Dia 12 – Saint Julien Du Verdon – Montpellier
Após mais uma noite bem dormida, era hora de finalmente ir conhecer o rio Verdon e as gargantas que o tornaram famoso.
A nossa ideia inicial era fazer um trecho do rio em kayak, no entanto ao estudar melhor o rio percebemos que havia zonas tecnicamente exigentes e a distância que iriamos percorrer no rio levantar-nos-ia dificuldades no regresso ao carro. Uma opção é descer o rio integrado numa das muitas empresas de desporto que exploram o local, no entanto nós tínhamos o nosso próprio Kayak e o tempo também era algo que já não abonava a nosso favor por isso e uma vez mais, mudamos os nossos planos para se adaptarem ao que acreditávamos ser o melhor para nós e as nossas férias.
Com os planos refeitos, fomos acompanhando o rio ao longo do seu trajeto até atingirmos a vila de Castellane onde estava a decorrer um mercado de rua que visitamos e onde aproveitámos para comprar um formidável mel de lavanda diretamente a um produtor local. Castellane além do mercado que é extremamente pitoresco, possui uma aura extraordinária que apenas se encontra em locais de montanha.
Saídos de Castellane continuamos a seguir o rio e entramos na zona das Gargantas do Verdon que nos iriam oferecer um cenário extraordinário. As Gargantas do Verdon são consideradas como sendo um dos “canhões” mais bonitos do mundo e estendem-se ao longo de aproximadamente 25Kms chegando em alguns pontos a atingir profundidades de 700 metros. A erosão ocorreu ao longo dos milénios por via do próprio rio que facilmente “rasgou” estas montanhas que são predominantemente calcárias, ou seja, uma pedra de fácil erosão pela água. A erosão ainda hoje ocorre e isso reflete-se na coloração do rio que dado o elevado teor de calcário, possui esta coloração única no mundo. Grande parte da beleza do canhão provém dos recortes irregulares e além da profundidade que já mencionei uma outra característica que torna este lugar único é a largura do próprio canhão que à tona de água pode ter mais de 100 metros ou apenas 6 como ocorre numa parte do rio e que dá a ilusão de que é engolido pela montanha.
Fascinados até aqui pela beleza das gargantas, decidimos ir fazer um trajeto cénico que é circular e que nos iria fazer “perder” um par de horas, no entanto como ele passava junto a uma das zonas mais famosas do canhão, resolvemos arriscar, e ainda bem… a beleza do local é irretratável em palavras, imagens ou fotografias… este é um daqueles locais que para se absorver só estando lá.
Para os amantes do desporto esta zona oferece uma variedade gigantesca e todas ao mais alto nível. Para quem gosta de escalada existem mais de 1500 rotas marcadas, para os “caminheiros” existe um par de rotas de extrema beleza (não fiz nenhuma pois o trajeto demora cerca de 13 horas, mas ficou a promessa de lá voltar), para quem gosta de água existem as descidas em rafting, kayak e canyoning, para os amantes do ar existem spots para parapente, asa-delta, base-jump e saltos com wingsuit… a oferta é imensa, é só uma questão de escolher qual a forma com que mais se querem aproximar da morte.
A garganta termina no Lac de Ste Croix que é a albufeira de uma barragem e local onde muitos turistas afluem para experienciar as águas do Verdon. É também neste local que várias empresas alugam barcos elétricos, kayaks, canoas e pranchas de stand-up-paddle para que os turistas ocasionais possam entrar um pouco na garganta subindo o rio. Para quem o pensar fazer, posso dizer que as filas de espera são imensas e que demoram um bom par de horas. Felizmente eu tinha o meu próprio kayak e dai poupei imenso tempo que foi melhor aproveitado a remar rio acima.
Vistas do rio as gargantas são impressionantes, bem como a cor do rio que é tão intensa que é impossível ver 10cms abaixo de água, sendo que isso não impedia dezenas de pessoas de mergulhar corajosamente (ou idiotamente) dos penhascos sem saber se por baixo existia água, pedras ou troncos…
Aproveitando que estávamos na zona da Alta Provença e mesmo estando fora de época, decidimos seguir para uma zona montanhosa onde se dedicam ao cultivo da lavanda. A primeira impressão com que ficámos foi da imensidão dos campos que mesmo apesar da colheita ainda apresentavam um tom arroxeado em contraste com o verde intenso dos bosques e o cinza claro das montanhas, a segunda impressão teve a ver com o olfato, uma vez que no ar predominava o intenso aroma a lavanda. Felizmente, encontrámos uns campos de lavanda mais novos cujo tamanho era ainda diminuto, mas que apresentavam já um significativo numero de flores que por serem novas não são colhidas e isso proporcionou que se tirassem as fotografias da praxe.
Depois de mais um local “riscado” da lista, seguimos em direção a Avinhão e fomos visitar algo que quase nos tínhamos “esquecido”, a Pont du Gard. Confesso que eu pensava que a Pont du Gard era uma estrutura Romana que se podia visitar livremente, tal como acontece com muitos monumentos Romanos, pelo que foi uma surpresa quando ao chegar à zona onde se situa a ponte havia uma espécie de portagens que anunciavam que a entrada mais o estacionamento era cerca de 20€… a nossa vontade foi logo de voltar para trás pois achávamos que não valia a pena, mas lá entrámos… tirado o ticket percebemos que a Pont du Gard era todo um parque com vários museus e exposições e incluía também acesso à zona envolvente da ponte, mas mesmo assim estávamos descontentes pelo preço a pagar e ainda por cima os museus, lojas e exposições estavam a fechar quando entrámos, até que vimos a informação que as atrações fechavam às 20:00 e após essa hora o preço era de apenas 10€… num ímpeto, olhámos para o ticket e confirmamos que o nosso tinha sido registado às 20:03… ficámos um pouco mais “felizes” pois num ato de pura sorte, iriamos pagar bastante menos do que esperávamos.
