Novidades

[Report] Polónia e os campos de concentração - um país de contrastes

Brunam

Membro
Cracóvia deu-nos as boas vindas numa sexta-feira fria e chuvosa intimidando qualquer turista a uma volta pela cidade. Somos mais teimosos. Afinal, encontrávamos-nos pela primeira vez em terreno polaco e a excitação de pisar terra nova é mais forte do que frio e chuva.

Atravessada pelo Rio Vístula, a cidade que viu nascer Chopin, veste-se de lendas e dragões, de palácios e catedrais, de pequenos comércios e belas esplanadas, de música clássica e parques verdejantes.

Envolta pela neblina da Segunda Guerra Mundial que ainda paira no ar, sobretudo no antigo bairro judaico Kazimierz, mas ao contrario de Varsóvia, Cracóvia saiu quase ilesa ao conflito e exibe ainda as construções originais e que tanto lhe dá fama como o Palácio Wawel, as inúmeras catedrais e sinagogas, e a praça mais emblemática da cidade Rynek Glówny. Esta está repleta de cafés, pastelarias, galerias de arte e restaurantes. Bem no centro encontramos o Mercado dos Tecidos onde dezenas de comerciantes exibem milhares de pequenas lembranças, muitas ideias para trazer a mala ainda mais cheia!!!

A principal razão pela qual a nossa viagem começou em Cracóvia, foi podermos visitar os campos de concentração de Auschwitz. Assim, no segundo dia na cidade, seguimos caminho desde a estação principal, Kraków Glówny, até à estação de Oświęcim, cidade que acolheu a construção destes campos. Auschwitz I e Auschwitz II- Birkenau ficam a apenas a uma caminhada de 20 minutos, bem sinalizada, desde a estação.
Também existe a possibilidade de agendar a visita em vários hotéis ou empresas de rua em Cracóvia, mas optámos por fazermos sozinhos esta visita.
Local que dispensa apresentações, Auschwitz I, ergue-se na frente do sombrio letreiro ““Arbeit Match Frei” ou “O Trabalho Liberta”, onde milhares de pessoas sofreram e morreram às mãos dos nazis. Auschwitz I é hoje em dia um museu com vários dados, fotografias e exposições que contam a história daquele local e assim, embora as entradas sejam gratuitas, o número de pessoas a entrar é gerido para que não haja uma enchente de visitantes que perturbe o respeito que o local exige.

O que podemos ver são fatos bastante impactantes como os corredores compridos cheios de fotografias dos que por ali sofreram, homens, mulheres, crianças. Os sapatos, óculos e malas que lhes foram retirados na chegada, e os cabelos que lhes foram cortados. Existe também salas dedicadas a vários países, onde cada um conta a sua história sobre o Holocausto. E ainda uma outra destinada a dar ao visitante a história de Auschwitz, onde podemos ver perfeitamente preservado, por exemplo, o local onde ficavam os presos e onde eram feitos os julgamentos. Destaca-se a parede de fuzilamento, a câmara de gás, onde é possível entrar, e a forca.

De seguida rumámos a Auschwitz II- Birkenau, a ligação entre estes dois campos dista apenas cerca de 2km mas estão disponíveis autocarros gratuitos que fazem este circuito constantemente.

Ao chegar a Auschwitz II- Birkenau, é surpreendentemente triste ver a sua dimensão e características. Palco de um dos maiores massacres da história mundial, este campo viu morrer judeus, ciganos, homossexuais, intelectuais e opositores ao regime nazi.
É indiscritível passar pelos mais de 300 barracões e 5 crematórios, é impossível andar por ali e não ficar consternado, é incontornável não os imaginar por ali a vaguear com os seus fatos às riscas, as suas cabeças rapadas, arrancados das suas identidades, casas e famílias.

