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[Report] Israel & Palestina: Uma viagem a solo na Terra Santa - Jun 2019

Mel C

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Há dois sítios neste mundo que, assim que os visitei, me fizeram ter a certeza de que iria regressar um dia: Londres e Israel

Israel passou de uma viagem para a qual não fui com grande entusiasmo (o destino escolhido inicialmente era Turquia), para ser um país que deixa uma saudade enorme, e onde me senti logo em casa.

A viagem decorreu de 31 de Maio a 8 de Junho de 2019. Aterrei à meia noite do dia 1 de Junho e parti às 5h do dia 8 de Junho. Mais uma viagem que fiz sozinha e de forma independente, marquei apenas uma tour à cidade palestiniana de Hebron. Um total de 7 dias e 184 kms feitos a pé segundo a app do iPhone!

Gastos (1 pax): 808,46€

Hostels: 148€ (5 noitesAbraham Hostel Jerusalém: 96€ + 2 noites Abraham Hostel Tel Aviv: 52€), pequeno-almoço incluído
Voos: 256€ (Lisboa - Tel Aviv directo com a Tap)
Transporte local: 64,87€
Alimentação: 193,88€
Tour Hebron: 64€
Cartão SIM: 20,23€Souvenirs: 36,15€
Outros: 25,38€

Algumas notas úteis:

- Israel é um país muitoo caro, dificilmente se come por menos de 9€ (e é fast food ou comida de rua). No hostel em Jerusalém havia um rapaz que alugou carro e andava a pôr combustível a 4€/litro!

- O transporte mais comum em Israel é o autocarro, mas as viagens entre algumas cidades são muito extensas e os horários dos autocarros nem sempre são convenientes, o que afecta um pouco a viagem. O facto de os autocarros israelitas não poderem entrar em zonas palestinianas e vice-versa também pode obrigar a alguma ginástica. Os transportes são acessíveis e são pagos com o Ravkard, um cartão recarregável para ser usado nos transportes. Nas zonas urbanas a maioria dos autocarros apenas aceita o Ravkard, não é possível pagar em dinheiro ao motorista.

- Atenção ao shabath que é o dia de descanso judeu, que vai desde o pôr do Sol de 6ª feira ao pôr do Sol de sábado, uma altura em que não se trabalha, não se cozinha, não se usam equipamentos electrónicos, é um dia totalmente dedicado à religião. Nesta altura os transportes públicos param e muitos negócios fecham. Depois do pôr do Sol de sábado muitas lojas e restaurantes reabrem.

- Uber e Lyft não funcionam em Israel, a app que funciona é a Gett Taxi, uma app israelita concorrente das outras duas.

- Jerusalem é uma cidade muito conservadora, onde a maioria da população que vemos na rua são judeus ortodoxos. Convém andarem mais tapados e com roupa modesta por uma questão de respeito, e especialmente se quiserem visitar locais religiosos. No calor torna-se complicado e há quem ande para lá de calções e tshirt, mas acho que é uma questão de sensibilidade cultural.

- Revolut não funciona na maioria dos ATMs em Jerusalem e Tel Aviv, só funcionou nos ATMS do Bank of Israel e Bank of Jerusalem, e ainda assim estes bancos cobraram taxa pelo levantamento de dinheiro. Funcionou em todas as lojas/restaurantes que aceitavam cartão multibanco.

Passei grande parte do meu tempo em Jerusalem com algumas day trips, e depois em Tel Aviv. São locais tão diferentes que às vezes vai parecer que não estamos a falar do mesmo país. Mas isso faz parte do encanto de Israel.


Alta segurança

A segurança israelita é infame e eu já estava à espera de um controlo apertado que começaria no aeroporto de Lisboa. Apesar de o nosso avião estar parado mesmo junto à pista, a porta de embarque ficava na outra ponta do aeroporto, do lado do Prior Velho. O embarque começou com duas horas de antecedência e foi aqui que começaram os procedimentos de segurança, que pelo que vi só se aplicaram a viajantes não-israelitas. Primeiro um segurança faz algumas perguntas (Porque vai a Israel, aonde vai, conhece lá alguém, é a primeira vez que vai, vai com alguma tour), depois repetidas por dois polícias que faziam o inquérito enquanto revistavam as minhas malas e faziam pesquisa de pólvora entre as minhas coisas; eu levava um termo com água e até me pediram que bebesse um gole "desse líquido que tem aí":D A pergunta que gerava mais controvérsia era "Vai sozinha??" Tanto os polícias como o segurança pareciam mais chocados por eu ir sozinha para Israel do que preocupados em perceber se eu seria uma terrorista, e quando percebiam que eu ia mesmo sozinha perguntavam "Não tem medo?? Não tem mesmo medo??" e até a polícia que fez a revista corporal me disse "Eu sozinha para este sítio não ia!" Quando contei ao meus amigos da revista ficaram preocupados por mim e a tentar consolar-me, mas eu sinceramente só me ria sozinha!

