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Membro Conhecido
Datas da viagem: 24 Julho 2014 a 3 de Agosto
Vôos e alojamento: 1585 EUR
Refeições: 650 EUR
Aluguer carro: 507 EUR
Este não é um report convencional.
Para quem já leu algum dos meus relatos anteriores, não terá dificuldade em verificar que este é bastante diferente dos anteriores. Espelha o facto de que esta viagem foi também ela bastante diferente das anteriores. Este não é um report que descreve com clareza e de forma sucinta os prós e contras dos vários locais, dando primazia às fotos que falam por si. Não contém referências facilmente identificáveis com um simples olhar.
Para encontrar essas migalhas de informação objetiva, terá que mastigar as várias fatias deste bolo que agora começo a cozinhar. Confesso que é o meu primeiro bolo. Podem não gostar da cobertura, ou mesmo do recheio. Pode o bolo não crescer como esperado ou mesmo ficar murcho.
No entanto, podem crer o seguinte: foi feito com dedicação, vontade e objectivo de ajudar, dando a conhecer, embora desta vez de uma forma um pouco diferente, mais prosaica por assim dizer. A prova disso mesmo é ter passado quase um ano desde que fizemos a viagem. Nunca quis forçar o momento em que começasse a escrever sobre a mesma, para evitar que se tornasse uma mera repetição de fotos acompanhadas por uma breve descrição, feita à pressa. Pretendia ir um pouco mais além e transmitir-vos o prazer e satisfação que esta viagem nos proporcionou.
Aviso assim que a leitura deste report poderá causar sonolência, sensação de fadiga, irritação, quiçá comichão e, em casos mais extremos, náuseas e vómitos. Assomos de mau feitio também poderão ocorrer, embora caso se verifiquem, não possam os mesmo ser imputados a este relato. Poderá também conter ocasionais metáforas ridículas ou descontextualizadas, em particular com referências culinárias.
Porquê falar do planeamento? Porque sim. Porque deu uma trabalheira desgraçada. E porque acredito que muitos dos potenciais leitores deste report (pelo menos um de vocês os 3) poderão ter similares dúvidas e desafios quando planeiam as suas próprias viagens, em particular aqueles que também viajam com crianças. Decidi-me pela Croácia por uma razão principal: os parques naturais do país, nomeadamente contendo cascatas (fiquei apaixonado por certas fotos de Plitvice e Krka). No entanto, facilmente me apercebi que afinal o destino era muito completo, pelo que haviam outras excelentes vertentes a explorar: lindíssimas ilhas e praias, cidades históricas únicas, gastronomia mediterrânica e o clima perfeito de Verão. Tinha também um bichinho já antigo no meu coração de viajante, colocado por vários amigos que já tinham feito uma viagem de back packing pelos Balcãs e a sua paixão pela Croácia deu-me ainda mais confiança para apostar a sério neste destino.
Rapidamente ficou claro que tinha que ser uma road trip. Noutros tempos, isto seria sinónimo de grandes bebedeiras, tentar proezas ridículas (que qualquer pessoa sóbria reconheceria que iriam terminar em dôr) ou tomar banho nú com o pessoal em praias recônditas à noite, rezando para que não acordássemos de manhã com uma tatuagem na testa. Ou com um rim a menos. Os desafios seriam alguém manter-se sóbrio (o entalado que tinha que conduzir) e o pessoal lembrar-se onde deixara a roupa, quando saísse da água. Agora casado e com filhos, planear este tipo de viagem em família apresenta outros desafios. A nossa primeira road trip a sério fora de Portugal. Ou como aparece nos folhetos de pacotes de viagem: Fly & Drive. No total, tínhamos uns 10 dias em que podíamos fazer a nossa viagem de Verão (finais de Julho). Eu tinha milhas da TAP para usar e que pagaram os vôos dos 3 (pagámos só taxas, cerca de 350 EUR), pelo que só havia um sítio onde aterrar na Croácia e para onde a TAP voa direto: Zagreb. Ok, chegamos a Zagreb e regressamos a partir de Zagreb. Próximo passo: daqui para onde?
Era agora necessário identificar os outros locais, mas também desenhar a viagem de forma a que não andássemos sempre “com a casa às costas”, e minimizar o cansaço que múltiplas viagem sucessivas de várias horas podem ter, em particular na nossa filhota. Tornar uma road trip numa road hell trip era algo que queria evitar a todo o custo. Queríamos certamente ir a Dubrovnik, Plitvice National Park e Krka National Park. Devido à distância de Dubrovnik para Zagreb (quase 900 km), decidimos terminar em Dubrovnik, entregando o carro lá e usando um vôo interno Dubrovnik>Zagreb da Croatian Airlines para regressar a Zagreb (110 EUR por pessoa). Isto poupou-nos o longuíssimo caminho de volta de carro (que a minha filha certamente não apreciaria) e que nos tiraria pelo menos umas 12h, sendo que assim aproveitámos mais tempo em Dubrovnik também.
Voltando a Plitvice, é bastante perto de Zagreb (1h e 30m de carro), portanto primeira ligação feita. As estimativas de duração de viagem de carro do google maps foram a principal ferramenta para esta análise. Decidimos as datas também de maneira a que evitássemos estar nos parques durante o fim de semana, altura de maior confusão. Assim, conseguimos ir a Plitvice e Krka em dias de semana, o que provou ser uma óptima decisão, em comparação com as hordas que, de acordo com relatórios que havia lido, invadem ainda mais estes parques durante os fins de semana.
