Sara Dias
Membro
Olá viajantes,
Há algum tempo que voltei da Ásia e foram tantas as emoções, tantas fotos e vídeos dessa viagem que durou 3 meses que mal consigo pegar no disco externo para escrever um report sobre cada país que visitei (Myanmar, Camboja e Vietname). Mas assim que tenha força e tempo, partilharei tudo! E já agora, se tiverem alguma questão e que possa ajudar, será com muito gosto que responderei
Contudo, neste tópico queria vos falar sobre um assunto que foi um dos momentos mais intensos de toda a viagem.
Vou começar pelo início: o meu namorado e eu estávamos em Hoi An, no centro do Vietname. Quando ouvimos falar de uma aldeia de street art perto de Hoi An, ficámos logo entusiasmados e quisemos incluir este sítio no nosso roteiro. Trata-se de uma aldeia piscatória, chamada Tam Thanh e em 2016, uma iniciativa de artistas vietnamitas e coreanos tentou implementar algum turismo nesta aldeia esquecida: juntos criaram murais artísticos em centenas de paredes, realizando verdadeiras obras de arte. Grande parte das pinturas representa o dia-a-dia desta localidade assim como os seus habitantes. Inspirado no street art da Coreia do Sul, Tam Thanh foi a primeira aldeia do Vietname a ter pinturas murais.
Se vão visitar o Vietname, não percam este sítio: apesar de Hoi An ter muito charme e ser pitoresca, o que encontramos em Tam Thanh foi genuidade e autenticidade.
Desde Hoi An, e após uma viagem de 1h de mota pelos campos, descendo pela linha do mar, chegamos a Tam Thanh. As primeiras impressões foram muito boas: contrariamente a Hoi An, não havia quase ninguém nas ruas e não vimos nenhum estrangeiro durante toda a tarde em que lá estivemos.
Após percorrer algumas ruelas da aldeia, cruzamo-nos com algumas pessoas à porta de uma casa e rapidamente se juntaram mais algumas à nossa volta. Todas eram muito acolhedoras e pareciam curiosas com o facto de estarmos ali, mostrando agrado quando lhes dissemos que foi devido ao street art. A única maneira de comunicar com elas era graças à app Google Translate. Já a tínhamos utilizado muitas vezes no Vietname, mas nesta aldeia foi sistematicamente usada pois ninguém falava inglês.
Mas houve uma família que nos tocou no coração e apesar dos seus sorrisos contagiantes, notava-se alguma fragilidade nos olhos deles e percebemos o porquê pouco depois. Chegámos a beira de uma pintura, que se encontrava no pátio da casa deles, eles chamaram por nós e convidaram-nos a entrar: eles estavam a pintas sacolas. Cozer e pintar essas sacolas é a principal fonte de rendimento desta família. Assim que souberam que o Nuno também é pintor, pediram para ele pintar uma das sacolas, era a última que faltava pintar. Gostaram tanto do resultado que o convidaram a pintar a parede da casa. O Nuno representou um casal de artistas: eram eles os dois. Passámos a tarde a falar com eles (através da app) e percebemos que era difícil vender as sacolas aos poucos turistas que iam passando.
Ficámos super comovidos com esta família tão querida, eles tem 2 filhos lindos (o pai teve de os levar a escola pouco depois de nós chegarmos) mas infelizmente ambos os pais têm deficiências físicas. A mulher teve um acidente (ou um AVC) quando era mais nova e tem hoje dificuldades motoras: não consegue mexer o braço direito e arrasta o seu pé direito. O homem, quanto a ele, tem graves problemas de audição. Apercebemo-nos dessas dificuldades logo nos primeiros momentos em que estivemos juntos e de facto, eles confirmaram pouco depois por escrito aquilo que imaginámos. A vida deles pareceu-nos muito marcada por percalços devidos à invalidez e sentia-se que tinham passado por grandes dificuldades. Coincidência ou não, outra coisa que os diferencia das outras pessoas da aldeia é que eles não são budistas mas sim os únicos católicos. Disseram que se conheceram no hospital e quando casaram, toda a gente chorou. Não há palavras para descrever o que sentimos enquanto os ‘ouvíamos’. Tínhamos era uma vontade tremenda de os ajudar e de os apoiar ao descobrir as histórias de vida deles.
Sentados à volta de uma mesa com eles, reunimos ideias e propusemos algumas como escrever “handmade and handpainted bags for sale” a porta de casa deles. Também lhes dissemos para simplificar os desenhos nas sacolas para agradar a mais gente: sabemos que o turista gosta de comprar souvenirs do género ‘I love Vietnam’ escrito em letras pretas. O Nuno fez alguns exemplos e insistimos bastante no facto de que poderia resultar melhor se apostassem num estilo de desenho mais simples.
