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[Report] Japão 2023 - Parte 1 - Kyoto e região

David sf

Membro Conhecido
O Japão nunca foi um dos países que mais me atraíam. Não sou fanático por sushi, não gosto muito de anime (mesmo em miúdo, lembro-me do Dragon Ball e do Tsubasa, mas creio que nunca vi mais nada de origem japonesa), nem de outras excentricidades da cultura “Otaku”, e sempre tive o preconceito de que era um país muito industrializado e urbanizado. Para além disso sabia o espaço urbano do Japão era muito amorfo, moderno e que quase tudo o que era histórico havia sido arrasado na II Guerra Mundial.

Só recentemente, após ver fotos de amigos que lá haviam estado e que me diziam de que eu iria gostar, e de ter estado a investigar um pouco, em fóruns e blogues, o preconceito que eu tinha contra o Japão se começou a desvanecer. Até que este ano, um pouco cansado de destinos sempre relativamente semelhantes na Europa, à procura de algo diferente, decidi que iria ao Japão.

A época do ano não era a ideal, julho marca a transição da época das chuvas (muitas vezes torrenciais e destrutivas – aconteceu este ano em regiões que não visitei) e o tórrido e húmido verão. No entanto, já tinha a data das férias marcada, e aproveitar uma época menos favorável permite também viajar com preços mais baixos e com menos confusão.

O Japão que encontrei acabou por me surpreender muito, e pela positiva. Mais do que o país altamente urbanizado com cidades desinteressantes e barulhentas que corresponde à impressão de que a maior parte dos ocidentais tem do Japão, encontrei vários locais, mesmo no interior de grandes cidades, que se assemelham mais a paraísos tropicais, com vasta vegetação, o som dos animais e o cheiro a floresta húmida.



Peculiaridades dos japoneses

Os japoneses são muito gentis, com uma humildade e grande respeito pelos outros, por vezes até excessivo. Por exemplo, quando o revisor entra ou sai de uma carruagem do comboio faz uma prolongada vénia aos passageiros. Quando o motorista de autocarro muda, também se vira para os passageiros e cumprimenta-os com uma vénia.



Vêem-se muitos miúdos, em uniforme escolar, mesmo aos fins de semana, não só nos transportes públicos, mas também nas diversas atracções turísticas. Costumam andar em grupo de 5 ou 6, e estão quase sempre em frente ao telemóvel ou a pentear ao milímetro todos os fios de cabelo das suas franjas.









Durante os dias quentes, uma grande quantidade de japoneses anda com o seu guarda-chuva aberto a proteger-se do Sol. Parece-me que para além de evitar o calor, o ideal de beleza da mulher japonesa passa pela extrema palidez, basta ver que as gueixas se pintam todas de branco. Chega ao extremo de estarem de guarda-chuva aberto à sombra, debaixo de um telheiro.





A fila para o jardim zoológico de Ueno, com vários guarda-chuva abertos:



Muitos andam de ventoinha portátil, apetrecho que alguns turistas também adoptaram:



Os japoneses têm também uma enorme facilidade para adormecerem. Qualquer viagem de 5 minutos é suficiente para que metade dos passageiros “passe pelas brasas”. Alguns, até de pé…





Apesar de serem uma sociedade muito automatizada, a necessidade de servir bem e de forma eficaz reflecte-se na manutenção de várias profissões que no ocidente estão praticamente extintas, entre as quais, polícias sinaleiros, chefes de estação, um auxiliar de megafone na paragem de autocarros a orientar os passageiros e até um senhor que simplesmente se coloca à frente da passadeira para impedir os peões de atravessar quando passa um autocarro.