Isto tudo e para completar, ainda estavam dois polícias mesmo à porta do avião...surreal!

Estava à espera de repetir a dose à chegada ao aeroporto de Tel Aviv, mas aqui foi tudo muito soft. Um funcionário da imigração repetiu as mesmas perguntas que o controlo de segurança em Lisboa, deu-me um cartão azul com o meu "visto", e entrei finalmente em Israel.

Cidade Santa

Aterrei em Israel no shabath e a Jaffa street, uma das principais ruas de Jerusalém, parecia uma cidade fantasma, com todas as lojas, restaurantes e cafés fechados. Dado que Jerusalém tem também uma grande população árabe e cristã, o impacto do shabath nos turistas é menor, e é relativamente fácil encontrar onde comer e fazer compras noutros sítios da cidade. Por isso aproveitei este dia para explorar a Old City, uma zona muralhada onde para além de imenso comércio tradicional, se encontram uma série de marcos religiosos como a Igreja do Santo Sepulcro ou o Muro das Lamentações. A Old City está divididade em quatro quarteirões: o quarteirão muçulmano, o cristão, o judeu e o arménio.
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A primeira paragem foi na igreja do Santo Sepulcro, onde se acredita que Jesus foi crucificado e ressuscitou. Esta igreja estava apinhada de pessoas e de grupos de peregrinos; na Pedra da Unção, onde se acredita que o corpo de Jesus foi untado e preparado para ser sepultado, mais do que rezar os crentes ajoelham-se, beijam a pedra, passam os seus rosários na pedra.
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Por debaixo desta pedra chamada Edícula acredita-se que está o Santo Sepulcro, a pedra que selou o túmulo de Jesus, e é o local mais sagrado do cristianismo.

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Mais imagens da Igreja do Santo Sepulcro.

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Alguns cristãos consideram que o local de enterro de Jesus é no Garden Tomb, que fica fora dos muros da cidade velho.

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Ainda fora dos muros da Cidade Velha, o sítio onde se encontram as vistas mais espectaulares sobre a cidade é no Monte das Oliveiras, que tem sido usado como um cemitério judeu.

Na subida para o Monte das Oliveiras está a Igreja de Todas as Nações. Acredita-se que o solo onde foi construída foi onde Jesus rezou antes de ser feito prisioneiro.

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As vistas do Monte das Oliveiras

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Os judeus têm a prática de colocar pedras em cima dos túmulos, para evitar que a alma do defunto "fuja".

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Dentro de Dominus Flevit, uma pequena igreja junto ao Monte, e uns ossuários cá fora.

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Gruta de Gethsemane, onde Jesus foi traído.

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A atmosfera de Jerusalém é inacreditável: são os grupos de peregrinos que andam pelas ruas a carregar a cruz, os judeus ortodoxos que passam na rua a recitar os seus livros de orações, as tours que se juntam em frente às paragens da Via Dolorosa a rezar, a mesquita Al-Aqsa que transmite a reza da hora nos altifalantes. Tudo em simultâneo, tudo misturado, e se há alturas em que parece não haver espaço para ninguém, a maior parte do tempo há espaço para todos.

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A Via Dolorosa, o percurso que Jesus fez a carregar a cruz. Na Via Dolorosa há várias paragens que marcam locais onde se deram alguns eventos enquanto Jesus carregava a cruz, a estação V foi onde se acredita que Jesus recebeu ajuda para carregar a cruz.

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Vi os muçulmanos saírem da mesquita Al-Aqsa a carregar esta caixa verde que ainda hoje não sei o que é.

