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[Report] Roadtrip Plitvice, Zadar, Dugi Otok, Krka, Split, Brac, Dubrovnik

calu

Membro Conhecido
Datas da viagem: 24 Julho 2014 a 3 de Agosto
Vôos e alojamento: 1585 EUR
Refeições: 650 EUR
Aluguer carro: 507 EUR

Este não é um report convencional.

Para quem já leu algum dos meus relatos anteriores, não terá dificuldade em verificar que este é bastante diferente dos anteriores. Espelha o facto de que esta viagem foi também ela bastante diferente das anteriores. Este não é um report que descreve com clareza e de forma sucinta os prós e contras dos vários locais, dando primazia às fotos que falam por si. Não contém referências facilmente identificáveis com um simples olhar.
Para encontrar essas migalhas de informação objetiva, terá que mastigar as várias fatias deste bolo que agora começo a cozinhar. Confesso que é o meu primeiro bolo. Podem não gostar da cobertura, ou mesmo do recheio. Pode o bolo não crescer como esperado ou mesmo ficar murcho.
No entanto, podem crer o seguinte: foi feito com dedicação, vontade e objectivo de ajudar, dando a conhecer, embora desta vez de uma forma um pouco diferente, mais prosaica por assim dizer. A prova disso mesmo é ter passado quase um ano desde que fizemos a viagem. Nunca quis forçar o momento em que começasse a escrever sobre a mesma, para evitar que se tornasse uma mera repetição de fotos acompanhadas por uma breve descrição, feita à pressa. Pretendia ir um pouco mais além e transmitir-vos o prazer e satisfação que esta viagem nos proporcionou.
Aviso assim que a leitura deste report poderá causar sonolência, sensação de fadiga, irritação, quiçá comichão e, em casos mais extremos, náuseas e vómitos. Assomos de mau feitio também poderão ocorrer, embora caso se verifiquem, não possam os mesmo ser imputados a este relato. Poderá também conter ocasionais metáforas ridículas ou descontextualizadas, em particular com referências culinárias.


O PLANEAMENTO
Planeamento … que maneira tão excitante de começar uma crónica de viagens, seguindo-se a uma introdução já de si chata, confusa e que mais lembra a professora do Charlie Brown a falar. O leitor já está a pensar que o bolo certamente sairá não apenas murcho, mas também azedo e rijo que nem pão com 3 dias. Avante com coragem e ingénuo optimismo, já que é assim que todos os desastres começam!
Porquê falar do planeamento? Porque sim. Porque deu uma trabalheira desgraçada. E porque acredito que muitos dos potenciais leitores deste report (pelo menos um de vocês os 3) poderão ter similares dúvidas e desafios quando planeiam as suas próprias viagens, em particular aqueles que também viajam com crianças. Decidi-me pela Croácia por uma razão principal: os parques naturais do país, nomeadamente contendo cascatas (fiquei apaixonado por certas fotos de Plitvice e Krka). No entanto, facilmente me apercebi que afinal o destino era muito completo, pelo que haviam outras excelentes vertentes a explorar: lindíssimas ilhas e praias, cidades históricas únicas, gastronomia mediterrânica e o clima perfeito de Verão. Tinha também um bichinho já antigo no meu coração de viajante, colocado por vários amigos que já tinham feito uma viagem de back packing pelos Balcãs e a sua paixão pela Croácia deu-me ainda mais confiança para apostar a sério neste destino.


Rapidamente ficou claro que tinha que ser uma road trip. Noutros tempos, isto seria sinónimo de grandes bebedeiras, tentar proezas ridículas (que qualquer pessoa sóbria reconheceria que iriam terminar em dôr) ou tomar banho nú com o pessoal em praias recônditas à noite, rezando para que não acordássemos de manhã com uma tatuagem na testa. Ou com um rim a menos. Os desafios seriam alguém manter-se sóbrio (o entalado que tinha que conduzir) e o pessoal lembrar-se onde deixara a roupa, quando saísse da água. Agora casado e com filhos, planear este tipo de viagem em família apresenta outros desafios. A nossa primeira road trip a sério fora de Portugal. Ou como aparece nos folhetos de pacotes de viagem: Fly & Drive. No total, tínhamos uns 10 dias em que podíamos fazer a nossa viagem de Verão (finais de Julho). Eu tinha milhas da TAP para usar e que pagaram os vôos dos 3 (pagámos só taxas, cerca de 350 EUR), pelo que só havia um sítio onde aterrar na Croácia e para onde a TAP voa direto: Zagreb. Ok, chegamos a Zagreb e regressamos a partir de Zagreb. Próximo passo: daqui para onde?
Era agora necessário identificar os outros locais, mas também desenhar a viagem de forma a que não andássemos sempre “com a casa às costas”, e minimizar o cansaço que múltiplas viagem sucessivas de várias horas podem ter, em particular na nossa filhota. Tornar uma road trip numa road hell trip era algo que queria evitar a todo o custo. Queríamos certamente ir a Dubrovnik, Plitvice National Park e Krka National Park. Devido à distância de Dubrovnik para Zagreb (quase 900 km), decidimos terminar em Dubrovnik, entregando o carro lá e usando um vôo interno Dubrovnik>Zagreb da Croatian Airlines para regressar a Zagreb (110 EUR por pessoa). Isto poupou-nos o longuíssimo caminho de volta de carro (que a minha filha certamente não apreciaria) e que nos tiraria pelo menos umas 12h, sendo que assim aproveitámos mais tempo em Dubrovnik também.
Voltando a Plitvice, é bastante perto de Zagreb (1h e 30m de carro), portanto primeira ligação feita. As estimativas de duração de viagem de carro do google maps foram a principal ferramenta para esta análise. Decidimos as datas também de maneira a que evitássemos estar nos parques durante o fim de semana, altura de maior confusão. Assim, conseguimos ir a Plitvice e Krka em dias de semana, o que provou ser uma óptima decisão, em comparação com as hordas que, de acordo com relatórios que havia lido, invadem ainda mais estes parques durante os fins de semana.
De seguida, o que há próximo de Plitvice que seja interessante e que nos possa ficar em caminho para Dubrovnik? Queríamos andar próximo da costa, já que nos haviam dito que a estrada marginal que liga Zadar a Dubrovnik é das mais bonitas da Europa. Decidimos então descer de Plitvice para Zadar (ligação de apenas 2h de carro). A partir de Zadar pode-se ir às belas ilhas do parque nacional Kornati e também a uma das praias que é frequentemente referida como uma das mais bonitas da Croácia (Sakarun Beach) na bela ilha de Dugi Otok, pelo que decidimos ficar 3 noites em Zadar, sendo a nossa primeira base de repouso.
De Zadar a Dubrovnik a viagem ficaria ainda muito longa, pelo que decidimos que a próxima base seria Split. Saíndo de Zadar para Split (sensivelmente 2h), poderíamos passar pelo parque nacional Krka. Porreiro, é mesmo isso. Em Split decidimos ficar outros 3 dias, não só para conhecer os vários pontos de interesse da cidade e descansar um pouco das caminhadas nos parques nacionais, mas também aproveitar o facto de que, a partir de Split, se pode ir de ferry a várias ilhas, incluindo Brac, que tem inúmeros pontos de interesse como a famosa praia de Zlatni Rat, em Bol. Feito. Depois, de Split a Dubrovnik seria o trecho mais longo de estrada (cerca de 4 a 5h nas calmas). Pensámos ainda ir a Mostar, mas como implicava um desvio total de 5 a 6h (ida, tempo no local e regresso) e já tínhamos poucos dias restantes para Dubrovnik, optámos por não ir a Mostar e passar em Ston (fica mesmo a caminho de Dubrovnik) para ver a pequena “muralha da China” da Croácia (Walls of Ston). Com isto, ficou por fim decidido o itinerário da viagem, ao fim de quase 2 longos meses de planeamento, investigação, lendo muito sobre os melhores locais a visitar, as melhores praias, etc.
Há uns anos largos, foi criada uma autoestrada que liga Zagreb a Dubrovnik, mas nós pretendíamos apreciar a beleza da costa de Dalmácia, pelo que andámos sempre junto à costa usando maioritariamente a bela D8, com mais trânsito, mas compensando largamente em beleza do trajeto, quando comparada com a auto estrada A1 que permite fazer o mesmo trajeto.


A CENOURA
Para começar, como conseguir convencer uma criança de 8 anos (a nossa filhota que sempre nos acompanhou em viagens) de quão excitante é a perspectiva de fazer treks de 5 horas sobre calor intenso para ver … bem, água, cascatas, mais água e mais cascatas, uns animais aqui e ali, e andar mais. Por exemplo, daqui a um mês vamos fazer um périplo safariano Moçambique, Suazilândia e Kruger Park. Aqui, nem foi necessário motivação alguma, já que ela adora animais e tal como nós, sempre quis ver os animais no seu ambiente natural.
Cada criança é um caso diferente e tem o seu feitio, maneira de reagir e preferências, tal como os adultos. No caso da nossa filha, não estava à espera que fosse muito difícil mas ainda assim, só confirmámos que íamos fazer isto depois de muito falar com ela e lhe dar a perceber exatamente o que iríamos fazer e o que isso implicava em termos de esforço (físico principalmente). Comecei por, semanas antes de confirmar a viagem, ir mostrando-lhe fotos e videos das partes mais espetaculares das cascatas, de alguns dos animais, etc. Depois passados uns dias, lembrando-lhe que num dos parques até dava para tomar banho nas cascatas (“Wohooo” disse ela). De seguida, lembrei-me de lhe dar “a responsabilidade” de levar uma das máquinas fotográficas para que pudesse tirar as suas próprias fotos. A máquina seria uma já boazita (para que os resultados não fossem decepcionantes), mas também que aguentasse algumas quedas ou mesmo splashes de água. No fim deste exercício motivacional que orgulharia o mais exigente dos gurus da nossa geração, ela estava muito excitada e cheia de vontade de fazer as caminhadas nos parques das cascatas.
Mission acomplished :)
Outro exercício obrigatório neste planeamento: nos locais que nós adultos pretendíamos visitar, procurar quais os melhores pontos de interesse para crianças, para que pudéssemos ter algo um pouco mais divertido e diferente, em particular em locais que possam ser por norma mais chatos para as crianças (“Sim pai, este edifício de pedra é lindo, e é TÃO diferente e TÃO mais interessante que os outros 348 anteriores”.) Por exemplo, escolher uma das praias para andarmos de mota de água (a minha filha adorou), ir aos insufláveis de água em Split, ir ao aquário na fortaleza de Dubrovnik, etc. Como outros pais que leiam este report certamente saberão, manter este delicado alinhamento entre planetas de dois universos diferentes pode ser o factor determinante para que as férias sejam espetaculares ou para que hajam chatices frequentes ;) Depois disto, faltava reservar os alojamentos, os vôos Zagreb Dubrovnik e o carro. No que toca aos alojamentos, optei pelo booking.com e privilegiando apartamentos/guest houses localizadas próximo dos principais pontos de interesse, se possível próximo dos centros históricos.
O carro aluguei na Avis (cerca de 500 EUR por 8 dias), já que o preço era razoável, tinha vantagens para mim a nível de milhas e tinha balcões bem localizados no aeroporto de Zagreb e em Dubrovnik, onde tínhamos que o entregar no último dia, antes de voarmos de volta para Zagreb.


Em Plitvice, escolhi um B&B integrado já no parque natural e a cerca de 500m da entrada principal da zona das cascatas, para podermos começar rápido de manhãzinha, e termos algumas horas antes de chegar a grande maioria dos outros turistas nos autocarros das excursões. Em Zadar, um apartamento simples a 100m do centro histórico e com possibilidade de fotografar a partir do telhado do edifício, em Split um B&B muito charmoso a 200m da popular praia Bacvice, e em Dubrovnik um pequeno apartamento com uma vista fenomenal sobre a lindíssima baia de Dubrovnik onde se encontra o centro histórico. Acabámos por não visitar Zagreb, por uma questão de prioridades. Terá que ficar para uma próxima.
Porquê tanto planeamento? Viajar sozinhos é uma coisa. Se fôr preciso dormir no carro uma noite porque não se encontrou um alojamento ou estava tudo cheio, não há grande problema. Ou se tivermos que conduzir mais 3h depois de ter conduzido já outras 4h ou 5h porque decidimos fazer outra coisa entretanto. Viajar com crianças acarreta sempre responsabilidade e condicionantes adicionais, pelo que é melhor fazermos o que está ao nosso alcance para minimizar os riscos e eventuais azares do que não fazermos (“ah, que azar, está tanta gente” ou “epa afinal temos que andar bastante”). Certo é que mesmo quando planeamos as coisas, hão-de haver sempre imprevistos e ainda bem que assim é. Se não fosse assim, não haveria histórias para contar ;)