 

David sf

Membro Conhecido
Muitos restaurantes, já têm menus eletrónicos, que permitem fazer o pedido através de tablet, máquinas à entrada ou até através da leitura de QR code no telemóvel. No entanto, o número de empregados em cada restaurante é superior ao que normalmente existe no ocidente, fazendo com que o processo seja extremamente eficaz. É por vezes complicado entrar no restaurante (há vários com filas, e é sempre preciso esperar por um empregado para indicar onde alguém se senta), mas a partir do momento em que se está sentado todo o processo é bastante rápido, muito raramente esperei mais do que 5 minutos pela comida, sendo que uma vez fui avisado que o serviço estava demorado e que iria esperar uns prolongados 10 minutos para que viesse a comida. No final, dão-nos um papel ou um cartão e paga-se à saída.







Gostei muito da comida japonesa, que assenta mais em ramen e massas (udon e soba), grelhados (feitos pelo cliente) e fritos (tempura e panados) do que em sushi. Direi até que a concentração de restaurantes de sushi numa cidade média japonesa é semelhante à concentração dos mesmos em Lisboa. Nota-se que, tal como acontece em Portugal, Itália e em praticamente mais nenhum país dos que já conheci, há um gosto pela culinária com qualidade e sabor em qualquer restaurante, mesmo nos mais básicos. Os preços são bastante acessíveis, no caso dos restaurantes de ramen ou de gestão familiar é perfeitamente possível jantar-se por 6 – 8€.



Quem quiser poupar ainda mais, pode sempre abastecer-se nas várias lojas de conveniência que existem em cada quarteirão das grandes cidades (7-11, Lawson, FamilyMart), que vendem comida já feita, com qualidade bastante razoável.



Nas estações de comboio vendem também umas caixinhas (chamadas bento) com comida (semelhante à do avião), para se comer nas viagens de Shinkansen.



Percurso

O percurso turístico típico (das agências de viagem) começa e termina em Tokyo, visitando Kyoto, Osaka, Hiroshima e, por vezes, a zona dos alpes japoneses e Kanazawa. Peguei nesse circuito e adaptei-o ao meu gosto:
  • Voei para Osaka em vez de Tokyo, ganhando assim o dia da viagem entre estas duas regiões;
  • Não visitei Osaka, achei que era redundante com Tokyo;
  • Adicionei a visita a Beppu na ilha de Kyushu (a ilha mais a Sul), desde Hiroshima;
  • Como gosto de montanha, prolonguei um pouco mais a estadia na zona dos alpes japoneses.
Resumidamente:
  • 4 noites em Kyoto;
  • 1 noite em Koyasan, vilarejo montanhoso a uns 100km de Kyoto, lugar sagrado para um dos cultos budistas dominantes no Japão;
  • 1 noite na ilha de Myiajima (em frente a Hiroshima), para poder desfrutar do ambiente calmo da ilha após os turistas do continente saírem;
  • 1 noite em Hiroshima;
  • 2 noites em Kanazawa;
  • 2 noites em Toyama, próximo de Kanazawa, mas próximo da entrada na rota alpina de Tateyama, que preferencialmente deve-se iniciar o mais cedo possível;
  • 4 noites em Tokyo.
Aspectos práticos

Comprei o pacote de voos nas companhias da Star Alliance, com mês e meio de antecedência, que custaram cerca de 1500€. Devido ao encerramento do espaço aéreo russo para companhias oriundas de países que impuseram sanções à Rússia, os voos entre a Europa e o Japão passaram a demorar cerca de mais 2 a 3 horas do que habitualmente duravam. No caso daqueles que eu fiz, acabei por dar uma volta total ao Mundo, uma vez que para Osaka voei sobre o Mar Negro, Cáspio, Cazaquistão, China, Coreia, e no regresso para Frankfurt sobrevoei o Alaska, o Ártico canadiano e a Gronelândia.

07/07 15:05 – 19:10 (durou efectivamente 2h30) Lisboa – Munique, TAP

07-08/07 22:20 – 17:20 (11h10) Munique – Osaka (Lufthansa)

23/07 9:40 – 17:30 (14h10) Tokyo – Frankfurt (ANA)

23/07 19:40 – 21:50 (3h05) Frankfurt – Lisboa (TAP)

Só mais tarde me apercebi, ao fazer o check-in online, que o segmento Munique – Osaka era em Premium Economy, o que dá sempre jeito em voos de longa duração. Para além de darem uma refeição reforçada, há mais espaços para as pernas e os bancos são maiores, mercê de haverem apenas 7 bancos por fila, ao invés dos 9 em classe económica normal.

