Carlos Silva
Membro
TANZÂNIA
No seguimento da minha viagem ao Kénya, tive a oportunidade de visitar a Tanzânia também.
A Tanzânia é definitivamente um pais diferente do Kénya. A primeira diferença são as viaturas usadas nos safaris; o guia que me foi buscar a Namanga (Mr. Bushman) conduzia um robustíssimo jipe Land Rover.
No Kénya tinhamos feito o safari todo numa van de 9 lugares da Nissan, apenas com tracção a 2 rodas, mas que fazia milagres e passava nos sítios mais incríveis.
Na Tanzânia veêm-se muito mais jipes que van’s, e parece que o motivo reside no facto de o governo, ao contrário do do Kénya, não sobrecarregar os carros com impostos de importação. Infelizmente, não foi este o guia nem este o jipe com que fomos para o mato, e tivemos bastante azar depois, conforme irei relatar.
Outra diferença imediata são as vias, que são consideravelmente melhores na Tanzânia. As lojas e botequins na berma das estradas têm muito melhor aspecto que no Kénya, muitas já são em tijolo, estão alinhadinhas e pintadinhas, é diferente.
As 2h30 de viagem até Arusha passaram rapidamente, pois Mr. Bushman é um fulano divertido, contava histórias engraçadas, e uma que eu achei mesmo piada foi quando falávamos sobre o papel educativo dos guias nos safaris.
Ele dizia “os guias só devem dar uma explicação básica aos turistas, e devem fazê-lo durante o safari. Se o turista quiser saber mais, ele pergunta.
Conheço guias que páram o jipe para dar explicações de meia hora aos turistas, que na maior parte das vezes não querem ouvir nada, querem é ver as coisas.
Há guias que chegam ao ponto de explicar pormenores aos turistas sobre a m**** que os elefantes cagam...Ora, diga-me uma coisa, você veio para cá para ouvir histórias sobre m**** de elefantes, ou para ver os elefantes ?”
:lol:
Quando entrámos em Arusha, era quase hora de almoço. O guia levou-me ao boss, ou seja, ao patrão da Almasaai Safaris, que era um negro bonacheirão e rato sabido...
Instalaram-me num pequeno Hotel bastante agradável, com restaurante na parte de baixo, que tinha uma larga fachada envidraçada que dava para a rua, o que permitia assistir ao reboliço e azáfama citadina, durante as refeições.
Deu logo para perceber que as coisas na Tanzânia são muito mais folgadas...o boss nem quis saber qual era o meu programa para esse dia, ele perguntou-me “So, what do you want to do today ? Safari or rest ?”
Pensei que seria melhor descansar o resto do dia: almoçar e conhecer Arusha.
A comida do Hotel era porreira, deu para experimentar uns pratos novos.
Depois, meti-me ao caminho e fui percorrer a cidade.
Aqui não havia o perigo de me perder, pois o Hotel fica perto de um monumento fácil de encontrar, que se chama Arusha Declaration Monument.
Á excepção de algumas ruas principais, o piso é todo em terra poeirenta.
A cidade é uma feira gigante e fervilha de movimento. Há milhares de lojas e lojinhas, quiosques e estaminés, vendedores ambulantes e cafés.
O que é mesmo difícil de encontrar é uma esplanada...existe um ou outro café que tem 2 mesitas cá fora, que estão sempre ocupadas, claro, e nada mais...
Ah, óbvio que desde que saí do Dubai que deixei de saber o que era um café expresso !
Os dois sítios que são imperdíveis de visitar são a estação de camionetas e o mercado da cidade.
Quanto à moeda, o boss trocou-me algumas notas quenianas por Tanzanian Shilings. O shiling aqui é mais fraco que no Kénya, e depois de comprado, tem de se gastar, porque ninguém o quer de volta, por isso troquei pouco e fui usando dólares, que são aceites em praticamente todo o lado. A proporção entre os dois diferentes shilings é de 1 para 18, mas o boss trocou-me de 1 para 15 (não é parvo...).