Não é uma visita fácil. Não é um simples passeio no parque ou no museu. Ali toca-nos a história daqueles que, sem nada fazerem, foram sacrificados, maltratados e mortos por aqueles que simplesmente, acreditavam que o futuro pertencia a uma população congénere, onde só os mais fortes poderiam prevalecer.
Foi uma visita que ficará sempre na nossa memória. Que sirva para que não volte a acontecer tal desumanidade. Nunca mais. Com qualquer género, crença ou raça.

Já em Varsóvia, onde me despedi dos meus 27 anos e recebi os 28 regados a shots de vodka, tivemos dias mais solarengos onde passear pela cidade foi um autêntico prazer de descobertas de cores e música. Chegámos ao aeroporto pela manhã, pousamos as malas no hotel, e lá fomos nós embrenharmo-nos no reboliço da inquieta capital.

Recheada de museus e arranha céus modernos a cidade não desilude o turista que também procura cenários à moda antiga, e bem ao jeito europeu, a Cidade Velha parou no tempo e entre igrejas e castelos recebe quem a procura com casas medievais, flores e pinturas.

Este cenário só foi possível após a reconstrução da cidade, pois no final da guerra apenas 15% da então capital ficou de pé. Todos os edifícios datam a sua historia em fotografias a preto e branco que mostra a cidade antes da segunda guerra mundial.

No Palácio da Cultura e da Ciência, o que já foi um dos edifícios mais altos do mundo, fomos conhecer o Museu da Tecnologia, não fossemos nós dois aficionados pelo tema. Lá encontram-se várias categorias desde o motociclismo à exploração espacial, passando pela rádio e cinema até às inúmeras caixas de música que nos transportam imediatamente para os grandes bailes bem ao jeito polaco.

Já ao que conta à gastronomia é ótima, variada e de alta qualidade. Não se pode sair da Polónia sem se provar os Pierogi, uma típica massa cozida disponível com vários tipos de recheio, doces ou salgados, para mim os melhores são pierogi z mięsem (com carne picada), Białą kiełbasa é uma salsicha branca tipicamente polaca, o famoso Golonka, joelho de porco estaladiço por fora e tenro por dentro servido com batata e mostarda, Bigos aproximado ao nosso estufado com vários tipos de carne, e os Obwarzanek krakowski perfeitos para pequenos lanches são parecidos com os pretzel alemães, existem em várias versões: sementes de papoila, sal grosso, pimenta, etc. Mas a maior surpresa aconteceu ainda em Cracóvia, quando nos deparamos com uma vitrine cheia daquilo que me parecia uma aproximação às bolas de Berlim, chamam-se pączek, coberto de açúcar glacé e recheado com marmelada, estupidamente doce e fofinho fez as delicias num final de tarde.

Assim foi a nossa aventura pelo país que comove pelas provas vivas da guerra mas que também nos encanta pelos seus cenários medievais.

Aqui ficam algumas fotos:












Boas viagens :)
 
Última edição por um moderador:

ploferreira

Administrador
Staff
Olá @Brunam

Gostei muito do Report, Cracóvia é uma das viagens que está na minha lista, gostei muito da narrativa e as fotos estão muito boas.

Continuação de boas viagens ;)
 

Cláudio Pereira

Membro Conhecido
Olá Brunam,
Bonito relatório, elaboradas descrições e relativamente poucas fotos, mas todas elas imponentes e quase que com um significado. Pessoalmente gosto mais assim do que 100 fotos, umas 20 delas são a mesma coisa de uma perspectiva 1 cm ao lado :D
Do muito bom, faltou um bocadinho assim para ficar excelente.
Duas notas, primeiro a menos importante: Cracóvia não foi a "cidade que acolheu a construção destes campos" ! Nenhum campo foi acolhido, bem pelo contrário ! Eu percebi a intenção, mas o verbo nunca pode ser o acolher.
A segunda nota, mais importante, tem a ver com quem libertou os campos. Afinal, eles foram construídos, tiveram uma história negra e depois houve a libertação.
O exército vermelho a 27 de Janeiro de 1945. Porque se ele acabou, foi graças ao exército vermelho. Quem sobreviveu ao campo, fala-se com eles e dizem estar imensamente gratos por quem os libertou, como é natural. Salvar a vida, não é qualquer um nem todos os dias.