Ia com algum receio da enorme duração dos voos, mas foram muitas horas que se passaram tranquilamente, para além da já referida viagem em Premium Economy, no regresso consegui marcar lugar na fila de emergência, e que por sorte tinha o lugar do meio desocupado. Entre filmes, internet (disponível em ambos os voos mediante pagamento), livros e uma ligeira sesta, nem se dá conta do tempo passar.

Para viajar no Japão, adquiri o JR Pass, que permite viajar em praticamente todos os comboios da companhia estatal. Para uma duração de 14 dias custa aproximadamente 50 000 JPY, que equivaleu a cerca de 330€ quando o comprei (um mês antes). Este passe não é vendido no Japão, deve ser adquirido antes da viagem. Comprei-o pela internet e foi-me entregue em casa 2 dias úteis após a compra. A este preço, o passe é vantajoso após 3 ou 4 viagens longas de Shinkansen (comboio bala), que compradas avulso são bastante caras.

A partir de outubro, o custo do JR Pass vai aumentar mais de 50%, o que pode tornar a sua aquisição menos favorável, caso o número de viagens de comboio não seja muito elevado.

Para circular nas grandes cidades, o JR Pass permite visitar grande parte das atracções de Tokyo, mas quase sempre através de trajectos mais longos que os que o metropolitano permite. Em Kyoto, as principais atracções são apenas servidas por autocarros, onde o JR Pass não é aceite. Nestes casos a aquisição de um cartão recarregável é recomendável (SUICA, PASMO), são aceites em praticamente todos os transportes públicos do país e evita estar sempre a carregar com trocos (as máquinas dos autocarros raramente dão troco e muitas vezes não existem máquinas para trocar dinheiro). O custo das viagens de autocarro, metro e elétrico são reduzidos em todas as cidades (entre 1 e 2€, caso não se saia da malha urbana da cidade).

Nos autocarros urbanos o motorista está sempre a falar, presumo eu a avisar que vai arrancar, acelerar, travar, mudar de direcção, etc..

Também fiz viagens em autocarros “expresso” para ir a locais onde o comboio ainda não chegou, e estes são bastante caros, uma viagem de 1 hora fica em cerca de 20€.

Como é sobejamente conhecido, os transportes públicos (com raras excepção dos suburbanos de Tokyo durante a hora de ponta) circulam com enorme pontualidade. Alguns deles, para pessoas altas como eu, têm assentos pouco confortáveis, ajustados à altura de um japonês médio. De resto, a limpeza é impecável, as pessoas respeitam totalmente a regra de não incomodar os restantes passageiros (telemóvel tem de estar no silêncio, só se pode falar ao telefone junto aos WC, na zona entre carruagens, e música nos fones apenas com um volume que mais ninguém consiga ouvir). Os bancos dos comboios estão sempre voltados para o sentido da marcha, uma vez que são rotativos.

A espera pelo comboio e respectiva entrada tem uma organização quase militar, há local de paragem de cada carruagem e marcações no chão a indicar por onde a fila se deve formar. Ninguém fura a fila.









Algumas carruagens do Shinkansen são destinadas a quem não tem lugar reservado, como é o caso daqueles que viajam com o JR Pass (normalmente 2 a 4 carruagens). Para os detentores de JR Pass é sempre possível reservar lugar nas máquinas que existem em todas as estações, mas tal só vale a pena em períodos de grande movimento.

Ao contrário do que eu pensava, e que toda a gente me dizia, o alojamento não é caro. Há factores que certamente ajudaram (o Iene está no valor mais baixo face ao Euro dos últimos 15 anos e julho é uma época relativamente baixa para o turismo no Japão), mas, exceptuando a noite que passei no templo budista, fiz média de 60€/noite em quarto individual em hotéis de estilo europeu de 3 a 4 estrelas.