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Jerusalém foi a zona mais fortemente militarizada onde estive em Israel, no meu primeiro dia aqui já tinha visto mais metralhadoras que na minha vida toda! O serviço militar é obrigatório para todos em Israel e os soldados são todos muito novos, 18/19 anos. Para além disso há civis que andam simplesmente na rua de metralhadora ao ombro, e ninguém lhes liga nenhuma. Aparentemente estas pessoas têm uma licença de porte de arma que demora muito tempo a ser obtida, que envolve uma série de testes psicológicos e que, uma vez obtida, tem de ser renovada de X em X anos.

Ao final do dia, comecei a ver passar uma quantidade de crianças de escola, que iam pelas ruas a cantar, em direcção ao quarteirão judeu, para além de mais uma série de judeus ortodoxos que iam nessa direcção. Não percebi o que se estava a passar, e decidi segui-los. Fui dar à sinagoga onde se ouviam uns cânticos e onde estavam uma série de pessoas numa espécie de varanda cá em cima, a observar. Aproximei-me mas não conseguia ver nada; uma rapariga judia percebeu que eu estava a tentar espreitar e, com um dos sorrisos mais bonitos que já vi na minha vida, cedeu-me o lugar dela. Espreitei, e foi mágico ver os homens judeus sentados no pátio da sinagoga, a entoarem os cânticos do final do shabath...ainda hoje me lembro do ritmo do cântico deles.

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Uma cidade dividida

Hebron é a segunda maior cidade na Palestina (perde apenas para Gaza), venerada pelas três religiões abraâmicas (cristianismo, islamismo e judaísmo) pois acredita-se que é aqui que Abraão está enterrado. É o segundo local no mundo mais sagrado para os judeus.

Para o dia em Hebron fiz a Dual Narrative Tour com a Abraham Hostels. Queria muito ter feito a tour com os Breaking the Silence, um grupo de ex-soldados israelitas que combateu na Segunda Intifada, mas as tours tinham muito poucas datas, para além de que os Breaking the Silence são considerados pró-palestinianos, não sendo bem aceites pelo exército israelita.

Hebron está dividida em duas zonas, H1 (zona controlada pela Autoridade Palestiniana) e H2, zona controlada por Israel. Tal como acontece no restante território israelita, os palestinianos não podem entrar na zona israelita e vice-versa, mas existem buffer zones, "terras de ninguém" onde todos podem estar e nenhuma lei se aplica (na prática, o exército israelita pode entrar nestas zonas e fazer o que quiser). A nossa tour consistia em visitar ambas as zonas com dois guias, um guia árabe para a H1, e um guia israelita para a H2. Ambos os guias eram espectaculares mas é preciso dar destaque ao nosso guia "principal", que nos foi buscar ao hostel e que passou connosco mais tempo, um senhor chamado Eliyahu McLean. O Eliyahu trabalha com o Interfaith, um grupo que promove o diálogo entre palestinianos e israelitas. A filosofia dele é de que o conflito israelo-palestiniano resolve-se com mais negócios conjuntos, como o que ele fez com o Mohammed, o nosso guia árabe para a zona H1. Achei o trabalho e a filosofia dele muito interessantes.

O nosso dia começou no hostel onde um táxi/carrinha nos foi buscar. No caminho entre Jerusalém e Hebron há vários colonatos, o Eliyahu ia-nos dando algum contexto dos sítios por onde passávamos. Os colonatos são um dos hot topics israelitas, para além de tirarem terras aos palestinianos violam o 49º artigo da convenção de Genebra, que diz que civis não podem ser movimentados para terras em ocupação militar.

Foi numa destas estradas que vai dar a Hebron que se inventou a prática terrorista de atropelar civis (ramming). Numa estrada onde passam carros israelitas e palestinianos mas apenas um autocarro israelita, os palestinianos costumavam atropelar os israelitas que estavam na paragem de autocarro. Hoje em dia estas paragens de autocarro estão cheias de soldados israelitas que passam o dia de metralhadora apontada à estrada. Não consegui fotografar, mas passámos mesmo em frente a um soldado que tinha a metralhadora apontada às nossas janelas.
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Chegados a Hebron, a nossa tour começou com um guia árabe, Mohammed, num mercado que é uma buffer zone. Por cima do mercado há alguns colonatos israelitas, sendo que a existência dos colonatos obrigou à colocação de postos de controlo israelitas junto às casas, e à expulsão dos vizinhos palestinianos. As ruas do mercado foram cobertas com arame pois os israelitas tinham o costume de atirar lixo aos árabes que aqui passavam.