Houve alturas em que cheguei a andar com 5 moedas diferentes na carteira: Euros, libras, dólares e shilings do Kénya e da Tanzânia.
No Dubai, no regresso, também usei alguns dirhams.
Uma das coisas mais giras que vi foi um casamento, que é muito diferente dos casamentos da europa. Foi mesmo giro !!!
Arusha também tem Masaai e usam todos como calçado umas sandálias feitas com bocados de pneus de automovel :blink:.
Têm também uma forte comunidade árabe; comprovei isso na madrugada do dia seguinte, ao ser acordado pelo delicioso Adhan (call to prayer) que ecoava pela cidade toda.
De facto, até houve mais que um Adhan, porque devem haver várias seitas, igrejas, ou sei lá.
Por acaso eu precisava mesmo de acordar a essa hora, mas para quem quer dormir mais um pouco, deve ser pouco agradável.
Ás seis da manhã conheci um fulano da Califónia, um sujeito sem sentido de humor e com quem tive de partilhar a tenda na Tanzânia.
Nessa madrugada sofri a pior cena destas férias; um motorista levou-nos de Arusha para um ponto de encontro, a cerca de 2 h de viagem, ainda de noite.
Durante cerca de uma hora dormitei, no lugar ao lado do condutor, mas depois passou-me o sono, e nem queria acreditar no que via: o condutor conduzia e dormia ao mesmo tempo ! O americano, que seguia no banco de trás, também se apercebeu da situação.
Houve uma altura em que o indivíduo puxou o carro para a outra faixa de rodagem, e eu meti mesmo a mão ao volante, mas o tipo desculpou-se que tinha feito de propósito, para se desviar dos buracos.
Entretanto ele parou e comprou um Redbull, acho que foi o que o manteve razoavelmente acordado depois.
Eu estava mais assustado que uma girafa com vertigens e quando parámos, vivos, foi um alívio.
Claro que depois reclamei ao boss, e avisei a Asili para repensar neste operador.
Neste parque de campismo conhecemos um casal de Holandeses, o Sven e a Stephanie que se juntaram a nós durante os próximos dias.Ficaram com a alcunha de Mr. e Mrs. Seven.
O nosso guia (Lawrence) e o nosso cozinheiro (Gregory) carregaram o jipe com as tendas e com a nossa bagagem e partimos para Serengetti.
O trajecto é espectacular, pois nos primeiros quilómetros o percurso é muito montanhoso, e o chão é vermelho, tal como nos Açores.
Entrámos dentro da área de conservação de Ngorongoro, mas não descemos à cratera nesse dia, fomos directos para Serengetti, onde pernoitámos.
As paisagens são arrebatadoras, e até vimos uma cáfila de camelos, que não é muito usual.
Surgiu então o primeiro problema mecânico no jipe: acho que a minha aura de criar apagões avariou um dos fusíveis e o jipe não queria pegar, isto no meio do nada.
Os outros jipes paravam para dar uma ajuda, mas só quando um mecânico pegou naquilo é que resolveu o problema, mais de 2h depois.
A paisagem é desértica, mas de vez em quando aparecem zonas com água, onde, claro, também costumam estar animais a saciar a sede.
Os javalis são mais frequentes por estas bandas.
A Tanzânia é muito mais rica em vida selvagem do que o Kénya. Nesse dia vimos macacos, girafas, chacais, hienas, elefantes, leões, e até assistimos a um leão a alimentar-se.
Leões não faltam !
Leopardo na árvore. Raro... só vi 3 em África.
Mais raro ainda. Chamam-lhes serval cats, acho que a tradução é linces.O nosso guia exerce a profissão há 6 anos e ainda só tinha visto 3.
Outro leopardo.
Um chacal.
Hienas. Aparecem com alguma frequência.
O parque de campismo estava a abarrotar de gente, mas as infra-estruturas deixavam muito a desejar.Para uma coisa daquelas dimensões, apenas tinham 2 duches de água fria, e nem sequer tinham um cabide para pendurar a roupa. O WC estava num estado lastimável e não tinha papel, enfim...