Quem não tem muita fome durante a manhã recomendo que não inclua o pequeno almoço no hotel. O pequeno almoço típico japonês é constituído por sopa mizo, arroz branco, caril, frango frito, batata frita, etc.. Há algumas fatias de pão e croissants, mas sem grande qualidade…



Por outro lado, nas estações de comboio das maiores cidades há diversas padarias e pastelarias que permitem tomar um pequeno almoço de grande qualidade, à europeia, e a custo inferior.



De um modo geral, achei extremamente fácil viajar pelo Japão. Apesar de muito poucos japoneses perceberem bem o inglês, as indicações mais importantes nos transportes públicos e principais locais turísticos estão em inglês, tal como a maioria dos menus nos restaurantes. Nas raras vezes em que a informação está apenas em japonês, há sempre as apps de tradução no telemóvel. Para andar sempre com internet, aluguei um pocket wi-fi por, aproximadamente, 5€/dia, que disponibilizava 3Gb de tráfeto por dia. Reservei-o em conjunto com a compra do JR Pass na internet, levantei-o no aeroporto de Osaka e devolvi-o no aeroporto de Haneda.

É relativamente fácil levantar dinheiro com Visa ou MasterCard, todos os 7-11 têm caixas multibanco (e há 7-11 em todo o lado). Alguns locais só aceitam pagamento em dinheiro e é possível utilizar o cartão Revolut.
 

David sf

Membro Conhecido
0 – Lisboa – Osaka - Kyoto

Desta vez tive sorte, e finalmente voei no A321-Neo da TAP (calhava-me sempre um dos antigos). A viagem foi agradável, mas sempre em troca dos 30€ para reservar os lugares com banco vermelho, que são os únicos lugares na TAP onde os joelhos não batem no banco da frente.

O A321-N da TAP já no aeroporto de Munique.



A passagem pela fronteira em Munique foi rapidíssima e esperei mais de 2 horas no meu aeroporto preferido. O embarque começou à hora marcada, mas o avião teve de esperar cerca de meia hora na porta, uma vez que o aeroporto não tinha pessoal disponível para operar o carrinho do push-back (sim, mesmo na Alemanha acontecem estas coisas).





A viagem durou um pouco mais de 11 horas, sem qualquer problema, e a aterragem acontece por volta das 17h do dia seguinte no Japão, e após percorrer toda a baía de Osaka.



O pior veio a seguir, o controlo de fronteira demorou duas horas a ser ultrapassado. Muita gente e muita formalidade exigida, tiraram-me fotografia e recolheram as impressões digitais.



Após mais meia hora na fila para recolher o JR Pass, exactamente três horas após a aterragem, apanho o comboio para Kyoto, viagem que duraria aproximadamente 1h30min. Há muita gente que vai ao Japão e se queixa que teve azar por nunca ter entrado num comboio com livery Hello Kitty, no meu caso foi à primeira (e foi a única).





Fiquei num hotel junto à estação, vou comprar o jantar ao supermercado que fica em frente, e vou dormir. Tenho grande dificuldade em dormir no avião, e desta vez evitei mesmo dormir, para chegar com sono ao hotel, e evitar os efeitos do jet lag.
 

David sf

Membro Conhecido
1 – Kyoto

O dia amanhece chuvoso (vai ser o único dia de chuva a sério que apanho, houve mais um ou outro aguaceiro, mas duravam cerca de meia hora e não voltava a chover), mas quente e muito abafado (manter-se-ia sempre assim, por vez mais húmido por vezes um pouco menos).

Tomo o pequeno-almoço na estação e apanho o autocarro 205 para Norte, onde se situa o primeiro templo que vou visitar neste dia, o tempo budista Kinkaku-Ji, mais conhecido por tempo do pavilhão dourado. A viagem demora cerca de meia hora, o templo fica no extremo da cidade, tal como a maior parte dos templos mais interessantes de Kyoto.