A Pont du Gard é per si só um local de bastante interesse histórico e é incrível pensar na engenharia por trás da obra. A visita à ponte é interessante e ver lá o por do sol tornou o passeio ainda mais agradável, no entanto continuo a achar que os 10€ são um exagero para quem apenas quer ver a ponte e nem digo o que penso da tarifa diária.
A seguir á Pont du Gard fomos até Montpellier onde, entretanto tinha reservado um apartamento no Appart’City Confort Montpellier Ovalie I, que se revelou uma boa surpresa em termos de qualidade/preço.
Vista sobre o Verdon.
Pormenor da cor que dá o nome ao rio.
Mercado local de Castellane.
A estrada pela Garganta do Verdon.
Ainda bem que não levei o gato comigo senão tornava-se o almoço deste menino!
Rio Verdon. Desculpem a qualidade, mas a humidade do ar e a luz solar por vezes não facilitam.
Local perfeito para os amantes dos desportos "terminais".
Mais uma vista sobre a imensa garganta.
Ok, muito zoom e qualidade manhosa, mas é para se perceber o golpe que o rio fez na montanha.
A chegar ao Lac de Ste Croix.
Inicio do nosso passeio de kayak.
Durante o passeio.
A ver quem ganha o prémio "Darwin".
As paredes maciças com alturas brutais, impressionavam.
Um campo de Lavanda. Neste caso com arbustos muito novos ainda.
Famosa Pont du Gard.
Dia 13 – Montpellier – Estrada
A noite tinha sido de descanso pelo que estávamos preparados para mais um dia intenso. Depois do pequeno almoço, fomos até ao centro de Montpellier onde fomos visitar alguns dos principais pontos da cidade e dai fomos até Carcassonne que era também um dos pontos obrigatórios da nossa viagem.
Ao chegar a Carcassonne percebi que a cidade era bem maior do que eu esperava e dada a organização da mesma é necessário deixar o carro um pouco longe do Castelo.
O castelo de Carcassonne é um dos castelos medievais mais bem recuperados onde já alguma vez estive e além do castelo, todas as construções intramuralhas estão perfeitamente enquadradas num casamento perfeito entre modernidade, turismo e preservação histórica. Para quem quiser fazer uma viagem medieval e sentir o ambiente de outras eras, este é sem duvida um dos melhores destinos para o fazer.
Quase ao final do dia, coloquei-me novamente à estrada e após atravessar campos imensos de girassóis atingi novamente os Pireneus tendo-os atravessado num vale junto ao Pico Aneto (o mais alto dos Pireneus) e onde uma vez mais verifiquei o quão pitorescas são as aldeias dos Pireneus franceses e onde uma vez mais deixei promessas de retorno.
Aqueduto em Montpellier.
Uma das muitas passagens que fizemos sobre o canal du Midi.
Primeira imagem sobre Carcassonne.
Entrada de Carcassonne.
Uma outra entrada de Carcassonne.
Pormenor da reconstrução fantástica que fizeram no castelo, mantendo todas as traças originais.
Girassóis deprimidos pelo facto de estar muitas nuvens a tapar o Sol.
Dia 14 – estrada – Coimbra
Este ultimo dia foi passado em estrada, sendo que fiz o caminho de retorno sem sobressaltos até à Marinha Grande e por fim Coimbra.
Conclusão
4.993 Kms feitos em 14 dias parece um exagero para umas férias e dá a sensação de umas férias cansativas e com o tempo todo passado em estrada… puro engano… nestes 14 dias visitei mais locais do que seria possível noutro tipo de férias que não numa road-trip, fiz caminhadas, andei de tobogã e teleférico, fiz muita praia, dormi em hotéis, campismos e casas particulares, subi um rio de kayak e desci ao fundo do mar em snorkeling… experiências incontáveis, paisagens, cheiros e sensações que nenhuma fotografia ou vídeo conseguem reproduzir… é/era preciso estar lá… e eu estive!
Notas finais
Como muitas pessoas têm interesse em saber “valores”, adianto que no total e pelas duas pessoas, gastámos cerca de 1.100€ o que me parece francamente pouco tendo em consideração o numero de dias, os locais e as experiências. É óbvio que os valores gastos dependem de muitas opções; podia ter sido menos se não tivesse cometido algumas extravagâncias, podia ser mais se tivesse cometido outras.
Relevante é dizer que para 2 pessoas em gasolina gastei só 290€ (contava gastar muito mais), 61,75€ em portagens, 35,60€ em estacionamentos, 104€ em diversões, 52€ em souvenirs, quase 385€ em alojamentos (também aqui contava gastar mais, mas o AIRbnb foi extraordinário) e menos de 200€ em comida/refeições incluindo restaurantes (menos do que se tivesse ficado em casa).