O alpendre onde era suposto jantarmos tem só umas 3 tomadas, que se revelam insuficientes para toda aquela gente ligar carregadores (por isso eu recomendo uma tripla).
A noite estava muito agradável, e os guias montaram a nossa mesa no exterior, e conseguiram desencantar umas cervejas mornas, que só chegaram depois de já termos comido, mas mesmo assim foi muito bom.
A meio da noite o tempo virou e choveu imenso. As tendas não são grandes coisas, pelo que entrou alguma água lá dentro, e os sacos cama ficaram húmidos, mas acampar é isso mesmo...
Foi preciso ir à Tanzânia para descobrir que ressono que nem um urso, para grande consternação do desgraçado do californiano e até do casal "Seven" que acamparam mesmo ao lado. Isso valeu-me a alcunha de Mr. Porky Snorky, eh eh.
No dia seguinte iamos fazer um early morning safari, mas o jipe avariou outra vez, a poucos metros do camping. Desta fez fora a embraiagem, e o guia teve de levar o jipe assim mesmo até uma oficina próxima, onde apanhámos outra seca de 2h até resolverem o problema.
Por acaso a garagem tinha aves, macacos e uns roedores parecidos com furões, que são uns bichitos muito curtidos, passei algum tempo a tentar conquistar a sua confiança e a fotografá-los.
Lá arrancámos, e vimos outro leão a empanturrar-se.
Depois do pequeno almoço, desmontámos tudo, carregámos o jipe e fomos para Ngorongoro.
A maior cratera do mundo: cerca de 20 Kms de diâmetro.
O condutor levou-nos por uns trilhos alternativos, que estavam em muito melhores condições que o piso da véspera, que em muito contribuiu para a avaria nos fusíveis.
É absolutamente incrível como os guias se orientam no meio da imensidão de África. Não têm GPS !
África é imensa. Não há palavras para descrever o tamanho daquilo.
Era vulgar encontrar crianças Masaai, no seu treino de selva. Coitados, conseguem viver das pedras, quando viam água dentro dos jipes parecia que estavam a ver ouro. Ás vezes dávamos-lhes água e sandwiches.
Masaai.Sabemos que estão em treino, pelas pinturas faciais brancas.
O parque de campismo de Ngorongoro é um pouco melhor que o anterior. Tem mais duches, mais tomadas, e fica numa encosta da cratera, com uma paisagem fenomenal.
Mas tudo tem os seus prós e contras, e neste caso um dos problemas é que o parque está muito exposto, por isso sopra sempre uma brisa que roça o limiar do desagradável, sendo que à noite fica mesmo um frio dos diabos.
Depois do jantar, construiram uma fogueira gigante para a malta se aquecer.
A regra para poder entrar na roda era "rodada de cerveja ou cantar o hino nacional".
Lá tive que cantar o hino português para aquela gente toda, foi uma experiência interessante, e orgulhei-me de estar a representar Portugal num sítio tão remoto e com outras pessoas de outros países. E foi a única vez que falei português durante mais de duas semanas.
Nessa noite, o parque foi invadido por uma manada de zebras - eu não as vi, mas o americano que estava na minha tenda não conseguia dormir (porque terá sido ? ) e viu-as.
Descemos à cratera, que está repleta de vida, como cheetas, hipopótamos, e mais leões.
De vez em quando tinhamos de cruzar ribeiras, o que dava mesmo um ar de TT à coisa.
Estar dentro duma cratera com 20 Kms de diâmetro é abissal, mas apesar de tanto espaço, por vezes as zebras e os gnus metiam-se no meio do caminho.
Parámos para almoçar junto de um laguinho muito agradavel, mas tivemos de comer dentro da carrinha, porque há umas aves castanhas, muito chatas, que mergulham sobre os turistas para roubar a comida, e que, segundo o nosso guia, podem ferir-nos ou rasgar a roupa.
E não se podem alimentar os animais, nos Parques.
Finalmente encontrei um posto dos Correios, em Ngorogoro, onde consegui colocar uns postais para os amigos, que já andavam comigo desde Arusha, à espera de sítio para os enviar...
