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CANAL BEAGLE
Depois da visita matinal ao Parque Nacional da Terra do Fogo e após um almoço rápido pois o tempo não era muito, lá fomos até à entrada do Porto onde iriamos embarcar num catamaran para fazer o TOUR DO CANAL BEAGLE.
Estes tours podem ser contratados ou através de qualquer agência de viagem ou mesmo no porto de Ushuaia onde 6 ou 7 empresas tentam cativar clientes para os seus catamarans. No final da viagem terão um certificado de navegação no Canal .
A empresa que a nossa agência contratou foi a Catamaranes Canoero e o cruzeiro foi feito neste catamaran
Talvez por ser um simples “ cruzeiro “ foi um pouco esquecido durante a fase de preparação da viagem, pensávamos nós que seria um pequeno passeio onde nos iriam encher o tempo e mostrar um pouco da paisagem .
Falha imperdoável pois este “ cruzeiro “ terá sido muito ao seu jeito , uma das visitas mais espectaculares que tivemos durante toda a viagem.
Claro que o Canal Beagle não tem o nome sonante de outros lugares que visitámos , mas , como poderão ver um pouco mais à frente tem talvez as paisagens mais fascinantes que até hoje pude observar.
Pois convido-vos a que relaxem e venham comigo visitar virtualmente este fabuloso e fascinante lugar que separa o Oceano Atlântico do Oceano Pacifico ….. venham ver ……
Um pouco de história :
O Canal ou estreito de Beagle é um canal que separa as ilhas do arquipélago da Terra do Fogo situadas no extremo sul da América do Sul.
A sua parte oriental marca a fronteira entre o Chile e a Argentina, mas sua parte ocidental pertence ao Chile.
O canal ou estreito de Beagle tem aproximadamente 240 km de comprimento e sua largura mínima é de cerca de 5 km. A oeste, comunica com o oceano Pacífico pelo canal de Darwin.
Apesar do canal ser navegável por grandes navios, existem outras rotas marítimas mais seguras a sul (passagem de Drake) e a norte (estreito de Magalhães). Algumas pequenas ilhas perto da sua extremidade oriental foram objeto, durante muito tempo de disputas territoriais entre o Chile e a Argentina. Segundo o tratado de 1985, elas pertencem desde então ao Chile (Ilhas Picton, Lennox e Nueva.)
As principais zonas habitadas nas margens do canal são Puerto Williams (Chile) e Ushuaia (Argentina).
O canal deve o seu nome ao navio britânico HMS Beagle, que fez parte de duas missões hidrográficas nas costas meridionais da América do Sul no início do século XIX. Durante a primeira, sob o comando do australiano Philip Parker King, o capitão do Beagle, Pringle Stokes, suicidou-se e foi substituído pelo capitão Robert FitzRoy. A segunda, muitas vezes chamada de a Viagem do Beagle, é célebre porque o capitão FitzRoy levava a bordo Charles Darwin, proporcionando-lhe assim a oportunidade de destacar-se como naturalista amador.
Nessa tarde chuvosa de Primavera ainda fazia frio lá para os lados do Fim do Mundo e acreditem que foi uma decisão muito dificil de tomar entre o ficar dentro da cabine nos seus 23ºC e o estar na parte de fora do catamaran , no primeiro piso , junto à cabine do capitão , mas onde fazia muito frio e que piorou com o ínicio da sua marcha .
Não havia dúvida nenhuma . Seria impossível estar sentado confortávelmente numa poltrona enquanto que no exterior , para lá dos espessos vidros da cabine , iam passando paisagens de beleza ímpar e um forte odor a marezia que enchia o ar circundante.
E no horário indicado o catamaran largou âncora e rumou às águas abertas eprofundas do Canal Beagle.
A uma velocidade relativamente reduzida devido ao tráfego intenso de navios no porto ,o catamaran foi deslizando suavemente pelas águas deixando para trás o porto mas revelando ao mesmo tempo a fantástica beleza desta cidade circundada pelos Montes Martial ainda cobertos de neve.
Após alguns ( poucos ) minutos de navegação , surge no horizonte a língua de terra onde foi construído o Aeroporto de Ushuaia / Malvinas.