O edifício principal deste templo é revestido a ouro, e é uma das imagens mais famosas (instagramáveis) de Kyoto. No entanto, o seu interior não está aberto para visitas e, concluí mais tarde, após ter visitado outros, os jardins não são tão interessantes como acontece em outros templos. Sinceramente, gostei, mas se fosse necessário eliminar da viagem um dos templos que visitei em Kyoto, teria sido este.











Apanho outro autocarro, que volta a atravessar a cidade de uma ponta à outra, para outro templo budista, com nome semelhante ao anterior, Ginkaku-Ji (Templo do Pavilhão Prateado).



Apesar do nome ser semelhante, este templo é bastante diferente. O edifício principal é mais modesto, mas o jardim é magnífico, um ambiente tropical no interior da cidade (há diversos casos destes no Japão), fazendo lembrar um pouco o Parque Terra Nostra em São Miguel.





Vários templos budistas têm um jardim de areia como este, com formas desenhadas na areia de forma extremamente meticulosa.



Do ponto mais alto do jardim, é possível apreciar todo o complexo que constitui o templo e a zona da cidade onde este se encontra.



Mais umas fotos dos fabulosos jardins tropicais.





A partir deste templo, a caminho da zona mais central da cidade, inicia-se o chamado caminho do filósofo, em homenagem a Nishida Kitaro, um filósofo japonês que aproveitava este percurso, entre a sua casa e a universidade, para fazer meditação. O caminho decorre ao longo de uma ribeira, com várias vivendas de ambos os lados, de estilo mais cuidado do que o habitual em todo o país.

A certa altura começa a chover, inicialmente sabe muito bem porque refresca o ambiente, mas a partir de certa altura tornou-se torrencial, e tive de atalhar caminho até à paragem de autocarro mais próxima, para me levar de novo à zona da estação, onde almocei e aproveitei para ir ao hotel mudar de sapatos que estavam encharcados.









De tarde, visitei a zona mais central de Kyoto, entre os bairros de Pontocho (zona comercial e de ócio da cidade) e o bairro histórico de Gion.



Esta zona da cidade é dos raros exemplos de uma cidade histórica japonesa que escapou aos bombardeamentos de 1945. Kyoto era um dos alvos preferenciais de bombardeamentos da estratégia militar americano, chegando a ser colocada numa shortlist de alvos para a bomba atómica, mas o Secretário da Guerra dos EUA, Henry Stimson, sempre se opôs ao seu bombardeamento por ter sido feliz aqui, durante a sua lua de mel.





 

David sf

Membro Conhecido
Na extremidade do bairro de Gion situa-se o terceiro templo budista do dia, Kiyomizu-Dera, e na minha opinião, o mais interessante. Fica também situado numa encosta das montanhas que ladeiam Kyoto, no meio de uma floresta do tipo tropical.

























Na outra extremidade de Gion situa-se o santuário Xintoísta de Yasaka, local de relevo nas festas de Gion Matsuri que decorrem durante o mês de julho na cidade de Kyoto, e que no dia seguinte iriam ter um dos seus eventos iniciais.







A principal rua comercial da cidade, a rua Hanamikoji, inicia-se neste santuário, e felizmente tem os seus passeios cobertos, porque assim que lá chego começa a chover de forma torrencial.



Enquanto espero que pare de chover, aproveito para provar estes docinhos, Mitarashi Dango, feitos de bolas de arroz cobertas com soja caramelizada. Achei a cobertura um pouco enjoativa.



Volto à estação, onde janto um ramen por menos de 6€…

 

David sf

Membro Conhecido
2 – Kyoto

Guardei a manhã do segundo dia para visitar a zona da Arashiyama, um subúrbio de Kyoto, famoso pela sua floresta de bambu, mas com mais pontos interessantes para além desse. Li em alguns blogues que a floresta fica apinhada de turistas, pelo que me levantei muito cedo para tentar visitá-la com alguma tranquilidade.