A CHEGADA
Zagreb > Plitvice (Dia 1)
Depois de alguma incerteza sobre o nosso vôo em virtude da greve de Verão da TAP que chegou a cancelar este mesmo vôo na semana anterior à que voámos, chegamos a Zagreb em pouco mais de 3 horas após sairmos de Lisboa, cerca das 21:00, conforme agendado. Caso este vôo chegasse atrasado, teria repercussões algo graves na restante logística: planeei alugar o carro no aeroporto e viajar de imediato para Plitvice ainda nessa noite, para começarmos logo de manhã em Plitvice. O balcão da Avis fechava às 23:00, chegámos a tempo.
É neste balcão que tem início uma situação que desafia os limites da inteligência humana: depois das formalidades do aluguer do carro, o senhor do balcão descreve-nos onde se encontra o carro e, apesar da minha insistência em contrário, diz-nos que temos que ir sozinhos até ao carro. Em inglês macarrónico, explica-nos que o carro se encontra num parque fora do aeroporto (que não conhecemos) e, pela descrição dele, temos que andar uns 500m e o parque tem uns 300 carros e encontra-se “por ali”, ao pé de uma placa da Avis. Pensativo, digo para mim próprio: “porreiro, procurar uma agulha num palheiro com as malas às costas”. Relutante, saímos do aeroporto, olhamos para a direita, vemos um pequeno parque de estacionamento com uns 10 carros e avistamos de imediato a placa da Avis, com o nosso carro em frente. Simples.
Penso “Mas que raio, aquele gajo pertence a uma comissão de praxes ou é apenas parvo?”
Depois de montar o suporte para o telefone que iríamos usar como GPS, bem como o suporte para o iPad no banco do passageiro (para distrair a filhota no banco de trás durante os troços mais longos), saímos com destino a Plitvice. Este trajeto é bastante simples e relativamente direto, não tendo nada que enganar, mesmo se percorrido à noite e pela primeira vez.
Ainda não havíamos jantado, uma vez que a cafetaria do aeroporto já estava fechada. A meio caminho, vemos um McDonalds ao longe. Sem grandes alternativas derivado ao avançado da hora, opto por parar e comemos.
Aproveito para entornar um copo grande cheio de Coca Cola na nossa mesa para celebrar em grande estilo a nossa chegada à Croácia.
A estrada é boa, embora mal iluminada. À medida que nos aproximamos de Plitvice, passamos por pequenas aldeias onde já ouvimos água a correr lá fora pelos montes e montanhas. Aproveitam o manto escuro da noite para nos provocar os sentidos e agudizar o apetite com a antecipação do que se aproxima. Chegamos ao nosso destino. Uma senhora muito simpática congratula-nos por chegarmos à hora que haviamos combinado com ela e agradece-nos. “Normalmente ninguém chega à hora que combinam”, diz-me. Ficaremos aqui apenas uma noite, pelo que nos deitamos de imediato e nem tocamos nas malas.
Amanhã é um dos dias aguardados com maior expectativa e apesar do cansaço, custa-me a adormecer. O coelhinho repousa na sua cama, estrafegado entre os braços da minha filha, que já dorme que nem uma pedra. É o peluche mais viajado que conheço.

A LENDA
Plitvice > Zadar (Dia 2)
Às 08:00, estamos a comprar os bilhetes para entrar no parque. Os bilhetes por pessoa custaram 180 HRK (cerca de 24 EUR) e para crianças entre 7 e 13 anos, custou 80 HRK (11 EUR). Para menores de 7 anos é grátis. Ademais, fora dos meses de época alta os preços baixam consideravalmente (110 HRK / adulto). Já abriu há uma hora, pelo que se vê algum movimento, embora nada de mais. Das várias entradas possíveis, escolhemos a entrada numero 1, a principal.
Plitvice foi fundado como parque nacional em 1949, tem perto de 300 km quadrados e mais de 1 milhão de visitantes anuais. É um dos sete locais na Croácia classificados como património da humanidade pela Unesco, neste caso desde 1979. É composto por 16 lagos interligados entre si, que são resultado da confluência de inúmeros pequenos rios à superfície e subterrâneos. As “barragens” que permitem a precipitação das cascatas pelos vários níveis são de origem natural e são formadas devido à acumulação de sedimentos de origem calcária, algas e bactérias. À entrada, deparamo-nos com o mapa desta zona do parque, onde podemos analisar os vários treks disponíveis e fazer a nossa escolha. Nas zonas mais centrais, o caminho faz-se em caminhos de tábuas de madeira.


Á medida que os caminhos nos levam para as zonas mais remotas e íngremes do parque, estas tábuas vão desaparecendo e, apesar de marcados, os caminhos permitem-nos admirar a natureza circundante sem essa “adulteração” criada pelo homem. Escolhemos um caminho com duração estimada de 4/5 horas e que termina numa zona que depois permite a opção de regressar à saída, usando uns pequenos autocarros que eles têm. Se fossemos sem crianças, certamente regressaríamos usando outro caminho diferente e sem usar os transfers de regresso.


Vista no mapa, toda a (enorme) zona de cascatas é como se fosse uma grande escadaria com enormes degraus (os vários níveis de cascatas), por onde deslizam as mesmas e que depois desaguam em grandes lagos interligados entre si, e que por sua vez vão escorrendo por outros lagos/cascatas mais baixas e assim sucessivamente. O caminho pelo qual optamos, levar-nos-à por inúmeras cascatas, descendo gradualmente até aos lagos mais baixos, fazendo depois uma breve travessia de um dos lagos num pequeno barco (15 mins) para chegarmos ao outro lado e subindo então os 4 níveis das cascatas pelo lado contrário ao que nos encontramos, através da floresta.


A seguir a este mapa, temos um viewpoint elevado que nos surpreende com uma vista panorâmica sobre a grande cascata, só para abrir o apetite. Felizmente não está muito calor, o que certamente ajudará à longa caminhada. Um pequeno manto de nuvens protege-nos do sol escaldante de Julho.


É altura de abrir as hostilidades, já que vamos bem armados: a minha fiel Canon, a minha mulher com a Go Pro e um selfie stick para algumas fotos diferentes e a minha filha com a Lumix dela. De lado, e pendurado na minha mochila, levo o tripé extensível fechado, que usarei para as minhas primeiras tentativas de fotos de “arrasto” em cascatas.


Neste local panorâmico, apesar de toda a beleza que nos envolve, não sinto um espanto imediato, mas sim uma sensação de estar num sítio diferente e harmonioso que, mais do que esta ou aquela vista, cria uma especial envolvência, despoletando em nós uma agitada antecipação sobre tudo o que podemos descobrir a seguir.


Á medida que nos embrenhamos no parque, vamos descobrindo a sua beleza singular. Enormes cascatas que se precipitam para o vazio do alto de escarpas esculpidas pela água, pequenos ribeiros com mini-cascatas que se combinam numa sincronia perfeita do que é a natureza em todo o seu esplendor.


Tudo à minha volta é verde e ao mesmo tempo, tantos são os diferentes verdes. Á minha volta oiço água que corre para todo o lado e lado nenhum. Subimos, descemos, andamos, paramos, sentamos, pasmamos.


Encontro-me dividido entre apreciar ou capturar estes momentos. Por vezes pareço uma barata tonta. Por mais que dispare a máquina, sinto que nenhum destes momentos que eternizo em cada foto conseguirão fazer justiça ao que desfila perante os meus olhos. Se a mítica Shangri-lá alguma vez existiu, certamente seria num sítio assim.


Cantinhos por onde passamos causam-me pequenos arrepios na espinha, tal a beleza com que me inundam. Por todo o lado há pequenas molduras que chamam por mim.


Perco o fôlego esporadicamente ao ser assaltado por novas visões que lutam entre si para me roubar a atenção, por entre às árvores, a seguir a cada curva do caminho, após cada subida íngreme que a minha filha vai trepando alegremente (!!!) e a bom ritmo.

Aqui e ali, vou tirando o tripé e experimentando as fotografias de arrasto. Meio segundo, 1/3 de segundo, dependendo da quantidade da água de cada cascata. As primeiras fotos revelaram resultados que envergonhariam o mais inepto dos fotógrafos. Rapidamente percebi que um factor que não ajudava eram as pessoas que passavam e que, com o seu andar, abanavam as tábuas de madeira que compõem o chão tipo ponte onde o tripé está assente. Outro factor era a minha própria azelhice. Ambas tinham remédio.


Passei a ter atenção ao timing das pessoas, fugindo delas como o diabo da cruz e atirei a minha azelhice para trás das costas, fazendo alguns ajustes técnicos. Após mais algumas tentativas, finalmente consegui alguns registos dos quais me podia orgulhar, para um principiante nesta técnica.
Agora mais afastados das zonas centrais, já não nos cruzamos tanto com autênticas manadas de turistas, despejadas pelos inúmeros autocarros que gradualmente vão chegando ao parque. Se pode haver um lado negro em Plitvice, é o excesso de turistas. Vir ao parque numa altura em que hajam muitos grupos pode trazer grandes sombras a esta visita iluminada.


Há zonas nos passadiços em que, caso esteja muita gente, pode tornar-se desagradável esperar um bocado para passar, ou ter que ir em fila, já para não falar no facto que toda essa gente quer naturalmente tirar as suas próprias fotos (portanto vão parando). No nosso caso, e apesar de estarmos em época alta, esse impacto negativo foi relativamente reduzido.

 
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calu

Membro Conhecido
Mais sós com os nossos pensamentos e deambulando agora em zonas mais tranquilas, de vez em quando páro, fecho os olhos e inspiro profundamente, sentindo a aura tranquila e serena que me rodeia, a natureza em perfeita sintonia à nossa volta.


Os lagos e cascatas, agora lá em baixo, alternam entre um verde profundo, intenso e um verde esmeralda suave. Vou usando o polarizador para minimizar os reflexos na água e tiro mais umas fotos enquanto paramos noutro viewpoint para apreciar o que nos rodeia.


Dirigimo-nos para uma zona mais baixa e aguardamos pelo barco para passar para o outro lado. O lago que se estende preguiçosamente diante de nós cria simetrias perfeitas, refletindo a paisagem exuberante. Apesar de algum calor que se faz sentir, não é possível refrescarmo-nos nas águas em Plitvice, já que tal não é permitido.

Numa pequena loja de souvenirs que encontramos, reparo com enorme surpresa e agrado que, além dos habituais idiomas, têm livros turísticos sobre o parque em português de Portugal. Compro o meu exemplar, juntamente com um bonito e original magneto sustentável feito de casca velha de árvores do parque e apanhamos o barco.
Somos recompensados com 15 minutos sentados durante a travessia, enquanto saboreamos um gelado, que nos ajuda a recuperar forças. Estamos agora do lado contrário e é altura de subir alguns dos níveis das cascatas pela floresta. Há longos minutos que não vemos ninguém. Peço a um raro casal que passa por nós para nos tirar uma foto aos 3. Só mais tarde saberei que que esta foto se tornará num clássico instantâneo, tal a beleza do enquadramento e o jeito do rapaz. Devolvo-lhes o favor e faço desejos que a minha foto deles seja igualmente memorável.

Pensar que esta zona representa apenas 1% do parque faz-nos sentir uma formiga. Noutras zonas do parque, há muitos animais incluindo de médio e grande porte, como raposas e mesmo ursos. Inicialmente, eu pretendia ter marcado mais dias em Plitvice, mas não sabendo ao certo como reagiria a nossa filha a 1 dia de caminhadas longas das cascatas, tive receio de me arrepender. Vou percebendo que ela continua excitada, tirando as suas fotos, diz que lhe doem um pouco as pernas mas que está tudo ok, pelo que vamos procurar mais cascatas e ver se descobrimos alguns animais. Essa parte surpreendeu-me um pouco, já que tirando alguns patos, cisnes, um ou outro pequenos pássaros, peixes e um ou outro sapo, não foram assim tantos os animais que vimos, apesar de estarmos embrenhados numa floresta luxuriante e com água abundante.

Com o esqueleto mais descansado e já com metade da caminhada nas pernas, iniciamos com renovado vigor e entusiasmo a subida que nos leva aos níveis superiores. Dentro de água é frequente ver árvores caídas afundadas, quais fantasmas de pessoas que nos olham inertes do fundo dos lagos.

No final desta longa e memorável caminhada, dirigimo-nos à zona de refeições que existe nos níveis superiores, onde almoçamos. Sentindo já o ardor e latejar nas pernas depois de quase 5 horas a caminhar, e reparando que a nossa filha está cansada, decidimos que iremos de seguida para Zadar, em vez de fazer novo trek, ainda que fosse pequeno. Qualquer caminhada aqui representa pelo menos mais 2 horas de esforço, sendo que depois é também necessário regressar (potencialmente mais 1 ou 2 horas). Assim que terminamos o almoço, o céu abre as comportas e atira-nos com sucessivos e incessantes baldes de água. As nossas omnipresentes capas de chuva e um cafezinho ali ao pé abrigam-nos até podermos sair em direcção ao transfer para a zona de saída. No pequeno caminho que tomamos nessa direcção, somos brindados por uma nova panorâmica elevada que nos tira o fôlego e confirma aquilo não necessitava de confirmação: Plitvice é um lugar abençoado pelos deuses.

Pergunto à minha filha se gostou e se valeu a pena. Diz-me que adorou e que tirou montes de fotos, se bem que confessa estar “à rasca das pernas”. Para primeira vez, foi uma autêntica campeã.
Plitvice merecia muito mais tempo, talvez até uma semana, para se poder explorar ao devido ritmo um pouco dos outros 99% do parque. Alugar uma bicicleta, pedalar pelas colinas, ler um pouco num dos incontáveis e maravilhosos recantos que estão à nossa espera. Mas no nosso itinerário também há muito mais para ver. O Parque Nacional de Krka segue-se daqui a uns dias e já tenho água na boca, apesar de mal sentir as pernas e ainda ter que conduzir mais um bom bocado.