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Na foto debaixo, as casas em cima, à esquerda são os colonatos.

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Parámos para almoçar em casa do nosso guia, que estava a cumprir o Ramadão. Esta parte da tour era a perspectiva árabe, e o Mohammed foi nos falando das injustiças e dos problemas que os palestinianos de Hebron enfrentam. A dificuldade de acessos (sair/entrar em Hebron), os negócios que fecharam, a violência aleatória do exército israelita. O Mohammed tinha sido preso e interrogado pelo exército israelita, alegadamente por atirar pedras a judeus...as provas, uma foto que lhe mostraram que claramente não era um foto dele...conseguiu que o deixassem ir embora, ao fim de umas horas. Tinham andado de carro com ele vendado durante horas, mas afinal estavam numa esquadra perto da casa dele...Noutra ocasião fugiu ele de Hebron e andou 8 horas a pé até Jerusalém. Para quê? Para ver a mesquita Al-Aqsa uma vez na vida...

O Mohammed foi deixar-nos junto ao checkpoint da H1. Esta zona de Hebron é caótica, ruas cheias de gente e um trânsito impossível, com carros a buzinar e pneus a chiar a toda a hora. Aqui passámos checkpoint para a H2, onde o Mohammed, por ser árabe, não podia entrar.

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Em Hebron com um gelado que custou meio shekel (0,14€!)

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O H2 é um mundo à parte. Muito vazio, muito tranquilo, muito silencioso. Não nos cruzámos com ninguém nas ruas mas fomos vendo imensos soldados, tivemos de mostrar o passaporte a alguns deles, outros falavam com o nosso guia judeu, o Eliyahu, segundo o que eles no explicou os soldados receavam que fizéssemos parte de uma tour política (o exemplo dado eram sempre os Breaking the Silence), e se assim fosse não nos deixavam passar.

Aqui em baixo as vistas do H2 para a zona H1.

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Fiquei espantada por descobrir que ainda há palestinianos a viverem em H2. O guia foi nos contando uma série de histórias de terror entre palestinianos e israelitas, desta vez com os judeus como vítimas. Gostei que ele tentasse sempre mostrar-nos também o outro lado...o Eliyahu enfatizava sempre que houve e continua a haver momentos de amizade entre judeus e palestinianos, que várias vezes se ajudaram mutuamente.
 

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Fotos soltas do lado H2 de Hebron

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Também visitámos um túmulo e uma pequena sinagoga de pedra.

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Oliveiras milenares, com cerca de 2000 anos.

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O Visitor Centre de Hebron

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O nosso guia, Eliyahu.

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As quatro brigadas da Infantaria do exército israelita. Os soldados aqui ao lado eram da brigada Givanti, tinham uma fita roxa.

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A rua onde encontrámos o mural com as brigadas da Infantaria israelita é chamada "Apartheid street", pois é totalmente interdita aos palestinianos

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Mais uma sinagoga que visitámos, e algumas toras muito antigas.

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Memorial a uma bébe que foi assassinada por um sniper palestiniano.

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A última parte da visita foi ao Túmulo dos Patriarcas, onde se crê que foram enterrados os patriarcas e matriarcas bíblicos: Abraão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacob e Lea. O Túmulo tem dois lados, um árabe, que não visitámos e que é acessível pelo lado H1, e um lado para os judeus, que foi onde estivemos. Os túmulos não são túmulos mas sim cenotáfios, túmulos sem ossadas. Este é o segundo local mais sagrado para os judeus, a seguir ao Muro das Lamentações.

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Peço desculpa mas muitos dos túmulos já não sei identificar...

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Túmulo de Abraão. A divisória de vidro ao lado separa o lado judeu da mesquita do lado árabe. O nosso guia contou-nos que quando vem aqui com os seus grupos árabes do Interfaith rezam aqui em conjunto, cada um do seu lado, pois conseguem ver se e ouvir-se.

