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[Informação] Informações uteis sobre o Japão ou 日本国

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Paulo Leite

Moderador Honorário
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Informações uteis sobre o Japão ou 日本国

Capital: Tóquio com 12 790 000 habitantes cerca de 10% da população do País

Moeda: Yen (JPY) 1€ = ±131.21 Yen

Topografia
O arquipélago japonês faz parte do arco de montanhas no Pacífico situado ao longo da costa leste do continente asiático. O arquipélago é formado por quatro grandes ilhas e mais de mil ilhas menores, formando no total 370.000 Km². Isto corresponde, de uma forma grosseira, às dimensões da Finlândia ou da Itália. As quatro maiores ilhas são Hokkaido, um pouco menor que a Irlanda, aproximadamente 83.000 Km², Honshu, pouco maior que a Grã-Bretanha, 231.000 quilómetros quadrados, Kyushu, um pouco maior que a Tailândia, 42.000 Km² e Shikoku, mais ou menos do tamanho da Sardenha. 1.900 Km². Entre as várias ilhas menores, as maiores são as de Okinawa, na cadeira de Ryukyuan e Sado, ao largo da costa do norte de Honshu. Após a guerra do Pacífico, em 1945, o Japão perdeu o controle de muitos territórios que têm vindo a ser reclamados como parte do império nipónico antes da guerra: inclui as ilhas Curilas, Sacalina, Karafuto, as ilhas de Ryukyu, bem como as outras ilhas do Pacífico, a Formosa e a Coréia. Os Estados Unidos devolveram em 1968 as ilhas de Bonin e em 1972 Okinawa. O Japão reclama a posse das quatro ilhas ao norte, as ilhas Curilas, ocupadas pela Rússia desde 1945, sendo este o ponto de maior fricção entre os dois países. A topografia do arquipélago, tal como a conhecemos hoje, data do fim da era glacial, há doze mil anos aproximadamente. Através de fósseis e de vestígios arqueológicos sabe-se que o Japão fazia parte do continente asiático durante a era dos gelos. Com a queda das temperaturas, formou-se o gelo polar, os oceanos recuaram e formaram-se pontes ligando ao continente. Animais de toda a espécie caminharam até o Japão. Os animais foram seguidos por caçadores que se estabeleceram no que é hoje o Japão. No fim da era glacial, as temperaturas começaram a aumentar, o gelo polar recuou e o nível do mares voltou a subir. Doze mil anos atrás os mares cortaram as pontes de terra e separaram o arquipélago do continente asiático. O Japão é um país de altas montanhas, vulcões activos, vales profundos, florestas silenciosas, rios correndo velozes e mares bruxuleantes. O arquipélago é formado por montanhas, a maior parte delas vulcânicas. Vulcões, fontes termais quentes e terramotos são características deste país. Sabe-se que mais de cento e oitenta vulcões entraram em actividade na Era Quaternária do período geológico e mais de quarenta ainda permanecem em actividade. O monte Fuji está adormecido, mas vulcões como Sakurajim, Aso, Asama, Bandai e Mihara vomitam lava pelas crateras activas. São frequentes os tremores de terra. Os japoneses contam mil por ano, sendo comuns terramotos de grau 4 ou de grau 6 na escala Richter. O terramoto que destruiu Tokyo em 1923 era de grau 8,2. Como se têm registado muitos sismos num ciclo de sessenta anos, muitos nipónicos esperam já há algum tempo um abalo devastador na área da capital. Os tremores de terra no mar podem causar ondas enormes, conhecidas por tsunami, que invadem de centenas a milhares de milhas da costa. A maior parte da superfície do Japão é montanhosa e cerca de 75% do terreno apresenta declives com mais de quinze graus. Em muitos lugares do país as montanhas vêm mesmo até à faixa costeira, extremamente recortada, deixando apenas os vales dos rios e as planícies costeiras em forma de leque para a sedentarização, a agricultura e o desenvolvimento industrial. São estes os motivos que levam à grande concentração de cidades e ao grande desenvolvimento industrial ao longo da estreita costa do Pacífico na faixa entre Tokyo e Osaka e ao longo das costas do mar interior. Vários arcos montanhosos coincidem, formando assim a espinha dorsal do arquipélago japonês. Noutros tempos, as cadeias montanhosas serviram como ponto de ligação, especialmente através de Honshu, muito difíceis de transpor e encorajaram e desenvolveram a sedentarização e as culturas nos estreitos vales e nas grandes bacias costeiras, contribuindo assim para as diferenças regionais e características locais e, no período pré-moderno, para o controle de clãs de famílias ou de senhores feudais. As montanhas e os vulcões deram ao Japão energia hidroeléctrica, fontes termais quentes, estâncias de verão e de inverno e vários parques nacionais espectaculares.
As montanhas também contribuíram para o sistema básico de irrigação, bem como para a formação dos rios. A maior parte dos cursos de água são pequenos, com menos de 300 km, correndo rapidamente das montanhas para o mar. São muito poucos os rios navegáveis e apenas nas partes mais baixas. Antes da construção de pontes modernas e das novas técnicas de abertura de estradas, os rios constituíam sérios obstáculos para o transporte e a comunicação. A grande precipitação e muitos canais fluviais significam que historicamente o Japão foi abençoado com muitas reservas de água para a irrigação. Embora abundante, a água dos rios, por si só, tem sido insuficiente para a indústria, a agricultura e as necessidades domésticas. A água de superfície tem sido substituída pela água subterrânea e a energia hidroeléctrica por petróleo e energia nuclear. O Japão é densamente arborizado. Cerca de 70% da área do país, incluindo uma grande parte da região montanhosa, são florestas. Só é comparável com os países escandinavos e esta média é muito mais alta do que os 30% mundiais. Correspondendo aos climas: sub-árctico, temperado frio, temperado e de zonas subtropicais, há quatro grandes zonas de floresta. No norte, em Hokkaido, as florestas são de folha persistente, folha de agulha, no nordeste de Honshu são de folha persistente mas larga, no sudoeste de Honshu são de folha larga e caduca e nas ilhas de Ryukyu existem florestas tropicais de folha larga e persistente. Ainda se pode encontrar bambus em Honshu e na parte sudoeste do país. Estas zonas florestais situam-se mais concretamente nas regiões montanhosas. No Japão, são muito poucas as cidades rodeadas de extensas florestas. A industrialização moderna, a urbanização e o aumento da população, com a concomitante necessidade de materiais de construção e de petróleo, colocam em risco as florestas. Florestas naturais desapareceram e foram substituídas por floresta plantada, ocupando actualmente mais de 25% da vegetação do Japão. Apesar dos recursos florestais, o Japão importa grandes quantidades de madeira de outros países. A maior parte das matas são boas para combustível, mas não o são para a construção civil.