Segundo dizem os locais é um aeroporto díficil principalmente em dias de muito vento pois devido a não estar protegido por nenhuma barreira natural ou artificial , eles , os ventos ,são na sua maioria " cruzados " o que dificulta em muito a aterragem das aeronaves.
Sobressaiem na paisagem embora de forma discreta os telhados em forma de pirâmide que cobrem o edificio principal deste aeroporto e sobressai de forma evidente a Cordilheira dos Andes que parece conseguir unir o céu azul ao cinzento das águas do Canal.
Já a uma velocidade mais razoável , o catamaran foi-se aproximando do primeiro ponto de interesse :
ISLA DE LOS PÁJAROS ( Ilha dos pássaros )
Nesta ilha é possível observar as colônias de corvos marinhos magalhânicos, corvos marinhos imperiais, albatrozes e mais de 20 espécies diferentes de aves marinhas.
Creio que o nome em português para " cormoranes " será corvos marinhos ,mas desculpem se estiver enganado.
A aproximaçãoà ilha é feita devagar para que através do som dos motores não se faça disperasar as aves e por outro lado para permitir que o catamaran possa chegar o mais perto possível da parede rochosa da ilha onde se encontram milhares de casais preparados para fazerem o seu ninho e acasalarem.
É de facto impressionante a quantidade de aves que ordeiramente se amontoam num reduzido espaço. A razão de muitas permanecerm ali é a abundância de comida que as águas do canal oferece . A proximidade de comida será fundamental para mais tarde , aquando da incubação dos ovos, os pais se poderem revezar nos cuidados de alimentação.
Impávidos à presença do barco e dos muitos turistas com câmaras apontadas , as aves ali continuam serenas , olhando o mar na busca de alguma sardinha que fácilmente se deixe capturar.
Terminado o tempo de permanência do catamaran junto à ilha , rumamos a outra localização dentro do canal. O fascinante é também o facto de que como não tinha consultado préviamente nenhuma informação , todas estas voltas e manobras tornam-se num desafio de advinhação quanto aos destinos.
A imensidão do canal e as montanhas que o rodeiam fazem com que cada um de nós se sinta pequeno e insignificante face a esta Natureza fascinante e pura que nos rodeia. Como a maior parte das vezes não existe um ponto de referência , poucos são as pessoas que conseguem ter a noção da dimensão e altura dos montes que rodeiam o canal. Acredito que nesta foto essa relação de dimensão seja esclarecedora . Um catamaran , sulcando as águas do canal tendo como pano de fundo os Montes Martial. Soberbo !!!
E continuando em direcção ao norte , aqui já a uma velocidade considerável pois a distância a percorrer era significativa , chegámos à única ilha que é visitável pelos turistas . A
ISLAS BRIDGES
As chamadas " Islas Bridges " formam um pequeno arquipélago composto por 7 ilhas grandes e vários pequenos ilhotes no meio do Canal Beagle separadas entre si por profundos canais.
No passado foi habitada pelos " Yamanás " , indigenas nómadas que se dedicavam à caça e pesca e que percorriam tal como os seus antepassados os diversos canais que separavam estas ilhas.
Ainda hoje é possivel observar em bom estado de conservação , uma das últimas " cabanas " utilizadas pelos Yamanás para sobreviverem ao longo e frio inverno , mas também para armazenarem as artes e canoas utilizadas na actividade pesqueira.
O nome " Bridges " é proveniente do padre Thomas Bridges que foi o primeiro homem branco a habitar estas ilhas do Canal Beagle.
As " Ilhas Bridges " viram-se envolvidas numa disputa territorial entre a Argentina e o Chile e que ficou conhecido como " Conflito do Beagle" .
Este conflito só foi solucionado no ano de 1984 através da mediação do Papa João Paulo II e que acabou por entregar à Argentina a soberania nestas ilhas.
Após o desembarque do catamaran , os turistas são convidados a percorrer tranquilamente parte da ilha através de trilhos marcados no solo. São pedidos a todos o maior cuidado em não ultrapassar os trilhos para preservar livre de contaminação a flora existente na ilha .