Detenho-me um pouco a pensar sobre a sustentabilidade deste maravilhoso local. Jacques Costeau disse uma vez sobre Plitvice: “É quase inacreditável existir uma beleza tão intacta aqui, na Croácia, em pleno coração da Europa.” Estas palavras têm muitos anos e Plitvice estará hoje certamente menos intacto que na altura. A pressão humana é grande. Enorme mesmo. As fotos, irresistíveis, são um convite irrecusável nas brochuras das agências de viagem. Espero que Plitvice continue a resistir às avalanches de turistas, ávidos de sentir e captar um pouco da magia deste lugar. Espero igualmente que, tal como mais tarde veremos em Dubrovnik, que as autoridades croatas mantenham uma boa politica de sustentabilidade e que permita ao mundo continuar a disfrutar da sua beleza. As rochas por onde desliza toda a água de Plitvice são maioritariamente calcárias e dizem que, devido ao desgaste que o constante roçagar das águas provoca, juntamente com a acumulação dos sedimentos, as cascatas mudam um pouco todos os dias. Há quem diga que há diferenças notórias em muitas cascatas com o passar dos anos. Certamente tentarei voltar no futuro para tentar comprovar essa teoria.
Envio um sms ao proprietário do apartamento onde vamos pernoitar, preparo o GPS e apanhamos a estrada para Zadar. Após ver um pouco de bonecos no iPad, a minha filha agarra-se ao coelhinho e aterra numa soneca profunda.

Hora e meia depois de uma viagem através de belos vales, colinas e planícies, aproximamo-nos de um tunel bastante comprido que atravessa as enormes montanhas que se encontram entre nós e a cidade costeira de Zadar. O carro marca uma temperatura a rondar os 21º. Assim que saímos do tunel do outro lado, a temperatura salta para os 29º num ápice.

O bafo quente convida a abrir os vidros e pôr os cabelos ao vento. O ar cheira a maresia. A vista da costa, deslumbrante. Pouco depois, chegamos a Zadar.
Estaciono no centro, a 100m do nosso apartamento e espero que chegue o nosso senhorio. Ao sentir o carro parar, a minha filha acorda. Ainda com os olhos meio fechados e naquele torpor de quem não quer acordar, profere as imortais palavras: “Mamã, babei-me.”
Estou estacionado a seguir a uma curva, atrás de uma praça de taxis, encostado ao carro, a minha mulher ainda lá dentro, bem como a minha filha, ainda meio estremunhada. Os taxistas olham para mim com a indiferença de quem está habituado a ver magotes de turistas. Zadar é uma das cidades mais visitadas da Croácia. Enquanto espero, um carro pára no meio da curva, uma senhora baixa o vidro e penso que me vai perguntar o caminho para algum lado. Sou surpreendido ao perceber que, num inglês que teria a aprovação de Herr Flick, a madame informa-me que está indignada com o meu comportamento incorrecto e insulta-me por estar parado a seguir a uma curva, apesar de não estar a interromper trânsito nenhum. Informo a senhora que não estou a incomodar ninguém, (a indiferença dos próprios taxistas assim o confirma) e convido-a a encontrar um polícia e a partilhar a sua opinião com ele. Enquanto a ignoro calmamente, mantém a sua argumentação durante 2/3 longos minutos, enquanto uma fila enorme de carros se acumula atrás da viatura dela. Buzinam. Reparo na matrícula da Suiça e por alguma razão, não fico surpreendido. Penso para mim ironicamente “Alguém devia chamar a polícia, já que esta senhora está a interromper o trânsito.” Sorrio e viro-lhe as costas. Que seria da Croácia sem esta guardiã que protege países alheios de turistas rebeldes? Instalamo-nos no nosso apartamento e aproveitamos a proximidade do centro histórico para aí jantar.

Temos o primeiro contacto com a pequena mas bela praça central, polvilhada de variados artistas clamando pela nossa atenção ao redor das ruas apertadas e algo labirínticas que convidam à descoberta. Zadar é 5ª maior cidade da Croácia. Trata-se uma cidade milenar cheia de história, com registos que remontam inclusivamente à pré-história. É presentemente candidata a património da humanidade pela Unesco. Em particular o centro histórico contém inúmeros edifícios centenários que ajudam a contar a história da cidade.
Estamos cansados, não duramos muito. Fazemos umas compras para o pequeno almoço de amanhã e regressamos à base para um merecido descanso.

A SORTE
Dugi Otok, Sakarun, Zadar (dia 2)
Para contrabalançar o ritmo frenético e cansativo do dia anterior, e para evitar as filas já grandes, bem como os tempos de espera do ferry, deixamos o carro no parque e apanhamos um barco de passageiros a 50m do nosso apartamento que nos leva à bela ilha de Dugi Otok. De acordo com muito boa gente, aqui encontra-se uma das mais belas praias da Croácia: Sakarun. 30/40 minutos depois atracamos em Sali, Dugi Otok. A ilha é tão pequena ou tão grande que verificamos que não há carros para alugar, nem táxis. Sakarun fica a 30 minutos de carro sensivelmente.
O intenso rubor da minha face denuncia o meu arrependimento por ter deixado o carro em Zadar. Ganhámos cerca de 2h por não termos vindo de ferry, mas podemos “perder” o dia. Descobrimos uma pequena agência que consegue arranjar um táxi, mas que exige mais que 3 pessoas, devido a ser uma carrinha grande. Suborno a minha filha com um gelado para a distrair da desilusão temporária e calor crescente. A agência descobre com surpreendente rapidez um casal norueguês simpático que concorda ir connosco. Safa, esta foi mesmo por pouco.

Chegados a Sakarun, constatamos que valeu a pena. É uma bonita e enorme baía, de águas calmas e cristalinas que se estende mar adentro, ladeada por árvores baixas. O facto de ser algo remota contribui também para a pouca quantidade de turistas que há na praia. Temos o nosso primeiro contacto com os seixos redondos que caracterizam a vasta maioria das praias da Croácia.

Mesmo com os sapatos de água (comprados na Decathlon em Portugal, mas made in Bosnia curiosamente), vem-me por vezes à memória a sensação de acordar de noite e pisar inesperadamente uma pequena peça de Lego.

Passados uns minutos já estamos mais habituados e estamos dentro de água. A temperatura rondará uns 23/24 graus. Um pequeno choque térmico mas passado um bocado está tudo bem. Ao experimentar o snorkelling (fraco como esperava, mas dá para entreter) sou surpreendido pela claridade e nitidez do mar debaixo de água. Uma visibilidade a rondar os 8/10m e um nível de transparência invulgar. Não fazia idéia. Tempo de fazer palhaçadas com a família e a GoPro debaixo de água.

Passamos uma agradável e descansada manhã na praia, enquanto o sol alterna trabalho com pausas para café. Almoçamos na praia e a meio da tarde voltamos para Sali, não sem antes passar por outra bonita praia, guardada pelo principal farol daquele lado da ilha.

Antes de regressamos, os deuses espreitam pelo céu e aproveitam para molhar os dedos no Adriático, permitindo-me registar o momento.

Á noite, entramos novamente muralha adentro e jantamos no centro histórico de Zadar, aproveitando para conhecer um pouco melhor os seus encantos. Detemo-nos algum tempo numa loja de gomas em particular e numa das inúmeras geladarias italianas. Este sorvete de limão também deveria ser classificado como património da humanidade. Meu Deus, tem mesmo o poder de transformar um ateu como eu num religioso fanático.
Junto ao rio, por detrás da muralha, Zadar tem um “órgão do mar”, um objeto arquitetónico que é igualmente um instrumento musical experimental. Toca música usando as ondas do mar através de tubos que estão localizados sob um conjunto de degraus de mármore grandes. As ondas criam sons aleatórios, mas harmônicos. O dispositivo foi feito como parte do projeto para redesenhar a nova cidade da costa e vale a pena a visita.
 
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A REDENÇÃO
Kornati e Zadar (dia 3)
Este dia seria dedicado a um tour pré-contratado de dia inteiro que consistia numa visita de barco ao parque natural Kornati, composto por inúmeras ilhas com características naturais e geológicas muito particulares. Incluía visitas a duas das ilhas e ainda uma sessão de snorkelling numa pequena reserva marinha dentro do parque.
Infelizmente, os mesmos deuses que no dia anterior haviam molhado os seus dedos no Adriático tinham outros planos para o dia de hoje: terão achado que o nível de água de Mar estava baixo, e assim, para nosso gáudio, resolveram despejar cá para baixo e de uma vez só, tudo aquilo que se havia condensado lá em cima nos últimos dias. E não era pouco. Senti a minha barba a crescer e pensei no nosso pequeno barco como sendo a arca de Noé. Durante o tour (entenda-se viagem de barco para trás e para a frente), jogámos tanto Uno que fiquei com os dedos entorpecidos de tanto baralhar e dar.
Choveu durante o tour todo. Fizemos apenas uma paragem numa das ilhas (ao invés das 3 programadas), quando a chuva e o vento cessaram por breves instantes, oferecendo-nos uma pequena janela de conforto.


Após um breve passeio que mal deu para apreciarmos o lago salgado interior, a chuva regressou em força e apesar das capas, vimo-nos forçados a regressar ao barco.


Durante a longa viagem de regresso, aqui e ali somos acompanhados por golfinhos, como que solidários com o nosso infortúnio, oferecendo-nos um pequeno prémio de consolação. Ao mesmo tempo, um pequeno tornado vagueava no mar mesmo em frente à zona histórica em Zadar, causando alguns estragos, algo que ficaríamos a saber pelos jornais apenas no dia seguinte. Os sacanas dos deuses, ainda não contentes com terem-nos estragado o dia, resolvem então divertir-se à nossa custa, brindando-nos com uma pérola da ironia: no preciso momento em que atracamos em Zadar, cabisbaixos e cansados de nada fazer, desejando apenas irmos para o nosso apartamento e tomar um duche quentinho para nos lavar as misérias do dia, o sol abre de forma gloriosa, como se Noé tivesse atracado a Arca e tivesse acabado de chover 40 dias e 40 noites seguidos. Parece-me ouvir ao longe umas gargalhadas abafadas. Talvez seja impressão minha.
Felizmente, nós também temos sentido de humor e acima de tudo, não somos esquisitos. Aproveitando a deixa, e com energia renovada, dirigimo-nos de imediato à praia fluvial mais próxima e comemoramos com uma sonora “bombaaaaa” o calorzinho bom que agora sentimos. Ainda dá para fazer um pouco de snorkelling e brincar na água.


Foi pena não termos conhecido Kornati como previsto, mas não se perdeu tudo. Acima de tudo não se perdeu o ânimo e a boa disposição. E a minha filha tornou-se especialista em fazer castelos com copos de plástico. E levei grandes abadas no Uno. Um pôr do sol quente e dourado ilumina o nosso apartamento quando regressamos.


Nesta que seria a nossa última noite em Zadar, voltamos a embrenhar-nos na zona histórica, agora num dos inúmeros restaurantes italianos existentes nos pitorescos becos. Embora seja verdade que não andámos tanto em Zadar como poderíamos (caso tivessemos permanecido mais tempo durante o dia), não parecem haver muitos restaurantes nesta zona com comida autêntica croata. Há um domínio claro da gastronomia italiana em particular, seguido da espanhola e internacional, no geral. Termino a noite fotografando a partir do terraço no topo do nosso apartamento.


Junto à muralha de Zadar, os últimos ferrys saem da doca, enquanto do outro lado, um grande navio de cruzeiro atraca na zona histórica de Zadar para descarregar paletes de turistas ávidos de história.


Amanhã cedo saímos para outra das “jóias da coroa” desta viagem: Krka National Park.

O PERFUME
Krka e Split (Dia 4)
Saímos de Zadar a caminho da nossa próxima base: Split. Antes disso, e conforme planeado, fazemos uma paragem aguardada com expectativa no Krka National Park. Após um trajeto de pouco mais de uma hora, chegamos a Krka. Já sabia de antemão que este parque natural é bastante mais pequeno que Plitvice, pelo que não seria necessária grande preparação psicológica para a filhota. Aqui, as cascatas estão mais concentradas e os vários caminhos disponíveis são, regra geral, mais curtos, sendo que alguns fazem-se bem em 2h ou menos, mesmo andando ao ritmo calmo e contemplativo que o local merece. O parque recebeu o seu nome a partir do rio Krka, que atravessa o parque nacional. Este último tem uma área de 109 km quadrados, cerca de 1/3 da àrea de Plitvice. O preço de adulto é um pouco mais barato que Plitvice (110 HRK) mas a criança paga o mesmo: 80 HRK. Ainda assim, sendo que os bilhetes contribuem para a conservação do parque, parecem-me valores bastante razoáveis, tendo em conta tudo o que se pode explorar dentro do parque.


Ao entrar temos uma primeira panorâmica sobre a bela zona das cascatas superiores que se precipitam suave e pacatamente encosta abaixo. Tem-se de imediato a sensação de que estamos perante um local que é mais pequeno que Plitvice e um pouco menos “selvagem”, pelo menos nesta zona. Há mais caminhos e estruturas feitas pelo homem a pensar nos milhares de turistas que visitam o parque anualmente. Ao invés de Plitvice, o facto de aqui nos podermos refrescar, tomando banho nas espetaculares cascatas dos níveis inferiores, constitui certamente uma motivação adicional para os visitantes. Posso confirmar isso em primeira mão, já que à medida que o calor começava a apertar, e enquanto para lá nos encaminhavamos, já só pensava no momento em que iamos tomar uma banhoca.