Se o dia anterior estava quente e abafado, neste dia estava ainda pior. Tão húmido, que a máquina fotográfica ficou embaciada por dentro, tive de a deixar uns 15 minutos ao Sol para recuperar.

Para chegar a Arashiyama desde a estação de Kyoto, são 15 minutos de comboio, caso se apanhe a linha da JR. Há uma outra linha que serve Arashiyama, mas que não está abrangida pelo JR Pass (no Japão não há várias companhias a aproveitar a mesma infraestrutura, se há um local servido por duas companhias, haverá duas vias férreas paralelas…).

Na outra estação, concorrente da JR, é possível visitar esta floresta de Kimonos.








Descendo até ao rio Katsura, a ponte Togetsukyo e andando uns 500m para montante, afastando-me da cidade, é possível encontrar um ambiente totalmente natural e bucólico.









Subindo de novo, e atravessando um enorme jardim do estilo japonês, entra-se finalmente na floresta de bambu. As fotografias não conseguem mostrar todo o ambiente do local, mas dá para ter uma ideia.











Na extremidade oposta da floresta de bambu, situa-se o Templo Zen Tenryu-Ji.











 

David sf

Membro Conhecido
Apanho de novo o comboio para o centro da cidade, saio na estação Nijo, que se situa a cerca de 10 minutos a pé do castelo homónimo. Neste local hospedavam-se os shoguns quando visitavam a cidade.

Estes 10 minutos foram dos poucos segmentos longos que fiz a pé em que havia alternativa de transportes públicos. Com excepção das zonas históricas e dos templos, castelos e palácios que há a visitar na cidade, Kyoto é uma cidade globalmente desinteressante, o que somado ao calor sufocante e aos reduzidos preços do transporte público, faz de qualquer caminhada maior um inútil sofrimento.

O Castelo de Nijo não tem muito mais para mostrar do que qualquer templo. Tem uns magníficos pórticos de entrada, um interessante jardim e o seu interior é relativamente pouco interessante. As pinturas nas paredes e tectos, que se tratam de réplicas das originais, representam pinheiros, pássaros e leões, estes muito mal desenhados. Nunca houve leões no Japão e quem os desenhou baseou-se em relatos orais de viajantes à China (foto retirada da internet, era proibido fotografar o interior do castelo):

Imagem1.png
















À tarde voltei à zona do Santuário de Yasaka para assistir a um dos primeiros eventos do Gion Matsuri, a recepção das lanternas. Um cortejo, constituído maioritariamente por crianças, percorre as ruas do centro de Kyoto com as lanternas que vão iluminar as carruagens sagradas, sendo seguidas pela criança sagrada (escolhida anualmente entre vários candidatos), que se desloca a cavalo porque não pode pisar o chão até dia 17 de julho.

Umas duas horas após a saída deste cortejo, sai um outro, que é um ritual de purificação dos Mikoshi (carruagens sagradas), em que vários homens transportam um conjunto de bambus a arder até ao rio Kamo. Os Mikoshi foram também levados neste dia até ao Yasaka Shrine, sendo decorados e posteriormente purificados, neste local.















A criança sagrada a cavalo.

 

David sf

Membro Conhecido
A cerimónia de purificação dos Mikoshi no Santuário de Yasaka.







A vista para a rua Hanamikoji onde se iniciam (e terminam) os cortejos.



Os caules de bambu a arder a serem transportados até ao rio, cruzando-se com o cortejo das lanternas que está a regressar ao Santuário.











3 – Kyoto

Terceiro e ultimo dia em Kyoto com a manhã dedicada ao templo xintoísta de Fushimi Inari, na minha opinião, o mais interessante de todos. Para chegar a este templo é necessário apanhar o comboio regional para Nara (não apanhar o comboio expresso que não pára nesta estação), numa viagem que dura 5 minutos.