De seguida, o que há próximo de Plitvice que seja interessante e que nos possa ficar em caminho para Dubrovnik? Queríamos andar próximo da costa, já que nos haviam dito que a estrada marginal que liga Zadar a Dubrovnik é das mais bonitas da Europa. Decidimos então descer de Plitvice para Zadar (ligação de apenas 2h de carro). A partir de Zadar pode-se ir às belas ilhas do parque nacional Kornati e também a uma das praias que é frequentemente referida como uma das mais bonitas da Croácia (Sakarun Beach) na bela ilha de Dugi Otok, pelo que decidimos ficar 3 noites em Zadar, sendo a nossa primeira base de repouso.
De Zadar a Dubrovnik a viagem ficaria ainda muito longa, pelo que decidimos que a próxima base seria Split. Saíndo de Zadar para Split (sensivelmente 2h), poderíamos passar pelo parque nacional Krka. Porreiro, é mesmo isso. Em Split decidimos ficar outros 3 dias, não só para conhecer os vários pontos de interesse da cidade e descansar um pouco das caminhadas nos parques nacionais, mas também aproveitar o facto de que, a partir de Split, se pode ir de ferry a várias ilhas, incluindo Brac, que tem inúmeros pontos de interesse como a famosa praia de Zlatni Rat, em Bol. Feito. Depois, de Split a Dubrovnik seria o trecho mais longo de estrada (cerca de 4 a 5h nas calmas). Pensámos ainda ir a Mostar, mas como implicava um desvio total de 5 a 6h (ida, tempo no local e regresso) e já tínhamos poucos dias restantes para Dubrovnik, optámos por não ir a Mostar e passar em Ston (fica mesmo a caminho de Dubrovnik) para ver a pequena “muralha da China” da Croácia (Walls of Ston). Com isto, ficou por fim decidido o itinerário da viagem, ao fim de quase 2 longos meses de planeamento, investigação, lendo muito sobre os melhores locais a visitar, as melhores praias, etc.
Há uns anos largos, foi criada uma autoestrada que liga Zagreb a Dubrovnik, mas nós pretendíamos apreciar a beleza da costa de Dalmácia, pelo que andámos sempre junto à costa usando maioritariamente a bela D8, com mais trânsito, mas compensando largamente em beleza do trajeto, quando comparada com a auto estrada A1 que permite fazer o mesmo trajeto.
Cada criança é um caso diferente e tem o seu feitio, maneira de reagir e preferências, tal como os adultos. No caso da nossa filha, não estava à espera que fosse muito difícil mas ainda assim, só confirmámos que íamos fazer isto depois de muito falar com ela e lhe dar a perceber exatamente o que iríamos fazer e o que isso implicava em termos de esforço (físico principalmente). Comecei por, semanas antes de confirmar a viagem, ir mostrando-lhe fotos e videos das partes mais espetaculares das cascatas, de alguns dos animais, etc. Depois passados uns dias, lembrando-lhe que num dos parques até dava para tomar banho nas cascatas (“Wohooo” disse ela). De seguida, lembrei-me de lhe dar “a responsabilidade” de levar uma das máquinas fotográficas para que pudesse tirar as suas próprias fotos. A máquina seria uma já boazita (para que os resultados não fossem decepcionantes), mas também que aguentasse algumas quedas ou mesmo splashes de água. No fim deste exercício motivacional que orgulharia o mais exigente dos gurus da nossa geração, ela estava muito excitada e cheia de vontade de fazer as caminhadas nos parques das cascatas.
Mission acomplished
Outro exercício obrigatório neste planeamento: nos locais que nós adultos pretendíamos visitar, procurar quais os melhores pontos de interesse para crianças, para que pudéssemos ter algo um pouco mais divertido e diferente, em particular em locais que possam ser por norma mais chatos para as crianças (“Sim pai, este edifício de pedra é lindo, e é TÃO diferente e TÃO mais interessante que os outros 348 anteriores”.) Por exemplo, escolher uma das praias para andarmos de mota de água (a minha filha adorou), ir aos insufláveis de água em Split, ir ao aquário na fortaleza de Dubrovnik, etc. Como outros pais que leiam este report certamente saberão, manter este delicado alinhamento entre planetas de dois universos diferentes pode ser o factor determinante para que as férias sejam espetaculares ou para que hajam chatices frequentes Depois disto, faltava reservar os alojamentos, os vôos Zagreb Dubrovnik e o carro. No que toca aos alojamentos, optei pelo booking.com e privilegiando apartamentos/guest houses localizadas próximo dos principais pontos de interesse, se possível próximo dos centros históricos.
O carro aluguei na Avis (cerca de 500 EUR por 8 dias), já que o preço era razoável, tinha vantagens para mim a nível de milhas e tinha balcões bem localizados no aeroporto de Zagreb e em Dubrovnik, onde tínhamos que o entregar no último dia, antes de voarmos de volta para Zagreb.