Vamos descobrindo pequenos recantos que nos permitem disfrutar de visões que gradualmente nos impressionam e que por vezes me põem os pêlos dos braços em sentido. Estamos perante uma nova maravilha do mundo natural, imaginada pelos deuses, esculpida pela natureza. Enquanto observo turistas que fotografam freneticamente, correndo para o próximo click, detenho-me longamente em várias molduras, ouvindo o som dos pássaros que lutam por se fazer ouvir sobre a incessante correria das águas. Nesta casa de incensos da natureza, sentimo-nos levitar nas fragrâncias que nos transportam para um mundo onde tudo é suave, calmo e perfumado. Sinto que ganhamos anos de vida.


Novamente em modo barata tonta, sou uma criança na noite de Natal, a abrir presentes. Cada click na máquina é como desembrulhar um presente, que nos vai surpreendendo e nos põe um sorriso nos lábios. Penso em como seriam estes lugares no seu estado virgem, sem pessoas, sem caminhos ou edifícios, nódoas recentes nesta toalha rendilhada perfeita criada pela natureza há milhares de anos. Passamos por uma pequena banca que vende produtos locais como frutos secos e geleias. Compramos figos e amendoas a uma senhora idosa simpática que não fala inglês, mas fala a língua universal dos sorrisos, boas maneiras e gestos.


Continuando a descida, há uma pequeno grupo de casinhas que fazem parte da central hidroeléctrica de Krka, que entrou em funcionamento em 1895 e se mantém em funcionamento até aos dias de hoje, perfeitamente integrada no parque nacional. Já se ouvem as cascatas principais. A jusante das mesmas, o rio segue tranquilo, ignorando o frenesim a montante.


A imagem que inumeras vezes me despertou a atenção quando pensava em vir a Krka estava quase a materializar-se perante os meus olhos.


Quando chegamos ao lago inferior, e vemos os inúmeros níveis de cascatas que se precipitam na nossa direcção, percebe-se que chegámos. Não pode ser outro local senão este. Estamos numa pequena ponte de madeira diretamente em frente. Mesmo depois da impressão que Plitvice gravou para sempre nas nossas almas, detemo-nos longamente em silêncio contemplativo perante uma das mais belas aquarelas que a natureza já pintou para nós. Por enquanto, o quadro que admiramos é temperado apenas pelo deslizar da água por baixo dos nossos pés, pelo leve ribombar um pouco mais ao longe, pela distante sinfonia dos pássaros, e o resfolhar de dezenas de gigantes verdes á nossa volta. Felizmente, e tal como pretendido, chegamos antes das hordas “inimigas”, que brevemente irão sugar a frescura que paira no ar e sufocar a leve brisa que nos acaricia os cabelos. De todos os lados brotam tranças de água que compõem um penteado memorável.


Numa área de cerca de 400m de comprimento e 100m de largura, existem 17 cascatas. Esta zona do parque, o conjunto de cascatas mais a jusante do rio Krka, tem o nome de Skradinski buk, e é considerada uma das mais belas cascatas de cálcio carbonado da Europa. De volta à realidade, apercebo-me entretanto que o párasol da minha lente é uma ferramenta muito útil não só para minimizar o excesso de luz lateral, mas também para reduzir o spray causado pelas cascatas e que teima em fazer da minha lente um pastel de nata a levar com canela. Deixo uma recomendação para os iniciados nestas lides (tal como eu): antes de fotografar cascatas, em particular com tripé, convém antes efectuar uma boa preparação, tirando umas fotos de teste, confirmando e fixando os settings ideais, limpando a lente e de seguida um click rápido, antes que o spray nos possa estragar a foto. Por vezes, aprende-se da maneira mais difícil, mas aprende-se. Começam entretanto a chegar grupos cada vez maiores de turistas. Após as obrigatórias e demoradas fotos, a milésima pergunta “E agora papá, já podemos ir à água?” arranca-me do frenesim fotográfico e devolve ao meu cérebro a capacidade de aplicar corretamente as prioridades: está na hora de nos refrescarmos.


Refrescar é de facto a palavra adequada, já que a água estava tão fresquinha que faria eriçar os pêlos das unhas (se os tivesse). Parecia que estava a entrar na água na Ericeira num dia de Primavera. Como se pode ver nas fotos, não é permitido chegar à zona onde as cascatas se precipitam. Pode-se apenas tomar banho no rio que fica diretamente em frente, até um máximo de cerca de 10 metros das cascatas.
Antes de mais, alguns conselhos importantes: apesar de não ser um lugar propriamente perigoso, tomar banho em Krka requer alguns cuidados. Em primeiro lugar, a entrada e saída para a zona em frente às cascatas pode ser bastante complicada, havendo inúmeras rochas com limos, extremamente escorregadias. Num pequeno espaço de tempo, vimos vários turistas incautos e excessivamente confiantes a escorregar e cair. Por vezes nada de mais lhes aconteceu, ao passo que outras vezes se viram forçados a voltar para trás e abortaram a missão devido às mazelas. Cautela e caldos de galinha …


Em segundo lugar, uma vez passada a zona rochosa, deparamo-nos com uma zona algo profunda (sem pé) e a corrente consegue por vezes ser forte, pelo que quem quiser nadar até à corda de segurança que está mais próxima das cascatas deverá saber nadar bem. Eu nado bem desde há muitos anos e em certas alturas, nadar contra a corrente estava a revelar-se cansativo. Tomar banho na parte mais próxima das pedras e onde ainda haja pé, tudo bem (como se vê na foto acima). Foi o que fiz com a minha filha por exemplo. Nadar no rio ou ir até à corda de segurança, não recomendo a crianças, nem a pessoas que apenas nadem razoavelmente.


Molengamos um bom bocado nesta zona. Á medida que começa a ficar demasiado povoado, iniciamos uma retirada estratégica e partimos à descoberta de outras zonas do parque, explorando maravilhosos pequenos recantos, onde uma vez mais a água parece brotar de todos os poros da terra.

Aqui e ali, vou descobrindo pequenos vitrais que permaneceriam invisíveis a um olhar mais apressado.

Encaminhando-nos para a saída, cansados mas não saciados, continuamos a beber anos de vida de cada novo cenário, como se de um cálice sagrado se tratasse.

 
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Um último cantinho anuncia o fim da nossa visita a Krka.


É o fim do capítulo “cascatas” da nossa viagem (Plitvice/Krka). Por muitos lugares fantásticos que possa vir a conhecer no futuro, quicá mais remotos e mais intocados que estes parques naturais na Croácia, guardarei para sempre um cantinho especial no meu bau de memórias para Plitvice e Krka. Doem-me os pés, os gémeos das pernas latejam, os ombros queixam-se da mochila pesada mas a minha face denuncia um enorme sorriso, que não disfarça um coração cheio de alegria e a alma revigorada. É uma dôr boa. Leio o mesmo nos rostos da minha mulher e da minha filha. No pain, no gain.
Ainda temos mais hora e meia de caminho até Split, onde fica a nossa próxima base. E onde há boas praias para pôr os presuntos de môlho e recuperar forças.


O meu setup no carro, com o bom e fiel Navigon Europe (excelente durante toda a viagem, tal como noutras anteriores), bem como a GoPro sempre a postos para filmar troços de montanha ou costa que valessem a pena.


Chegados a Split, ainda damos uma vista de olhos na praia de Bacvice, que fica a uns meros 200m do excelente B&B que escolhi em Split. Ao fim de cada dia, passava (como sempre) todas as fotos do dia para um iPad Mini de 128 Gb, usando um adaptador. Não só posso ver se preciso voltar a tentar tirar a mesma foto novamente (caso tenha ficado mal e ainda esteja nesse local), mas mais importante consigo ter um backup móvel, para o caso de perder ou ter um problema com algum dos cartões até ao fim da viagem. Esta solução (uma entre tantas outras possíveis) permite-me chegar ao fim da viagem com um backup integral de todas as fotos. Pessoalmente, não gosto das soluções de upload de fotos para a para internet (clouds e afins). Cada vez mais me parece má idéia armazenar conteúdos tão pessoais como centenas/milhares de fotos nossas num sítio que ninguém sabe bem quem o gere, como faz essa gestão, que tipo de acesso tem realmente a esses conteúdos e que mais cedo ou mais tarde vai ter uma falha de segurança (não há excepções, como já vimos em inúmeros casos recentes de todas as grandes clouds).

O JOGO
Split (dia 5)
O pequeno almoço (incluído) era num pequeno restaurante a 5 minutos do quarto, inserido já na zona histórica de Split, num cruzamento de pequenos becos a fazer lembrar o bairro alto. Apesar de simples, as opções disponíveis eram deliciosas: sumo de laranja natural acabado de espremer com um pouco de gelo, omeletes deliciosas, pão quente, quesadillas/tortillas, tostas, etc.).


Com a barriguinha a sorrir de tanto consôlo, passamos o dia seguinte em Split. Trata-se da segunda maior cidade da Croácia e a maior da região da Dalmácia. Se já se perguntaram a vocês próprios se é daqui que advém a designação “Dálmata”, uma das teorias mais aceites (apesar de haverem outras) é que de facto, essa bonita raça de cães deve a esta região o seu nome. Split é uma das cidades mais antigas da Croácia, tradicionalmente mencionada como tendo pelo menos 17 séculos de história. Exemplo disso é um dos monumentos mais visitados: o Palácio de Diocleciano que data do ano 305 e que visitaremos mais tarde.
Decidimos descansar um pouco na praia de Bacvice. Tem bandeira azul e um areal muito pequeno, seguindo-se uma extensão grande de paredão, com todas as condições esperadas neste tipo de praia citadina. Mais adiante, há várias outras pequenas praias, pelo que quando uma começa a ficar cheia, é fácil encontrar outra mais tranquila que nos agrade. O mar está quase sempre à altura do joelho, motivo que explica o facto de ter sido aqui que supostamente nasceu um dos “desportos” nacionais: o Picigin. Detalhes sobre o Picigin mas adiante.


Sendo eu o brinquedo da minha filha durante as férias, tarefa que desempenho com a dedicação e entusiasmo dos meus tempos de criança, tenho de imediato um convite para irmos aos insufláveis de água (pagos, mas barato). Também já se vêem destes em inúmeras zonas em Portugal como São Martinho do Porto, por exemplo. Seguem-se muitos embaraçosos mas divertidos fails que fariam sucesso no concurso televisivo Wipeout. Não existe registo digital desses momentos e mesmo se houvesse, desapareceriam misteriosamente ;)


Como esta é em alguns aspetos, uma viagem de primeiras vezes (primeira grande road trip, primeiro grande trek), fazemos a minha estreia e da minha filha nas motas de água, com um belo passeio a dois na baía de Bacvice, à medida que os paquetes cheios de milhares de turistas passam ao largo, a caminho do seu próximo destino. Por entre o barulho do motor da mota de água oiço por vezes “mais depressa”, enquanto aperto a minha filha entre os braços, sentada à minha frente. Obedeço e ambos gritamos que nem meninas. Quando regressamos, noto o ar de alívio da mãe, assim que eu e a filhota nos apeamos da mota de água.


Não há nada como saltar de um pontão para água profunda (onde se tenha comprovado previamente que não há rochas). Cumprimos mais esse passo importante na educação da minha filha, em doses repetidas. A prática faz a perfeição, não é? A mãe sofre à distância, enquanto capta o momento. Andando pelo paredão, damos uma vista de olhos a algumas das outras praias mais adiante para ter uma idéia de como são.


Depois de almoço, visitamos a zona velha de Split. É aqui que se encontra por exemplo o impressionante e multi-facetado Palácio de Diocleciano.


As galerias nas catacumbas estão pejadas de pequenas bancas de venda de artesanato, souvenirs e afins. Subimos à torre do sino da Catedral St. Domnius para obter uma bonita panorâmica sobre Split. Quando chegamos lá acima e admiramos a vista, dou por mim a imaginar as estruturas de construção em volta no ano 305 e como seria trabalhar aqui em cima para eregir esta beleza em tempos tão longínquos.


Ao fim da tarde, voltamos à praia. A minha filha começa a brincar na areia e mete conversa com outra menina que me parece ser de um país de leste. Fala um inglês básico, tal como a minha filha. Elas lá se entendem e ficam a brincar. A água está agora infestada de pequenos grupos de jogadores de Picigin, literalmente dos 8 aos 80. O Picigin é o desporto nacional de praia dos croatas, sendo Split e nomeadamente a praia de Bacvice um dos seus expoentes máximos. O conceito é surpreendentemente simples: usar as mãos como raquetes para passar, sem deixar cair, uma pequena bola de borracha com uns 5 cms de diâmetro entre duas ou mais pessoas, normalmente dispostas em círculo, dentro de água, com o mar pelo joelho. Todos eles jogam de uma forma tão determinada e apaixonada, como se as suas vidas disso dependessem. Atiram-se em vôo para não deixar a bola cair, enviam-na com tremenda pontaria e maestria para o próximo, que por sua vez se atira também em vôo. Aterram por vezes com alguma violência na água baixa, batem com as costelas na areia, levantam-se como se nada fosse e incitam o próximo a atirar-lhes a bola de maneira a que eles próprios tenham que se atirar também. Quando a troca de bolas se torna demasiado confortável, decidem começar a atirar a mesma um pouco para longe de um dos jogadores, para que ele tenha a oportunidade de se projectar no ar em vôo, em toda a sua glória, enquanto “cava” a bola e atira para o próximo. E assim sucessivamente.


