. Estamos todos demasiado ocupados a ficar embasbacados.
O resort dá a sensação de se situar no centro de uma gigantesca piscina oceânica. Mesmo sendo a terceira vez que venho para estas paragens e tendo já visto algumas das praias mais bonitas do nosso planeta, arrepios percorrem-me a espinha, tal a beleza deste mosaico transparente criado pelo mar e luz solar. Sem nenhum coral ou alga que polua esta visão, o oceano é um manto uniforme e imperturbado de verde esmeralda a perder de vista.
O hotel quase parece uma miragem, visto do fim do embarcadouro, tão visíveis que são as deformações provocadas pelas ondas de calor na estrutura retilínea do mesmo. Só pensamos no momento em que faremos a primeira bomba para dentro de água, embora já haja alguma fome à mistura.
O nosso horário é fenomenal. Pouco passa do meio dia e já estamos na ilha, preparados para uma banhoca. Normalmente, o primeiro dia pauta-se por uma chegada tardia, quanto muito por volta das 16:00/17:00, por vezes até pior. O nosso horário de saída será igualmente excelente: o vôo é às 23:00 em Malé, pelo que a saída da ilha será por volta das 19:00, o que nos confere praticamente o ultimo dia inteiro para gozar a ilha. Wohoo!
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