Este é o report que coloquei num outro forum que não tem nada a ver com viagens.
Andava eu à procura de um percurso para fazer quando me deparei com o "Caniño del rey" que apresentei noutro post. Uma vez que para esse percurso a distância era um factor negativo, tentei procurar alternativas e acabei por "ser conduzido" à "Ruta de los Tuneles"
Confirmado o destino, muitos foram os pedidos para me acompanhar, mas como sempre, numa 1ª vez apenas levo a minha menina e mais 2 ou 3 pessoas, desta feita foram 2.
Preparadas as mochilas (com muitos líquidos) , às 6:00 de domingo (após uma noite não dormida por causa de uma indisposição e por ter ficado sem o jipe para o caminho) lá peguei no volante e conduzi o pessoal por 150Km de boa estrada e mais 50Km de uma estrada digna de fazer inveja aos piores rabiscos do meu sobrinho de 4 anos. De notar as extensões negras dos fogos recentes que me fizeram lembrar as paisagens do vulcão Timanfaya, de tão negras e queimadas que estavam as pedras.
Chegados a Barca d'Alva era hora de tentar encontrar alguém para nos levar à estação de La Fregeneda em Espanha (não existem taxis), pois era minha intenção deixar o carro no final do troço. A tarefa ficou resolvida logo no café, pois estava lá o Sr. Jaime que já conduziu outros caminheiros, mas que face às suas limitações físicas agora "passa" o trabalho para outra pessoa. Assim, num Mercedes dos tempos da "Maria Cachucha" e com um condutor que não disse uma única palavra (nem quando eu lhe fiz algumas questões rotineiras do tipo "acha que vai chover"), lá fizemos 15 Km em terras de sua majestade o Rei de Espanha, mais 1km em caminho de terra batida até que fomos "largados" no meio do nada, apenas com uma estação abandonada digna dos filmes de terror (escusado será dizer que uma das meninas já estava a ficar em pânico a pensar que o gajo nos estava a levar para um sitio para nos roubar). De notar que pela viagem tivemos de pagar 30€.
Para começar o trilho, fizemos uma visita rápida à estação abandonada e depois começou o 1º momento de duvida... para que lado seguir? direita ou esquerda? Eu tinha a certeza que era para a direita, mas 2 pessoas começaram a teimar que era para o outro lado. Como o GPS não estava a ajudar e face à certeza das outras pessoas, por momentos fiquei baralhado, mas depois "impus" o meu estatuto de "líder" e pus-me ao caminho. Felizmente a minha orientação estava correcta senão a esta hora ainda estavam a gozar comigo.
Chamo à atenção que o ser "líder" não é para alguém se vangloriar, é apenas uma "figura" que deve existir sempre nestas aventuras e que deve ser "nomeado" antes da aventura começar. É aquele que serve para dar a palavra final numa situação em que o grupo se divide e que é responsável pela tomada de decisões em caso de acidente.
Logo no inicio aparece o túnel nº1 que possui cerca de 2km e é engraçado pois estamos sempre a ver “a luz ao fundo do túnel” mas que parece inalcançável. A meio do túnel apareceram alguns morcegos o que deu para alguns momentos de diversão.
Continuando o caminho sempre com muita vegetação, apareceu a 1ª ponte que face ao seu mau estado levou a que tivéssemos de caminhar por cima de madeira podre, mas serviu para o pessoal se ambientar. Mais á frente apareceu um túnel em curva (o que provoca escuridão total) e com ele, milhares de morcegos que com a luz das lanternas começavam a voar na nossa direcção. Esse momento foi “muito fixe”. Após o túnel em curva, surge a ponte em curva, a 1ª que tem de ser atravessada por cima das vigas laterais, pois face aos incêndios as madeiras à muito que não servem de nada. Confesso que pensava que ia ser mais complicado, mas desde que o pessoal se mantenha direito e não olhe para baixo, “a coisa” faz-se bem. Eu, como fotógrafo de serviço, é que lá ia “inventando” e confesso que por momentos ainda pensava “ o que raio estou eu a fazer empoleirado numa viga de 25cm a 50mts do chão? Não estaria melhor a ver a sessão da tarde da TVI?”
Bom o resto trilho é mais do mesmo… pontes, túneis, pontes, túneis, morcegos, túneis, túneis, pontes, águias, morcegos, morcegos, morcegos… constante em todo o trajecto era a paisagem fenomenal, as bostas dos animais, a linha do comboio e as pedras que me massacraram os ténis.
Por fim, lá atravessamos o túnel nº 20 e a ponte internacional sobre o rio, terminando assim o nosso percurso ao entrar na antiga estação de Barca d’Alva. Pelo menos 1 das pessoas estava mais morta que viva. Felizmente 30 minutos com os pés “de molho” no gélido Douro, fizeram ressuscitar a alma e afastaram qualquer dor que as pessoas tivessem.
Como nota final, gostava de aconselhar este trilho a TODOS, pois apesar da sua dificuldade ele acaba por ser acessível. Como todos os trilhos este deve ser previamente estudado e preparado e acima de tudo deve ser feito por pessoas responsáveis, pois ao fim de algumas pontes as pessoas podem sentir uma “falsa” segurança o que as levará a arriscar mais e isso pode traduzir-se “na morte do artista”.
Os itens indispensáveis são muita água (eu bebi quase 3 lts em 6 horas, pois face ao calor que estava o ferro aqueceu e por momentos parecia que estava numa torradeira, mais àgua houvesse mais eu beberia), roupa confortável e comprida (nada de calções pois o trilho está em mau estado e possui muitas silvas no caminho), um excelente calçado com sola rija, lanternas e máquina fotográfica.
Note-se que o trilho usualmente é feito no sentido Barca d’Alva – La Fregeneda, mas eu fi-lo ao contrário por motivos de logística. Se fosse hoje, voltaria a faze-lo nesse sentido, pois de inicio a mente ainda está fresca e assim podemos absorver “o melhor” que o trilho tem para dar.
Assim que possível, colocarei cá algumas fotos.