A simplicidade do jogo faz-me perguntar a mim próprio porque se joga isto apenas na Croácia. Já tinha lido que jogar Picigin é uma das experiências mais “nativas” que pode haver em Split. E logo eu que adoro desportos de raquetes. A idéia de usar as minhas mãos como raquetes agrada-me. Joguei ténis muitos anos e sou fã recente do novo (em Portugal) e viciante desporto Padel. Começa a nascer em mim o bichinho de me juntar a estes “pros” do Picigin e mostrar-lhes que também sou capaz. Mas tuga que se preze não gosta de fazer má figura, nem a brincar. Como tal, durante meia hora, desperto o Sherlock Holmes que há em mim e enceto um período de análise pormenorizada e observação escrupulosa das jogadas deles, com o intuito de tentar perceber as técnicas que usam para manter a bola em jogo tanto tempo sem cair à água. Sinto-me um cientista a tentar decompôr o adn de um corpo alíegena. Uma vez que tenho uma boa destreza para desportos em geral, sinto-me confiante passada essa meia hora. Escolho um grupo de 5 jogadores que parecem ser dos melhores na praia e que regularmente mantêm a bola em jogo sem cair durante largos períodos. Peço para jogar, admitindo relutantemente que “É a minha primeira vez!”. Estava preparado para que me dissessem “epa estamos cheios” ou “agora não dá”, tal é o seu nível de jogo. Surpreendem-me com um largo sorriso e dizem-me “Claro que sim, qualquer um pode jogar!”.


É com alguma surpresa que constato que a análise prévia que fiz deu dividendos imediatos. Mantenho a bola em jogo como se o fizesse há anos. É como se tivesse sido criado nesta praia. Sou um deles. Após algumas jogadas, um deles pergunta-me desconfiado, como que esperando uma confissão: “De certeza que é a primeira vez que jogas?”. Respondo com sinceridade que sim e parecem acreditar em mim. A minha cara de parvo a responder deve ter ajudado. À medida que a minha confiança aumenta, o risco também. Gradualmente, começo a atirar-me em vôos cada vez mais destemidos para evitar que as bolas caiam na água e se perca a jogada. Apercebo-me que as aterragens são bem menos confortáveis do que pareciam ao longe, quando somos apenas espectadores incautos. É que tal como nos explicariam se isto fosse o programa “A Ciência da Estupidez”, água pelo joelho pouco faz para atenuar a queda de corpos inertes a considerável velocidade. A massa acaba por prevalecer. Aterro sobre os cotovelos, de lado, de joelhos, dou valentes rabadas, quase sempre sem deixar cair a bola e passando-a em condições ao próximo, levantando-me tão rapidamente quanto os ossos doridos vão permitindo.


Passada cerca de meia hora, e apesar de estar a adorar, as mazelas começam a arrefecer, o suplemento de adrenalina esvai-se e começo a desvanecer. É no que dá ter espírito de adolescente em corpo de recém-quarentão. Nem o constante encorajamento por parte da minha filha ao longe (“Boa pai!”) me consegue manter em jogo. Uso o avançado da hora e a minha filha como desculpa para terminar a minha participação da forma mais graciosa que consigo, sem admitir que me dói tudo. Eles estão com ar de quem poderiam jogar pela noite fora. Agradeço com um sorriso e retribuem com calorosos abraços e despedidas. Desafiam-me: “Amanhã no mesmo sítio, à mesma hora, ok?”. Voltaria de bom grado se não fossemos passar o dia à ilha de Brac no dia seguinte. Ou talvez se aplique a expressão “salvo pelo gongo”, já que não sei se sobreviveria ao entusiasmo de outra sessão.
Caminhando de regresso ao quarto que, graças aos céus está bem próximo, falho miseravalmente na minha tentativa de disfarçar a dôr que lateja na bacia, no lombo, nas costelas, nos pés. Um de cada vez, se faz favor, já que não consigo perceber quem se queixa mais. Entre o ocasional esgar de dôr, caminho com um largo sorriso no lábios. Recebo os parabéns entusiasmados do conselho familiar que claramente ficou impressionado.
Dou por mim a trautear a música “Beatiful Day” dos U2.


A PONTA
Brac, Bol (dia 6)
Hibernei que nem um urso no Alaska. O despertador devolve-me à vida dura do viajante, muito antes do que a natureza do corpo me sugere. É como se ainda estivessemos no início do Inverno e algo me puxasse para a toca. Como se ainda faltasse muito tempo para a Primavera. Hoje é dia de irmos à ilha de Brac, com o principal objectivo (entre outros) de conhecer e disfrutar um pouco da badalada praia Zlatni Rat em Bol, com a sua configuração única de mini península que apunhala o mar e lhe confere as características de uma dupla baía. Outra praia que também tem bandeira azul. Há muitos ferries que saem diáriamente de Split para inúmeras ilhas. Escolha de qualidade não falta. Brac é uma dessas ilhas, havendo várias ligações diárias desde Split para lá. Os ferries saem do centro de Split, a apenas 5 minutos do nosso alojamento.


Chegamos cedo, compramos os bilhetes para o ferry da Jadrolinija e indicam-nos a fila para o nosso singelo mas sempre fiel bólide. O custo dos bilhetes ida e volta fica por uns 30 EUR no total: cerca de 160 HRK pela viatura, mais 28 HRK por adulto e 14 HRK pela criança. Apesar de ser estarmos praticamente no pico da época alta, fico algo surpreso ao verificar que a fila para o ferry das 09:00 é pequena a esta hora.


Como que seguindo um ritual de grupo, pomos a leitura em dia durante a travessia de 1 hora. Chegados a Brac, 20 minutos depois estamos na praia de Zlatni Rat. Uma vez mais, o tempo começa por não colaborar. Apesar disso, a beleza de praia e sua envolvência é por demais evidente.


Tal como a maioria das praias na Croácia, Bol é também ela uma praia coberta por pequenos seixos aredondados, suavizados pela erosão. O tempo farrusco dá-me uma óptima desculpa para recuperar mais um pouco do jogo de Picigin em espreguiçadeiras que alugamos por meio dia, na esperança que brevemente o sol perca a vergonha e consiga romper o manto de nuvens que envolve os cumes circundantes. Porém, não consigo estar parado muito tempo. Só para não falar de copo meio cheios, nós tentamos seguir a missiva em que quando a vida nos dá limões, a malta faz limonada. Assim, pomos as camisolas de água que ajudam a suportar melhor a temperatura ainda fresca do mar, óculos, tubo e vamos à descoberta da vida marinha que rodeia esta zona.


Encontramos lulas, chocos (na foto), alguns cardumes de peixes pequenos, até um pequeno peixe que parece ser da família do peixe pedra. Na dúvida, e uma vez que a confirmar-se, se trata de um dos peixes mais venenosos do mundo, dou-lhe a devida distância. Mais do que o suficiente para nos entreter e em linha com o esperado nesta zona. Uma vez mais, a excelente visibilidade debaixo de água surpreende-me.


Sem que nos apercebamos, numa das vezes em que regressamos à tona e olhamos á nossa volta, verificamos que um qualquer espirro divino excomungou o lençol espesso de nuvens que cobria a praia. Á medida que o sol vai subindo, começamos a sentir aquele calorzinho bom nas costas. Temos praia afinal.


Mais do que ver outras partes de Brac, decidimos que está na altura de simplesmente gozar a praia e praticar um pouco da religião cuja denominação mais comum e mundana é preguiçar. Almoçamos e passamos parte da tarde ainda em Bol, aproveitando o bom tempo. Quando o vento se levanta na praia do lado esquerdo, verificamos que do lado direito não há vento e mudamos de poiso. Quem diria que uma praia poderia ter um alter-ego tão útil?


Quando o tempo começa a fechar novamente a meio da tarde, decidimos ir andando para ainda ver um pouco mais da ilha. Esqueço-me de ir ao viewpoint no alto da encosta que permite ver Bol de cima e mais tarde dou-me uma auto-belinha à conta desse falhanço. Se fosse o Homer Simpson, seria o meu momento “Dope!”. Como tal, vejo-me obrigado a pedir uma foto emprestada ao google para ilustrar a beleza da praia vista de cima.
 
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Enquanto esperamos pelo ferry, damos um pequeno passeio por Supetar, que com o seu aspecto algo charmoso, parece merecer um olhar mais atento, tal como o resto de Brac, quiçá numa futura visita com mais tempo.


O sol já vai baixo no horizonte quando o ferry arranca em direcção a Split. Olhando para o céu, sei que vai valer a pena ficar na coberta do navio, apesar do vento que me açoita as orelhas. O pessoal ficou mal habituado com o calorzinho da praia e opta por ficar no quentinho abrigado das cabines interiores. O ferry desliza suave e preguiçosamente mostrando-me, como se de uma moldura se tratasse, a maravilhosa Costa da Dalmácia em todo o seu esplendor. Costa de Ouro, diria eu, tal a intensidade com que o sol pinta as suas encostas de dourado. É uma visão esplendorosa.


Tenho um deja-vu com um momento inolvidável que partilhei com a minha mulher há mais de 10 anos, enquanto estava também debruçado na amurada de um outro navio, mas este navegava no rio Nilo. O sol começava também a pôr-se no horizonte e observava com fascínio o contraste único entre o rio de um verde azulado profundo, as plantações viçosas que abraçavam o rio, as dunas douradas e as montanhas rochosas que se erguiam ao longe. Os pescadores atiravam as suas redes à água, recortados pelo pôr do sol, enquanto nas margens miúdos descalços nos acenavam, sorridentes. Ainda hoje me arrepio quando penso nisso.


De volta à realidade, o vento acalmara um pouco e acariciava-me agora a face, como que pedindo desculpa pelos açoites anteriores. Debruçado na amurada, o meu olhar vazio percorre as encostas de lés a lés, esvaziando também a minha mente de tudo o resto, inspirando o aroma fresco e puro a maresia e o quente do pôr do sol, como se fosse um tónico que limpa a mente e revigora a alma. Viro a face para o vento, enfrento o sol e fecho os olhos.


É um momento em que sinto realmente que estou longe de casa, mas que está tudo bem. É como se estivesse parado no tempo. Não estou a correr para outro lado qualquer, simplesmente estou. Enquanto passa mais um ferry por nós, o sol projecta um último manto de luz sobre as nuvens baixas. Quando regresso para junto da família, tenho um sorriso parvo, mas tranquilo. Digo-lhes “Não sabem o que perderam.”



A VIAGEM
Split, Walls of Ston e Dubrovnik (dia 7)
Depois de solicitar um checkout tardio à incrivelmente simpática Vedrana (jovem senhoria do charmoso quarto que alugámos), aproveitamos o sol da manhã para queimar os últimos cartuchos na praia em Split. Temos uma longa viagem de 5h de carro à nossa frente, pelo que não queremos fazer nada de muito cansativo de manhã. A seguir ao almoço, saímos em direcção a Dubrovnik, sempre pela D8. Pela primeira vez, sofremos negativamente com uma das desvantagens de ir pela estrada mais cénica e não pela auto-estrada: estamos quase 30 minutos parados em Omis, pouco depois de sairmos de Split. Fazendo juz ao seu nome, distraímo-nos um pouco com a bela fortaleza Mirabella que vemos do carro.


Edificada no século XIII, convida a uma visita apropriada, até porque pela sua posição privilegiada, certamente oferece uma vista panorâmica singular sobre as redondezas. Se não tivesse que entregar o carro até às 20:00 em Dubrovnik, estacionava e visitava o castelo, em vez de vegetar no trânsito. Passado um bocado, finalmente avançamos e começamos a disfrutar da lindíssima paisagem que caracteriza o nosso percurso.


A linha costeira é pontuada por inúmeras pequenas baías, escondidas nas encostas, como pequenos tesouros sussurrados ao ouvido pelo vento. Tinha idéia em parar em duas ou três dessas praias, mas apercebi-me que ter saído depois de almoço de Split inviabilizou-me essa possibilidade. Resignado, penso “Tenho que deixar algo para a próxima, de qualquer maneira.”


Paramos três ou quatro vezes em outros tantos viewpoints. Tão depressa nos debruçamos sobre praias lindíssimas na costa, como a estrada curva para o interior e nos deparamos com belos lagos de montanha, dignos de Plitvice. Lembro-me dos Açores e penso que estes lagos, apesar de belos, não chegam aos calcanhares das nossas lagoas vulcânicas.


Mais adiante, planícies cultivadas e verdejantes a perder de vista espreguiçam-se perante os nossos olhos, com as montanhas como pano de fundo.