Bom, foi depois a altura de tornar a desmontar tudo e iniciar a viagem de regresso.
Nessa tarde falei com o boss, já em Arusha, ele fez questão de me reservar um belíssimo Hotel, o Snow Crest, provavelmente o melhor da cidade, mas que fica cerca de 6 Kms fora do centro.
Antes de jantar, compareceu pessoalmente no Hotel, para apresentar desculpas pelas avarias do jipe, e foi então que lhe contei do fulano que conduzia e dormia ao mesmo tempo.
Bem, na minha opinião (e o americano e os holandeses também pensam o mesmo) eles deviam ter devolvido pelo menos 150 dólares, porque ao todo perdemos cerca de 1 dia de safari.
Ainda por cima o jantar nesse Hotel não estava incluido... e deveria de estar.
Mas a verdade é que a Tanzânia é tão rica em animais selvagens, e os safaris foram tão bons, que após fazer um balanço final, fiquei muito satisfeito.
No dia seguinte, colocaram-me num shuttle para Nairobi.
Não sei se conseguem ver, mas o condutor do autocarro está a conduzir e ao telemovel ao mesmo tempo... e conseguiu ainda simultaneamente pisar vários traços contínuos, dos quais, sinceramente, ninguém faz caso.
O que tornou a viagem mais aborrecida foi o facto de passarmos as primeiras 2h30, até à fronteira, a ouvir a mesma canção country, porque o fulano tinha o leitor de CD's no repeat. Em Namanga, eu e um americano de Ohio pedimos-lhe para mudar a música.
Bem, ele mudou de CD, mas não desactivou o repeat, e mamámos com outra canção sempre igual até Nairobi, cujo refrão era "it's too late for apollogies" e que não vou esquecer nunca, eh eh.
E pronto, meus amigos, a minha maior emoção depois disto tudo foi voar de Dubai para Londres no enorme Airbus A380, mas isso está noutro report.
Espero que tenham gostado, e que seja de alguma utilidade para outros que eventualmente pensem em fazer uma viagem parecida.
No seguimento da minha viagem ao Kénya, tive a oportunidade de visitar a Tanzânia também.
A Tanzânia é definitivamente um pais diferente do Kénya. A primeira diferença são as viaturas usadas nos safaris; o guia que me foi buscar a Namanga (Mr. Bushman) conduzia um robustíssimo jipe Land Rover.
No Kénya tinhamos feito o safari todo numa van de 9 lugares da Nissan, apenas com tracção a 2 rodas, mas que fazia milagres e passava nos sítios mais incríveis.
Na Tanzânia veêm-se muito mais jipes que van’s, e parece que o motivo reside no facto de o governo, ao contrário do do Kénya, não sobrecarregar os carros com impostos de importação. Infelizmente, não foi este o guia nem este o jipe com que fomos para o mato, e tivemos bastante azar depois, conforme irei relatar.
Outra diferença imediata são as vias, que são consideravelmente melhores na Tanzânia. As lojas e botequins na berma das estradas têm muito melhor aspecto que no Kénya, muitas já são em tijolo, estão alinhadinhas e pintadinhas, é diferente.
As 2h30 de viagem até Arusha passaram rapidamente, pois Mr. Bushman é um fulano divertido, contava histórias engraçadas, e uma que eu achei mesmo piada foi quando falávamos sobre o papel educativo dos guias nos safaris.
Ele dizia “os guias só devem dar uma explicação básica aos turistas, e devem fazê-lo durante o safari. Se o turista quiser saber mais, ele pergunta.
Conheço guias que páram o jipe para dar explicações de meia hora aos turistas, que na maior parte das vezes não querem ouvir nada, querem é ver as coisas.
Há guias que chegam ao ponto de explicar pormenores aos turistas sobre a m**** que os elefantes cagam...Ora, diga-me uma coisa, você veio para cá para ouvir histórias sobre m**** de elefantes, ou para ver os elefantes ?”
:lol:
Quando entrámos em Arusha, era quase hora de almoço. O guia levou-me ao boss, ou seja, ao patrão da Almasaai Safaris, que era um negro bonacheirão e rato sabido...