O Mar
Poucos são os locais do Japão distantes do mar e tal como as montanhas, os mares foram importantes na caracterização deste país. O oceano Pacífico, o mar do Japão e o mar interior exercem grande influência no clima japonês. Os mares que rodeiam o Japão têm constituído sempre uma fonte vital de subsistência e desde os primórdios de sua história que os naturais dependem consideravelmente de algas marinhas, peixe e marisco para a alimentação, assim como de fertilizantes. Exploraram os mares tão intensamente como a terra. Actualmente, porém, a poluição industrial, que reduz as reservas de peixe, a preocupação de protecção às baleias e a outros seres marinhos em perigo de extinção e as tentativas desenvolvidas por outros países no intuito de exercer controle sobre as suas águas territoriais, podem levar a que o Japão não mais exerça uma exploração tão intensa dos recursos marinhos. A condição insular do país teve um profundo impacto na sua história e na sua cultura, pois os mares têm sido o contacto mais directo com o mundo exterior. O Japão dista da Coreia 200 km. Para ir até o ponto mais afastado da China atravessando o mar do Japão percorre-se mais de 800 km. Na época das viagens aéreas, muito rápidas, as distâncias não parecem ser grandes, mas antigamente os mares do Japão eram barreiras assustadoras para a navegação e a comunicação. Esta barreira marítima protegeu o Japão. As comunicações restritas favoreceram uma cultura ímpar e homogénea no arquipélago. A insularidade tornou possível um regime como o do xogunato Tokugawa, que restringiu o contacto com o exterior. Entretanto, o obstáculo marítimo não se tornou intransponível, pois o Japão nunca esteve completamente isolado. Deste o primórdio da história deste país que os mares têm sido o principal canal de comunicação de cultura e de comércio. Ainda hoje, com as viagens aéreas extremamente rápidas, o Japão utiliza o mar para o seu comércio, altamente bem sucedido. O país é altamente dependente da importação de produtos alimentares, de matérias-primas e da exportação de produtos industriais, sendo a maior parte destas importações e exportações escoadas pelo mar. O Japão importa quase 100% do petróleo pelo mar, bem como 95% do seu alumínio, níquel, minério de ferro, estanho e cobre; dois terços dos cereais e a maior parte do feijão de soja são também importados pelo mar. Esta dependência excessiva das exportações e importações através de extensas rotas marítimas, contribuíram para uma sensação de vulnerabilidade em muito japoneses, enquanto ao mesmo tempo também constitui uma fonte inegável de grande prosperidade.
 

Paulo Leite

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O Clima
O comprido e estreito arquipélago japonês compreende cerca de 22 graus de latitude desde o extremo norte, Hokkaido, até as ilhas Ryukyu, no sul. Esta extensão em latitude corresponde à que existe entre o norte da Itália e o sul do Egipto. Entre as características do clima, as mais importantes são as flutuações da temperatura ao longo do ano, a mudança nítida de estação e chuvas abundantes. Devido ao comprimento do arquipélago e à sua complexa estrutura do solo, as estações variam de acordo com a região. O norte tem verões quentes e longos, invernos rigorosos e com muita neve. No centro do arquipélago há calor, verões húmidos e invernos frios e curtos.
O sudoeste do Japão tem verões longos, quentes e húmidos e invernos temperados. Okinawa e as ilhas Ryukyu gozam de um clima sub-tropical. O clima do país é regulado por uma complexa interacção do Pacífico, de massas de ar continental e de deslocações frontais, o que provoca frequentes alterações no tempo, dependendo da estação. Os japoneses sentem um grande desconforto no verão, provocado pela temperatura e pela humidade. Para fugir do calor, muitos citadinos têm casas na montanha ou saem para o estrangeiro durante as férias. Com o fim do verão, em Setembro e Outubro, vem a maior época dos tufões. Geralmente, são ventos que circulam a mais de dezassete metros por segundo. Às vezes deslocam-se na direcção do Japão no princípio da primavera, mas normalmente acontece no outono. Os tufões que destruíram as embarcações mongóis no século XIII, atendendo às preces dos sacerdotes e do povo, foram considerados ventos divinos (kamikaze). Em Fevereiro, as pessoas esperam impacientemente pelo primeiro vento quente da primavera e deslocam-se para o norte a fim de verem as ameixeiras e cerejeiras em flor. No outono, o céu está normalmente bem azul e há uma grande limpidez, o que arrasta milhões de pessoas para os parques, jardins dos templos e para as montanhas.