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Mais túmulos

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Acabou aqui a visita e regressámos a Jerusalém num autocarro público de vidros à prova de bala. Conforme o guia nos explicou o autocarro é obrigado a ter aquele martelo para quebrar o vidro em caso de emergência, que aqui não serve para nada visto que o vidro é inquebrável :D

O saldo desta tour foi muito positivo. Não sou nada dada a tours, prefiro sempre andar junto dos locais e misturar-me, pensei muito em visitar Hebron de forma independente pois é possível fazê-lo de transportes públicos mas no final acho que fiz a decisão certa. Houve algumas coisas na tour de que não gostei, como estarmos todos parados no meio das ruas estreitas do mercado a atrapalhar quem queria passar (não gosto que os outros me façam isto, não gosto de o fazer), irmos a uma loja/atelier de artesanato provavelmente para o guia receber lá a comissão dele, e à porta do Túmulo dos Patriarcas o guia pediu a uma senhora para sair do lugar dela para que pudéssemos nós sentarmos a ouvir a explicação dele. Mas acho que sem os guias este dia teria perdido a sua riqueza histórica, e sinceramente não sei se sozinha teria passado no controlo de alguns soldados.

De volta a Jerusalém, estávamos no dia 2 de Junho, em que se celebram o final das comemorações do dia de Jerusalém, que celebra a reunificação da cidade. O ambiente por todo o lado era de festa, imensa gente na rua, crianças judias a cantar e a dançar, uma animação imensa. Tinha ido jantar com uma rapariga de Madrid que conheci na tour a Hebron, queria muito assistir às comemorações do dia de Jerusalém na Torre de David, mas entre parar para jantar e parar para beber uma cerveja, quando lá chegámos já tinha tudo acabado. Terminámos o dia a beber Goldstars num pub israelita. De um bar do outro lado da rua, saía uma musiquinha reggaeton aos berros, nós as duas ríamos-nos a comentar que bem podíamos estar na Chueca ou no Bairro Alto.

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Há um muro que separa

Apanhando o autocarro público fui dar a Bethlehem, onde a primeira paragem foi a Igreja da Natividade, local de nascimento de Jesus. Para ver a Igreja como convém é preciso chegar bastante cedo. Eu já tinha chegado tarde, e apanhei a Igreja cheia com centenas de peregrinos e tours cristãs, todos à procura do mesmo. Nem tentei ver o sítio do nascimento de Jesus, a quantidade de gente era tal que simplesmente desisti.

De caminho até à Igreja atravessei primeiro um mercado árabe.

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Depois da Igreja queria visitar o muro que separa a Cisjordânia (West Bank) de Israel, o West Bank Separation Barrier, que tem imensos grafitti subsversivos e um grafitti da autoria do artista Banksy, que também é proprietário de um hotel que fica junto ao muro. Da Igreja até ao muro foram 40 minutos a andar a pé debaixo de um calor intenso. Um senhor muito simpático que estava ao pé da Igreja percebeu que eu estava perdida, explicou-me o caminho e avisou-me contra os esquemas dos taxistas, que acordam connosco um valor e quando chegam ao destino cobram o dobro. Até aqui, fui sempre recebida com simpatia da parte de toda a gente. Foi o vendedor que me explicou o dinheiro porque eu estava a confundir algumas moedas, o comerciante que foi buscar um quadro com um mapa para me explicar o caminho até ao Monte das Oliveiras, e sempre que estava parada na rua com um ar perdido aparecia alguém a perguntar se precisava de ajuda.

Queria muito ver o muro, e não desiludiu. Também entrei no hotel do Banksy, The Walled Off Hotel.

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Esta pomba é o único graffiti que é garantidamente do Banksy, infelizmente não foi possível fotografar bem pois estava um carro estacionado à frente.

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O plano seguinte era ir até Jericoh, tinha caminhado tanto que já estava longe da paragem do autocarro que me tinha trazido até Bethlelem, a opção mais fácil era atravessar o checkpoint e apanhar aí outro autocarro. Era hora de almoço e já estava cheia de fome, fui andando mas tudo o que via eram restaurantes fechados, pois claro, era Ramadão e eu estava numa zona árabe. Devo ter andado mais de meia hora a pé, morta de fome e sem descobrir nenhum restaurante aberto. Desisti e decidi voltar a Jerusalém, estava com imensa fome e não podia continuar às voltas à procura de sítio para comer.

Quanto ao checkpoint, atravessá-lo foi simples mas a experiência foi bastante desagradável e não imagino o que seja ter de passar lá todos os dias. O checkpoint fica num barracão enorme e muito vazio, apesar de ter imensas portas apenas uma estava a funcionar. Na fila, homens e mulheres árabes e eu, a única estrangeira. Tivemos de passar as malas pelo scan, o meu chapéu e a mala duma senhora ficaram presos e não apareceu nenhum soldado a ajudar, um senhor saiu da fila e ajudou-nos. Depois disso foi mostrar o passaporte e o papel do visto a um soldado. Do outro lado do checkpoint, um aviso aos israelitas.