Obrigado pela partilha, pelas palavras e pelas imagens :)
 

AnitaF

Membro Ativo
Muito interessante, com muito significado!
Também já tive a oportunidade de visitar um campo de concentração (Buchenwald) e revi-me imenso na descrição principalmente na carga emocional vivida. Foi dos sítios que visitei até hoje que mais me marcou.
Obrigado pela partilha!
 

PauloNev

Moderador Honorário
Staff
Muito obrigado pela partilha.
Uma viagem deveras interessante, e que um dia espero fazer.
Boas viagens ;)
 

Dsanto

Membro Conhecido
Parabéns pelo report! Muitíssimo bem escrito! ;)
Trouxe-me à memória a minha visita aos Campos de Concentração no ano passado...
 

Cristina Sousa

Membro Conhecido
Belíssimo report! :)
Cracóvia é uma cidade encantadora, cheia de história. A visita aos campos é obrigatória, faz-nos ver a vida com outros olhos.
Muito bom recordar uma espectacular viagem. Obrigada pela partilha. ;)
 

Brunam

Membro
Olá Brunam,
Bonito relatório, elaboradas descrições e relativamente poucas fotos, mas todas elas imponentes e quase que com um significado. Pessoalmente gosto mais assim do que 100 fotos, umas 20 delas são a mesma coisa de uma perspectiva 1 cm ao lado :D
Do muito bom, faltou um bocadinho assim para ficar excelente.
Duas notas, primeiro a menos importante: Cracóvia não foi a "cidade que acolheu a construção destes campos" ! Nenhum campo foi acolhido, bem pelo contrário ! Eu percebi a intenção, mas o verbo nunca pode ser o acolher.
A segunda nota, mais importante, tem a ver com quem libertou os campos. Afinal, eles foram construídos, tiveram uma história negra e depois houve a libertação.
O exército vermelho a 27 de Janeiro de 1945. Porque se ele acabou, foi graças ao exército vermelho. Quem sobreviveu ao campo, fala-se com eles e dizem estar imensamente gratos por quem os libertou, como é natural. Salvar a vida, não é qualquer um nem todos os dias.

Obrigado pela partilha, pelas palavras e pelas imagens :)
Olá!
Agradeço imenso as suas palavras e comentários. Quanto ao verbo "acolher" foi sem dúvida mal empregue. E quanto ao exército vermelho é sem dúvida um ponto importante na história e que pôs fim aquele horror, e o qual eu não mencionei.
Muito obrigada! E boas viagens ;)

Muito interessante, com muito significado!
Também já tive a oportunidade de visitar um campo de concentração (Buchenwald) e revi-me imenso na descrição principalmente na carga emocional vivida. Foi dos sítios que visitei até hoje que mais me marcou.
Obrigado pela partilha!
Agradeço as palavras.
É sem dúvida uma viagem diferente e que fica na memória.
Boas viagens :)

Muito obrigado pela partilha.
Uma viagem deveras interessante, e que um dia espero fazer.
Boas viagens ;)
Olá!
Deverá fazer sem dúvida :)
Obrigada

Parabéns pelo report! Muitíssimo bem escrito! ;)
Trouxe-me à memória a minha visita aos Campos de Concentração no ano passado...
Obrigada!
Boas viagens :)

Belíssimo report! :)
Cracóvia é uma cidade encantadora, cheia de história. A visita aos campos é obrigatória, faz-nos ver a vida com outros olhos.
Muito bom recordar uma espectacular viagem. Obrigada pela partilha. ;)
Obrigada!
um país diferente de tudo o que já vi :)
Boas viagens :)
 
Última edição por um moderador:

rmonteiro

Membro Conhecido
Excelente descrição ! Um local/país que quero visitar !
Gostei muito do report, dá ainda mais vontade de ir até lá !:)
 
Top