Em Plitvice, escolhi um B&B integrado já no parque natural e a cerca de 500m da entrada principal da zona das cascatas, para podermos começar rápido de manhãzinha, e termos algumas horas antes de chegar a grande maioria dos outros turistas nos autocarros das excursões. Em Zadar, um apartamento simples a 100m do centro histórico e com possibilidade de fotografar a partir do telhado do edifício, em Split um B&B muito charmoso a 200m da popular praia Bacvice, e em Dubrovnik um pequeno apartamento com uma vista fenomenal sobre a lindíssima baia de Dubrovnik onde se encontra o centro histórico. Acabámos por não visitar Zagreb, por uma questão de prioridades. Terá que ficar para uma próxima.
Porquê tanto planeamento? Viajar sozinhos é uma coisa. Se fôr preciso dormir no carro uma noite porque não se encontrou um alojamento ou estava tudo cheio, não há grande problema. Ou se tivermos que conduzir mais 3h depois de ter conduzido já outras 4h ou 5h porque decidimos fazer outra coisa entretanto. Viajar com crianças acarreta sempre responsabilidade e condicionantes adicionais, pelo que é melhor fazermos o que está ao nosso alcance para minimizar os riscos e eventuais azares do que não fazermos (“ah, que azar, está tanta gente” ou “epa afinal temos que andar bastante”). Certo é que mesmo quando planeamos as coisas, hão-de haver sempre imprevistos e ainda bem que assim é. Se não fosse assim, não haveria histórias para contar
É neste balcão que tem início uma situação que desafia os limites da inteligência humana: depois das formalidades do aluguer do carro, o senhor do balcão descreve-nos onde se encontra o carro e, apesar da minha insistência em contrário, diz-nos que temos que ir sozinhos até ao carro. Em inglês macarrónico, explica-nos que o carro se encontra num parque fora do aeroporto (que não conhecemos) e, pela descrição dele, temos que andar uns 500m e o parque tem uns 300 carros e encontra-se “por ali”, ao pé de uma placa da Avis. Pensativo, digo para mim próprio: “porreiro, procurar uma agulha num palheiro com as malas às costas”. Relutante, saímos do aeroporto, olhamos para a direita, vemos um pequeno parque de estacionamento com uns 10 carros e avistamos de imediato a placa da Avis, com o nosso carro em frente. Simples.
Penso “Mas que raio, aquele gajo pertence a uma comissão de praxes ou é apenas parvo?”
Depois de montar o suporte para o telefone que iríamos usar como GPS, bem como o suporte para o iPad no banco do passageiro (para distrair a filhota no banco de trás durante os troços mais longos), saímos com destino a Plitvice. Este trajeto é bastante simples e relativamente direto, não tendo nada que enganar, mesmo se percorrido à noite e pela primeira vez.
Ainda não havíamos jantado, uma vez que a cafetaria do aeroporto já estava fechada. A meio caminho, vemos um McDonalds ao longe. Sem grandes alternativas derivado ao avançado da hora, opto por parar e comemos.
Aproveito para entornar um copo grande cheio de Coca Cola na nossa mesa para celebrar em grande estilo a nossa chegada à Croácia.
A estrada é boa, embora mal iluminada. À medida que nos aproximamos de Plitvice, passamos por pequenas aldeias onde já ouvimos água a correr lá fora pelos montes e montanhas. Aproveitam o manto escuro da noite para nos provocar os sentidos e agudizar o apetite com a antecipação do que se aproxima. Chegamos ao nosso destino. Uma senhora muito simpática congratula-nos por chegarmos à hora que haviamos combinado com ela e agradece-nos. “Normalmente ninguém chega à hora que combinam”, diz-me. Ficaremos aqui apenas uma noite, pelo que nos deitamos de imediato e nem tocamos nas malas.
Amanhã é um dos dias aguardados com maior expectativa e apesar do cansaço, custa-me a adormecer. O coelhinho repousa na sua cama, estrafegado entre os braços da minha filha, que já dorme que nem uma pedra. É o peluche mais viajado que conheço.
Plitvice foi fundado como parque nacional em 1949, tem perto de 300 km quadrados e mais de 1 milhão de visitantes anuais. É um dos sete locais na Croácia classificados como património da humanidade pela Unesco, neste caso desde 1979. É composto por 16 lagos interligados entre si, que são resultado da confluência de inúmeros pequenos rios à superfície e subterrâneos. As “barragens” que permitem a precipitação das cascatas pelos vários níveis são de origem natural e são formadas devido à acumulação de sedimentos de origem calcária, algas e bactérias. À entrada, deparamo-nos com o mapa desta zona do parque, onde podemos analisar os vários treks disponíveis e fazer a nossa escolha. Nas zonas mais centrais, o caminho faz-se em caminhos de tábuas de madeira.
Á medida que os caminhos nos levam para as zonas mais remotas e íngremes do parque, estas tábuas vão desaparecendo e, apesar de marcados, os caminhos permitem-nos admirar a natureza circundante sem essa “adulteração” criada pelo homem. Escolhemos um caminho com duração estimada de 4/5 horas e que termina numa zona que depois permite a opção de regressar à saída, usando uns pequenos autocarros que eles têm. Se fossemos sem crianças, certamente regressaríamos usando outro caminho diferente e sem usar os transfers de regresso.