Geologia
Localizado à beira da plataforma continental Eurasiática e junto também das placas do Pacífico e das Filipinas, o arquipélago está sujeito a severos movimentos tectónicos. Provavelmente, as ilhas são o resultado de uma série de movimentos orogénicos que empurram as montanhas e não um produto de uma simples erupção da crosta terrestre. A sua origem geológica data pelo menos da fase Siluriana do Paelozóico, há quatrocentos milhões de anos, e as movimentações da crosta ainda continuam. Geologicamente, o Japão está dividido em duas zonas: nordeste e sudoeste. A primeira é formada por rocha estratificada do período neocênico da Era Cenozóica. Os sismos também são mais violentos na zona nordeste. A zona sudoeste surgiu num período mais recente. A maior parte da rocha estratificada nesta zona formou-se durante os Períodos Paleozóico ou Mesozóico. Há menos vulcões no sudoeste do Japão e toda a actividade vulcânica tende a concentrar-se na zona junto ao mar do Japão e em Kyushu. A actividade sísmica também é menos violenta. Naturalmente, o solo do Japão reflecte a sua estrutura geológica e a configuração da superfície. Mais de dois terços do solo são constituídos por finos solos montanhosos com areias da praia e cinzas de vulcão. Cerca de 20% são solos típicos, cerca de 15% são solos aluviais, principalmente nas terras baixas, provocadas pelos depósitos do rio. É nestes 15% que os japoneses praticam uma intensa agricultura, se estabelecem e têm a sua indústria.

Fontes de Energia
Embora o Japão possua carvão e água para a energia, tem de importar petróleo e gás natural. Viu-se obrigado a utilizar a energia nuclear para se precaver em relação a necessidades futuras e reduzir a importação de matérias-primas. São grandes as reservas de carvão, contudo, o carvão é de baixa qualidade e encontra-se a grande profundidade em filões dispersos, o que torna bastante difícil e dispendiosa a sua exploração. Os rios de forte corrente continuam a ser uma importante fonte de energia e para controlar as águas foram construídas várias barragens e diques. O Japão tem um potencial de 20 milhões de kilowatts de energia fluvial, dos quais só utiliza 12 milhões. Os milagres económicos de 1970 e de 1980 foram conseguidos com energia importada, principalmente petróleo. Os japoneses têm absoluta consciência de que uma crise política interna ou internacional que corte o fornecimento de petróleo terá consequências económicas desastrosas para o país. Assim, desde a crise do petróleo de 1973 que o governo tomou algumas medidas tendentes a minimizar tais eventualidades. Isto é, fomentando as reservas, a redução dos gastos e limitação das indústrias de exportação de grande consumo, pesquisando energias alternativas, diversificando as fontes do abastecimento de petróleo e maior investimento na energia nuclear. Os governantes japoneses vêm a energia nuclear como uma solução possível para a instabilidade e para as limitadas fontes de energia. Pretende-se assim que, nas próximas décadas, o consumo desta energia vá a mais de 50%. O povo japonês tem consciência dos perigos da energia nuclear, mas não vislumbra grandes alternativas se o país tiver de reduzir a importação de petróleo. O Japão também depende grandemente do minério estrangeiro para as suas necessidades. O território possui minério de ferro e outros, mas em pouca quantidade, chegando apenas a 5% da grande procura industrial. As relações internacionais nipónicas são influenciadas pela grande dependência deste país da importação de matérias-primas de zonas politicamente críticas. Manter boas relações comerciais com os grandes fornecedores de minérios, tais como a África do Sul, é um imperativo.

A População
A imagem que a maior parte dos estrangeiros tem do Japão é a de um país pequeno, isolado, superpovoado, onde cada centímetro quadrado de terra aproveitável está cultivado, apinhado de cidades ou de fábricas ultramodernas. De certa forma, esta imagem é bastante errada.
A sua população, cerca de 126 milhões, não é particularmente densa, relativamente aos países mais povoados do mundo. A sensação de superpopulação tem mais a ver com o número de pessoas. Mais de 75% da população está concentrada nos centros urbanos e esses centros urbanos e industriais agrupam-se na região aluvial baixa. O eixo da conturbação Osaka-Kobe-Kyoto tem mais de 15 milhões de pessoas vivendo numa área de menos de 1300 Km². Os japoneses consideram-se uma população homogénea. De um modo geral, esta percepção é válida, mas na realidade existem vários grupos minoritários cuja posição na sociedade não é fácil. A minoria coreana representa 0,5% da população. Já que o governo japonês tem como princípio a raça como determinante da cidadania, os membros da comunidade coreana, mesmo os que nasceram no Japão e que falam fluentemente a língua, são marginalizados. Desde a Segunda Guerra Mundial que se tem verificado um êxodo da maior parte da população rural para as cidades. Contudo, alguns centros urbanos estão localizados perto das zonas agrárias, o que criou certos problemas. A urbanização veio reduzir a área agrícola e os agricultores não conseguem produzir arroz e outros cereais com custos tão baixos como os grandes proprietários dos outros países. A urbanização e o aumento populacional reforçaram os modelos tradicionais de distribuição da população. A maior explosão demográfica do Japão moderno verificou-se nos centros industriais urbanos. A população rural vem declinando lentamente: em 1900, estava acima de 30 milhões; em 1965, eram cerca de 33 milhões; por volta de 1970, estava abaixo dos 30 milhões e continua a decair. O Japão actualmente é um país idoso, visto que a expectativa de vida é uma das mais elevadas do mundo para ambos os sexos. A expectativa de vida é de 75,2 anos para os homens e de 80,9 anos para as mulheres. O grande desafio do Japão neste século XXI é a segurança social, assistência aos idosos e postos de trabalho.
 

Paulo Leite

Moderador Honorário
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Principais REGIÕES
Hokkaido
Hokkaido é a fronteira nordeste do Japão. Dominado pela cadeia montanhosa de Daisetsu e o parque nacional, Hokkaido é uma ilha de florestas, rios, rochas escarpadas e pastagens. Situado mais ou menos à mesma latitude do sudeste da França, Hokkaido é banhado ao norte e a leste pelo mar de Okhotsk, pelo mar do Japão a oeste e pelo oceano Pacífico ao sul. Tem uma área de 83.517 quilómetros quadrados, um pouco menor que a Irlanda. A densidade populacional é de setenta e uma pessoas por quilómetro, menos de um quinto da de Honshu. Devido à sua situação no nordeste e ao fato de as costas serem banhadas pelas correntes frias do mar de Okhotsk, o clima é bastante diferente do de Honshu, com temperaturas mais frias, baixa pluviosidade, sem estação das chuvas, alguns tufões e a estação mais longa com apenas 120 ou 140 dias. Hokkaido não fazia parte da área de exploração de arroz do Japão pré-moderno, mas o plantio de uma nova variedade levou à produção de uma grande quantidade de arroz para subsistência, lacticínios, batatas e outros cereais, assim como de peixe. A principal cidade e centro de desenvolvimento de Hokkaido é a moderna cidade de Sapporo. Antes da restauração Meiji, em 1868, Hokkaido era conhecido por Ezochi (Terra de Ezo) e foi principalmente povoado pelos Ainu, um povo do Cáucaso completamente diferente dos habitantes do resto do Japão. Pensa-se que na época pré-moderna, os Ainu habitaram não só Hokkaido, mas também o nordeste do Honshu, o sudoeste de Sacalina e as ilhas Curilas. Viviam da caça ao veado, da pesca do salmão e da caca à foca. Actualmente, não sendo mais de 20.000 pessoas, têm vindo a ser assimilados pelo resto da população. Foram preservados alguns costumes dos Ainu, tais como os festivais e a cerâmica, mas essencialmente, como foco turístico. Depois da restauração Meiji, o novo governo criou um departamento para o desenvolvimento de Hokkaido, com o fim de povoar a religião e facilitar a expansão para o sul pela Rússia. Hokkaido foi desenvolvido pelos pioneiros japoneses de Honshu sob grande influência ocidental. A Universidade de Hokkaido, originalmente Colégio Agrícola de Sapporo, foi criada pelo cientista, missionário e educador americano William S. Clark (1826-1886), presidente do Colégio Agrícola de Massachusetts. O Gabinete de Desenvolvimento de Hokkaido convidou outros especialistas estrangeiros, tais como o agrônomo Horace Capron (1804-85).
Desde muito cedo se seguiram os métodos ocidentais de cultivo de cereais e da criação de gado leiteiro; também se cultivam o trigo, feijão, batata, aveia e beterraba. O arroz também era cultivado em grande escala. Cerca de 90% das pastagens do Japão encontram-se em Hokkaido, bem como a maior parte dos produtos lácteos. A questão das fronteiras do norte do Japão foi pela primeira vez levantada ainda durante o xogunato de Edo. Um tratado de amizade entre a Rússia e o Japão em 1855 estipulou que as ilhas Curilas, ao norte, incluindo a ilha de Urup, passariam a fazer parte do território russo e as do sul, incluindo Etorofu, pertenceriam ao Japão. Pessoas de ambas as nacionalidades foram autorizadas a estabelecer-se em Sacalina (Karafuto), mas depois da restauração Meiji o Japão optou por sair dessa ilha e dedicar-se ao desenvolvimento de Hokkaido. Em 1875, um tratado regularizou as formalidades, dando Sacalina à Rússia e todas as ilhas Curilas ao Japão, bem como o direito de pescar nas águas do norte. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, a Rússia ocupou Etorofu, Kunashiri, Shikotan e as ilhas de Habonai e ainda hoje se mantém nesses territórios, apesar dos vários protestos dos japoneses, que reclaman a posse das ilhas, bem como o direito de pescar nessas águas. Esta disputa é a única questão que se mantém desde a Segunda Guerra Mundial.