Este templo tem o seu núcleo no ponto mais baixo da montanha, junto à estação, e desenvolve-se até ao alto, numa subida ladeada por vários toriis, e quando digo vários são mesmo muitos, largos milhares. Estes toriis foram doados ao templo por testamento, estando registado o nome do doador em cada um deles. Para se ser homenageado por um torii é necessário doar uma avultada quantia em dinheiro, superior ao milhar de euros.

O longo caminho de toriis, no meio da montanha e da floresta densa, dá uma aura incrível a este templo. O caminho até ao alto é extenuante, e a partir do cruzamento para o miradouro não acresce muito (não há vistas do alto e a concentração de toriis é menor), mas recomendo vivamente subir os milhares de degraus até ao cruzamento do miradouro e voltar por um caminho diferente àquele que se subiu.

O caminho entre toriis é estreito e toda a gente quer perder horas a tirar fotografias a si próprio, pelo que recomendo vivamente chegar a este templo bem cedo, por volta das 8 horas, para se poder desfrutar totalmente deste templo.

A entrada no templo e o seu núcleo central:









Inari significa raposa, este é o templo dedicado a este animal, estando repleto de estátuas do mesmo.







Aqui começa a subida:

 

David sf

Membro Conhecido
O caminho ladeado de toriis:



















Um escaravelho, um dos muitos animais deste tipo que se encontram neste templo, todos com um tamanho superior aos que se encontram na Europa:



A vista desde o miradouro, que não é o ponto mais alto:



Volto para Kyoto, por outra linha de caminho de ferro que também serve Fushimi-Inari, que não está incluída no JR Pass, mas que me deixa junto ao Palácio Imperial, onde queria ir em seguida.

Antes do palácio imperial, atravesso o Rio Kamo por este caminho de tartarugas e pássaros de pedra, e onde fiquei por uma meia hora bastante agradável. Apesar de o dia estar um pouco menos húmido que os anteriores, estava mais quente e sabia muito bem o fresco que vinha da água, proveniente directamente das montanhas que circundam a cidade.















O Palácio Imperial não pode ser visitado por dentro, apenas os seus jardins, que são um pouco menos interessantes que os restantes que visitei. Tal como acontece com o de Tóquio, que visitaria mais à frente, tem menos sombras e espécies exóticas que os jardins que usualmente ladeiam os templos.



 

David sf

Membro Conhecido
Foi almoçar ao Mercado Nishiki, onde se vendem produtos mais exóticos e típicos da região.









O preço aqui é inflacionado, mas mesmo assim aproveitei para provar um pedaço Bife Kobe.





À tarde visitei o templo budista de Sanjusangen-do, onde existem 1001 estátuas de Kannon, deusa da Compaixão. É uma visão impressionante. À frente do exército de estátuas, estão outras estátuas de divindades budistas e, no centro, uma estátua gigante de Buda. Não é permitido fotografar no seu interior, tirei esta foto da internet.

Imagem2.jpg


Fotos dos jardins deste templo:







Depois de um dia cansativo, e aproveitando o menor calor das tardes japonesas (aparece sempre vento ou nuvens ou chuva após o meio dia, as manhãs é que são mesmo uma tortura), voltei ao santuário de Yasaka, um dos locais que mais gostei em Kyoto, onde os Mikoshi já estavam purificados e decorados.







À noite volto à moderna estação de Kyoto:





Onde jantei esta omelete à "carbonara" japonesa.

 

David sf

Membro Conhecido
4 – Nara, Koya

O quarto dia seria dedicado a dois grandes centros religiosos budistas, Nara, a primeira capital do país, e Koyasan, centro de um dos principais cultos budistas do Japão.

A viagem de Kyoto para Nara dura cerca de uma hora de comboio. Deixo a mala num cofre na estação de Nara (estação JR, também há outra companhia, com outra estação a poucas centenas de metros), o custo do cofre é de 5€ até 24 horas.

Apanho o autocarro até ao Parque de Nara, onde se situam os principais templos da cidade, e que está cheio de veados à solta.













Existem várias bancas como estas a vender uma espécie de bolachas para os turistas alimentarem os veados.