È um passeio que quando feito a dois se torna especialmente apaixonante e cativante. A paisagem onde os tons do verde das plantas sobressaiem ao azul do céu , é especialmente exuberante quando ao longe se avista os montes que rodeiam Ushuaia , quando as baias que separam as pequenas ilhas se tornam refúgio temporário de um grupo de lobos marinhos ou quando o simples vento moderado mas frio nos toca a pele e nos relembra que é hora de voltar ao conforto do catamaran .
APAIXONANTE ......pena é que o tempo passou tão rápido que nem nos apercebemos que tinhamos de simplesmente ...........PARTIR .
Deixando para trás a " ISLA BRIDGES " rumámos em direcção a sul, na direcção da mítica Antártida que se encontra lá no fundo , bem para lá do fim da Cordilheira Andina que marca o final do Canal Beagle e o começo do desconhecido.
Este é o maior troço que se faz em todo este cruzeiro. È muito fácil imaginar que se salta e saltita entre o lado esquerdo e o lado direito do catamaran. Foram muitas as vezes que pensei o quanto seria bom ter braços articulados para fácilmente chegar a ambos os lados onde paisagens de cortar a respiração se iam desvendando.
Aos poucos com o desenrolar da viagem e das paisagens fui apercebendo de que estava a viver e a ver algumas das paisagens mais bonitas e fascinantes do nosso planeta. A cada milha percorrida a paisagem tornava-se diferente , a cada vaga de mar que ultrapassávamos os cheiros mudavam , as nuvens vestidas de um branco imaculado constratavam com diferente azul do céu.
A imensidão da paisagem tornavam-me pequeno e insignificante perante obras primas construídas por uma natureza em constante movimento e mudança.
Aos poucos fui-me sentindo uma vez mais um previligiado por ter a possibilidade de os meus olhos poderem transmitir à minha memória aquelas momentos que certamente ficarão guardados para sempre numa memória que espero não se torne nunca volátil.
Embrenhado nos meus sentimentos , nos meus pensamentos , na minha incapacidade de guardar em imagens tudo aquilo que por mim passava , nem me aprcebi que quase tinhamos percorrido todo o Canal e que rápidamente nos aproximávamos de uma outra ilha.
ISLA DE LOS LOBOS
Uma ilha fantástica onde uma colónia de cerca de 100 leões marinhos passa o tempo a apanhar Sol e a comer nas ferteis águas do Canal do Beagle.
Ao contrário de muitas outras comunidades , em outras partes do mundo , aqui não existe nem lutas territoriais nem lutas por comida pois o espaço está plenamente dividido entre os machos dominantes e a comida não é problema pois o Canal oferece tudo aquilo que necessitam para a sua alimentação.
As crias , as fêmeas e os machos convivem livremente num espaço reduzido onde por vezes as gaivotas aterram na tentativa de encontrarem uma refeição fácil.
O cheiro é inconfundível mesmo ao longe . Os odores da marcação de território são fortes e permanentes pois num espaço tão minúsculo os machos pulverizam esse mesmo território várias vezes ao dia de forma a que os seus opositores não se esqueçam ou não se baralhem com o que é de cada um .
Mas não são só os cheiros que são fortes. Ainda ao longe e depois do catamaran desligar os motores é desde logo audível os " gritos " comunicativos dos leões marinhos. São chamamentos de mães a crias , são " gritos " de aviso , são talvez avisos internos de invasão de território , não sei o que poderão ser , mas sei que ouvidos ali no seu habitat natural , têm uma tonalidade e uma força diferente daquilo que todos estamos habituados a ouvir em zoos e parques aquáticos.
Esta é uma natureza pura onde os próprios animais não reconhecem o homem como uma potencial ameaça á sua sobrevivência.
Os visitantes ficam restritos ao catamaran e nem mesmo a aproximação dos mesmos ao seu habitat é suficiente para lhes tirar ou suspender aquele sono e descanso gostoso que têm quando o sol decide mostrar-se em toda a sua plenitude.
E porque a tarde já ia bastante comprida partimos para o último lugar de visita tal como foi informado pelo comandante.