Honshu
A ilha de Honshu, com 231.000 Km², é maior do que a Grã-Bretanha e muito mais densamente povoada: 404 pessoas por Km². É dividida por uma cordilheira montanhosa em várias regiões sobrepostas, mas distintas, cujas características dependem da latitude e do mar para o qual se encontram voltadas. As planícies costeiras de Honshu foram durante séculos o lugar privilegiado da cultura do arroz, bem como também um local de concentração urbana e de grande desenvolvimento industrial. A parte nordeste de Honshu compreende os distritos de Aomori, Iwate, Akita, Yamagata, Miyagi e Fukushima é conhecida por Tohoku ou região nordeste. Tradicionalmente conhecido como o celeiro do Japão, continua a ser uma zona predominantemente agrícola, abastecendo Sendai e o imenso mercado de Tokyo de arroz e outros géneros. Os invernos longos e frios tornam difícil as duas colheitas anuais e os agricultores são geralmente menos prósperos que os do sudoeste. Madeira para construção e pesca são importantes, bem como a alta tecnologia industrial. O turismo também é uma indústria de relevo: as ilhas da baía de Matsushima, o lago Towada, o Parque Nacional da Faixa Costeira de Rikuchu e o Parque Nacional de Bandai-Asahi atraem muitos visitantes. O vulcão do monte Bandai (1819 m) continua ativo e em 1888 mais de quatrocentas pessoas morreram por causa de uma erupção. A maior cidade da região de Tohoku é Sendai, que cresceu à volta do castelo feudal do Lorde Date Masamune (1567-1636). É uma cidade industrial e universitária. Kanto, ou seja, "leste da barreira", compreende mais dois distritos à volta de Tokyo na grande planície de Kanto; distrito de Kanagawa, distrito metropolitano de Tokyo, Saitama, Gumma, Tochigi, Ibaraki e Chiba. As ilhas de Izu e Bonin são parte administrativa do distrito metropolitano de Tokyo. Tendo sido no passado o centro do poder feudal, atualmente Kanto é o núcleo do desenvolvimento do Japão moderno. A conturbação Tokyo-Kawasaki-Yokohama é o maior centro populacional e a zona mais industrializada do Japão, o local onde se encontra a sede do governo e onde também se verifica uma concentração das universidades e da vida cultural. A maior parte da planície de Kanto tem sido invadida por construções residenciais, comerciais e industriais, mas o que ainda resta continua a ser intensamente cultivado. Ainda existem amoreiras, a base de uma pequena indústria de bichos-da-seda. Chubu, ou região central, fica entre o mar do Japão e a costa do Pacífico, passando pelos Alpes Japoneses, onde se podem encontrar os cumes mais elevados do país. Esta região inclui os nove distritos de Niigata, Toyama, Ishikawa, Fukui, Nagano, Yamanashi, Gifu, Shizuoka e Aichi. Os quatro primeiros também são conhecidos com o nome de "Hokuriku". O clima é variado. Os Alpes do Japão dividem o país em duas partes, a zona soalheira do Pacífico, também conhecida como a frente do Japão, omote-Nihon, e a zona do mar frio do Japão, ura-Nihon, ou as costas do Japão. Historicamente, a costa do mar do Japão tem sido mais próspera do que a do Pacífico. A região de Hokuriku é uma das maiores zonas de produção de arroz, juntamente com o distrito de Niigata, que é o maior produtor. A zona do Pacífico é geralmente mais soalheira e seca. A região é famosa pelas laranjas e pelo seu chá e Yamanashi produz uvas e pêssegos.

O distrito montanhoso de Nagano, "a Suíça do Japão", foi famoso pela sericultura antes da Segunda Guerra Mundial, mas actualmente é conhecido principalmente pelo turismo e pela fruta. A maior cidade e centro industrial na zona do Pacífico na região de Chubu é Nagoia. Situada na velha rota de Tokaido, Nagoia desenvolveu-se a partir do século XVII como uma cidade fortificada da família Owari. Em 1692 tinha cerca de 40.000 pessoas. Nos finais do século XIX, Nagoia era um importante entroncamento de linhas férreas entre Tokyo e Osaka. Destruída durante a Segunda Guerra Mundial, foi completamente reconstruída e floresceu como um dos maiores centros de produção automobilística. Entre as cidades importantes da região de Hokuriku estão Niigata e Kanazawa. Kanazawa, capital do distrito de Ishikawa, surgiu a partir dos finais do século XVI como uma cidade fortificada da abastada família Maeda. Parcialmente bombardeada durante o último conflito mundial, é hoje um centro de artesanato. Com as suas velhas residências samurais, a cidade é uma imagem do que foi o velho Japão feudal. As cidades de Osaka, Kyoto, Kobe e Nara constituem o coração da região de Kansai, "oeste da barreira". As formas de falar, a alimentação e os costumes diferem da região de Kanto. Kyoto combina um passado opulento (foi a capital do Japão de 794 a 1868) com um presente próspero como cidade universitária, centro de produção de artesanato e núcleo de uma nova indústria de alta tecnologia. É uma cidade de calmos templos e palácios, mas cheia de comércio, artesanato, centros de investigação e com uma alta tecnologia no que diz respeito à cerâmica e a outros materiais. Em Kansai, as prefeituras de Shiga, Mie, Kyoto, Nara, Osaka, Wakayama e Hyogo formam o distrito de Kinki. O centro industrial da região é Hanshin, cujo cinturão industrial passa pelas cidades de Osaka e Kobe. Osaka foi construída num delta formado pelos rios Yamato e Yodo. Foi chamada "a cidade das 808 pontes" ou a "Veneza do Japão", mas perdeu a maior parte da sua rede de canais com o desenvolvimento urbano. Desde o século XVII que Osaka é um centro de comércio, o mercado principal de arroz, a "cozinha do Japão", e é uma cidade vibrante de cultura urbana. No período moderno, tornou-se um porto comercial e uma cidade comercial logo a seguir a Tokyo. Kobe é o porto internacional mais importante no oeste do Japão. Desde o século III é conhecido como um porto natural de águas profundas, tendo desempenhado um papel fundamental no comércio internacional ao longo da história do país. Kobe ainda mantém vários edifícios de estilo ocidental, conferindo à cidade um aspecto cosmopolita.
 

