A Islândia tem uma área superior à de Portugal continental mas tem apenas 350 000 habitantes, dos quais cerca de 250 000 vivem na área urbana de Reykjavík, a capital. Deste modo sobra uma área imensa para 100 000 habitantes, aproximadamente a população de Coimbra.
O que lhe falta em habitantes sobra-lhe, e muito, em beleza natural, alternando montanhas com planícies, paisagens lunares com campos verdes e floridos, quedas de água com aridez, nascentes de água quente com glaciares. Há muitos lugares no planeta com grande beleza natural, mas duvido que haja algures uma ilha que reúna tanta e tão diversificada como a Islândia.
Já tinha grande vontade de visitar a Islândia, mas todas as vezes que tinha pesquisado os preços eram bastante proibitivos, e nunca tive grande esperança de lá ir num futuro próximo. A ideia de ir este verão à Islândia surgiu, quando a pouco menos de um mês de distância de duas semanas de férias que tinha marcado, e sem ideia para onde ir, fiz uma pesquisa no Skyscanner de Lisboa para “toda a parte”. Para grande surpresa minha, o terceiro país mais barato era a Islândia, com voo a cerca de 250€ (WizzAir com escala em Londres – Luton), cerca de 500€ abaixo de todas as pesquisas que havia feito antes. Tinha então de aproveitar.
E tive de facto muita sorte por ter escolhido, quase aleatoriamente, os dias da pesquisa. Quer na ida, quer na vinda, os voos nos dias anteriores e seguintes àqueles que pesquisei estavam cerca de 100€ mais caros em cada percurso. Perdi uns dias a pesquisar alojamento, percursos e atracções da Islândia, e quando voltei aos voos já estava a 370€. No entanto, havia sido o segmento Lisboa - Londres a aumentar de preço, o que me deu a ideia de ir uns dias mais cedo para Londres e visitar a capital inglesa. Então, comprei por 17€ o voo LIS-LTN de sexta-feira, 27 de julho, e voei para a Islândia apenas a 30 de julho. Voltei a 8 de agosto, também com escala de 7 horas em Luton. O total dos voos acabou por ficar em 320€, uma vez que na WizzAir paga-se um extra pela mala de cabine.
Rapidamente cheguei à conclusão de que a melhor maneira de me deslocar pela Islândia seria de carro alugado, uma vez que os transportes públicos são raros e as visitas guiadas caríssimas. Li em muitos blogs de viagens que seria aconselhável alugar um carro de tracção às 4 rodas, mas arrisquei num mais acessível (ao bolso) Kia Picanto e não me arrependi. Ao todo, o aluguer ficou-me em cerca de 600€, porque adicionei ao valor do aluguer (400€ por 9 dias) o seguro contra todos os riscos.
De facto, com condições meteorológicas favoráveis (e neste aspecto tive uma grande sorte), qualquer carro pode circular pela maior parte das estradas do país, mesmo as que são em gravilha. Apenas as estradas cujo nome tem prefixo “F”, e que estão devidamente assinaladas por sinalização vertical, exigem um veículo mais robusto, uma vez que existem diversas travessias de linhas de água ao longo delas.
Durante 9 dias dei a volta à ilha através da N1 (a famosa Ring Road) com vários desvios sempre que havia algo interessante por perto. Foram 2550 km e achei facílimo conduzir na Islândia – a maior parte das estradas por onde andei eram longas rectas em zonas planas, era quase como conduzir no Alentejo. Mesmo as estradas de gravilha estavam em bastante boas condições, permitindo circular a mais de 60 km/h sem grande problema. Isto tudo, claro, em condições de tempo seco. Estive 9 dias na Islândia, e apenas vi chover durante 2 aguaceiros que não chegaram a durar 15 minutos, ambos na manhã do primeiro dia (já quando cheguei a Lisboa estava a chover…).
Quanto ao alojamento, fiquei quase sempre em guesthouses, o preço dos hotéis é exorbitante (a partir de 150€/noite um quarto single). As condições eram razoáveis, apenas no hotel tive casa de banho privativa, mas apenas uma vez tive de esperar vez para tomar banho, o rácio de casas de banho para número de quartos era quase sempre a rondar as 2 ou 3 por cada quarto. Todas elas eram bastante limpas e silenciosas durante a noite – em todas havia aviso que entre as 22h e as 7h não se podia fazer barulho e tal era cumprido à risca. Praticamente todas elas eram negócios familiares – cheguei a ser atendido por um miúdo de 10 anos – pelo que era fundamental chegar antes das 20h; algumas delas cobravam uma taxa pelo check-in após essa hora.
As refeições em restaurantes são caríssimas (sopa de peixe a 20€, pizza a 25€, prato principal entre os 30€ e os 40€ em restaurantes comuns). Fora de Reykjavík é praticamente impossível encontrar restaurantes tipo café ou tasca, mais simples. Quase todas as refeições eram extremamente empratadas, passando ideia de todos os restaurantes serem gourmet – e isso via-se na conta. Por outro lado, a água e o couvert eram gratuitos.
Quanto ao que se come, basicamente tudo à base de peixe (nomeadamente salmão e bacalhau fresco) e borrego. A comida era cara mas quase sempre bastante saborosa e muito bem confecionada.
A solução para não gastar muito dinheiro passava por comprar pão, fruta, bolachas, enchidos, skyr (que são originários da Islândia e muito mais doces do que os que se vendem cá) nos supermercados para ir matando a fome a o longo do dia, e como queria experimentar a gastronomia local, fazer do jantar a única refeição de faca e garfo diária.
Só não deu para ver auroras boreais. Apesar de a actividade ter estado forte, nunca escurecia totalmente. À meia noite o panorama era este: