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[Report] Incredible India (Delhi, Varanasi, Agra, Rajastão e Goa)|Abril-Maio'14

BrunoF

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Boas!
Depois da tão fantástica viagem à Índia, deixo aqui a minha contribuição para este espaço com texto e fotos. (uma nota, as fotos ainda não estão tratadas, não tivemos muito tempo para isso)
Foram 15 dias em terras indianas, num total de 18 dias de viagem - pernoitámos e ficámos a conhecer o centro histórico de Bruxelas e passámos 2 dias em viagens intercontinentais.

Começando pelo final...
Custos da viagem (para 2 pessoas):
  • Passagens aéreas: €1100 (Brussels Airlines + Jet Airways)
  • Vistos: €110 (já com portes de envio)
  • Vacinação e medicação: €50 (Vacina Hepatite A e kit de viajante)
  • Agência (Grand Travel Planner India): €1387 (inclui viagens internas de comboio x2 + avião x2 + carro, estadia com PA, guias e entradas nos monumentos)
  • Gastos adicionais: €370 (refeições e souvernirs)
  • Total: €3017
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Uma viagem há muito desejada, com vários meses de planeamento e para um continente (e país) tão diferente do nosso causa sempre alguma ansiedade e taquicardia na hora da partida. Era assim que nós os quatro, dois jovens casais, nos sentíamos na porta de embarque do aeroporto de Bruxelas. Com a entrada no avião vem o primeiro choque cultural. Vemo-nos rodeados por todos os lados dos mais variados tipos de cores, olhares, caras, roupas e cheiros. Tudo demasiado diferente da nossa realidade, a viagem de 8 horas era o nosso tubo de ensaio.

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Ao sair do avião, todos esperávamos o contacto com o muito falado “cheiro a Índia”, mas tudo o que apanhámos foi WC impecavelmente asseados, pessoas educadas e ar condicionado, até que saímos do tecto do aeroporto e sentimos pela primeira vez o olhar indiano, completamente dominado por homens, taxis e auto-riquexós – os tuc-tuc’s existem, mas na quase vizinha Tailândia.

Dias 1 e 2: Delhi

O despertar para o primeiro dia de aventura em terras indianas foi um misto de medo e apreensão. Semblantes carregados e receio em ultrapassar as portas do hotel. Incompreensível? Talvez. Mas aquilo que se nos apresentava à frente representava uma experiência completamente diferente de tudo o que já vivenciámos. Muita pobreza, muito lixo e muita, mas mesmo muita gente por todo o lado.

Delhi é uma cidade enorme dividida em duas: a zona antiga (Old Delhi), dominada por habitações de predomínio muçulmano e ruas apertadas, desordenadas e caóticas; e a zona mais recente (New Delhi), construída e projectada pelos ingleses quando fizeram desta a capital da Índia, em que tudo tem um registo imperialista, com enormes e maciços edifícios e ruas excelentes para paradas reais ou militares. Conta com cerca de 18 milhões de habitantes e pelo facto de ser muito grande tem pontos de interesse distantes uns dos outros, pela que a nossa experiência na cidade mais poluída do mundo foi quase como viver dentro de uma bolha com ar condicionado. Sentimos pouco do ambiente da cidade, respirámos pouca cultura, porque muitas vezes era sair do carro, tirar umas fotos e voltar a entrar. Assim foi com o Lotus Temple e o Red Fort, pela que a experiência não foi grande coisa nestes monumentos.

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(Vista do palácio presidencial em direcção ao India Gate. Bem perceptível a largura das avenidas e... poluição)​

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(India Gate, construído em homenagem aos soldados indianos que lutaram pelos britânicos na I Guerra Mundial)​

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(Lotus Temple, templo que contempla as mais variadas religiões. Basicamente é um local de meditação)​

A compensação veio com a visita à última residência de Gandhi, onde viria a morrer assassinado. O local funciona como um museu com os imensos momentos marcantes da sua vida, e assim ficámos a perceber muitos dos motivos que o levaram a ser um dos heróis do século passado e o grande responsável pela independência da Índia.

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(A eternização dos últimos passos de Gandhi)​

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(Gongo da Paz Mundial)​

Qutab Minar e Jama Masjid (a maior mesquita do país), dois marcos da presença islâmica em terras indianas, são locais muito interessantes, principalmente o primeiro que alberga uma série de ruínas que remontam à localização original de uma das 7 cidades que deram origem à Delhi actual. Salvo as devidas diferenças, é uma espécie de Roma Antiga em ponto pequeno e islâmico.