Instalaram-me num pequeno Hotel bastante agradável, com restaurante na parte de baixo, que tinha uma larga fachada envidraçada que dava para a rua, o que permitia assistir ao reboliço e azáfama citadina, durante as refeições.
Deu logo para perceber que as coisas na Tanzânia são muito mais folgadas...o boss nem quis saber qual era o meu programa para esse dia, ele perguntou-me “So, what do you want to do today ? Safari or rest ?”
Pensei que seria melhor descansar o resto do dia: almoçar e conhecer Arusha.
A comida do Hotel era porreira, deu para experimentar uns pratos novos.
Depois, meti-me ao caminho e fui percorrer a cidade.
Aqui não havia o perigo de me perder, pois o Hotel fica perto de um monumento fácil de encontrar, que se chama Arusha Declaration Monument.
Á excepção de algumas ruas principais, o piso é todo em terra poeirenta.
A cidade é uma feira gigante e fervilha de movimento. Há milhares de lojas e lojinhas, quiosques e estaminés, vendedores ambulantes e cafés.
O que é mesmo difícil de encontrar é uma esplanada...existe um ou outro café que tem 2 mesitas cá fora, que estão sempre ocupadas, claro, e nada mais...
Ah, óbvio que desde que saí do Dubai que deixei de saber o que era um café expresso !
Os dois sítios que são imperdíveis de visitar são a estação de camionetas e o mercado da cidade.
Quanto à moeda, o boss trocou-me algumas notas quenianas por Tanzanian Shilings. O shiling aqui é mais fraco que no Kénya, e depois de comprado, tem de se gastar, porque ninguém o quer de volta, por isso troquei pouco e fui usando dólares, que são aceites em praticamente todo o lado. A proporção entre os dois diferentes shilings é de 1 para 18, mas o boss trocou-me de 1 para 15 (não é parvo...).
Houve alturas em que cheguei a andar com 5 moedas diferentes na carteira: Euros, libras, dólares e shilings do Kénya e da Tanzânia.
No Dubai, no regresso, também usei alguns dirhams.
Uma das coisas mais giras que vi foi um casamento, que é muito diferente dos casamentos da europa. Foi mesmo giro !!!
Arusha também tem Masaai e usam todos como calçado umas sandálias feitas com bocados de pneus de automovel :blink:.
Têm também uma forte comunidade árabe; comprovei isso na madrugada do dia seguinte, ao ser acordado pelo delicioso Adhan (call to prayer) que ecoava pela cidade toda.
De facto, até houve mais que um Adhan, porque devem haver várias seitas, igrejas, ou sei lá.
Por acaso eu precisava mesmo de acordar a essa hora, mas para quem quer dormir mais um pouco, deve ser pouco agradável.
Ás seis da manhã conheci um fulano da Califónia, um sujeito sem sentido de humor e com quem tive de partilhar a tenda na Tanzânia.
Nessa madrugada sofri a pior cena destas férias; um motorista levou-nos de Arusha para um ponto de encontro, a cerca de 2 h de viagem, ainda de noite.
Durante cerca de uma hora dormitei, no lugar ao lado do condutor, mas depois passou-me o sono, e nem queria acreditar no que via: o condutor conduzia e dormia ao mesmo tempo ! O americano, que seguia no banco de trás, também se apercebeu da situação.
Houve uma altura em que o indivíduo puxou o carro para a outra faixa de rodagem, e eu meti mesmo a mão ao volante, mas o tipo desculpou-se que tinha feito de propósito, para se desviar dos buracos.
Entretanto ele parou e comprou um Redbull, acho que foi o que o manteve razoavelmente acordado depois.
Eu estava mais assustado que uma girafa com vertigens e quando parámos, vivos, foi um alívio.
Claro que depois reclamei ao boss, e avisei a Asili para repensar neste operador.
Neste parque de campismo conhecemos um casal de Holandeses, o Sven e a Stephanie que se juntaram a nós durante os próximos dias.Ficaram com a alcunha de Mr. e Mrs. Seven.