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História controversa

De volta a Jerusalém, almocei num Mcdonalds kosher, que para mim é meio indiferente pois só como nuggets no Mcdonalds, mas achei piada ao conceito :D

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Já de estômago cheio resolvi visitar o Muro das Lamentações. O lado do Muro reservado aos homens (à esquerda) deve ter aí o dobro do tamanho do lado das mulheres, de modo que estava apinhado de gente.

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A paragem seguinte foi na Cidade de David. É um sítio arqueológico considerado a cidade de Jerusalém original. Muitos dos sítios na Cidade de David têm sido identificados com base na Bíblia...por exemplo acreditam que Abraão caminhou nos túneis por debaixo da Cidade de David. Segundo a interpretação dos arqueólogos israelitas cada uma das partes que compõem a Cidade de David está ligada a algum acontecimento bíblico. Por isso o trabalho dos arqueólogos que exploram a Cidade de David tem sido amplamente criticado.

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As vistas a partir da Cidade de David

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Pelo deserto da Judeia

Tinha planeado este dia para visitar o mar morto (Ein Bokek) e Masada (a famosa fortaleza construída pelo rei Heródo), de transportes públicos. Acabei por aperceber-me de que estava a tentar meter o Rossio na rua da Betesga e, com os horários do autocarro e tempos de deslocação corria o sério risco de perder o último autocarro para Jerusalém e ter de passar a noite no mar morto.

Decidi que iria só ao mar morto. Já tinha visto fotos de Masada e não me tinha cativado muito, ia só lá picar o ponto. Até que entrei no autocarro e comecei a ver aquelas paisagens de deserto, e dei por mim fascinada. Mudei os planos e saí antes no parque de Masada. Masada é hoje em dia um parque nacional e foi em tempos uma fortaleza. Reza a lenda que na fortaleza de Masada se suicidaram uma série de judeus, que preferiram a morte a serem dominados pelo exército romano.

Há duas maneiras de subir à fortaleza, ou de teleférico, ou a pé, pelo chamado Snake Path. O Snake Path fecha muito cedo pois aqui há uns anos um rapaz brasileiro morreu desidratado durante a subida. O calor aqui é realmente insuportável, muito forte e muito abafado.

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Saindo de Masada regressei a Jerusalém. Pelo caminho, a estrada vai marcando a quantos metros acima do mar estamos. E mais uns avisos...

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Em Jerusalém fui espreitar as vistas ao Haas Promenade, uma espécie de passeio que oferece uma visão bonita da cidade de Jerusalém.

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Tinha-me sempre questionado como é que os judeus arranjam parceiro para a vida, se se casam por amor, se são casamentos arranjados. Acidentalmente, descobri a resposta...no autocarro iam duas raparigas judias com sotaque americano, a contarem como tinham conhecido os respectivos marido e futuro marido. Em ambos os casos alguém que elas conheciam conhecia um rapaz judeu solteiro e apresentou-os. Com elas em Israel e eles nos Estados Unidos, o namoro começou por skype. Uma delas contava que não tinha tema de conversa para falar com o marido então começaram combinar ler um artigo antes e depois discutirem o artigo no encontro por skype...:D e assim a coisa safou-se...

Foi este o meu último dia em Jerusalém. Uma cidade quase mística, com uma energia fantástica. Muito interessante ver como todas as religiões vivem lado a lado. Perturbador ver a quantidade de militares e polícias, e o pior é que eles não se limitam a ficar parados nem a passear de um lado para o outro, todos os dias eu via militares a correrem para algum sítio. Ver tanto exército deixou-me triste e fez-me pensar. Para além disso é uma cidade muito suja, havia lixo por todo o lado e vi várias pessoas atirarem simplesmente lixo para o chão.

Ficou por visitar o Monte do Templo e ver de perto o Dome of the Rock, mas estava fechado quando tentei ir. Este ano o dia de Jerusalém coincidiu com o Ramadão e tinha havido problemas, os judeus entraram no Monte do Templo a atirar pedras e a partir cadeiras, e por segurança o Monte do Templo foi fechado.