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(Qutab Minar)​

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(Maior mesquita muçulmana na Índia, com capacidade para 20 mil pessoas)​

O Templo de Akshardam, o maior templo hindu construído há meia dúzia de anos e que tem uma beleza ímpar, cheio de detalhes e motivos para todos os gostos – pena não ser permitido entrar com qualquer tipo de tecnologia e aparelho electrónico, pelo que não há fotos para documentar –, é um portento arquitectónico e onde dá para sentir um cheirinho daquilo que representa o hinduísmo, sendo fácil perder umas horas a vaguear à sua volta e a apreciar os diferentes motivos e esculturas que nos vão aparecendo. Absolutamente imperdível!

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O jantar com o representante da agência foi fundamental para nos ajudar a libertar daquele medo intrínseco do desconhecido. Naquele serão, aprendemos muito sobre os indianos e a sua cultura e aprendemos uma das coisas mais importantes: comer como nativos! Pão nan, carne, vegetariano, molhos, arroz... e tudo com as mãos! Aliás, esta é a chave para uma refeição tipicamente indiana.

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A despedida de Delhi representou o encontro com uma nova realidade logo na estação de comboios que nos levaria durante a noite até Varanasi, mais decadente e mais humana. A estação estava repleta de gente em todas as condições possíveis e imaginárias, ali havia de facto um pouco de tudo o que há na Índia, e isso foi um grande baque para nós.

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Dias 3 e 4: Varanasi

A chegada à cidade sagrada foi antecedida pela observação da realidade da agricultura e das terras rurais na região. Ali, os enormes campos não são cultivados com o auxília de máquinas agrícolas, mas antes pela força bruta e engenho de homens, mulheres e crianças.

A saída da estação e a entrada na cidade representaram o nosso primeiro real contacto com uma população vibrante, recheada de carros, motas, vacas e pessoas, tudo numa amálgama de sensações que a tornaram a experiência alucinante e especial. Deambular pelas povoadas e estreitas ruelas da cidade, dar de caras com dezenas dos milhares de tempos que existem ao virar de cada esquina e, no meio daquele labirinto, chegar finalmente ao Rio Ganga é uma verdadeira apoteose sensorial, ainda para mais quando sabemos que estamos à frente daquilo que de mais sagrado existe para os indianos hindus.

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(Templo de Shiva, situado no campus universitário)​

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(Os típicos sarees)​

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Ao anoitecer, presenciámos a Cerimónia Aarti, realizada até 5 vezes por dia como homenagem e agradecimento aos deuses por mais um dia. Está envolta num ritual místico repleto de incensos, oferendas ao sagrado rio, velas e muito sinos a retocar, sendo que tudo conjugado acaba por nos envolver naquele ambiente teoricamente só deles.

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Mas o momento alto da experiência em Varanasi terá sempre que ser o nascer do sol a bordo de um barco a remos no meio do Ganges, observando os 84 ghats (resultado da multiplicação dos 7 chakras e dos 12 símbolos hindus) a ganhar vida com as pessoas a banharem-se e a lavarem a roupa, com aprendizes de sacerdotes na sua aula matinal de yoga, com as cores vibrantes das fachadas a serem reflectidas pelos primeiros raios de sol e com os rituais fúnebres e as cremações que vão ocorrendo a qualquer hora do dia. Tudo é muito intenso e tudo nos ajuda a perceber melhor o seu esoterismo.

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(Um dos ghats ao nascer do sol, com gente a banhar-se nas águas sagradas)​

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(Um dos imensos crematórios)​

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(Nascer do sol. Palavras para quê?)​

Foi também em Varanasi, concretamente em Sarnath, que tivemos contacto com Buda e a sua forma de vida, guiada pela meditação e pela ausência de posses. O templo a ele dedicado conta com uma estátua em ouro, réplica da original colocado num museu da zona, mas o mais interessante acabam por ser as pinturas (feitas recentemente por um japonês) retratando as principais fases da sua vida e a área envolvente onde se podem encontrar as rezas escritas em bandeiras levadas pelo vento (como se observa no Tibete, por exemplo) e os mantras.

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(Mantras)​

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(As ruínas do local do 1º sermão de Buda)​

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“A vida é um nó. Depende de cada um desenrolá-lo e apreciar a vida.”

Com a realização de um casamento hindu no nosso hotel pudemos vivenciar um pouco a loucura e extravagância que tal cerimónia representa para os indianos, com vestidos e roupas espampanantes e muitos diamantes por todo o lado, para além da já esperada música hindi.

À chegada à estação para mais uma viagem nocturna rumo a Agra, a opinião era unânime: ia ser difícil superar os momentos vividos em Varanasi, por tudo o que aprendemos sobre o hinduismo e por toda a carga emocional e misticismo que por lá se respira.
 
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BrunoF

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Dia 5: Agra

A chegada a Agra não foi bonita, mas foi marcante. Foi possível observar os hábitos sanitários de muitos indianos que habitam nas margens da linha de comboio e usam as mesmas como WC público. É uma forma de (sobre)viver imensamente distinta da nossa, mas consegue ser explicada não só pelos traços culturais (a ida a um qualquer WC público é sempre uma aventura pouco prazenteira, disfarçada por vezes com incensos), mas também pela pobreza bem presente em quase todo o lado.

Na cidade do Taj Mahal, que foi capital até às primeiras décadas do século XX, as vacas desaparecem um pouco do cenário e são substituídas por búfalos, espalhados pelas várias zonas pantanosas junto ao rio Jamuna – que entrega à cidade um cheiro diferente, mais semelhante a fossa). Também se viam bastantes macacos pela zona da estação, mas aquilo que ao início era curioso passou a fazer parte da rotina habitual. Por aqui experimentámos a nossa única refeição inteiramente vegetariana, muito interessante e picante ao mesmo tempo.

O destaque de Agra vai largamente para o turismo por razões óbvias (foi claramente o local onde vimos mais estrangeiros), fazendo desta uma cidade algo atípica por não se sentir muito as gentes locais. O Taj Mahal deve ter ajudado a transfigurar um pouco a cidade, para o bem e para o mal.
Para nós (e para quase todos os turistas que visitam a Índia), o Taj Mahal era um dos grandes pontos de interesse, e podemos dizer que não saímos minimamente desiludidos, muito pelo contrário, ficámos abismados e siderados a apreciar cada traço do edifício principal, bem como de tudo o que o envolve. Percebe-se perfeitamente porque foi recentemente considerado uma das 7 maravilhas do mundo moderno. Ao longe, aquando da visita ao Red Fort, já impressionava, mas quando estamos lá perto já nada mais interessa, os olhares são todos atraídos para o mesmo ponto. O magnetismo é impressionante.

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O local é mágico e absorvente, sendo que na área envolvente tudo respeita os princípios da matemática e da simetria, sejam minaretes, mesquitas (foi construída uma a mais só para o conjunto não ficar estragado), jardins ou fontes. Todo em mármore, o Taj Mahal está repleto de pormenores florais e inscrições do corão (é uma criação islâmica), tudo esculpido com pedras preciosas e semi-preciosas, num trabalho que só ao perto ganha a verdadeira dimensão. É ainda possível identificar no edifício alguns jogos de ilusão de óptica que denotam algum sentido de humor dos seus arquitectos. Sem dúvida que o Taj Mahal merece toda a atenção que lhe é dispensada.

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(Detalhes embutidos no mármore, feitos com pedras preciosas)​

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(A mesquita "falsa", construída por causa da simetria)​

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O criador foi Shah Jahan, um imperador moghul da zona que decidiu homenagear a sua mulher falecida com esta sumptuosa construção que resulta agora numa sublimação do amor e numa das mais românticas histórias da humanidade. O jazigo da esposa está no centro de toda a simetria do complexo, tudo foi feito para ela.

Em Agra, visitámos ainda um mausoléu que é conhecido como o “Baby Taj” (excelentes pormenores e jogos de sombras) e o Red Fort, um portento de conjugação de arte hindu e islâmica onde se situa o local em que Shah Jahan passou os últimos 8 anos da sua vida, encarcerado pelo próprio filho. A sua única consolação terá sido o facto de a cela ter vista privilegiada para a sua obra de arte e para o amor da sua vida. Trágico, mas romântico.

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(Baby Taj)​

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(Vista da cela do Moghul apaixonado)​
Dias 6 e 7: Jaipur

Seguiu-se viagem de carro até Jaipur, capital do Rajastão, o maior estado indiano e no qual permanecemos durante uma semana. Aquela que é também conhecida como a cidade rosa, pela tonalidade de boa parte dos edifícios (feitos de arenito), apresenta desde logo uma organização ainda não vista até então – e foi-nos explicado que esta foi a primeira cidade da Índia a ser verdadeiramente planeada.

A primeira de duas noites em Jaipur foi passada num terraço em Amber City a confraternizar com alguns indianos locais, conhecendo as suas histórias, revelando as nossas, tudo isto enquanto num panelão se cozinhava um chicken curry delicioso. A vista era verdadeiramente sublime, já que era possível observar os jogos de luzes que aconteciam no forte da cidade e também uma paisagem de montanhas encabeçada por uma espécie de muralha da China em miniatura. Foi também aqui que ocorreu uma extenuante negociação para a compra de duas colchas de cama, mas saímos de lá orgulhosos de nós próprios!

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(Amber Fort à noite)​

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Se até esta altura tinha estado calor, a partir deste dia sentimos um tipo de calor que achávamos não ser possível aguentar – e por vezes foi com muito custo. Na visita aos pontos de interesse da cidade, dávamos por nós a procurar sombras a todo o custo. Felizmente, fortes e palácios constituem bons locais para evitar o sol, devido às salas, claustros e zonas interiores serem feitas maioritariamente em mámore. Assim foi em Amber Fort, onde ficámos a perceber um pouco melhor os costumes dos Maharajas e da sua corte, conhecendo as suas luxuosas vidas e percebendo as suas estratégias para combater a ausência de luz ou o calor/frio, bem como tácticas de combate e defesa.

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(Fachada principal)​

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(Palácios dos espelhos)​

Tivemos ainda oportunidade de visitar o Palácio Real e o seu museu, um complemento ao que vimos em Amber Fort, sendo que depois fomos ao Observatório Astronómico, um local interessante principalmente pelos relógios solares que por lá se encontram. O Jawal Mahal, ou Palácio dos Ventos, ficou para o fim, mas valeu bem a pena apreciar toda a arquitectura deste estreito edifício, desenhado exclusivamente para as mulheres da corte poderem ver as paradas sem serem observadas – um costume comum por toda a Índia, fruto das raízes culturais e que acontecia em paradas, desfiles, reuniões políticas, etc.

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(Palácios dos Ventos)​

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(Relógio solar)​

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Fica o lamento de não termos podido apreciar e deambular pelos famosos Bazaars de Jaipur (devido a um triste episódio com o insistente guia que nos queria casar à força segundo as tradições hindus), onde é necessário ter muito poder de argumentação e negociação. Ainda assim, e para compensar, pudemos sentir um pouco do capitalismo ocidental com uma faustosa refeição no McDonald’s por preços irreais.
 
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BrunoF

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Dia 8: Pushkar

Pushkar foi o destino seguinte, uma cidade muito pitoresca com 25 mil habitantes – uma verdadeira aldeia, portanto –, construída à volta de um lago e conhecida por ser um destino de peregrinação. Tal deve-se ao facto de aqui se encontrar o único templo no mundo dedicado a Brahma, o criador. Foi um local óptimo para passear pelo mercado que se estende por boa parte da extensão do lago, e ainda tivemos a sorte (ou o azar, considerando que o barulho era insurdecedor) de assistir a um cortejo religioso conduzido por camelos.

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(Lago de Pushkar)​

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O hotel local representa muito daquilo que encontrámos em termos de alojamento. Ediifícios lindíssimos, prováveis casas, palácios e residências reais ou da “corte” e relativamente bem conservados, mas mal cuidados por dentro, com alguma sujidade e sem aquele cheiro a lavanda e lavado que habitualmente se encontram no Ocidente. É algo a que nos fomos habituando ao longo das duas semanas, mas é de facto uma pena que não tentem deixar os hóspedes mais confortáveis em construções que nos deixam mais por dentro da cultura indiana do que os hotéis mais modernos.

Dias 9 e 10: Udaipur

Agora o calor começava a atingir proporções épicas. Se no carro estávamos perfeitamente confortáveis com o nosso amigo ar-condicionado, qualquer saída desse ambiente controlado e contacto com o ar exterior se tornava num choque. Assim foi na demorada viagem para Udaipur, feita por auto-estrada, estrada de montanha e caminhos de cabra.