Paulo Leite

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A parte ocidental de Honshu é conhecida por Chugoku, ou a região das prefeituras centrais, compreendendo as cinco prefeituras de Tottori, Shimane, Okayama, Hiroshima e Yamaguchi. A região é dividida pela cadeia montanhosa em duas partes distintas: Sanin, "na sombra das montanhas", no norte, virado para o mar do Japão e Sanyo, "o lado soalheiro das montanhas", de frente para o mar interior. Esta região, incluindo Sanyo, registrou um rápido desenvolvimento: por exemplo, Hiroshima, que foi devastada pela bomba atómica em 1945, é agora uma cidade industrial com aproximadamente um milhão de habitantes. Por contraste, Sanin é menos industrializada e assenta mais na madeira para construção, gado e pesca.

Shikoku
O nome da ilha de Shikoku vem de "quatro províncias": Sanuki, Awa, Tosa e Iyo. É uma ilha montanhosa, excepto nas planícies, à volta do mar interior e das costas do Pacífico. A parte norte da ilha, faz parte do cinturão industrial do mar interior de Seto. Na parte sul da ilha, produzem-se citrinos, madeira para construção e existe actividade piscatória. A estação de plantio é muito longa, 260 dias. Shikoku é um local de antiga peregrinação em honra de Kukai, que ainda hoje se mantém. A maior parte do interior de Seto é considerado parque nacional. Tem zonas de grande beleza, com praias de areia branca, ilhas com pinheiros, rochas escarpadas e santuários como os de Itsukushima, que parecem flutuar nas ondas.

Kyushu
Kyushu significa "nove províncias", da sua antiga estrutura administrativa; é uma ilha montanhosa um pouco maior que a Formosa, divida em duas partes: o norte francamente rico, urbanizado, industrializado e o sul, pobre, com uma agricultura de subsistência. Apesar do clima quente e da longa estação de colheitas, efectuando-se duas por ano, a terra arável é escassa. Kyushu está ligado a Honshu pela ponte de Kammon (1500 metros) e por túneis, incluindo um para Shinkansen (trem-bala). O norte de Kyushu tem sido, ao longo do período moderno, um centro industrial, primeiro de seda e de algodão e depois, por volta de 1900, de aço. Em 1963, as cidades de Moji, Kokura, Yahata, Tobata e Wakamatsu juntaram-se, formando a cidade de Kita Kyushu (no norte de Kyushu). Para sudoeste de Fukuoka, situa-se a terra sulfurosa e árida do Parque Nacional de Aso, no centro do qual se encontra um vulcão activo, o Aso, com a sua enorme cratera. Nakadake, a cratera activa, possui 600 m por 1200 m de largura e 160 m de profundidade. Nagasaki situa-se no topo da bela e profundamente recortada baía de Nagasaki, que se abre para o continente e para o sul. A partir do século XVI, Nagasaki foi um porto comercial para os portugueses, ingleses, holandeses, coreanos e chineses. Enquanto muitos países ocidentais foram expulsos do Japão no século XVII, aos holandeses foi-lhes permitido manter um posto comercial na pequena ilha de Dejima, no porto de Nagasaki, durante o chamado período de isolamento. Actualmente, Nagasaki tem mantido as suas características comerciais. Durante os períodos Meiji e Taisho, a cidade estabeleceu grandes contactos comerciais com a China e o sudoeste asiático. Com o seu belo porto natural, esta cidade foi também um centro importante de estaleiros. A 9 de Agosto de 1945 foi destruída pela segunda bomba atómica. Mais de 73.000 pessoas morreram e muitas mais vieram a sucumbir devido à radiação. Após a reconstrução, Nagasaki voltou a ser uma cidade comercial e industrial. A Mitsubishi tem aí situados os seus estaleiros, a sua siderurgia e indústria de máquinas. Kagoshima é a cidade mais importante de Kyushu. Tem uma situação privilegiada, para a baía do vulcão activo Sakurajima. Durante séculos, esta região foi dominada pela família Shimazu, do domínio de Satsuma. Os jovens samurais de Kagoshima desempenharam um papel importante durante a restauração Meiji. Esta zona também é famosa pelo arroz e pela cerâmica. Sakurajima faz parte do Parque Nacional de Kirishima-Yaku, com mais de vinte crateras vulcânicas, e a ilha de Yaku, com florestas de cedros virgens e o monte Miyanoura, com mais de 1930 metros de altitude.

Okinawa
A ilha de Okinawa, a maior das ilhas de Ryukyu, tem cento e quarenta Km de comprimento e dezanove de largura. O seu clima subtropical difere do das outras ilhas de maior dimensão. Existe uma pequena indústria e alguns recursos minerais. A criação de gado, o peixe, o açúcar e o tabaco proporcionam alguns rendimentos, mas a produção de arroz, a batata-doce e a seda ou entraram em declínio ou estagnaram. Retomou-se algum artesanato, especialmente os vivos padrões de tecido conhecidos por bingata e a cerâmica. Mas a economia de Okinawa se baseia principalmente nas indústrias de prestação de serviços e no turismo. As ilhas de Okin awa, situadas entre o Japão e a China, têm tradicionalmente mantido boas relações com os seus dois poderosos vizinhos. Muito entregues a si próprios, os habitantes de Okinawa desenvolveram a sua própria cultura. Arrebatados à China no início do século XVII, os ryukyuanos foram subjugados pelo domínio de Satsuma, em 1609, e os seus recurso de açúcar explorados. Após 1868, o novo governo Meiji apoderou-se do reino de Ryukyu. Os protestos da China reclamando a posse destes territórios terminaram com a guerra sino-japonesa (1894-95). O Japão dominou Okinawa até o fim da Segunda Guerra Mundial, após a qual foi governada pelos Estados Unidos, até voltaram de novo para a posse do Japão em 1972.