Talvez porque o melhor esteja sempre reservado para o final , acabámos o nosso Tour no :
FARO LOS ECLAIREURS
O “Farol do fim do mundo”: O Farol Les Eclaireurs, é conhecido por Farol do fim do mundo, mas, na verdade, não é o farol chamado assim por Julio Verne na sua obra “El faro del fin del mundo”. O farol a que se referia Verne ficava na Isla de los Estados, que é mais ao sul do actual farol , e foi construído em 1884. Chamava-se Faro de San Juan de Salvamaneto e, foi desativado e abandonado em 1902 .O Farol Les Eclaireurs, tem este nome por ficar nas ilhas Les Eclaireurs e foi construído em 1920.
A mudança de luminosidade e de cores avisava que o dia se aproximava do seu fim . A paisagem já de si excepcional tornava-se assim com a chegada das tonalidades laranjas ainda mais fascinantes.
Muitos dos que estavam dentro da cabine sairam para fora e ficaram tal como nos em silêncio absorvendo esta maravilha de enquadramento que a Mãe natureza nos estava a proporcionar.
Foram momentos muito especiais de comunhão com uma natureza que oferece dia a dia o melhor que tem para ser observado.
E porque nem todos podemos ter a honra , o prazerde viver estes momentos deixo a foto que melhor ilustra o que tentei demonstrar por palavras ..... a beleza incomparável do Farol los Eclaireurs.
De repente e sem que nada o fizesse prever , umas ameaçadoras nuvens negras transformaram o horizonte e transformaram a paisagem numa beleza diferente.
Nem esta chuva me conseguiu fazer entrar na cabine na viagem de volta a Ushuaia. E porque a luminosidade já não convidava a fotografia , aproveitei aqueles últimos momentos para absorver todas aquelas imagens de um local fantástico onde a natureza manda , onde a calma se torna sinónimo de vida e onde o homem se reduz ao que na realidade é , um habitante como todos os outros.
E foi com a melancolia na pensamento , o coração na boca e os olhos inundados de água que me despedi deste lugar que me fascinou , que me cativou e do qual nunca me esquecerei. Não voltarei é verdade ,mas acreditem que ainda hoje recordo cada cheiro , cada som , cada minuto deste cruzeiro.
Se puderem vão até lá ....
Abraço a todos
João Paulo
Depois da visita matinal ao Parque Nacional da Terra do Fogo e após um almoço rápido pois o tempo não era muito, lá fomos até à entrada do Porto onde iriamos embarcar num catamaran para fazer o TOUR DO CANAL BEAGLE.
Estes tours podem ser contratados ou através de qualquer agência de viagem ou mesmo no porto de Ushuaia onde 6 ou 7 empresas tentam cativar clientes para os seus catamarans. No final da viagem terão um certificado de navegação no Canal .
A empresa que a nossa agência contratou foi a Catamaranes Canoero e o cruzeiro foi feito neste catamaran
Talvez por ser um simples “ cruzeiro “ foi um pouco esquecido durante a fase de preparação da viagem, pensávamos nós que seria um pequeno passeio onde nos iriam encher o tempo e mostrar um pouco da paisagem .
Falha imperdoável pois este “ cruzeiro “ terá sido muito ao seu jeito , uma das visitas mais espectaculares que tivemos durante toda a viagem.
Claro que o Canal Beagle não tem o nome sonante de outros lugares que visitámos , mas , como poderão ver um pouco mais à frente tem talvez as paisagens mais fascinantes que até hoje pude observar.
Pois convido-vos a que relaxem e venham comigo visitar virtualmente este fabuloso e fascinante lugar que separa o Oceano Atlântico do Oceano Pacifico ….. venham ver ……
Um pouco de história :
O Canal ou estreito de Beagle é um canal que separa as ilhas do arquipélago da Terra do Fogo situadas no extremo sul da América do Sul.
A sua parte oriental marca a fronteira entre o Chile e a Argentina, mas sua parte ocidental pertence ao Chile.