Vista no mapa, toda a (enorme) zona de cascatas é como se fosse uma grande escadaria com enormes degraus (os vários níveis de cascatas), por onde deslizam as mesmas e que depois desaguam em grandes lagos interligados entre si, e que por sua vez vão escorrendo por outros lagos/cascatas mais baixas e assim sucessivamente. O caminho pelo qual optamos, levar-nos-à por inúmeras cascatas, descendo gradualmente até aos lagos mais baixos, fazendo depois uma breve travessia de um dos lagos num pequeno barco (15 mins) para chegarmos ao outro lado e subindo então os 4 níveis das cascatas pelo lado contrário ao que nos encontramos, através da floresta.
A seguir a este mapa, temos um viewpoint elevado que nos surpreende com uma vista panorâmica sobre a grande cascata, só para abrir o apetite. Felizmente não está muito calor, o que certamente ajudará à longa caminhada. Um pequeno manto de nuvens protege-nos do sol escaldante de Julho.
É altura de abrir as hostilidades, já que vamos bem armados: a minha fiel Canon, a minha mulher com a Go Pro e um selfie stick para algumas fotos diferentes e a minha filha com a Lumix dela. De lado, e pendurado na minha mochila, levo o tripé extensível fechado, que usarei para as minhas primeiras tentativas de fotos de “arrasto” em cascatas.
Neste local panorâmico, apesar de toda a beleza que nos envolve, não sinto um espanto imediato, mas sim uma sensação de estar num sítio diferente e harmonioso que, mais do que esta ou aquela vista, cria uma especial envolvência, despoletando em nós uma agitada antecipação sobre tudo o que podemos descobrir a seguir.
Á medida que nos embrenhamos no parque, vamos descobrindo a sua beleza singular. Enormes cascatas que se precipitam para o vazio do alto de escarpas esculpidas pela água, pequenos ribeiros com mini-cascatas que se combinam numa sincronia perfeita do que é a natureza em todo o seu esplendor.
Tudo à minha volta é verde e ao mesmo tempo, tantos são os diferentes verdes. Á minha volta oiço água que corre para todo o lado e lado nenhum. Subimos, descemos, andamos, paramos, sentamos, pasmamos.
Encontro-me dividido entre apreciar ou capturar estes momentos. Por vezes pareço uma barata tonta. Por mais que dispare a máquina, sinto que nenhum destes momentos que eternizo em cada foto conseguirão fazer justiça ao que desfila perante os meus olhos. Se a mítica Shangri-lá alguma vez existiu, certamente seria num sítio assim.
Cantinhos por onde passamos causam-me pequenos arrepios na espinha, tal a beleza com que me inundam. Por todo o lado há pequenas molduras que chamam por mim.
Perco o fôlego esporadicamente ao ser assaltado por novas visões que lutam entre si para me roubar a atenção, por entre às árvores, a seguir a cada curva do caminho, após cada subida íngreme que a minha filha vai trepando alegremente (!!!) e a bom ritmo.
Aqui e ali, vou tirando o tripé e experimentando as fotografias de arrasto. Meio segundo, 1/3 de segundo, dependendo da quantidade da água de cada cascata. As primeiras fotos revelaram resultados que envergonhariam o mais inepto dos fotógrafos. Rapidamente percebi que um factor que não ajudava eram as pessoas que passavam e que, com o seu andar, abanavam as tábuas de madeira que compõem o chão tipo ponte onde o tripé está assente. Outro factor era a minha própria azelhice. Ambas tinham remédio.
Passei a ter atenção ao timing das pessoas, fugindo delas como o diabo da cruz e atirei a minha azelhice para trás das costas, fazendo alguns ajustes técnicos. Após mais algumas tentativas, finalmente consegui alguns registos dos quais me podia orgulhar, para um principiante nesta técnica.
Agora mais afastados das zonas centrais, já não nos cruzamos tanto com autênticas manadas de turistas, despejadas pelos inúmeros autocarros que gradualmente vão chegando ao parque. Se pode haver um lado negro em Plitvice, é o excesso de turistas. Vir ao parque numa altura em que hajam muitos grupos pode trazer grandes sombras a esta visita iluminada.
Há zonas nos passadiços em que, caso esteja muita gente, pode tornar-se desagradável esperar um bocado para passar, ou ter que ir em fila, já para não falar no facto que toda essa gente quer naturalmente tirar as suas próprias fotos (portanto vão parando). No nosso caso, e apesar de estarmos em época alta, esse impacto negativo foi relativamente reduzido.
Vôos e alojamento: 1585 EUR
Refeições: 650 EUR
Aluguer carro: 507 EUR
Este não é um report convencional.
Para quem já leu algum dos meus relatos anteriores, não terá dificuldade em verificar que este é bastante diferente dos anteriores. Espelha o facto de que esta viagem foi também ela bastante diferente das anteriores. Este não é um report que descreve com clareza e de forma sucinta os prós e contras dos vários locais, dando primazia às fotos que falam por si. Não contém referências facilmente identificáveis com um simples olhar.
Para encontrar essas migalhas de informação objetiva, terá que mastigar as várias fatias deste bolo que agora começo a cozinhar. Confesso que é o meu primeiro bolo. Podem não gostar da cobertura, ou mesmo do recheio. Pode o bolo não crescer como esperado ou mesmo ficar murcho.