O nosso guia (Lawrence) e o nosso cozinheiro (Gregory) carregaram o jipe com as tendas e com a nossa bagagem e partimos para Serengetti.
O trajecto é espectacular, pois nos primeiros quilómetros o percurso é muito montanhoso, e o chão é vermelho, tal como nos Açores.
Entrámos dentro da área de conservação de Ngorongoro, mas não descemos à cratera nesse dia, fomos directos para Serengetti, onde pernoitámos.
As paisagens são arrebatadoras, e até vimos uma cáfila de camelos, que não é muito usual.
Surgiu então o primeiro problema mecânico no jipe: acho que a minha aura de criar apagões avariou um dos fusíveis e o jipe não queria pegar, isto no meio do nada.
Os outros jipes paravam para dar uma ajuda, mas só quando um mecânico pegou naquilo é que resolveu o problema, mais de 2h depois.
A paisagem é desértica, mas de vez em quando aparecem zonas com água, onde, claro, também costumam estar animais a saciar a sede.
Os javalis são mais frequentes por estas bandas.
A Tanzânia é muito mais rica em vida selvagem do que o Kénya. Nesse dia vimos macacos, girafas, chacais, hienas, elefantes, leões, e até assistimos a um leão a alimentar-se.
Leões não faltam !
Leopardo na árvore. Raro... só vi 3 em África.
Mais raro ainda. Chamam-lhes serval cats, acho que a tradução é linces.O nosso guia exerce a profissão há 6 anos e ainda só tinha visto 3.
Outro leopardo.
Um chacal.
Hienas. Aparecem com alguma frequência.
O parque de campismo estava a abarrotar de gente, mas as infra-estruturas deixavam muito a desejar.Para uma coisa daquelas dimensões, apenas tinham 2 duches de água fria, e nem sequer tinham um cabide para pendurar a roupa. O WC estava num estado lastimável e não tinha papel, enfim...
O alpendre onde era suposto jantarmos tem só umas 3 tomadas, que se revelam insuficientes para toda aquela gente ligar carregadores (por isso eu recomendo uma tripla).
A noite estava muito agradável, e os guias montaram a nossa mesa no exterior, e conseguiram desencantar umas cervejas mornas, que só chegaram depois de já termos comido, mas mesmo assim foi muito bom.
A meio da noite o tempo virou e choveu imenso. As tendas não são grandes coisas, pelo que entrou alguma água lá dentro, e os sacos cama ficaram húmidos, mas acampar é isso mesmo...
Foi preciso ir à Tanzânia para descobrir que ressono que nem um urso, para grande consternação do desgraçado do californiano e até do casal "Seven" que acamparam mesmo ao lado. Isso valeu-me a alcunha de Mr. Porky Snorky, eh eh.
No dia seguinte iamos fazer um early morning safari, mas o jipe avariou outra vez, a poucos metros do camping. Desta fez fora a embraiagem, e o guia teve de levar o jipe assim mesmo até uma oficina próxima, onde apanhámos outra seca de 2h até resolverem o problema.
Por acaso a garagem tinha aves, macacos e uns roedores parecidos com furões, que são uns bichitos muito curtidos, passei algum tempo a tentar conquistar a sua confiança e a fotografá-los.
Lá arrancámos, e vimos outro leão a empanturrar-se.
Depois do pequeno almoço, desmontámos tudo, carregámos o jipe e fomos para Ngorongoro.
A maior cratera do mundo: cerca de 20 Kms de diâmetro.
O condutor levou-nos por uns trilhos alternativos, que estavam em muito melhores condições que o piso da véspera, que em muito contribuiu para a avaria nos fusíveis.
É absolutamente incrível como os guias se orientam no meio da imensidão de África. Não têm GPS !
África é imensa. Não há palavras para descrever o tamanho daquilo.
Era vulgar encontrar crianças Masaai, no seu treino de selva. Coitados, conseguem viver das pedras, quando viam água dentro dos jipes parecia que estavam a ver ouro. Ás vezes dávamos-lhes água e sandwiches.