Pouco tempo depois, chegou um grupo de turistas vietnamitas de carro, tiraram fotos ao mural deles e qual não foi o nosso espanto quando escolheram logo comprar o saco que o Nuno pintou (foto acima). A mulher ficou radiante e mal os turistas se foram embora, olhou para o céu, suspirou e escreveu no telemóvel ‘Obrigada, foi uma boa ideia’. Não vos consigo descrever por palavras as emoções que tivemos naquele momento, apenas posso dizer que sentimos imensa gratidão, muita humildade, um enorme espírito de entreajuda e amizade mas também bastante nostalgia e muita tristeza por não os poder ajudar mais: o dia estava a acabar e não tinham mais bolsas prontas para pintar.
Este encontro deu-nos lições de humildade para toda a vida. Por exemplo, numa das conversas transcritas por Google Translate, a mulher disse “Também gostava de ser como vocês”. Como não tinha percebido em que sentido ela disse aquilo, perguntei “Como assim’?, ao que ela escreveu “Viajar”. Foi mais um murro no estômago e que nos deixou muito a pensar na sorte que nós temos de poder viajar.
Antes de irmos embora, demos-lhes as nossas melhores dicas e desejámos-lhes toda a sorte do mundo, trocando os nossos e-mails para guardar contacto.
UPDATE: após algumas troca de e-mails, nós enviámos esboços para eles reproduzirem livremente nas suas sacolas e eles enviaram-nos alguns exemplos do trabalho que efectuaram, vejam nas imagens abaixo:
Como podem ajudar?
Se quiserem ajudar esta comunidade e mais especificamente esta família, poderão chegar a Tam Thanh Mural Village de diversas formas
Em jeito de resumo direto, podem ver o vídeo que fizemos sobre este dia:
Não hesitem em me contactar caso queiram ajudar esta família ou caso queiram ter mais informações.
Nota: Não se trata de nenhum voluntariado ou programa específico mas sim de uma entreajuda espontânea focada na ajuda desta família.
Se conhecem alguém que vá para Hoi An, por favor, leiam, partilhem e ajudem a divulgar.
Se vão para lá, não se vão arrepender de ir conhecer e ajudar esta família encantadora
O que é para nós um pequeno contributo pode ser uma grande ajuda para outros
Há algum tempo que voltei da Ásia e foram tantas as emoções, tantas fotos e vídeos dessa viagem que durou 3 meses que mal consigo pegar no disco externo para escrever um report sobre cada país que visitei (Myanmar, Camboja e Vietname). Mas assim que tenha força e tempo, partilharei tudo! E já agora, se tiverem alguma questão e que possa ajudar, será com muito gosto que responderei
Contudo, neste tópico queria vos falar sobre um assunto que foi um dos momentos mais intensos de toda a viagem.
Vou começar pelo início: o meu namorado e eu estávamos em Hoi An, no centro do Vietname. Quando ouvimos falar de uma aldeia de street art perto de Hoi An, ficámos logo entusiasmados e quisemos incluir este sítio no nosso roteiro. Trata-se de uma aldeia piscatória, chamada Tam Thanh e em 2016, uma iniciativa de artistas vietnamitas e coreanos tentou implementar algum turismo nesta aldeia esquecida: juntos criaram murais artísticos em centenas de paredes, realizando verdadeiras obras de arte. Grande parte das pinturas representa o dia-a-dia desta localidade assim como os seus habitantes. Inspirado no street art da Coreia do Sul, Tam Thanh foi a primeira aldeia do Vietname a ter pinturas murais.
Se vão visitar o Vietname, não percam este sítio: apesar de Hoi An ter muito charme e ser pitoresca, o que encontramos em Tam Thanh foi genuidade e autenticidade.
Desde Hoi An, e após uma viagem de 1h de mota pelos campos, descendo pela linha do mar, chegamos a Tam Thanh. As primeiras impressões foram muito boas: contrariamente a Hoi An, não havia quase ninguém nas ruas e não vimos nenhum estrangeiro durante toda a tarde em que lá estivemos.
Após percorrer algumas ruelas da aldeia, cruzamo-nos com algumas pessoas à porta de uma casa e rapidamente se juntaram mais algumas à nossa volta. Todas eram muito acolhedoras e pareciam curiosas com o facto de estarmos ali, mostrando agrado quando lhes dissemos que foi devido ao street art. A única maneira de comunicar com elas era graças à app Google Translate. Já a tínhamos utilizado muitas vezes no Vietname, mas nesta aldeia foi sistematicamente usada pois ninguém falava inglês.