No entanto, podem crer o seguinte: foi feito com dedicação, vontade e objectivo de ajudar, dando a conhecer, embora desta vez de uma forma um pouco diferente, mais prosaica por assim dizer. A prova disso mesmo é ter passado quase um ano desde que fizemos a viagem. Nunca quis forçar o momento em que começasse a escrever sobre a mesma, para evitar que se tornasse uma mera repetição de fotos acompanhadas por uma breve descrição, feita à pressa. Pretendia ir um pouco mais além e transmitir-vos o prazer e satisfação que esta viagem nos proporcionou.
Aviso assim que a leitura deste report poderá causar sonolência, sensação de fadiga, irritação, quiçá comichão e, em casos mais extremos, náuseas e vómitos. Assomos de mau feitio também poderão ocorrer, embora caso se verifiquem, não possam os mesmo ser imputados a este relato. Poderá também conter ocasionais metáforas ridículas ou descontextualizadas, em particular com referências culinárias.
O PLANEAMENTO
Planeamento … que maneira tão excitante de começar uma crónica de viagens, seguindo-se a uma introdução já de si chata, confusa e que mais lembra a professora do Charlie Brown a falar. O leitor já está a pensar que o bolo certamente sairá não apenas murcho, mas também azedo e rijo que nem pão com 3 dias. Avante com coragem e ingénuo optimismo, já que é assim que todos os desastres começam!Porquê falar do planeamento? Porque sim. Porque deu uma trabalheira desgraçada. E porque acredito que muitos dos potenciais leitores deste report (pelo menos um de vocês os 3) poderão ter similares dúvidas e desafios quando planeiam as suas próprias viagens, em particular aqueles que também viajam com crianças. Decidi-me pela Croácia por uma razão principal: os parques naturais do país, nomeadamente contendo cascatas (fiquei apaixonado por certas fotos de Plitvice e Krka). No entanto, facilmente me apercebi que afinal o destino era muito completo, pelo que haviam outras excelentes vertentes a explorar: lindíssimas ilhas e praias, cidades históricas únicas, gastronomia mediterrânica e o clima perfeito de Verão. Tinha também um bichinho já antigo no meu coração de viajante, colocado por vários amigos que já tinham feito uma viagem de back packing pelos Balcãs e a sua paixão pela Croácia deu-me ainda mais confiança para apostar a sério neste destino.
Rapidamente ficou claro que tinha que ser uma road trip. Noutros tempos, isto seria sinónimo de grandes bebedeiras, tentar proezas ridículas (que qualquer pessoa sóbria reconheceria que iriam terminar em dôr) ou tomar banho nú com o pessoal em praias recônditas à noite, rezando para que não acordássemos de manhã com uma tatuagem na testa. Ou com um rim a menos. Os desafios seriam alguém manter-se sóbrio (o entalado que tinha que conduzir) e o pessoal lembrar-se onde deixara a roupa, quando saísse da água. Agora casado e com filhos, planear este tipo de viagem em família apresenta outros desafios. A nossa primeira road trip a sério fora de Portugal. Ou como aparece nos folhetos de pacotes de viagem: Fly & Drive. No total, tínhamos uns 10 dias em que podíamos fazer a nossa viagem de Verão (finais de Julho). Eu tinha milhas da TAP para usar e que pagaram os vôos dos 3 (pagámos só taxas, cerca de 350 EUR), pelo que só havia um sítio onde aterrar na Croácia e para onde a TAP voa direto: Zagreb. Ok, chegamos a Zagreb e regressamos a partir de Zagreb. Próximo passo: daqui para onde?
Era agora necessário identificar os outros locais, mas também desenhar a viagem de forma a que não andássemos sempre “com a casa às costas”, e minimizar o cansaço que múltiplas viagem sucessivas de várias horas podem ter, em particular na nossa filhota. Tornar uma road trip numa road hell trip era algo que queria evitar a todo o custo. Queríamos certamente ir a Dubrovnik, Plitvice National Park e Krka National Park. Devido à distância de Dubrovnik para Zagreb (quase 900 km), decidimos terminar em Dubrovnik, entregando o carro lá e usando um vôo interno Dubrovnik>Zagreb da Croatian Airlines para regressar a Zagreb (110 EUR por pessoa). Isto poupou-nos o longuíssimo caminho de volta de carro (que a minha filha certamente não apreciaria) e que nos tiraria pelo menos umas 12h, sendo que assim aproveitámos mais tempo em Dubrovnik também.
Voltando a Plitvice, é bastante perto de Zagreb (1h e 30m de carro), portanto primeira ligação feita. As estimativas de duração de viagem de carro do google maps foram a principal ferramenta para esta análise. Decidimos as datas também de maneira a que evitássemos estar nos parques durante o fim de semana, altura de maior confusão. Assim, conseguimos ir a Plitvice e Krka em dias de semana, o que provou ser uma óptima decisão, em comparação com as hordas que, de acordo com relatórios que havia lido, invadem ainda mais estes parques durante os fins de semana.
De seguida, o que há próximo de Plitvice que seja interessante e que nos possa ficar em caminho para Dubrovnik? Queríamos andar próximo da costa, já que nos haviam dito que a estrada marginal que liga Zadar a Dubrovnik é das mais bonitas da Europa. Decidimos então descer de Plitvice para Zadar (ligação de apenas 2h de carro). A partir de Zadar pode-se ir às belas ilhas do parque nacional Kornati e também a uma das praias que é frequentemente referida como uma das mais bonitas da Croácia (Sakarun Beach) na bela ilha de Dugi Otok, pelo que decidimos ficar 3 noites em Zadar, sendo a nossa primeira base de repouso.