O primeiro dia nesta pequena cidade de 500 mil habitantes acabou por ser passado nas redondezas do hotel, com vista privilegiada para o Lago Pichola e com um restaurante no topo que nos proporcionou um fim de tarde e serão muito agradável. Dali, conseguíamos ver uma das 4 ilhas existentes neste lago completamente artificial (mandado construir pelo primeiro Maharaja da região, Udai Singh – aqui, todas as cidades que foram fundadas por reis contêm o nome do mesmo e o sufixo –pur, que significa cidade). Jag Mandir é um palácio de Verão da realeza, para além de um local para festas extravagantes, que estavam a ocorrer aquando da nossa estadia lá. Aqui casam muitas das estrelas de Bollywood e famílias importantes. O passeio de barco para lá chegar soube pela vida, tendo em conta o calor que inundava toda a região.

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(Jag Mandir de dia e à noite)​

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Considerada muitas vezes a cidade mais rica da Índia, Udaipur apresenta-se muito mais ocidental do que qualquer outra cidade que vimos por lá. Para além de não ser demasiado populada, nota-se organização nas ruas, o lixo não anda espalhado por todo o lado e as pessoas parecem muito educadas e civilizadas. Os nossos locais de visita passaram por um jardim muito bem cuidado que contava com uma fonte de nenúfares e flores de lotus, ornamentada com os já habituais elefantes em pedra, sendo que depois seguimos para um palácio muitíssimo bem conservado, onde percebemos algumas das técnicas de defesa e onde pudemos apreciar mais alguns dos luxos a que as famílias reais se prestam. É triste verificar isso num país com tantos contrastes, mas acontece em todo o lado...

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Dia 11: Jodhpur

Jodhpur foi o nosso último destino no estado do deserto, mas antes disso houve oportunidade de visitar o maior templo jainista, situado em Ranakpur, completamente envolvido pela natureza. Aliás esta religião, uma facção do hinduismo, acredita e respeita tudo o que vem da natureza, andando os seus seguidores inclusivamente muitas vezes com lenços na boca para se impedirem de engolir acidentalmente algum insecto. O templo em si é lindíssimo, envolvido por montanhas e árvores que criam um ambiente bucólico singular e pacífico.

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Nesta viagem por entre vales e montanhas, tivemos oportunidade de confraternizar com os muitos macacos que por lá habitam. Foi uma experiência engraçada alimentar com bolacha torrada portuguesa aqueles babuínos, sendo que o mais interessante de tudo foi o facto de os primeiros animais que se dirigiram a nós serem mães com as suas crias “anexadas”. Instinto maternal em toda a sua plenitude. Nesta região também se encontram tigres, mas os seus avistamentos são raros e não tivemos assim tão bom karma connosco para os ver.

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A caminho da segunda maior cidade do Rajastão, e já numa paisagem mais desértica e árida, pudemos experimentar o pior vento das nossas vidas, tão quente que não nos deixava respirar. Uma sensação asfixiante num dia ainda longe dos mais quentes do ano – segundo os locais.

Como a viagem se prolongou durante mais tempo do que o previsto, houve menos tempo para apreciar Jodhpur. Ficámo-nos quase exclusivamente pelo Mehrangarh Fort, o mais imponente forte que vimos em toda a nossa viagem, numa localização fantástica e com uma vista privilegiada sobre a cidade azul. Sem dúvida, o forte que mais bem envolvido estava na cidade. Houve ainda oportunidade de vaguear pelas ruas do mercado da cidade ao fim da tarde e início da noite, sentir os cheiros de especiarias, observar incredulamente o trabalho ao ar livre de um dentista em plena praça central, lamentar a excessiva poluição das motas e recusar as muitas abordagens indianas na tentativa de nos fazer comprar vegetais, sedas, materiais de madeira e bugigangas. É assim por todo o lado, e é isto que dá vida e personalidade às cidades.

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(Vista do Forte sobre a Cidade Azul)​
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(Palácio do Príncipe - dono da Tata)

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(Forte de dia e à noite)​
 
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BrunoF

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Dias 12, 13, 14 e 15: Goa

Depois de 12 dias extenuantes de visitas culturais, viagens a pé, de comboio, carro, auto-riquexó, camelo e barco, chegava o dia por que tanto ansiávamos: a chegada a Goa, para relaxar, apreciar o mar e simplesmente descansar. Logo a caminho do hotel, foi refrescante observar a natureza conquistada por coqueiros, palmeiras e água, muita água proveniente do mar e dos afluentes da zona.

A influência portuguesa é mais do que muita em todo o lado. São hoteis, pousadas, restaurantes, localidades, igrejas e monumentos, tudo com nome português, tudo com influência do nosso país. Havia muitos indianos com nome português, mesmo que não tivessem ascendência lusa. Aqui, existem 30% de católicos, pelo que ao lado de cada templo ou deus hindu existe uma cruz ou um santo cristão. As igrejas que visitámos são nitidamente inferiores a uma qualquer igreja de aldeias mais recônditas, com apenas os altares a apresentarem detalhes e ornamentos dignos de nota.