Algumas fotos soltas de Jerusalém

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Em baixo: Cardo, um antigo passeio romando

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Em baixo: uma igreja que não recordo qual é....

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Em baixo: final do shabath, grupos de escolas que iam para o quarteirão judeu

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Em baixo: porta de Jaffa

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Em baixo: Mamila, uma zona comercial

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Em baixo: junto ao hostel onde fiquei havia uma praça onde os soldados recebiam o briefing matinal

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Em baixo: alguns souvenirs interessantes...

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O lado B de Israel

Sair de Jerusalém e chegar a Tel Aviv foi como mudar-me para outro planeta. Tudo o que Jerusalém é, Tel Aviv consegue ser exactamente o contrário. Se Jerusalém é séria e convencional, Tel Aviv é leve e liberal. Se Jerusalém é suja, Tel Aviv é extremamente limpa. Se Jerusalém é fortemente militarizada, em Tel Aviv pouca polícia se vê nas ruas. Bastou sair do autocarro para perceber logo que estava num sítio diferente, mais descontraído e mais arejado. Chegando à beira-mar, comecei a ver mulheres de tanga na praia...óbvio que já não estava em Jerusalém! Adeus roupa culturalmente respeitosa, shalom bíquini!

Há duas coisas a fazer em Tel Aviv: ir à praia e sair à noite. Achei que do ponto de vista cultural e histórico a cidade tinha pouco a oferecer, havia alguns museus mas não interessaram...felizmente, tanto a praia como o sair à noite têm bastante qualidade :D

Quanto ao primeiro ponto, não sou pessoa de praia, mas adorei as praias de Tel Aviv. Há um paredão que acompanha a costa e, ao logo dele, uma série de pequenas praias públicas. Há praias para nadar, equipadas com torre de salvamento e nadadores salvadores que vão emitindo uma série de avisos pelos altifalantes ao longo do dia, e praias para a prática de desportos aquáticos; há uma praia para quem tem cães; uma praia religiosa, fechada por um muro de madeira e que me pareceu ser muito frequentada por judeus ortodoxos; e a célebre Hilton Beach, a praia gay friendly. Todas as praias são extremamente limpas, tanto a água como a areia, e a infraestrutura de apoio é excelente, com chuveiros cá fora e chuveiros interiores para quem queira tomar banho, casas de banho extremamente limpas, cacifos, bebedouros para pessoas e para animais. A água, para além de muito limpinha, é bastante amena, estiveram sempre 24ºC quando lá estive. Há imensa gente a praticar desporto no paredão, que também tem uma série de equipamentos de ginástica.

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Em baixo: estátua de Ben Gurion, primeiro primeiro-ministro de Israel, e este pino aconteceu mesmo!

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Em baixo, duas fotos: Hilton Beach, a praia gay friendly

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Em baixo: praia para cães. O muro de madeira delimita a praia religiosa

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Quanto à segunda parte...a vida nocturna de Tel Aviv é qualquer coisa!:D A qualquer dia da semana há pessoas na rua de madrugada, a beberem, a conviverem, a conversarem. As ruas de Tel Aviv são extremamente agradáveis e mesmo à noite, é seguro andar sozinha. Há uma oferta variada de bares, restaurantes e cafés e contrariamente ao que acontece em Lisboa, em que as pessoas parecem concentrar-se todas nos mesmos sítios, em Tel Aviv a escolha é realmente muita e mesmo à noite a cidade continua a ser limpa e arejada.

O Parque Charles Clore, junto ao paredão, é uma escolha popular entre os árabes que à noite fazem aqui piqueniques. Mas são dezenas e dezenas de pessoas sentadas na relva, a comerem e a fumarem shisha, muito giro de se ver!

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"White City"

Tel Aviv foi fundada por judeus que fugiram da Alemanha devido à perseguição dos nazis. Nessa altura, Bauhaus era a escola arquitectónica em voga na Europa e essa influência foi trazida para Tel Aviv, valendo-lhe o apelido de "white city" (cidade branca). A arquitectura Bauhaus tem edifícios simples, de linhas rectas e tons claros. Isoladamente os edifícios não são nada de especial mas o conjunto resulta numa cidade com um ar leve e limpo.

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Mas as origens de Tel Aviv estão em Old Jaffa, uma zona mais árabe, com uma arquitectura a lembrar mais a Palestina.