De Zadar a Dubrovnik a viagem ficaria ainda muito longa, pelo que decidimos que a próxima base seria Split. Saíndo de Zadar para Split (sensivelmente 2h), poderíamos passar pelo parque nacional Krka. Porreiro, é mesmo isso. Em Split decidimos ficar outros 3 dias, não só para conhecer os vários pontos de interesse da cidade e descansar um pouco das caminhadas nos parques nacionais, mas também aproveitar o facto de que, a partir de Split, se pode ir de ferry a várias ilhas, incluindo Brac, que tem inúmeros pontos de interesse como a famosa praia de Zlatni Rat, em Bol. Feito. Depois, de Split a Dubrovnik seria o trecho mais longo de estrada (cerca de 4 a 5h nas calmas). Pensámos ainda ir a Mostar, mas como implicava um desvio total de 5 a 6h (ida, tempo no local e regresso) e já tínhamos poucos dias restantes para Dubrovnik, optámos por não ir a Mostar e passar em Ston (fica mesmo a caminho de Dubrovnik) para ver a pequena “muralha da China” da Croácia (Walls of Ston). Com isto, ficou por fim decidido o itinerário da viagem, ao fim de quase 2 longos meses de planeamento, investigação, lendo muito sobre os melhores locais a visitar, as melhores praias, etc.
Há uns anos largos, foi criada uma autoestrada que liga Zagreb a Dubrovnik, mas nós pretendíamos apreciar a beleza da costa de Dalmácia, pelo que andámos sempre junto à costa usando maioritariamente a bela D8, com mais trânsito, mas compensando largamente em beleza do trajeto, quando comparada com a auto estrada A1 que permite fazer o mesmo trajeto.
A CENOURA
Para começar, como conseguir convencer uma criança de 8 anos (a nossa filhota que sempre nos acompanhou em viagens) de quão excitante é a perspectiva de fazer treks de 5 horas sobre calor intenso para ver … bem, água, cascatas, mais água e mais cascatas, uns animais aqui e ali, e andar mais. Por exemplo, daqui a um mês vamos fazer um périplo safariano Moçambique, Suazilândia e Kruger Park. Aqui, nem foi necessário motivação alguma, já que ela adora animais e tal como nós, sempre quis ver os animais no seu ambiente natural.Cada criança é um caso diferente e tem o seu feitio, maneira de reagir e preferências, tal como os adultos. No caso da nossa filha, não estava à espera que fosse muito difícil mas ainda assim, só confirmámos que íamos fazer isto depois de muito falar com ela e lhe dar a perceber exatamente o que iríamos fazer e o que isso implicava em termos de esforço (físico principalmente). Comecei por, semanas antes de confirmar a viagem, ir mostrando-lhe fotos e videos das partes mais espetaculares das cascatas, de alguns dos animais, etc. Depois passados uns dias, lembrando-lhe que num dos parques até dava para tomar banho nas cascatas (“Wohooo” disse ela). De seguida, lembrei-me de lhe dar “a responsabilidade” de levar uma das máquinas fotográficas para que pudesse tirar as suas próprias fotos. A máquina seria uma já boazita (para que os resultados não fossem decepcionantes), mas também que aguentasse algumas quedas ou mesmo splashes de água. No fim deste exercício motivacional que orgulharia o mais exigente dos gurus da nossa geração, ela estava muito excitada e cheia de vontade de fazer as caminhadas nos parques das cascatas.
Mission acomplished
Outro exercício obrigatório neste planeamento: nos locais que nós adultos pretendíamos visitar, procurar quais os melhores pontos de interesse para crianças, para que pudéssemos ter algo um pouco mais divertido e diferente, em particular em locais que possam ser por norma mais chatos para as crianças (“Sim pai, este edifício de pedra é lindo, e é TÃO diferente e TÃO mais interessante que os outros 348 anteriores”.) Por exemplo, escolher uma das praias para andarmos de mota de água (a minha filha adorou), ir aos insufláveis de água em Split, ir ao aquário na fortaleza de Dubrovnik, etc. Como outros pais que leiam este report certamente saberão, manter este delicado alinhamento entre planetas de dois universos diferentes pode ser o factor determinante para que as férias sejam espetaculares ou para que hajam chatices frequentes Depois disto, faltava reservar os alojamentos, os vôos Zagreb Dubrovnik e o carro. No que toca aos alojamentos, optei pelo booking.com e privilegiando apartamentos/guest houses localizadas próximo dos principais pontos de interesse, se possível próximo dos centros históricos.
O carro aluguei na Avis (cerca de 500 EUR por 8 dias), já que o preço era razoável, tinha vantagens para mim a nível de milhas e tinha balcões bem localizados no aeroporto de Zagreb e em Dubrovnik, onde tínhamos que o entregar no último dia, antes de voarmos de volta para Zagreb.
Em Plitvice, escolhi um B&B integrado já no parque natural e a cerca de 500m da entrada principal da zona das cascatas, para podermos começar rápido de manhãzinha, e termos algumas horas antes de chegar a grande maioria dos outros turistas nos autocarros das excursões. Em Zadar, um apartamento simples a 100m do centro histórico e com possibilidade de fotografar a partir do telhado do edifício, em Split um B&B muito charmoso a 200m da popular praia Bacvice, e em Dubrovnik um pequeno apartamento com uma vista fenomenal sobre a lindíssima baia de Dubrovnik onde se encontra o centro histórico. Acabámos por não visitar Zagreb, por uma questão de prioridades. Terá que ficar para uma próxima.