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As praias – em Calangute e Candolim (norte de Goa) –, pouco congestionadas, apresentavam-se na sua grande maioria limpas (com as suas excepções). Os bares de praia são geridos por gente extremamente simpática que nos faz sentir em casa, a comida é boa e o ambiente também. A maior curiosidade passa pelos mirones indianos que ao verem meninas em biquini ficam completamente absorvidos e petrificados, não obedecendo a regras de decoro. Tudo à distância, é certo, mas os olhares conseguem ser intimidatórios!

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(Dona Paula)​

Baga é uma zona turística recheada de vida nocturna. Aqui encontramos dezenas de bares na areia lotados, várias discotecas e um ambiente completamente ao estilo ocidental. Pudemos inclusivamente experimentar pela primeira vez em duas semanas carne de vaca (se bem que foi uma desilusão verificar que não a sabem confeccionar).

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Goa foi aquilo que precisávamos. Relax total, praia, água quente, boa comida e excelente ambiente. O final perfeito para umas férias de sonho!
 
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Nika

Membro Conhecido
Olá Bruno F!

Obrigada pela partilha e parabéns pelo report. :)
Visitar a India deve ser uma daquelas experiências na vida que "nos" marca de alguma forma.
Cumprimentos
 

Cristina Sousa

Membro Conhecido
BrunoF,
Parabéns pelo report. Uma viagem certamente fabulosa, e uma grande experiencia.
Tens grandes fotos e a descrição que fazes de cada local demonstra bem as sensações.
Dá vontade de ir já a uma agencia de viagens ;)
Cristina
 

Jorge Gonçalves

Membro Conhecido
Obrigado por este fantástico report!!! Fez-me voltar uns meses atrás e recordar a minha viagem, que tão boas recordações deixou. :)

Visitámos bastantes locais em comum, sendo que o roteiro foi praticamente invertido; de diferente, foste a Puskar e Goa que não fui e eu, por outro lado, fui a Orchha, Kajuraho e ao Nepal, no resto é igual.
 

BrunoF

Membro
Obrigado pelos elogios.

Acreditem que muito ficou por contar. Quem sabe se mais tarde não volto com outras histórias e aventuras...
 

BrunoF

Membro
Jorge Gonçalves disse:
Obrigado por este fantástico report!!! Fez-me voltar uns meses atrás e recordar a minha viagem, que tão boas recordações deixou. :)

Visitámos bastantes locais em comum, sendo que o roteiro foi praticamente invertido; de diferente, foste a Puskar e Goa que não fui e eu, por outro lado, fui a Orchha, Kajuraho e ao Nepal, no resto é igual.
Curiosamente, os destinos que não temos em comum também chegaram a ser opção para nós.

Mas fiquei com vontade de conhecer o sul da Índia e a zona dos Himalaias (incluindo Nepal), sem dúvida! Vamos ver se será possível.
 

BrunoF

Membro
Obrigado!

Qualquer dia ainda coloco por aqui mais umas considerações que tirei sobre a viagem, sobre a Índia, sobre os indianos e sobre os seus costumes.

Acompanhado por mais fotos!
 

ninoenina

Membro Conhecido
Parabéns pelo excelente report e pelas fotos fantásticas!
É um destino que quero muito conhecer ^_^ mas ainda não me sinto totalmente preparado.
Obrigado pela partilha!
 

Paulo Santos_5388

Membro Novo
Excelente report, Bruno!

Ando em fase de estudo pra minha proxima viagem e a India é a primeira escolha, e com este report ainda

fiquei com mais vontade de viajar pra lá. :)

Lá mais frente, se comprar a viagem, talvez te venha fazer umas perguntinhas :) ok?

Abraço
 

BrunoF

Membro
Paulo Santos_5388 disse:
Excelente report, Bruno!

Ando em fase de estudo pra minha proxima viagem e a India é a primeira escolha, e com este report ainda

fiquei com mais vontade de viajar pra lá. :)

Lá mais frente, se comprar a viagem, talvez te venha fazer umas perguntinhas :) ok?

Abraço
Obrigado!

Quanto às perguntas, está a vontade! Eu e outros foristas que andámos por lá teremos certamente todo o gosto em ajudar-te a planear uma viagem tão marcante como esta.
 
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