Mas houve uma família que nos tocou no coração e apesar dos seus sorrisos contagiantes, notava-se alguma fragilidade nos olhos deles e percebemos o porquê pouco depois. Chegámos a beira de uma pintura, que se encontrava no pátio da casa deles, eles chamaram por nós e convidaram-nos a entrar: eles estavam a pintas sacolas. Cozer e pintar essas sacolas é a principal fonte de rendimento desta família. Assim que souberam que o Nuno também é pintor, pediram para ele pintar uma das sacolas, era a última que faltava pintar. Gostaram tanto do resultado que o convidaram a pintar a parede da casa. O Nuno representou um casal de artistas: eram eles os dois. Passámos a tarde a falar com eles (através da app) e percebemos que era difícil vender as sacolas aos poucos turistas que iam passando.
Ficámos super comovidos com esta família tão querida, eles tem 2 filhos lindos (o pai teve de os levar a escola pouco depois de nós chegarmos) mas infelizmente ambos os pais têm deficiências físicas. A mulher teve um acidente (ou um AVC) quando era mais nova e tem hoje dificuldades motoras: não consegue mexer o braço direito e arrasta o seu pé direito. O homem, quanto a ele, tem graves problemas de audição. Apercebemo-nos dessas dificuldades logo nos primeiros momentos em que estivemos juntos e de facto, eles confirmaram pouco depois por escrito aquilo que imaginámos. A vida deles pareceu-nos muito marcada por percalços devidos à invalidez e sentia-se que tinham passado por grandes dificuldades. Coincidência ou não, outra coisa que os diferencia das outras pessoas da aldeia é que eles não são budistas mas sim os únicos católicos. Disseram que se conheceram no hospital e quando casaram, toda a gente chorou. Não há palavras para descrever o que sentimos enquanto os ‘ouvíamos’. Tínhamos era uma vontade tremenda de os ajudar e de os apoiar ao descobrir as histórias de vida deles.
Sentados à volta de uma mesa com eles, reunimos ideias e propusemos algumas como escrever “handmade and handpainted bags for sale” a porta de casa deles. Também lhes dissemos para simplificar os desenhos nas sacolas para agradar a mais gente: sabemos que o turista gosta de comprar souvenirs do género ‘I love Vietnam’ escrito em letras pretas. O Nuno fez alguns exemplos e insistimos bastante no facto de que poderia resultar melhor se apostassem num estilo de desenho mais simples.
Pouco tempo depois, chegou um grupo de turistas vietnamitas de carro, tiraram fotos ao mural deles e qual não foi o nosso espanto quando escolheram logo comprar o saco que o Nuno pintou (foto acima). A mulher ficou radiante e mal os turistas se foram embora, olhou para o céu, suspirou e escreveu no telemóvel ‘Obrigada, foi uma boa ideia’. Não vos consigo descrever por palavras as emoções que tivemos naquele momento, apenas posso dizer que sentimos imensa gratidão, muita humildade, um enorme espírito de entreajuda e amizade mas também bastante nostalgia e muita tristeza por não os poder ajudar mais: o dia estava a acabar e não tinham mais bolsas prontas para pintar.
Este encontro deu-nos lições de humildade para toda a vida. Por exemplo, numa das conversas transcritas por Google Translate, a mulher disse “Também gostava de ser como vocês”. Como não tinha percebido em que sentido ela disse aquilo, perguntei “Como assim’?, ao que ela escreveu “Viajar”. Foi mais um murro no estômago e que nos deixou muito a pensar na sorte que nós temos de poder viajar.
Antes de irmos embora, demos-lhes as nossas melhores dicas e desejámos-lhes toda a sorte do mundo, trocando os nossos e-mails para guardar contacto.
UPDATE: após algumas troca de e-mails, nós enviámos esboços para eles reproduzirem livremente nas suas sacolas e eles enviaram-nos alguns exemplos do trabalho que efectuaram, vejam nas imagens abaixo:
Como podem ajudar?
Se quiserem ajudar esta comunidade e mais especificamente esta família, poderão chegar a Tam Thanh Mural Village de diversas formas
- alugando uma mota, a maneira mais económica (e mais divertida) de ir até a aldeia
- alugando um táxi, se forem em grupo ou se não tiverem carta de condução internacional
- reservando uma das poucas excursões propostas desde Hoi An.
Em jeito de resumo direto, podem ver o vídeo que fizemos sobre este dia:
Não hesitem em me contactar caso queiram ajudar esta família ou caso queiram ter mais informações.
Nota: Não se trata de nenhum voluntariado ou programa específico mas sim de uma entreajuda espontânea focada na ajuda desta família.
Se conhecem alguém que vá para Hoi An, por favor, leiam, partilhem e ajudem a divulgar.
Se vão para lá, não se vão arrepender de ir conhecer e ajudar esta família encantadora

O que é para nós um pequeno contributo pode ser uma grande ajuda para outros

Anexos
-
145,3 KB Visualizações: 115