O canal ou estreito de Beagle tem aproximadamente 240 km de comprimento e sua largura mínima é de cerca de 5 km. A oeste, comunica com o oceano Pacífico pelo canal de Darwin.
Apesar do canal ser navegável por grandes navios, existem outras rotas marítimas mais seguras a sul (passagem de Drake) e a norte (estreito de Magalhães). Algumas pequenas ilhas perto da sua extremidade oriental foram objeto, durante muito tempo de disputas territoriais entre o Chile e a Argentina. Segundo o tratado de 1985, elas pertencem desde então ao Chile (Ilhas Picton, Lennox e Nueva.)
As principais zonas habitadas nas margens do canal são Puerto Williams (Chile) e Ushuaia (Argentina).
O canal deve o seu nome ao navio britânico HMS Beagle, que fez parte de duas missões hidrográficas nas costas meridionais da América do Sul no início do século XIX. Durante a primeira, sob o comando do australiano Philip Parker King, o capitão do Beagle, Pringle Stokes, suicidou-se e foi substituído pelo capitão Robert FitzRoy. A segunda, muitas vezes chamada de a Viagem do Beagle, é célebre porque o capitão FitzRoy levava a bordo Charles Darwin, proporcionando-lhe assim a oportunidade de destacar-se como naturalista amador.
Nessa tarde chuvosa de Primavera ainda fazia frio lá para os lados do Fim do Mundo e acreditem que foi uma decisão muito dificil de tomar entre o ficar dentro da cabine nos seus 23ºC e o estar na parte de fora do catamaran , no primeiro piso , junto à cabine do capitão , mas onde fazia muito frio e que piorou com o ínicio da sua marcha .
Não havia dúvida nenhuma . Seria impossível estar sentado confortávelmente numa poltrona enquanto que no exterior , para lá dos espessos vidros da cabine , iam passando paisagens de beleza ímpar e um forte odor a marezia que enchia o ar circundante.
E no horário indicado o catamaran largou âncora e rumou às águas abertas eprofundas do Canal Beagle.
A uma velocidade relativamente reduzida devido ao tráfego intenso de navios no porto ,o catamaran foi deslizando suavemente pelas águas deixando para trás o porto mas revelando ao mesmo tempo a fantástica beleza desta cidade circundada pelos Montes Martial ainda cobertos de neve.
Segundo dizem os locais é um aeroporto díficil principalmente em dias de muito vento pois devido a não estar protegido por nenhuma barreira natural ou artificial , eles , os ventos ,são na sua maioria " cruzados " o que dificulta em muito a aterragem das aeronaves.
Sobressaiem na paisagem embora de forma discreta os telhados em forma de pirâmide que cobrem o edificio principal deste aeroporto e sobressai de forma evidente a Cordilheira dos Andes que parece conseguir unir o céu azul ao cinzento das águas do Canal.
Já a uma velocidade mais razoável , o catamaran foi-se aproximando do primeiro ponto de interesse :
ISLA DE LOS PÁJAROS ( Ilha dos pássaros )
Nesta ilha é possível observar as colônias de corvos marinhos magalhânicos, corvos marinhos imperiais, albatrozes e mais de 20 espécies diferentes de aves marinhas.
Creio que o nome em português para " cormoranes " será corvos marinhos ,mas desculpem se estiver enganado.
A aproximaçãoà ilha é feita devagar para que através do som dos motores não se faça disperasar as aves e por outro lado para permitir que o catamaran possa chegar o mais perto possível da parede rochosa da ilha onde se encontram milhares de casais preparados para fazerem o seu ninho e acasalarem.
É de facto impressionante a quantidade de aves que ordeiramente se amontoam num reduzido espaço. A razão de muitas permanecerm ali é a abundância de comida que as águas do canal oferece . A proximidade de comida será fundamental para mais tarde , aquando da incubação dos ovos, os pais se poderem revezar nos cuidados de alimentação.
Impávidos à presença do barco e dos muitos turistas com câmaras apontadas , as aves ali continuam serenas , olhando o mar na busca de alguma sardinha que fácilmente se deixe capturar.