Porquê tanto planeamento? Viajar sozinhos é uma coisa. Se fôr preciso dormir no carro uma noite porque não se encontrou um alojamento ou estava tudo cheio, não há grande problema. Ou se tivermos que conduzir mais 3h depois de ter conduzido já outras 4h ou 5h porque decidimos fazer outra coisa entretanto. Viajar com crianças acarreta sempre responsabilidade e condicionantes adicionais, pelo que é melhor fazermos o que está ao nosso alcance para minimizar os riscos e eventuais azares do que não fazermos (“ah, que azar, está tanta gente” ou “epa afinal temos que andar bastante”). Certo é que mesmo quando planeamos as coisas, hão-de haver sempre imprevistos e ainda bem que assim é. Se não fosse assim, não haveria histórias para contar
A CHEGADA
Zagreb > Plitvice (Dia 1)
Depois de alguma incerteza sobre o nosso vôo em virtude da greve de Verão da TAP que chegou a cancelar este mesmo vôo na semana anterior à que voámos, chegamos a Zagreb em pouco mais de 3 horas após sairmos de Lisboa, cerca das 21:00, conforme agendado. Caso este vôo chegasse atrasado, teria repercussões algo graves na restante logística: planeei alugar o carro no aeroporto e viajar de imediato para Plitvice ainda nessa noite, para começarmos logo de manhã em Plitvice. O balcão da Avis fechava às 23:00, chegámos a tempo.Zagreb > Plitvice (Dia 1)
É neste balcão que tem início uma situação que desafia os limites da inteligência humana: depois das formalidades do aluguer do carro, o senhor do balcão descreve-nos onde se encontra o carro e, apesar da minha insistência em contrário, diz-nos que temos que ir sozinhos até ao carro. Em inglês macarrónico, explica-nos que o carro se encontra num parque fora do aeroporto (que não conhecemos) e, pela descrição dele, temos que andar uns 500m e o parque tem uns 300 carros e encontra-se “por ali”, ao pé de uma placa da Avis. Pensativo, digo para mim próprio: “porreiro, procurar uma agulha num palheiro com as malas às costas”. Relutante, saímos do aeroporto, olhamos para a direita, vemos um pequeno parque de estacionamento com uns 10 carros e avistamos de imediato a placa da Avis, com o nosso carro em frente. Simples.
Penso “Mas que raio, aquele gajo pertence a uma comissão de praxes ou é apenas parvo?”
Depois de montar o suporte para o telefone que iríamos usar como GPS, bem como o suporte para o iPad no banco do passageiro (para distrair a filhota no banco de trás durante os troços mais longos), saímos com destino a Plitvice. Este trajeto é bastante simples e relativamente direto, não tendo nada que enganar, mesmo se percorrido à noite e pela primeira vez.
Ainda não havíamos jantado, uma vez que a cafetaria do aeroporto já estava fechada. A meio caminho, vemos um McDonalds ao longe. Sem grandes alternativas derivado ao avançado da hora, opto por parar e comemos.
Aproveito para entornar um copo grande cheio de Coca Cola na nossa mesa para celebrar em grande estilo a nossa chegada à Croácia.
A estrada é boa, embora mal iluminada. À medida que nos aproximamos de Plitvice, passamos por pequenas aldeias onde já ouvimos água a correr lá fora pelos montes e montanhas. Aproveitam o manto escuro da noite para nos provocar os sentidos e agudizar o apetite com a antecipação do que se aproxima. Chegamos ao nosso destino. Uma senhora muito simpática congratula-nos por chegarmos à hora que haviamos combinado com ela e agradece-nos. “Normalmente ninguém chega à hora que combinam”, diz-me. Ficaremos aqui apenas uma noite, pelo que nos deitamos de imediato e nem tocamos nas malas.
Amanhã é um dos dias aguardados com maior expectativa e apesar do cansaço, custa-me a adormecer. O coelhinho repousa na sua cama, estrafegado entre os braços da minha filha, que já dorme que nem uma pedra. É o peluche mais viajado que conheço.
A LENDA
Plitvice > Zadar (Dia 2)
Às 08:00, estamos a comprar os bilhetes para entrar no parque. Os bilhetes por pessoa custaram 180 HRK (cerca de 24 EUR) e para crianças entre 7 e 13 anos, custou 80 HRK (11 EUR). Para menores de 7 anos é grátis. Ademais, fora dos meses de época alta os preços baixam consideravalmente (110 HRK / adulto). Já abriu há uma hora, pelo que se vê algum movimento, embora nada de mais. Das várias entradas possíveis, escolhemos a entrada numero 1, a principal.Plitvice > Zadar (Dia 2)
Plitvice foi fundado como parque nacional em 1949, tem perto de 300 km quadrados e mais de 1 milhão de visitantes anuais. É um dos sete locais na Croácia classificados como património da humanidade pela Unesco, neste caso desde 1979. É composto por 16 lagos interligados entre si, que são resultado da confluência de inúmeros pequenos rios à superfície e subterrâneos. As “barragens” que permitem a precipitação das cascatas pelos vários níveis são de origem natural e são formadas devido à acumulação de sedimentos de origem calcária, algas e bactérias. À entrada, deparamo-nos com o mapa desta zona do parque, onde podemos analisar os vários treks disponíveis e fazer a nossa escolha. Nas zonas mais centrais, o caminho faz-se em caminhos de tábuas de madeira.
