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[Report] Vulcão Capelinhos - Beleza sem cor - by JJPPMM

JJPPMM

Membro Conhecido
VULCÃO DOS CAPELINHOS

Aproveitando uma viagem de trabalho e sacrificando a hora de almoço , dei um pulo a este lugar de história recente e de rara beleza .


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Inserido no complexo vulcânico do Capelo, na Ponta dos Capelinhos, foi este o último vulcão a ter uma erupção em 1957.

As consequências ainda hoje são bem visíveis, sendo que talvez a mais importante tenha sido o aumento do próprio território em cerca de 2,50km2 consequência da solidificação da lava que ficou acima do nível do mar.


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O vulcão manteve-se em actividade por 13 meses, entre 27 de Outubro de 1957 e 24 de Outubro de 1958.A erupção dos Capelinhos, provavelmente terá sido uma sobreposição de duas erupções distintas, uma começada a 27 de Setembro de 1957, e a segunda, a 14 deMaio de 1958. A partir de 25 de Outubro, o vulcão entrou em fase de repouso. Do ponto de vista vulcanológico é considerado um vulcão potencialmente activo.


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Esta foi a sua história:

Na madrugada do dia 27, com a terra a balançar continuadamente, os "vigias da baleia" do Costado da Nau,a escassos metros acima do Farol dos Capelinhos, notaram o oceano revolto a meia milha da costa, para os lados de oeste. Assustados, desceram ao farol e alertaram os faroleiros e os seus companheiros de baleação, no porto do Comprido. Não era baleia, nem cachalote nem outro bicho qualquer – o mar entrava em ebulição e havia cheiros fétidos!!

Chamaram-se as autoridades , lanchas e botes baleeiros zarparam para o porto do Castelo Branco. As famílias fizeram as suas trouxas e foram juntar-se aos baleeiros.

Às 7 horas o oceano já "fumegava"abundantemente e às 8 horas surgiram as primeiras cinzas, como jactos de criptoméria. Assim começou a fase submarina do Vulcão dos Capelinhos. Horas mais tarde apareceram outras 3 chaminés, num total de 4. Ao fim do dia havia uma coluna de vapor com mais de 4 Km de altura, visível de todas as ilhas centrais.


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Em início de Outubro as cinzas (tipo areias e pó com alguns blocos intermitentes de basalto) eram tão volumosas que se gerou uma ilhota, em feitio de ferradura, com entrada do mar virada a sudoeste – passou a chamar-se a Ilha Nova. Quando o vento rodava para oeste as cinzas caíram no Faial e destruíram tudo o que era vegetação. E com o tempo começaram a cobrir casas.


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Entre 29 e 30 de Outubro a primeira Ilha Nova desapareceu mas a actividade reactivou-se em inícios de Novembro repetindo-se o fenómeno anterior (jactos de cinzas, blocos, nuvens ora altas ora anegradas com areias) - assim se formou a 2.ª Ilha Nova. Até então os cientistas ignoravam que, em tal tipo eruptivo, existiam amplos deslocamentos do fundo do mar. Foi a primeira lição dos Capelinhos…

Em Novembro a ilhota ligou-se aos antigos ilhéus dos Capelinhos (restos de erupção idêntica mais antiga) e daí surgiu um istmo até à ilha do Faial, prolongando-a.


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O Farol ali existente encontrava-se a uma altitude bastante maior do que aquela que agora se encontra.


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È talvez o marco e a memória desta erupção pois várias são as imagens que mostram e demonstram o nivel em que ficou soterrado.


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Ainda hoje para o visitante com tempo , o ponto alto da visita será não só a subida ao Farol mas também a visita ao seu interior. São muitas as marcas desses meses de luta desigual com o vulcão.


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Ainda hoje e observando mais de perto teremos a noção da altura de cinza e areias que cobrem os quase 3 andares do que na altura foi o Farol.


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No dia 16 de Dezembro de 1957, perante o espanto de muitos curiosos, em vez de cinzas o Vulcão dos Capelinhos passou a lançar exuberantes repuxos de basalto fundido – um espectáculo emocionante!!!

Nos fins de Dezembro regressou a fase das cinzas e uma vez ou outra observaram-se sinais de lava, especialmente ao longo de crateras alinhadas.