Os veados já sabem que quando alguém vai a estas bancas é para atacar, e não são nada meigos na hora de pedir comida…









Apenas os japoneses sabem como tratar dignamente um veado, através de uma vénia…

 

David sf

Membro Conhecido
O ex-libris da cidade é o templo budista Todai-Ji, onde se localiza uma estátua enorme de Buda.






















A zona do Parque de Nara tem outros templos, semelhantes aos que já vira em Kyoto e uma área verde de grande dimensão, bastante relaxante e com sombras frescas. Uma parte da cidade bastante agradável.



















 

David sf

Membro Conhecido
Almocei em Nara e comecei a odisseia ferroviária que me levaria a Koyasan. Apanhei um comboio com direcção a Osaka, saindo em Oji ao fim de cerca de meia hora. Em Oji apanhei um pequeno comboio, sem condutor, até Hashimoto, numa viagem de pouco mais de uma hora, e com o comboio vazio a partir de metade do percurso. Em Hashimoto apanhei o comboio até ao teleférico de Koya, numa viagem não incluída no JR Pass, e que atravessa paisagens belíssimas subindo a montanha, com duração de 40 minutos. Seguem-se 5 minutos de teleférico e apanha-se o autocarro até ao centro de Koyasan, numa viagem de 10 minutos. Para minha sorte, o trajecto do autocarro foi alterado devido a um aluimento de terras, caso contrário ainda teria que ter trocado de autocarro mais uma vez até chegar ao templo onde fiquei alojado.











Paguei quase 200€ por esta noite, incluindo jantar e pequeno almoço, e após a estadia considero o valor exagerado. Considero que a experiência de hospedagem num templo, para ser real, implica a perda de algum conforto, mas acho que o preço deveria corresponder a isso. Paguei o equivalente a três noites num bom hotel, e não tive nenhum valor acrescentado para além da experiência em si. Foi algo que notei em muitos templos budistas, o objectivo é muitas vezes sacar dinheiro a turistas, por tudo e por nada aparecem a perguntar se queremos pagar uma reza, escrever um desejo para pendurar no templo ou apenas uma pequena esmola.



O jantar vegan que serviram no templo, estava saboroso e ainda hoje não sei o que são algumas das coisas que comi…



Koyasan está repleta de templos e é um vilarejo muito tranquilo e extremamente agradável. Estando em altitude está relativamente menos quente o que sabe muito bem. Na extremidade Sul da vila está a porta Daimon:





De onde se tem uma vista magnífica para as montanhas circundantes:





A zona central da vila, com os seus templos e mobiliário urbano alusivo.









Na outra extremidade da vila localiza-se o Cemitério de Okunoin, onde estão os restos mortais do fundador do budismo Shingon, bem como de mais de 200 000 pessoas. A visita a este cemitério durante a noite é espectacular, iluminada apenas pelas lanternas que ladeiam os caminhos, ouvindo-se apenas os grilos e as corujas.







Volto para o templo no último autocarro do dia, há que deitar cedo porque na manhã seguinte assistirei à celebração religiosa das 6h30 da manhã.

A viagem continua aqui: [Report] Japão 2023 - Parte 2 - Hiroshima e Beppu
 
Última edição por um moderador:

Leonorb

Moderador
Staff
Obrigada pela partilha e pela excelente descrição da tua experiência e percepção do Japão
Ficamos à espera do resto 😁
 

Ricardo_7

Membro Conhecido
Olá :)

Obrigado pela vasta partilha e dicas com esta grande viagem. Que venha o resto :)

Boas viagens!
 

Pedro Maia

Membro Conhecido
Muito bom, para já foi uma parte que conheço, à exceção de Koyasan, fico à espera do resto até por vou para o Japão daqui a uma semana e estiveste numa zona que vou visitar, Kanazawa, estou com curiosidade de ver.

Uma pergunta, à chegada ao Japão tiveste que apresentar o QR code da web visitjapan?
 
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