HISTÓRIA

Os três Unificadores
Oda Nobunaga
Em 1500, o Japão atingiu o ponto máximo da descentralização. Nem a corte imperial nem o xogunato Muromachi controlavam a autoridade política ou a ordem. O país estava dividido entre mais de duzentos e cinquenta senhores feudais (daimyos). Alguns deste daimyos contavam com as vitórias alcançadas a nível regional, para conseguirem uma hegemonia nacional. O primeiro daimyo a consegui-lo foi Oda Nobunaga (1534-1582), o jovem chefe do pequeno domínio de Owari, na costa do Pacífico. Nobunaga tinha como objectivo iniciar a reunificação do país. Numa série de batalhas tacticamente brilhantes, Nobunaga abriu caminho por entre os daimyos e em 1568 controlava a região da capital.Nobunaga distinguiu-se como génio militar com vinte e sete anos na batalha de Okehazama, em 1566, onde não só derrotou um exército bem maior, o do clã Imagawa, a maior força militar da costa do Pacífico naquela época, como também capturou Imagawa Yoshitomo, o próprio daimyo. O selo que Nobunaga usava possuía os seguintes dizeres: Tenka fubu ("O reino em glória militar"), não deixando dúvidas quanto às suas pretensões. A palavra tenka ("todos sob o céu") refere-se a todo o reino do Japão e implica o controle da nação. Nobunaga via-se como um tenkajin, ou aquele que governa tenka. Ao entrar em Kyoto, declarou que estava apenas a restaurar o xogunato Ashikaga, repondo no poder o décimo quinto shogun, Yoshiaki (1537-1597). Tudo isso não passou de um pretexto. Yoshiaki foi demitido passado pouco tempo e o xogunato de Ashikaga terminou. O percurso de Nobunaga até atingir tenka não foi fácil. Em primeiro lugar, ambiciosos rivais daimyos ainda detinha o poder nas províncias e estavam prontos a eliminá-lo se pudessem; em segundo, encontrou grande resistência da parte dos exércitos monásticos budistas. No que respeita aos daimyos rivais, Nobunaga utilizou uma táctica genial para os isolar e destruir com uma estratégia e tecnologia superiores. Na batalha crucial de Nagashino, em Mikawa (1575), Nobunaga aliou-se a Tokugawa Ieyasu para derrotar Takeda Katsuyori. A primeira razão para a sua vitória foi a utilização dos mosquetes, arma importada da Europa. Nobunaga organizou uma força de três mil mosqueteiros, dispô-los em três linhas, de forma a poderem disparar de dez em dez segundos. As forças de Takeda ainda eram constituídas por cavaleiros armados com espadas e por lanceiros, extremamente rudimentares em relação às de Nobunaga. As lutas infligidas por Nobunaga às comunidades budistas foram igualmente bárbaras. Em 1574, em Nagashima, província de Owari, Nobunaga cercou vinte mil seguidores da escola budista Ikkoshu, homens, mulheres e crianças e lançou-lhes fogo. Foi a batalha mais brutal da era das batalhas sangrentas, talvez a mais brutal da história do Japão. Pelo facto de Nobunaga ser cristão (seu nome cristão era Gerônimo) e pela insensibilidade com que esmagou os Ikkoshu, concluímos que ele não tinha o menor respeito pela religião tradicional. Em 1571, chacinou cerca de três mil monges do templo Enryakuji, no monte Hiei, um poderoso núcleo político e religioso do início do período Heian, porque aquele mosteiro o desafiara militarmente. Nobunaga era implacável com todo aquele que lhe fizesse frente, mas não deixava de reconhecer a autoridade imperial, nem a autoridade de outros templos e santuários desde que não pusessem em causa a sua hegemonia. A tentativa de Oda Nobunaga para unificar tenka foi suspensa. Em 1582, enquanto ele e os seus companheiros estavam em Honnoji em Kyoto, Nobunaga foi assassinado por Akeshi Mitsuhide, um dos seus principais generais. Os guerreiros de Nobunaga delegaram em Mitsuhide, que foi destronado dias mais tarde por outro general de Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), que lhe sucedeu como o novo tenkajin. Uma frase pode resumir o estilo de Oda Nobunaga: "Se o pássaro não canta, eu mato-o."
 