Masaai.Sabemos que estão em treino, pelas pinturas faciais brancas.
O parque de campismo de Ngorongoro é um pouco melhor que o anterior. Tem mais duches, mais tomadas, e fica numa encosta da cratera, com uma paisagem fenomenal.
Mas tudo tem os seus prós e contras, e neste caso um dos problemas é que o parque está muito exposto, por isso sopra sempre uma brisa que roça o limiar do desagradável, sendo que à noite fica mesmo um frio dos diabos.
Depois do jantar, construiram uma fogueira gigante para a malta se aquecer.
A regra para poder entrar na roda era "rodada de cerveja ou cantar o hino nacional".
Lá tive que cantar o hino português para aquela gente toda, foi uma experiência interessante, e orgulhei-me de estar a representar Portugal num sítio tão remoto e com outras pessoas de outros países. E foi a única vez que falei português durante mais de duas semanas.
Nessa noite, o parque foi invadido por uma manada de zebras - eu não as vi, mas o americano que estava na minha tenda não conseguia dormir (porque terá sido ? ) e viu-as.
Descemos à cratera, que está repleta de vida, como cheetas, hipopótamos, e mais leões.
De vez em quando tinhamos de cruzar ribeiras, o que dava mesmo um ar de TT à coisa.
Estar dentro duma cratera com 20 Kms de diâmetro é abissal, mas apesar de tanto espaço, por vezes as zebras e os gnus metiam-se no meio do caminho.
Parámos para almoçar junto de um laguinho muito agradavel, mas tivemos de comer dentro da carrinha, porque há umas aves castanhas, muito chatas, que mergulham sobre os turistas para roubar a comida, e que, segundo o nosso guia, podem ferir-nos ou rasgar a roupa.
E não se podem alimentar os animais, nos Parques.
Finalmente encontrei um posto dos Correios, em Ngorogoro, onde consegui colocar uns postais para os amigos, que já andavam comigo desde Arusha, à espera de sítio para os enviar...
Bom, foi depois a altura de tornar a desmontar tudo e iniciar a viagem de regresso.
Nessa tarde falei com o boss, já em Arusha, ele fez questão de me reservar um belíssimo Hotel, o Snow Crest, provavelmente o melhor da cidade, mas que fica cerca de 6 Kms fora do centro.
Antes de jantar, compareceu pessoalmente no Hotel, para apresentar desculpas pelas avarias do jipe, e foi então que lhe contei do fulano que conduzia e dormia ao mesmo tempo.
Bem, na minha opinião (e o americano e os holandeses também pensam o mesmo) eles deviam ter devolvido pelo menos 150 dólares, porque ao todo perdemos cerca de 1 dia de safari.
Ainda por cima o jantar nesse Hotel não estava incluido... e deveria de estar.
Mas a verdade é que a Tanzânia é tão rica em animais selvagens, e os safaris foram tão bons, que após fazer um balanço final, fiquei muito satisfeito.
No dia seguinte, colocaram-me num shuttle para Nairobi.
Não sei se conseguem ver, mas o condutor do autocarro está a conduzir e ao telemovel ao mesmo tempo... e conseguiu ainda simultaneamente pisar vários traços contínuos, dos quais, sinceramente, ninguém faz caso.
O que tornou a viagem mais aborrecida foi o facto de passarmos as primeiras 2h30, até à fronteira, a ouvir a mesma canção country, porque o fulano tinha o leitor de CD's no repeat. Em Namanga, eu e um americano de Ohio pedimos-lhe para mudar a música.
Bem, ele mudou de CD, mas não desactivou o repeat, e mamámos com outra canção sempre igual até Nairobi, cujo refrão era "it's too late for apollogies" e que não vou esquecer nunca, eh eh.
E pronto, meus amigos, a minha maior emoção depois disto tudo foi voar de Dubai para Londres no enorme Airbus A380, mas isso está noutro report.
Espero que tenham gostado, e que seja de alguma utilidade para outros que eventualmente pensem em fazer uma viagem parecida.