Nunca uma viagem assim longa me pareceu tão curta. Tenho a sensação que fiz um Lisboa/Algarve em 2h e não quase 5h de viagem. Pode ser mais rápida, se o ritmo fôr mais apressado, mas quanto a mim não faz sentido. Quem tiver pressa, apanhe a auto-estrada que é ainda mais rápida. Quem quiser apreciar uma das mais bonitas estradas da Europa, e tenha a paz de espírito necessária para suportar a lentidão de ocasionais veículos lentos, venha por aqui que será recompensado com a experiência em si. Outro facto interessante deste trajecto é que a estrada “obriga-nos” a entrar na Bósnia (ainda que apenas por poucos quilómetros) para reentrarmos na Croácia 15 minutos depois. O pequeno posto de controle fronteiriço nem nos escolhe para a verificação de identidade, não paramos sequer. Uma vez na Bósnia, encontro uma pequena loja de souvenirs para pelo menos levar um magneto daqui.
Reentrados na Croácia e antes de apontarmos em definitivo a Dubrovnik, tomamos a decisão de fazer um breve desvio: uma vez que ainda temos tempo, decidimos visitar “a muralha da China” da Croácia (um pequeno exagero). Ston fica a poucas dezenas de quilómetros de Dubrovnik e pelas encostas desse pacato vilarejo serpenteia a muralha conhecida como Walls of Ston. Originalmente construída no século XV, desempenhou inúmeras funções ao longo do tempo, quer para proteger pessoas e bens (na área que vai desde Ston a Wali Ston), quer também para proteger salinas. Estas salinas eram bastante preciosas durante longos períodos da história das muralhas e contribuiram de forma importante para a riqueza que Dubrovnik sempre granjeou. A muralha tem 5,5 Km e mantêm-se de pé 20 torres, sendo que as restantes 20 (das 40 originais) sucubiram à passagem dos anos, das intempéries e dos inimigos. Esta beleza arquitectónica em óptimo estado de conservação serve agora de chamariz para o viajante, qual minhoca num anzol. Nós mordemos o isco alegremente.


Sei que não disponho do tempo que o lugar merecia que lhe dedicasse. O resto do pessoal já não está com a energia necessária para as boas caminhadas que a muralha nos sugere.


Defino prioridades e, depois de dar uma breve vista de olhos em conjunto com a família, concordamos que usarei o tempo restante para para fazer uma rápida incursão a solo pelo alto das muralhas, sacando umas fotos e criando uma pequena memória fugaz, como que um lembrete para um possível regresso futuro.


O relógio não perdoa e nem dou pelo tempo passar. Como é óbvio, atrasei-me mais um bocado. Começo a sentir que vou ficar uns euros mais leve por não entregar o carro a tempo, ou por nem ter tempo para o reabastecer, facto a que estou obrigado pelo contrato de aluguer. Regresso ao carro esbaforido, com os músculos das pernas a queixarem-se do acumular das longas horas de condução, combinadas com 20 minutos de intensa escalada de degraus debaixo de calor intenso. Satisfeito na medida do possível, arranco para o trecho final até Dubrovnik. Entramos em Dubrovnik pelo topo da encosta que se projecta sobre o centro histórico. A pressa não me permite admirar a vista como ela merece. Sou um homem com uma missão: não pagar mais pelo aluguer à conta de entregar o carro tarde ou com falta de gasolina. O Peric Rooms fica numa das inúmeras encostas de Dubrovnik, a cerca de 200m do centro histórico e da famosa praia Banje Beach. Uma das razões pelas quais o escolhi foi pela vista fabulosa que as fotos no booking.com evidenciavam e pela sua localização privilegiada. No entanto, mesmo com GPS e a morada correcta, descobrir a casa certa pelas encostas algo labirínticas de Dubrovnik revela-se uma missão complicada e demorada. Olho para o relógio e sinto a carteira cada vez mais leve.
Tique-taque.

Falta meia hora apenas para entregar o carro e ainda nem sei onde vou deixar o pessoal, quando mais a distância desde o quarto até ao balcão da Avis.
“Chegou ao seu destino. O destino encontra-se do lado direito da estrada.” diz-me a Catarina. Olho para lá e respiro fundo. Não se parece nada com as fotos e sei que estou no sítio errado, embora com a morada certa no GPS. Telefono ao Sr. Peric para que me ajude, mas ele quando me pergunta “Onde está?”, respondo a única coisa que me vem à cabeça “Não faço idéia.” Agora é a vez dele respirar fundo. Nem ele me vê ou percebe onde eu estou. Ligo o modo "desenrascanço" tão característico e singular dos portugueses e entro nas casas a perguntar. Apercebo-me com alívio com o Sr. Peric é muito conhecido. Mais tarde perceberei porquê. Apontam na direcção da estrada de cima. Caramba, falhei por uma curva.
Tique-taque.

Volto para trás e finalmente vejo o Sr. Peric a acenar-me do alto da sua varanda. Estaciono, cumprimentamo-nos e depressa ele se apercebe da minha sensação de urgência. Diz-me que o balcão que corresponde à morada que lhe mostro ainda fica longe.
O suor começa a escorrer-me pela face. Faltam 15 minutos para fechar o balcão. Oferece-se para ir comigo ao balcão, levando o seu carro para assim me trazer de volta, pois ainda é longe. Nem tinha pensado no regresso depois de entregar o carro. Telefona para o balcão e, com o benefício da linguagem nativa e boas maneiras, convence a senhora do balcão a esperar um pouco. Entretanto começo freneticamente a retirar tudo do carro, abro os botões da camisa, à medida que me transformo numa das cascatas de Plitvice. Com um ar muito sereno, o Sr. Peric tenta acalmar o meu espírito mas naquele momento, sou como um comboio desgovernado que não pode ser parado. Tudo está fora do carro, e como uma miragem, registo de relance a vista incrível.
Tique-taque.

Vamos embora, entregar o raio do carro. Nada mais importa. O Sr. Peric está dentro do seu carro à minha espera, pelo que sento-me no carro alugado e vou dar à chave … err … a chave … tinha no meu bolso dos calções. Hmm não, talvez no outro lado. Hmm não, ok ainda faltam bolsos. No bolso de trás certamente. Não, também não. Ok, acabaram-se os bolsos, espreito para o carro e não vejo as chaves em lado algum. Como disse uma vez um grande poeta, protagonista de filmes 3D, que vive num pantano, cheira mal e toma banho em lama: “Chiça, penico!!!”. Tenho que admitir que a minha linguagem possa ter sido ligeiramente mais forte, quiçá com um toque de vernáculo. Embrenho-me nos recantos mais recônditos da viatura, viro o carro ao contrário e nada. O Sr. Peric olha pacatamente para mim como se eu fosse um louco, como se estivesse a assistir a tudo em câmera lenta. Imagino que possa lhe possa passar pela cabeça se foi boa idéia alugar o quarto a este português agitado, nervoso, com laivos de demência. Felizmente a minha mulher e filha ajudam a balançar esta equação. Sinto que passou uma eternidade e não encontro as chaves nem no chão da rua, no quarto para onde já levamos algumas coisas, no carro, não estão em lado algum. Como é possível??!!? Arghh!!
Por fim, como se tivesse levado uma estalada bem aplicada, volto finalmente a mim, e paro um segundo, respiro fundo e revejo os minutos depois de desligar o carro. Parece-me que terei ido primeiro buscar a minha mochila ao banco de trás com as chaves na mão. Vou ao carro, procuro calmamente no banco de trás e encontro as #$%#$& das chaves escondidas e entaladas entre as almofadas do banco traseiro. Respiro fundo, sorrio finalmente e vamos entregar o carro. Carro entregue, sem multa. Missão cumprida.
Durante o meu ataque, o Sr. Peric encomendou pizzas para podermos jantar no quarto. Foi uma idéia visionária, derivado ao avançado da hora e o facto de estarmos obviamente cansados, clamando por sopas e descanso. De regresso á sua bela vivenda, paredes meias com o anexo onde estão os quartos que aluga, oferece-me uma cerveja gelada e conversamos calmamente ao ritmo da suave brisa nocturna. Apresenta-nos a simpática mulher e filha que o ajudam a gerir o seu pequeno empreendimento turístico.


Quando refiro que por vezes escrevo reports de viagens para o maior portal de viagens português, sinto a sua atenção a redobrar. Enquanto as pizzas não chegam, venho a saber que o Sr. Peric é na verdade o vereador do pelourinho do turismo da cidade de Dubrovnik, desde alguns anos a esta parte. Percebo agora o porquê da notoriedade do Sr. Peric. Nos dias seguintes, teremos várias conversas sobre o turismo em Dubrovnik, como eles têm lutado para manter a sustentabilidade do turismo de qualidade no centro histórico, “combatendo” o autêntico tsunami de cruzeiros que se dirigem diariamente para aquela que é certamente uma das cidades costeiras mais sexy da Europa. Diz-me por exemplo, que há uns anos era frequente que o centro histórico de Dubrovnik se tornasse um inferno turístico, já que os inúmeros cruzeiros que paravam na cidade frequentemente chegavam em simultâneo, despejando uma torrente de milhares e milhares de turístas ao mesmo tempo numa zona que não tinha capacidade para albergar nem metade. “Agora, é diferente.”, diz-me, deixando transparecer o que me parecer ser uma ponta de orgulho. "Trabalhámos arduamente com os operadores para conseguir evitar essa simultaneidade, algo que também é do interesse deles, já que assim a satisfação dos clientes deles também é maior, já que não há tantos turistas quando eles visitam. Hoje em dia, regra geral, normalmente há um/dois cruzeiros por dia, não mais.” Chegaram a ter 5 e 6 ao mesmo tempo.


Estou exausto, mas antes de aterrar na cama, não resisto a passar largos minutos na varanda do nosso quarto, admirando a espectacular vista sobre o centro histórico, e imaginando como será a vista amanhã de manhã.


A PÉROLA
Dubrovnik (dia 9)
Ainda estremunhado e meio ensonado, tropeço na carpete enquanto me dirijo à janela. Sou cegado pela forte luz matinal quando saio para a varada. Inspiro o ar fresco matinal, esfrego os olhos e por entre as minhas persianas ainda meio cerradas, os meus sentidos são inundados pela espectacular vista da baía de Dubrovnik. O mar Adriático abraça o centro histórico e a ilha Lokrum. Esta fica a uns singelos 15 minutos de barco a partir de Dubrovnik. O verde e azul do mar fundem-se com o azul celeste do céu, polvilhado com pequenas nuvens. Apesar de ser Julho e Dubrovnik ter imensos turistas, há uma sensação de calma e tranquilidade que paira sobre a baía.


Conseguem-se ouvir pessoas a conversar muitas ruas abaixo. Ouvem-se os pássaros a combinar onde irão à busca de minhocas e insectos. Ouvem-se cigarras e grilos a combinar como se irão esconder dos pássaros. Não se ouvem minhocas. Admiramos a vista durante largos minutos, encontramos novos pontos de interesse à distância, até que por fim um ronco do meu estômago, qual sino para almoço, nos arranca desse torpor hipnótico e anuncia a hora de descer ao centro para tomarmos o pequeno almoço e iniciar o dia de trabalho.


A manhã solarenga mas fresca determina o nosso itinerário: está a temperatura perfeita para visitarmos o centro histórico. Usamos uma ida à praia mais tarde como “cenoura” para a nossa filha, já que na idade dela, aguenta bem algumas horas de edifícios, museus e história, mas uma manhã inteira requer motivações adicionais. Tinha lido no dia anterior num panfleto que na cidadela existe também um pequeno aquário, o que juntamente com as suculentas geladarias italianas espalhadas pelo centro, constituem o cenário perfeito para uma manhã com pontos de interesse para todos os envolvidos.


Nos circulos turísticos, Dubrovnik é frequentemente referenciada como a pérola do Adriático e percebe-se porquê. O centro histórico é lindíssimo, tem um nível de preservação invejável e a quantidade de locais centenários de interesse histórico é abundante. As praças, igrejas, capelas, as muralhas, as torres, as geladarias … ok, estas últimas não tão históricas, mas igualmente memoráveis. A cidade tem um certo sex appeal que é irrestível, particularmente quando não tem muita gente, como é agora o caso. Apesar da intrusão das inúmeras lojas, restaurantes, geladarias e outros tantos negócios de cariz turístico, a histórica cidade murada mantém muito do seu encanto. Na relativamente recente guerra dos Balcãs, Dubrovnik foi um dos últimos bastiões não conquistados. Chegou a estar cercada durante 7 meses pelo exército jugoslavo e sofreu consideráveis danos, tendo sido atingida por milhares de obuses durante esse período. Este facto torna ainda mais louvável o esforço de restauração do património histórico então danificado, bem como a forma como tal tarefa foi levada a cabo, já que quase tudo parece estar na sua forma original.


Fazemos uma paragem numa geladaria italiana que se encontra num dos inúmeros ancoradouros que rodeiam a fortaleza. Um gelado de limão cremoso e aveludado (um clássico durante a nossa viagem) carrega-nos as baterias. O aquário de Dubrovnik situa-se num dos cantos da fortaleza. Tem uma pequena mas simpática colecção de animais que ajuda a renovar o espírito da pequenada. Tartarugas, polvos, inúmeros peixes tropicais como o peixe leão, anémonas, enfim, o cardápio do costume. Os cavalos marinhos estão entre os meus favoritos, embora o meu espírito inquisitivo acabe mais a indagar sobre o tempo de vida que um ser tão sensível e delicado terá num aquário destes, do que propriamente a contemplar a beleza do mesmo.