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Última edição:

Mel C

Membro Conhecido
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Tinha planeado visitar a Nazaré e Tiberias a partir de Tel Aviv, mas as viagens eram longas, e percebi logo ao primeiro dia que estava a gostar demasiado da vida de Tel Aviv...lagartar na praia, passear no paredão, uns passeios pela cidade à noite, uns copos...

Durante o dia experimentei as várias praias da cidade, em todas havia sempre homens que vinham meter conversa comigo, mesmo quando eu respondia em português e os tentava enxotar insistiam! Experimentei mudar-me para a Hilton Beach - problema resolvido! :) Ninguém se metia comigo e para além disso gostei imenso do ambiente desta praia, vêm-se muitos gays mas também casais hetero e famílias e anda toda a gente à vontade, e tem sempre um dj na praia.

Algumas fotos soltas da cidade

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Em baixo: mercado Carmel, o mercado da cidade

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Em baixo: melhor gelado de iogurte do mundo no Anita, considerada a melhor gelataria de Tel Aviv

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Tel Aviv tem uma boa vibe extraordinária. Foi espectacular passar estes dias aqui, a passear, a dar mergulhos e a comer e a beber. Era bem capaz de fazer disto rotina.

Foi tão bom que me custou imenso ir embora, e vim a choramingar no avião... Quero muito voltar, faltou conhecer algumas coisas mas também ficou a vontade de repetir os passeios à beira mar, os mergulhos, as Goldstar...quem sabe um dia...

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d3ci0

Membro Conhecido
Excelente report!!!
Um belo destino, não sei se tinha coragem para visitar, gostei muito do report.
Obrigado pela partilha.
 

Ricardo_7

Membro Conhecido
Olá @Mel C :)

Obrigado por mais um soberbo report! A história e as dicas, juntamente com todas estas fotografias, tornam tudo ainda mais especial :) Nota-se que aproveitas cada momento e que "dás um pedaço" de ti para partilhares com todos nós! Obrigado por isso :)

Boas viagens :D
 

ALTF4

Membro Conhecido
Que aventura mesmo... sonho um dia poder conhecer a Terra Santa... Obrigada por me fazeres sonhar mais um pouco...
 

PaulaCoelho

Membro Conhecido
Espectacular, @Mel C 🤩

Adorei as fotos, dicas e descrição... certamente foi uma viagem inesquecível.
É um dos destinos de topo na minha wish list ☺
 
Boa reportagem sobre aquilo que foi vendo
Atendendo ao facto de ser território ocupado militarmente e à forma terrorista de se comportar do governo de Israel não tenciono visitar
Lembro que muitos judeus são contra o governo terrorista de Israel apoiado com milhões de dólares pelos EUA
Vejam o mapa da Palestina em 1946 e o de hoje
Milhares de palestinos são impedidos de sair da faixa de gaza
 

DaisyP

Membro Conhecido
Ainda que não seja um destino que me puxe a visitar tens aqui uma boa bíblia para quem decidir visitar :)
Com boas descrisões e fotografias.
 

PauloNev

Moderador Honorário
Staff
Muito obrigado pela partilha.
Um fantástico report, de uma viagem muito interessante, sinceramente não me vejo a fazer algo semelhante, mas gostei bastante de ver as fotos e ler o relato.
Boas viagens ;)
 

Jorge Gonçalves

Membro Conhecido
Fantástico report e que explica muito bem o que é Israel e a Palestina. Vim de lá há pouco mais de 1 mês e também adorei. No meu caso, como tinha mais alguns dias, consegui ir a Haifa, Nazaré e Tiberias, que valem bem a pena. Como aluguei carro, as deslocações acabam por ser mais fáceis e rápidas. Além disso, ainda dei uma escapadela à Jordânia (Petra e deserto Wasi Rum), que são imperdíveis, ou seja, muitos bons motivos para que programes nova viagem para esta zona. :)

Obrigado pela partilha! ;)
 

Cristina Sousa

Membro Conhecido
Adorei!
Estes contrastes culturais dentro do mesmo país são brutais.
Obrigada pela partilha, gostei imenso de ler os comentários/descrições dos locais e peripécias. :)
 

Paulo Leite

Moderador Honorário
Staff
Olá @Mel C ,

Muitos Parabéns (por tudo).
Não é um destino que faça tensões de visitar, mas gostei bastante do que vi e li.

Podes começar a marcar a próxima :D
 
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