Terminado o tempo de permanência do catamaran junto à ilha , rumamos a outra localização dentro do canal. O fascinante é também o facto de que como não tinha consultado préviamente nenhuma informação , todas estas voltas e manobras tornam-se num desafio de advinhação quanto aos destinos.
A imensidão do canal e as montanhas que o rodeiam fazem com que cada um de nós se sinta pequeno e insignificante face a esta Natureza fascinante e pura que nos rodeia. Como a maior parte das vezes não existe um ponto de referência , poucos são as pessoas que conseguem ter a noção da dimensão e altura dos montes que rodeiam o canal. Acredito que nesta foto essa relação de dimensão seja esclarecedora . Um catamaran , sulcando as águas do canal tendo como pano de fundo os Montes Martial. Soberbo !!!
E continuando em direcção ao norte , aqui já a uma velocidade considerável pois a distância a percorrer era significativa , chegámos à única ilha que é visitável pelos turistas . A
ISLAS BRIDGES
As chamadas " Islas Bridges " formam um pequeno arquipélago composto por 7 ilhas grandes e vários pequenos ilhotes no meio do Canal Beagle separadas entre si por profundos canais.
No passado foi habitada pelos " Yamanás " , indigenas nómadas que se dedicavam à caça e pesca e que percorriam tal como os seus antepassados os diversos canais que separavam estas ilhas.
Ainda hoje é possivel observar em bom estado de conservação , uma das últimas " cabanas " utilizadas pelos Yamanás para sobreviverem ao longo e frio inverno , mas também para armazenarem as artes e canoas utilizadas na actividade pesqueira.
As " Ilhas Bridges " viram-se envolvidas numa disputa territorial entre a Argentina e o Chile e que ficou conhecido como " Conflito do Beagle" .
Este conflito só foi solucionado no ano de 1984 através da mediação do Papa João Paulo II e que acabou por entregar à Argentina a soberania nestas ilhas.
Após o desembarque do catamaran , os turistas são convidados a percorrer tranquilamente parte da ilha através de trilhos marcados no solo. São pedidos a todos o maior cuidado em não ultrapassar os trilhos para preservar livre de contaminação a flora existente na ilha .
È um passeio que quando feito a dois se torna especialmente apaixonante e cativante. A paisagem onde os tons do verde das plantas sobressaiem ao azul do céu , é especialmente exuberante quando ao longe se avista os montes que rodeiam Ushuaia , quando as baias que separam as pequenas ilhas se tornam refúgio temporário de um grupo de lobos marinhos ou quando o simples vento moderado mas frio nos toca a pele e nos relembra que é hora de voltar ao conforto do catamaran .
Deixando para trás a " ISLA BRIDGES " rumámos em direcção a sul, na direcção da mítica Antártida que se encontra lá no fundo , bem para lá do fim da Cordilheira Andina que marca o final do Canal Beagle e o começo do desconhecido.
Este é o maior troço que se faz em todo este cruzeiro. È muito fácil imaginar que se salta e saltita entre o lado esquerdo e o lado direito do catamaran. Foram muitas as vezes que pensei o quanto seria bom ter braços articulados para fácilmente chegar a ambos os lados onde paisagens de cortar a respiração se iam desvendando.
Aos poucos com o desenrolar da viagem e das paisagens fui apercebendo de que estava a viver e a ver algumas das paisagens mais bonitas e fascinantes do nosso planeta. A cada milha percorrida a paisagem tornava-se diferente , a cada vaga de mar que ultrapassávamos os cheiros mudavam , as nuvens vestidas de um branco imaculado constratavam com diferente azul do céu.
A imensidão da paisagem tornavam-me pequeno e insignificante perante obras primas construídas por uma natureza em constante movimento e mudança.
Aos poucos fui-me sentindo uma vez mais um previligiado por ter a possibilidade de os meus olhos poderem transmitir à minha memória aquelas momentos que certamente ficarão guardados para sempre numa memória que espero não se torne nunca volátil.
Embrenhado nos meus sentimentos , nos meus pensamentos , na minha incapacidade de guardar em imagens tudo aquilo que por mim passava , nem me aprcebi que quase tinhamos percorrido todo o Canal e que rápidamente nos aproximávamos de uma outra ilha.