 
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calu

Membro Conhecido
É possível subir e percorrer as ameias da fortaleza mas optamos por não o fazer hoje, já que a caminhada vai longa e não queremos abusar da nossa sorte, uma vez que a moral de todos continua em alta e não convém estragar a coisa. O sol vai agora alto e respondemos alegremente ao encitamento por parte do calorzinho bom que agora sentimos. Dirigimo-nos para a praia. Dubrovnik tem várias praias ao seu redor, mas uma das mais belas e conhecidas fica convenientemente ao lado do centro histórico.


Frequentemente apinhada derivado às suas dimensões reduzidas e proximidade do centro, merece ainda assim a fama que granjeia. A Banje Beach é, apesar da enorme pressão humana que sofre, uma praia de seixos lindíssima. O mar cristalino e verde esmeralda nas zonas menos profundas contrasta com o azul forte escurecido das zonas mais profundas e rochosas. As pessoas dentro de água parecem suspensas, tal a transparência da água.


Enquadrada pela ilha Lokrum e pela bela fortaleza invicta de Dubrovnik, poucas praias citadinas no Mundo conseguirão um enquadramento tão equilibrado entre natureza e estruturas criadas pelo homem. A ausência de areia e o nosso amôr pelas nossas costas convencem-nos a gastar os 15 EUR (se bem me lembro) pelo aluguer de duas espreguiçadeiras. Aproveitamos a conveniência do pequeno bar que serve na praia e encomendamos umas massas e hamburguer para o almoço, a preços razoáveis, tendo em conta o local e que estamos a ser servidos na praia (uns 13 EUR cada prato). Uma trincadela gulosa no hambúrguer esguicha maionese para o meu bucho enquanto observo sem surpresa algumas pessoas a jogarem Picigin mesmo aqui, longe de Split.


Jogamos um bocado ao inevitável Uno antes de irmos apreciar a agradável temperatura do mar (diria uns 23º) e fazer um pouco de snorkelling. Tal como em Bol, o snorkelling é suficiente para nos entreter, acima de tudo com pequenas espécies comuns no Mediterrâneo e Adriático (pequenos crustáceos, solhas, linguados, lulas, vários pequenos peixes como bodiões, alguns cardumes parecem de sardinhas/taínhas, etc).

Ao fim da tarde, saímos da praia e dirigimo-nos para o Dubrovnik Cable Car. Fica também bastante próximo do centro histórico, apenas a uns 100m, no primeiro nível de encosta a seguir ao nível da estrada que passa ao lado da fortaleza.


Os bilhetes custaram 108 HRK/pessoa (algo caro). A pequena fila na bilheteira permitiu-nos subir quase de imediato. À medida que subimos, avisto à minha direita uma parte de Dubrovnik mais afastada do centro histórico e que não visitaremos desta vez, mas que parece igualmente convidativa.


A subida demora cerca de 5 minutos e à medida que ascende, vai gradualmente proporcionando vistas cada vez mais espetaculares sobre Dubrovnik. A vista à esquerda, sobre os vários níveis de construção sobre a encosta, permite-nos sondar a encosta à procura do nosso apartamento.


Á direita de nós na subida, a tal zona de Dubrovnik mais afastada do centro que não tivemos a oportunidade de explorar. Também esta terá que ficar para uma próxima.


Quando descíamos a pé para ir ao centro a partir do nosso apartamento, é como diz o ditado: “A descer, todos os santos ajudam”. A subir à noite, cansados do dia de trabalho, ninguém ajudava a não ser as nossas pernas. Eu acho que a essa hora, os santos estão todos nos copos a beber cerveja e a comer tremoços, marimbando-se para quem precisa deles.
Chegados ao topo, há 2 terraços em níveis diferentes. A vista panorâmica sobre a cidade é de cortar a respiração, permitindo-nos admirar os recortes da belíssima fortaleza que abraça o centro histórico de Dubrovnik.​


Enquanto eu procuro molduras na paisagem, a minhas mulheres entretêm-se com os binóculos de moedas existentes no local.


O dia já vai longo e a barriga começa a dar horas. Assim que nos damos por satisfeitos nesta experiência panorâmica, iniciamos a descida e dirigimo-nos uma vez mais ao centro histórico para procurar um restaurante nos agradáveis pequenos labirintos históricos de Dubrovnik. Os preços têm sido razoáveis. Procurando com algum critério, consegue-se comer bem por valores médios que variam entre 10 e 20 EUR por pessoa.


Vamos parando aqui e ali nas inúmeras bancas de artistas, vendedores ou performers, que tentam captar a nossa atenção com as suas peças originais e coloridas. Tendo duas mulheres a viajar comigo, depressa a minha carteira vai ficando mais leve.


À medida que subimos a encosta em direcção ao nosso alojamento, nem as memórias de um dia fantástico contribuem para aliviar as dores nas pernas e nos pés. Mas valeu a pena cada minuto.


O CULMINAR
Dubrovnik (dia 9)
Um raio de sol persistente rompe uma nesga na persiana e puxa-me uma pálpebra para cima. Último dia? Nah, não pode ser. Protesto, fecho o olho e viro-me para o outro lado, esperando que seja um pesadelo. A minha testa tem um encontro imediato com a mesinha de cabeceira e apercebo-me da dura realidade. #$%”#. Agora bem acordado e com a cabeça a latejar, apercebo-me que é o tal dia. Aquele. Nem é tanto o ter que regressar. Já viajei o suficiente para ficar satisfeito com o que tenho, mesmo quando sabe a pouco. É o fazer as malas para voltar da festa. Antes caminhar sobre brasas do que ter que fazer as malas. E logo ao fim da tarde ter que ir para o aeroporto. Penso no saco da roupa suja, algo que não ajuda nada a abrir o apetite para o pequeno almoço.


Dá para fazer undo 10 dias e recomeçar? Um novo dia solarengo confirma o itinerário que tínhamos planeado para este último dia: ir a uma belíssima praia mais recatada que fica a uns 10 minutos de carro do centro. Depois de uma viagem longa, tínhamos já decidido de antemão que os últimos dias em Dubrovnik teriam que ter uma boa dose de repouso, para que assim pudéssemos também descansar um pouco. Se fossemos um grupo de amigos de 20 anos, a celebração do último dia seria regada a quantidades insanas de álcool e pautada novamente por actividades passíveis de gerar momentos embaraçosos e deveras humilhantes. No nosso caso, passou por escolher um local especial para o pequeno almoço, sem ter grande atenção aos custos. Escolhemos uma simpática, dispendiosa mas maravilhosamente bem localizada coffee shop, mesmo à entrada da pequena Marina de Dubrovnik, directamente em frente às muralhas. É aquele tipo de momento “Nós merecemos”.
Já bem alimentados, reparo num mapa público que os vários autocarros que passam pelo centro não páram na zona da praia onde pretendo ir. Para evitar perder muito tempo neste que é o último dia, pegamos num táxi e vamos diretamente para a praia.
St. Jakov é uma pequena pérola que fica a cerca de 1km do centro, e com acessibilidades algo complicadas. Mesmo de táxi, não é fácil dar com ela. Ademais, é depois ainda preciso navegar por entre umas ruelas a pé e descer uma quantidade considerável de degraus meio escondidos para finalmente chegar. Mas vale a pena. Estes factores combinados fazem com que seja muito menos concorrida que a Banje Beach, e é igualmente bela.


A mesma palete de cores marinhas que nos impressionou em Banje apresenta-se também aqui em todo o seu esplendor. A praia tem alguns serviços básicos como aluguer de espreguiçadeiras e um pequeno bar que serve refeições básicas. Decidimos passar aqui um dia de ócio e puro dolce far niente. Aproveito para pôr a leitura em dia. “Skeletons of the Zahara” foi a minha escolha para estas férias, um relato verídico deveras incrível sobre sobrevivência em condições extremas de uma tripulação cujo navio naufragou na costa Ocidental de África. Uns impressionantes 5 minutos depois, um pequeno furacão arranca-me repentinamente desse ritual, relembrando-me das minhas funções prioritárias: “Papá, vamos para a água brincar.” Haverá melhor razão no mundo para interromper um bom livro? Claro que não.


Antes de almoço, oiço falar a língua de Camões algures ao longe. Durante toda a viagem, a minha filha ansiava encontrar uma amiga ou amigo português. Como que se de uma prenda de despedida se tratasse, o seu desejo materializa-se. Encontramos uma família muito simpática de portugueses oriundos da Figueira da Foz, mas que vivem e trabalham em Bruxelas. Como nós, estão de férias na Croácia. Têm duas filhas, uma da idade da minha filha, pelo que durante o resto da manhã e início da tarde, tenho folga dos meus deveres e regresso à minha leitura. Após uma despedida sempre complicada entre a minha filha e as suas novas melhores amigas, a meio da tarde regressamos ao centro de Dubrovnik através de um barco-taxi que sai directamente da praia de St. Jakov para a zona da fortaleza. É um percurso curto, barato e que recomendo a quem visite esta praia. Podemos apreciar a bela encosta de Dubrovnik de uma perspectiva diferente, tendo a suave brisa marinha como companhia.


O inexcedível Sr. Peric deixou-nos fazer o checkout à hora que quiséssemos, uma vez que os próximos ocupantes chegarão apenas no dia seguinte. Fechamos as malas, e ao final da tarde, a calorosa despedida do Sr. Peric e da sua família agudiza-nos a sensação de saudade que teremos deste cantinho. Inunda-me com brochuras, CDs e livros sobre Dubrovnik. O Sr. Peric tem um sentido de genuína empatia e preocupação com as pessoas que infelizmente é raro, mas que me apraz conseguir reconhecer e apreciar. Devolvo-lhe o cumprimento caloroso. Asseguro-lhe que tentarei fazer justiça à qualidade do destino quando escrever sobre o mesmo, em geral no que toca à Croácia, mas em particular no que toca a Dubrovnik. A pérola do Adriático, como frequentemente é designada. Não questiono essa designação. Pelo contrário, só posso concordar. O Sr. Peric arranjou-nos um taxi de confiança dele, com desconto considerável sobre os preços que eu tinha visto previamente para o trajecto Dubrovnik/aeroporto. Ao fim da noite, apanhamos um vôo interno Dubrovnik > Zagreb na Croatia Airlines (300 e poucos euros para os 3). Uma hora depois estamos em Zagreb e pernoitamos num hotel à beira do aeroporto para apanhar amanhã cedo o vôo da TAP que nos levará regresso a Lisboa, concluindo assim aquela que foi uma das mais interessantes e diversificadas viagens que fizemos até hoje.


O PROCESSO
Sabia que esta viagem merecia um relatório à altura, mas por alguma razão, sentia que escrever algo da maneira tradicional não seria suficiente. Seria como grelhar um peixe sem sal. Depois pensei em escrever uma pequena crónica… fui desenrolando a minha memória e à medida que vi o conteúdo que se materializava, apercebi-me que ao ritmo que levava, demoraria imenso tempo até o poder acabar e finalmente publicar. Comecei a sentir uma certa ansiedade em “despachá-lo”, até porque o tempo para escrever não era muito. Fui resistindo a esses ìmpetos na esperança de que, ao permitir-me o tempo que fosse necessário para escrever, isso se reflectisse positivamente no produto final. Olhando para trás, acabei a escrever quase um mini livro. Deu-me um enorme gozo, com o interesse acrescido de ser a primeira vez que fiz algo desta natureza. Floreados à parte, tudo o que consta desta crónica corresponde a factos reais ocorridos durante a nossa viagem. Espero também que no meio de todas as descrições, divagações, introspecções e trambolhões, consigam encontrar informação que vos seja útil nas vossas próximas viagens ou que vos inspire a fazer aquela viagem que andavam a pensar fazer, mas que ainda não fizeram por uma razão ou outra.
Poderão vocês perguntar: “não é esta uma linguagem excessivamente retórica, demasiado sentimentalista e ingénua?”. Talvez. Mas se há sítios por este mundo fora que nos inspiram a dizer o que nos vai na alma, partilhar isso com alguém é a melhor forma de honrarmos a nossa experiência, podendo despertar noutros a criação dos seus próprios sonhos e a vontade de os perseguir.


A DEDICATÓRIA
Este report é dedicado em primeiro lugar, à minha família, também ela personagem ocasional deste relato. É especial escrever uma crónica destas sobre uma experiência que criámos e partilhámos juntos. Em segundo lugar, uma dedicatória muito especial para todo o staff do Portal das Viagens por todo o tempo e esforço que dedicam à manutenção deste portal de referência em Portugal, e que permite a pessoas como eu partilhar as nossas experiências com uma comunidade de viajantes ávida de conhecimento.
Muito obrigado por todas as horas que dedicaram, dedicam e irão dedicar ao Portal. A nova versão está 5*.
Last, but not least, este report é naturalmente dedicado à vasta comunidade de viajantes do Portal das Viagens.

Termino com uma frase do Gonçalo Cadilhe que resume na perfeição o meu estado de espírito após esta viagem:
“É para isto que se viaja, para descobrir lugares que nos correm para dentro da alma, para saber que eles existem, para sonhar em regressar.”
Até à próxima viagem.

Este report foi orgulhosamente escrito em Português de Portugal e não naquela abominação a que alguns iluminados energúmenos chamaram de acordo (ou aborto) ortográfico.
 