Durante o primeiro trimestre de 1958 predominaram os episódios de actividade submarina com emissão de jactos de cinzas cipressóides, pontiagudos, alguns impressionantemente altos e volumosos. Quando o vento rondava a oeste, na ilha do Faial era uma desgraça. As cinzas chegaram à cidade da Horta e o cheiro a enxofre invadia todo e qualquer lugar.


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Os centros vulcânicos migraram mais para leste, aproximando-se da "ilha velha". Além das cinzas, alguns blocos bombardeavam o farol, por sorte não atingindo os numerosos "mirones" que estavam a mais de 1 Km de distância.

Durante esses 4 meses, desde Janeiro de 1958, Capelinhos exibiu numerosas variantes de actividade submarina. O istmo alargou e a "Ilha Nova" já se encontrava integrada no Faial, a "ilha velha". Constituíram-se praias longas que encheram as baias do Varadouro e da Praia do Norte.


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A noite de 12 para 13 a ilha do Faial foi sacudida por violenta crise sísmica e algumas falhas geológicas deslocaram-se.Na área exterior da Caldeira algumas falhas geológicas subiram 1,5 metros e em outros sítios da Praia do Norte abriram-se fendas de 2 metros de largura. Aliás todo o casario da Praia do Norte colapsou e no Norte Pequeno e no Capelo muitas habitações sofreram danos importantes. Não morreu ninguém porque o Eng.ºFrederico Machado recomendou ao Governador Freitas Pimentel, no início da noite de 12 para 13, que a população se retirasse das suas casas. Foi uma decisão arriscada e notável!!!

Tal regime, que aumentou substancialmente a área da "terra nova" e que edificou o cone de bagacinas cujos restos presentemente se observam, permaneceu até Outubro de 1958. Foram emitidos 24milhões de metros cúbicos de rocha basáltica em fusão.

No dia 24 de Outubro de 1958, sem aviso prévio, ocorreram as derradeiras explosões strombolianas, de bagacinas avermelhadas. No dia 25 iniciou-se o processo de desgasificação, de arrefecimento e de erosão que perdura até aos tempos actuais.

A paisagem difere de toda a restante, e da própria imagem verdejante do Arquipélago Açoriano. Aqui nota-se uma estranha beleza árida e vulcânica, que demonstra a todo o instante a força única e incontrolável da natureza em fúria.


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O vento é forte , a areia é tão fina que se entranha facilmente em toda a roupa e o silêncio ajuda a reflectir na condição humana quando confrontada com acontecimentos naturais como este.


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Descendo até ao antigo Porto Comprido (onde agora existe uma zona balnear ) tem-se uma ideia concreta do que foi a erupção e do " pedaço de terra " que foi acrescentado á Ilha.


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Caminhar por estes lugares é pisar uma parte muito recente da Terra. O tempo disponível não era muito para outros passeios e para outras paisagens , mas ficou a certeza de um dia voltar com mais tempo para apreciar o crescimento natural desta nova parte da Ilha do Faial.

Se forem até ao Faial já sabem , digam " Olá " aos Capelinhos


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Maravilhoso e SOBERBO

Abraço a todos

J.Paulo
 
Última edição por um moderador:

NJBC

Membro Ativo
Fotos bonitas e boa explicação.

Existe dietas que compensam..... Sacrifício da hora do almoço

Obrigado
 

Tânia Fernandes

Membro Ativo
Obrigada pela partilha e pela informação histórica JJPPMM.

Estive lá em Setembro de 2002 e soube bem recordar esta magnífica paisagem.

Cumprimentos, Tânia
 

Nika

Membro Conhecido
Olá João Paulo!

Obrigada pela partilha e parabéns pelas fotos, sempre excelentes. :)
Só tenho a dizer que também não me importava de perder o almoço para ver essas paisagens. :D
Cumprimentos
 

Subbuteiro

Membro Ativo
Olá João Paulo,

agradeço as fotos, que são mais completas que as que eu tirei em 2012.

Pena que não tenha tido muito tempo para visitar o Centro Interpretativo que foi construído mesmo por baixo do Farol e das cinzas. E pelas fotos pareceu-me que não aventurou-se muito a subir o vulcão. É um experiência incrível...

Se quiser, siga a minha assinatura e veja o meu report em que falo um pouco dos Capelinhos.

Abraço
 

varycela

Membro
Excelente, em miúdo vivi 2 anos e meio no Faial, mais ou menos entre 1984 e 1986 !

Obrigado pela recordação do que já tive prazer de ver, mas que ainda me lembro bem !

PS - quero horas de almoço assim !
 
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