Á medida que os caminhos nos levam para as zonas mais remotas e íngremes do parque, estas tábuas vão desaparecendo e, apesar de marcados, os caminhos permitem-nos admirar a natureza circundante sem essa “adulteração” criada pelo homem. Escolhemos um caminho com duração estimada de 4/5 horas e que termina numa zona que depois permite a opção de regressar à saída, usando uns pequenos autocarros que eles têm. Se fossemos sem crianças, certamente regressaríamos usando outro caminho diferente e sem usar os transfers de regresso.
Vista no mapa, toda a (enorme) zona de cascatas é como se fosse uma grande escadaria com enormes degraus (os vários níveis de cascatas), por onde deslizam as mesmas e que depois desaguam em grandes lagos interligados entre si, e que por sua vez vão escorrendo por outros lagos/cascatas mais baixas e assim sucessivamente. O caminho pelo qual optamos, levar-nos-à por inúmeras cascatas, descendo gradualmente até aos lagos mais baixos, fazendo depois uma breve travessia de um dos lagos num pequeno barco (15 mins) para chegarmos ao outro lado e subindo então os 4 níveis das cascatas pelo lado contrário ao que nos encontramos, através da floresta.
A seguir a este mapa, temos um viewpoint elevado que nos surpreende com uma vista panorâmica sobre a grande cascata, só para abrir o apetite. Felizmente não está muito calor, o que certamente ajudará à longa caminhada. Um pequeno manto de nuvens protege-nos do sol escaldante de Julho.
É altura de abrir as hostilidades, já que vamos bem armados: a minha fiel Canon, a minha mulher com a Go Pro e um selfie stick para algumas fotos diferentes e a minha filha com a Lumix dela. De lado, e pendurado na minha mochila, levo o tripé extensível fechado, que usarei para as minhas primeiras tentativas de fotos de “arrasto” em cascatas.
Neste local panorâmico, apesar de toda a beleza que nos envolve, não sinto um espanto imediato, mas sim uma sensação de estar num sítio diferente e harmonioso que, mais do que esta ou aquela vista, cria uma especial envolvência, despoletando em nós uma agitada antecipação sobre tudo o que podemos descobrir a seguir.
Á medida que nos embrenhamos no parque, vamos descobrindo a sua beleza singular. Enormes cascatas que se precipitam para o vazio do alto de escarpas esculpidas pela água, pequenos ribeiros com mini-cascatas que se combinam numa sincronia perfeita do que é a natureza em todo o seu esplendor.
Tudo à minha volta é verde e ao mesmo tempo, tantos são os diferentes verdes. Á minha volta oiço água que corre para todo o lado e lado nenhum. Subimos, descemos, andamos, paramos, sentamos, pasmamos.
Encontro-me dividido entre apreciar ou capturar estes momentos. Por vezes pareço uma barata tonta. Por mais que dispare a máquina, sinto que nenhum destes momentos que eternizo em cada foto conseguirão fazer justiça ao que desfila perante os meus olhos. Se a mítica Shangri-lá alguma vez existiu, certamente seria num sítio assim.
Cantinhos por onde passamos causam-me pequenos arrepios na espinha, tal a beleza com que me inundam. Por todo o lado há pequenas molduras que chamam por mim.
Perco o fôlego esporadicamente ao ser assaltado por novas visões que lutam entre si para me roubar a atenção, por entre às árvores, a seguir a cada curva do caminho, após cada subida íngreme que a minha filha vai trepando alegremente (!!!) e a bom ritmo.
Aqui e ali, vou tirando o tripé e experimentando as fotografias de arrasto. Meio segundo, 1/3 de segundo, dependendo da quantidade da água de cada cascata. As primeiras fotos revelaram resultados que envergonhariam o mais inepto dos fotógrafos. Rapidamente percebi que um factor que não ajudava eram as pessoas que passavam e que, com o seu andar, abanavam as tábuas de madeira que compõem o chão tipo ponte onde o tripé está assente. Outro factor era a minha própria azelhice. Ambas tinham remédio.
Passei a ter atenção ao timing das pessoas, fugindo delas como o diabo da cruz e atirei a minha azelhice para trás das costas, fazendo alguns ajustes técnicos. Após mais algumas tentativas, finalmente consegui alguns registos dos quais me podia orgulhar, para um principiante nesta técnica.
Agora mais afastados das zonas centrais, já não nos cruzamos tanto com autênticas manadas de turistas, despejadas pelos inúmeros autocarros que gradualmente vão chegando ao parque. Se pode haver um lado negro em Plitvice, é o excesso de turistas. Vir ao parque numa altura em que hajam muitos grupos pode trazer grandes sombras a esta visita iluminada.
Há zonas nos passadiços em que, caso esteja muita gente, pode tornar-se desagradável esperar um bocado para passar, ou ter que ir em fila, já para não falar no facto que toda essa gente quer naturalmente tirar as suas próprias fotos (portanto vão parando). No nosso caso, e apesar de estarmos em época alta, esse impacto negativo foi relativamente reduzido.
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