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Cristina Sousa

Membro Conhecido
Estou de queixo caído e sem palavras! :)
Emocionada mesmo por ler este relato de viagem.
Não é um report, é uma história de viagens, como muitas que fazem parte do meu imaginário desde que, há muitos anos atrás, li o "Sul" do Miguel Sousa Tavares! E depois, li o "Patagonia Express" do Luis Sepulveda.
Este teu mini livro, como bem afirmaste, tem a delícia dos pormenores, o bom humor dos momentos únicos que relatas, e a descrição exacta que nos faz sonhar com todos os locais por onde passaste, e que, pelo teu relato, também fez parte do nosso dia a dia por uns breves longos minutos. ;)
Das fotos nem digo nada, elas falam por si, maravilhosas!
Acho que não tenho muitas mais palavras para agradecer o muito tempo que despendeste a fazer esta crónica!
Talvez a única maneira seja mesmo a de recomendar a sua leitura a todos os que, como eu, guardam das viagens a melhor parte da vida.
OBRIGADA CALU :rolleyes:
 

toly

Membro Ativo
Cá está o desmancha-prazeres do Calú.
Depois deste report, nem vale a pena ir.
Já vimos tudo!
Agora a sério:
Belas fotos e excelente relato.
Fiz, em Abril, a metade da Croácia a que te faltou ir (Zadar-Rijeka-Pula) e fiquei cheio de vontade de conhecer essa outra metade.
Talvez para o ano que vem...
 

Nuno Breia

Membro Conhecido
Bem, what can I say!?!

Confesso que para quem despreza um pouco as letras como eu a crónica está um pouco extensa, mas ao mesmo tempo fez soltar gargalhadas, e mais importante que isso, fez sentir o local... Por momentos olhei para o relógio para verificar se não estava já no dia a seguir, tal não estava compenetrado na leitura...

Em relação às fotografias... Quando dizes que não fazem jus à beleza do local, fico pensativo - Como é possível ser mais bonito que nesta(s) fotografias?...
Como o toly disse e bem, agora ir lá é só mesmo para ver paisagem... lol

A aposta deste verão era a Croácia, mais concretamente Dubrovnik, Split, Hvar, Plitvice e um pézinho em Zagreb, esteve a um passo de acontecer, mas por vezes o destino troca-nos as voltas... Se a vontade de conhecer este país já era muita, agora é que ela ficou aguçada... Agora tenho de acrescentar pelo menos KrKa... lol

Por último só me resta agradecer esta viagem em 1ª Classe, na primeira fila...!

PS: Se houvesse um óscar para o melhor report, não seria necessário ir a votação, era atribuído directamente!
 

calu

Membro Conhecido
Estou de queixo caído e sem palavras! Emocionada mesmo por ler este relato de viagem.
...
Acho que não tenho muitas mais palavras para agradecer o muito tempo que despendeste a fazer esta crónica! Talvez a única maneira seja mesmo a de recomendar a sua leitura a todos os que, como eu, guardam das viagens a melhor parte da vida. OBRIGADA CALU
Muito obrigado Cristina, foi de facto bastante tempo, mas que considerei muito bem empregue, já que não poucas vezes dei por mim a sorrir enquanto escrevia, foi divertido :)

Cá está o desmancha-prazeres do Calú. Depois deste report, nem vale a pena ir. Já vimos tudo! Agora a sério: Belas fotos e excelente relato. Fiz, em Abril, a metade da Croácia a que te faltou ir (Zadar-Rijeka-Pula) e fiquei cheio de vontade de conhecer essa outra metade. Talvez para o ano que vem...
Ahaha :) Tks toly. Quando um dia regressar, também quero passar por esses lado (Rijeka, Pula), portanto já sei a quem irei pedir opiniões ;)

Bem, what can I say!?!Confesso que para quem despreza um pouco as letras como eu a crónica está um pouco extensa, mas ao mesmo tempo fez soltar gargalhadas, e mais importante que isso, fez sentir o local... Por momentos olhei para o relógio para verificar se não estava já no dia a seguir, tal não estava compenetrado na leitura...Em relação às fotografias... Quando dizes que não fazem jus à beleza do local, fico pensativo - Como é possível ser mais bonito que nesta(s) fotografias?... Como o toly disse e bem, agora ir lá é só mesmo para ver paisagem... lol
...
Por último só me resta agradecer esta viagem em 1ª Classe, na primeira fila...! PS: Se houvesse um óscar para o melhor report, não seria necessário ir a votação, era atribuído directamente!
:) Fico muito contente por conseguir divertir um pouco as pessoas enquanto os levo nesta viagem comigo, através da simples partilha de uma experiência. Obrigado pelos comentários! :)
 

PauloNev

Moderador Honorário
Staff
Palavras para que...
Antes de mais obrigado pela partilha, e pela dedicatória ao Portal/comunidade/equipa de moderação.
Realmente é muito mais que um report, é um livro, um guia ilustrado com magnificas fotos.
Obrigado por me fazer sonhar (certamente não serei o unico) e viajar sem sair da cadeira.
Só me resta desejar que continue a viajar muito e a nos brindar com magnificos report's. ;)
 

Flecha

Membro Conhecido
epa.... lol... mas o que poderei dizer?
tão bom.. mas tão delicioso de se ler que confesso que estou de queixo caído....
de facto do melhor que tenho lido. Tens uma veia escritora de facto, que parabenizo de pé. Quero muito lá ir..

agora as perguntas:
sabes que um dos meus problemas nesses países, apesar de ter gps comigo, e não saber como procurar as coisas no destino. Qual foi o método que usaste? coordenadas gps ou foste pelas atrações? tipo metias lagos xpto no gps e ele ia busca-los?
faço-me entender?

e sobre os hotéis, a mesma pergunta.
1abç
tiago

PS - só para dizer que ainda não tinha lido meia dúzia de linhas e já me estava a rir que nem um perdido... :)
 
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calu

Membro Conhecido
epa.... lol... mas o que poderei dizer? tão bom.. mas tão delicioso de se ler que confesso que estou de queixo caído....
de facto do melhor que tenho lido. Tens uma veia escritora de facto, que parabenizo de pé. Quero muito lá ir.. agora as perguntas:
sabes que um dos meus problemas nesses países, apesar de ter gps comigo, e não saber como procurar as coisas no destino. Qual foi o método que usaste? coordenadas gps ou foste pelas atrações? tipo metias lagos xpto no gps e ele ia busca-los?
faço-me entender? e sobre os hotéis, a mesma pergunta.
PS - só para dizer que ainda não tinha lido meia dúzia de linhas e já me estava a rir que nem um perdido... :)
Olá Tiago,
pensei que algumas tiradas mais cómicas pudessem ser um pouco demais, mas pelos vistos não :) Ainda bem.
Não usei o GPS para procurar ou definir os sítios, só para me levar às moradas dos sítios que eu tinha identificado que queria ir. Em alguns casos, (Plitvice ou Krka), eles até existiam como POI no GPS, portanto nem tive que pôr morada, usei logo esse Point of Interest.
O grosso da definição dos locais foi feita antes da viagem. Alguns já estavam definidos em função de feedback de amigos que lá tinha estado e alguns panfletos que recolhi durante uma feira de viagens no campo pequeno, junto de uma banca do turismo da croácia que estava a promover o destino. Depois, a nível de pesquisas que fiz, foram coisas do tipo: "top 10 beaches in croatia", "best beaches in croatia", "top 10 attraction for kids in Croatia/Zadar/Dubrovnik", "top 5 sights in dubrovnik". Depois, ler muito e ajustar os resultados das "top" searches com base nas nossas preferências.
Por fim, quando já lá estávamos, íamos recolhendo panfletos aqui e ali, falando com as pessoas (principalmente com quem nos alugava os quartos) que nos iam dando preciosas dicas também. No que toca aos hotéis, foi um pouco como referi na crónica: ver primeiro em que zona ficar e que proximidade do certos locais. Depois fazer a busca no booking filtrando por esses critérios e os habituais de qualidade dos ratings, e outros aspectos como estacionamento privativo incluído também (para não ter stress a estacionar o carro, já que os locais eram quase sempre nas zonas históricas onde não é fácil estacionar). Uma das raras vezes que usei o GPS para encontrar sítios foi para encontrar um posto de gasolina onde usei a função "Near me" para procurar postos de abastecimento próximos.
 
Última edição por um moderador:

Jorge Gonçalves

Membro Conhecido
Que report fabuloso!!! Existe tradição de bons relatos de viagem aqui no Portal, felizmente, mas consegues elevar a fasquia a outro patamar de excelência!!! :D

A Croácia será certamente um dos meus próximos destinos de férias, aliás, estava mesmo previsto para este ano, mas entretanto surgiu uma vontade irresistível de voltar ao Sudeste Asiático :p (desta vez será Vietname, Laos e Cambodja) e suspendi esta viagem para o próximo ano, provavelmente. Tenho já um roteiro praticamente definido para 15 dias, parecido com o teu, mas como são mais dias, incluo a Eslovénia e o Montenegro; vou revê-lo depois deste teu report para confirmar que nada fica por ver!

Como dizia o Nuno lá atrás: as fotos não conseguem traduzir a realidade??? Como? :eek: Maravilhosas fotos!!! ;)

A referência que fizeste ao Nilo fez-me também regressar a 2002 e lembrar uma das viagens mais marcantes que vivi! (esta nota serve também para confirmares que fui dos que li a crónica integralmente e não devorei só as fotos... lol)

Muito obrigado pela partilha!!!!!!!!!!!!!:D
 

Flecha

Membro Conhecido
ou seja, marcavas os hotéis perto de um conhecido POI, nas cidades/atrações/parques para ser mais fácil a procura e consequentemente chegada ao sitio, com a premissa de ter parque privativo? é isso?
GPS com listagens de POI safas-te bem....então.
Tenho de actualizar o meu garmin.... LOL
 

Ricardo_7

Membro Conhecido
Olá Calu,

Obrigado pelo que fizeste. Isto não é somente um report, é uma viagem de uma vida, com texto que vale por mil! A juntar a tudo isto tens aí fotos do melhor que já vi por aqui, simplesmente fantásticas! Obrigado mesmo!

boas viagens :)
 

calu

Membro Conhecido
Que report fabuloso!!! Existe tradição de bons relatos de viagem aqui no Portal, felizmente, mas consegues elevar a fasquia a outro patamar de excelência!!! :D A Croácia será certamente um dos meus próximos destinos de férias, aliás, estava mesmo previsto para este ano, mas entretanto surgiu uma vontade irresistível de voltar ao Sudeste Asiático :p (desta vez será Vietname, Laos e Cambodja) e suspendi esta viagem para o próximo ano, provavelmente. Tenho já um roteiro praticamente definido para 15 dias, parecido com o teu, mas como são mais dias, incluo a Eslovénia e o Montenegro; vou revê-lo depois deste teu report para confirmar que nada fica por ver! Como dizia o Nuno lá atrás: as fotos não conseguem traduzir a realidade??? Como? :eek: Maravilhosas fotos!!! ;) A referência que fizeste ao Nilo fez-me também regressar a 2002 e lembrar uma das viagens mais marcantes que vivi! (esta nota serve também para confirmares que fui dos que li a crónica integralmente e não devorei só as fotos... lol)
lol :D O Sudoeste Asiático é um sacana. Basta ir lá uma vez, lança-nos um feitiço e estamos sempre e pensar nele ;) Esse é um triângulo que também tenho na minha lista, mas como viajo sempre com criança(s), terá que ficar para um pouco mais tarde. Só de pensar nas ilhas do Vietname, nas montanhas do Laos e especialmente Angkor Wat no Camboja, fico todo arrepiado! :rolleyes:o_O

ou seja, marcavas os hotéis perto de um conhecido POI, nas cidades/atrações/parques para ser mais fácil a procura e consequentemente chegada ao sitio, com a premissa de ter parque privativo? é isso? GPS com listagens de POI safas-te bem....então. Tenho de actualizar o meu garmin.... LOL
Yep por aí. ;)
 

sandra Cortez

Membro Ativo
Palmas, palmas, palmas e mais palmas!!!
É só isso que me apetece fazer ao ler este magnifico report, guia de viagem, livro ilustrado, sei lá...

Já pensou SERIAMENTE (porque pensar já pensou de certeza) em escrever um livro das suas viagens (1ª edição), eu vou à apresentação e quero 1 autografo :)

Calu, Muitos Parabéns e obrigado pela viagem :)
 

Solitária

Membro Ativo
Adorei o teu report Calu, está fantástico.
Tal como tu também tenho uma princesa de 8 anos que anda sempre connosco, para a semana vamos iniciar as viagens com o mais pequeno de 14 meses, é o melhor legado que lhes podemos dar, eu costumo dizer muitas vezes que prefiro levá-los a conhecer o mundo do que encher os miúdos de brinquedos em demasia.
A Croácia em especial Dubrovnik está na nossa lista e com este magnífico report vamos querer explorar mais a Croácia.
 

calu

Membro Conhecido
Palmas, palmas, palmas e mais palmas!!! É só isso que me apetece fazer ao ler este magnifico report, guia de viagem, livro ilustrado, sei lá...Já pensou SERIAMENTE (porque pensar já pensou de certeza) em escrever um livro das suas viagens (1ª edição), eu vou à apresentação e quero 1 autografo :)
Calu, Muitos Parabéns e obrigado pela viagem :)
:oops: Muito obrigado, talvez um dia isso possa acontecer, nunca se sabe ;)
 
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