ISLA DE LOS LOBOS
Uma ilha fantástica onde uma colónia de cerca de 100 leões marinhos passa o tempo a apanhar Sol e a comer nas ferteis águas do Canal do Beagle.
Ao contrário de muitas outras comunidades , em outras partes do mundo , aqui não existe nem lutas territoriais nem lutas por comida pois o espaço está plenamente dividido entre os machos dominantes e a comida não é problema pois o Canal oferece tudo aquilo que necessitam para a sua alimentação.
As crias , as fêmeas e os machos convivem livremente num espaço reduzido onde por vezes as gaivotas aterram na tentativa de encontrarem uma refeição fácil.
O cheiro é inconfundível mesmo ao longe . Os odores da marcação de território são fortes e permanentes pois num espaço tão minúsculo os machos pulverizam esse mesmo território várias vezes ao dia de forma a que os seus opositores não se esqueçam ou não se baralhem com o que é de cada um .
Mas não são só os cheiros que são fortes. Ainda ao longe e depois do catamaran desligar os motores é desde logo audível os " gritos " comunicativos dos leões marinhos. São chamamentos de mães a crias , são " gritos " de aviso , são talvez avisos internos de invasão de território , não sei o que poderão ser , mas sei que ouvidos ali no seu habitat natural , têm uma tonalidade e uma força diferente daquilo que todos estamos habituados a ouvir em zoos e parques aquáticos.
Esta é uma natureza pura onde os próprios animais não reconhecem o homem como uma potencial ameaça á sua sobrevivência.
Os visitantes ficam restritos ao catamaran e nem mesmo a aproximação dos mesmos ao seu habitat é suficiente para lhes tirar ou suspender aquele sono e descanso gostoso que têm quando o sol decide mostrar-se em toda a sua plenitude.
Talvez porque o melhor esteja sempre reservado para o final , acabámos o nosso Tour no :
FARO LOS ECLAIREURS
O “Farol do fim do mundo”: O Farol Les Eclaireurs, é conhecido por Farol do fim do mundo, mas, na verdade, não é o farol chamado assim por Julio Verne na sua obra “El faro del fin del mundo”. O farol a que se referia Verne ficava na Isla de los Estados, que é mais ao sul do actual farol , e foi construído em 1884. Chamava-se Faro de San Juan de Salvamaneto e, foi desativado e abandonado em 1902 .O Farol Les Eclaireurs, tem este nome por ficar nas ilhas Les Eclaireurs e foi construído em 1920.
A mudança de luminosidade e de cores avisava que o dia se aproximava do seu fim . A paisagem já de si excepcional tornava-se assim com a chegada das tonalidades laranjas ainda mais fascinantes.
Muitos dos que estavam dentro da cabine sairam para fora e ficaram tal como nos em silêncio absorvendo esta maravilha de enquadramento que a Mãe natureza nos estava a proporcionar.
Foram momentos muito especiais de comunhão com uma natureza que oferece dia a dia o melhor que tem para ser observado.
E porque nem todos podemos ter a honra , o prazerde viver estes momentos deixo a foto que melhor ilustra o que tentei demonstrar por palavras ..... a beleza incomparável do Farol los Eclaireurs.
De repente e sem que nada o fizesse prever , umas ameaçadoras nuvens negras transformaram o horizonte e transformaram a paisagem numa beleza diferente.
Nem esta chuva me conseguiu fazer entrar na cabine na viagem de volta a Ushuaia. E porque a luminosidade já não convidava a fotografia , aproveitei aqueles últimos momentos para absorver todas aquelas imagens de um local fantástico onde a natureza manda , onde a calma se torna sinónimo de vida e onde o homem se reduz ao que na realidade é , um habitante como todos os outros.
E foi com a melancolia na pensamento , o coração na boca e os olhos inundados de água que me despedi deste lugar que me fascinou , que me cativou e do qual nunca me esquecerei. Não voltarei é verdade ,mas acreditem que ainda hoje recordo cada cheiro , cada som , cada minuto deste cruzeiro.
Se puderem vão até lá ....
Abraço a todos
João Paulo
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