Paulo Leite

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:blink:Toyotomi Hideyoshi
Hideyoshi era filho de um camponês de Owari que serviu Oda Nobunaga e ganhou precocemente prestígio de estrategista. Na altura da sua morte, Nobunaga controlava mais de um terço do reino, incluindo as cidades de Kyoto, Osaka e Sakai. Hideyoshi orientou as suas conquistas para o oeste e em 1587 já controlava Kyushu. Em 1587, Hideyoshi enviou os seus exércitos para o oriente para submeter os Hojo de Odawara. No mesmo ano, anunciou o seu desejo de invadir a Coréia e de estabelecer a sua supremacia sobre a China. Por volta de 1590, dominou o leste do Japão e levou Tokugawa Ieyasu, o seu aliado e grande rival, de Mikawa para o castelo de Edo. Em 1591, Hideyoshi anunciou os seus plano para atacar as posições Ming na Coréia. No ano seguinte, recrutou mais de 150.000 soldados e iniciou a invasão. No entanto, as forças coreanas contra-atacaram, juntamente com a China Ming e a população coreana conduziu operações de guerrilha contra os exércitos invasores japoneses. Gradualmente foram se tornando claros os sinais da derrota. Hideyoshi foi forçado a assinar a paz e em 1588, à beira da morte, ordenou a retirada total das tropas da Coréia. Hideyoshi tomou duas medidas importantes para resolver outras contradições domésticas: a da separação dos samurais dos camponeses e a de fazer cumprir a nova distribuição de terras e impostos. Os samurais e os camponeses encontravam-se muito ligados entre si dentro da comunidade rural. Na confusão própria da época das guerras, alguns samurais rurais poderosos, eliminavam os daimyos e proclamavam-se a si próprios daimyos. Este processo é conhecido como gekokujo ("o mais baixo derruba o mais alto"). De certa forma, Hideyoshi tornou-se um tenkajin ao seguir o exemplo de gekokujo. A fim de tentar estabilizar a sociedade, decidiu retirar os samurais das aldeias, forçando-os a viverem em cidades fortificadas sob o controle directo dos daimyos após preito de vassalagem. A requisição de armas, a tão chamada "caça à espada", foi feita por todo o país. Contudo, nem todas as armas foram apreendidas e a sua entrega não constituiu o único aspecto desta política. Ela foi acompanhada de leis designadas sobujirei e por tenka teishirei, reforçando a paz local através da punição de querelas privadas e do recurso às armas. O objectivo de Hideyoshi era proibir as lutas isoladas e mostrar que só o governo do unificador do reino tinha o poder de as desencadear. Um novo sistema de exploração e de impostos surgiu do controle exercido por Hideyoshi sobre as terras. Os registos das terras foram feitos contendo as seguintes informações: área e localização dos campos; capacidade anual de produção estimada em quantidade de arroz - kokudaka (mesmo que os campos não produzissem arroz, ele obrigava os aldeãos a fazer os cálculos em termos de arroz), e o nome do agricultor. Deste modo, todos, desde os daimyos até os bushi das classes mais baixas, eram englobados no mesmo processo, isto é, saberem a que quantidades de koku de arroz tinham direito. Baseado nestes princípios, o unificador sabia a capacidade de produção e o poder militar que podia mobilizar e qual a força laboral que podia pagar impostos. O sistema de produção baseado no arroz durou trezentos anos, até 1872 e, pode dizer-se que estabeleceu as bases do sistema agrário do Japão pré-moderno. A frase que sintetiza o estilo de Toyotomi Hideyoshi é a seguinte: "Se o pássaro não canta, eu faço-o cantar."

Tokugawa Ieyasu
Tokugawa Ieyasu era um homem paciente, possuidor de uma visão alargada das coisas e um bom estrategista. "Se o pássaro não canta, eu espero até que ele cante", esta é a frase que sintetiza o estilo de Ieyasu. Quando Toyotomi Hideyoshi morreu, em 1958, o seu filho Hideyori era ainda uma criança. Cinco poderosos daimyos constituíram um conselho de regência e conduziram os assuntos de Estado. No entanto, muitos deles tinham a ambição de tomar o poder e o conselho rapidamente se dividiu em facções rivais. Tokugawa Ieyasu (1542-1616), o mais poderoso dos cinco, rompeu com o acordo mútuo. A facção anti-Ieyasu, liderada por Ishida Mitsunari (1560-1600), formou um exército e a luta pelo controle do Japão recomeçou.
Dois meses mais tarde, no dia 15 de Setembro de 1600, tudo se decidiu na planície de Sekigahara. No total, participaram 160.000 homens e às oito da manhã iniciou-se uma batalha feroz. No meio da batalha alguns dos daimyos de Mitsunari deram secretamente o seu apoio a Tokugawa e por volta das duas da tarde a vitória do exército chefiado por Tokugawa era certa. Três anos após a batalha, Ieyasu foi reconhecido pelo poder imperial como o líder da ordem feudal (shogun) e criou um novo Bakufu (xogunato). Ao contrário de Nobunaga e Hideyoshi, que se rodearam de oficiais da corte e utilizavam os regentes imperiais de nível mais elevado como suporte da sua legitimidade política, Ieyasu assumiu o posto mais elevado dentro da ordem militar e utilizou o posto de shogun com o objectivo de estabelecer um governo de militares independente da corte. Ieyasu retirou-se como shogun dois anos mais tarde e passou o lugar a seu filho, Hidetada. Estabeleceu assim um precedente dinástico no qual o posto de shogun seria transmitido através dos descendentes Tokugawa. Durante 264 anos, até 1867, o xogunato Tokugawa sobreviveu durante cinco gerações. Este longo período de paz permitiu o aparecimento de um estilo cultural inigualável no Japão, bem como o desenvolvimento de uma alta tecnologia e de um alto nível educacional no país.

POLITICA
Constituição Japonesa
A actual Constituição do Japão, que sucedeu a Constituição do Império Japonês de 1889 - também conhecida como Constituição Meiji - foi promulgada em 3 de Novembro de 1946, tornando-se efectivamente válida em 3 de Maio de 1947. É composta por 11 capítulos e possui um total de 103 artigos. Este documento destaca-se por declarar que a soberania reside no povo, por nele estarem inseridos os direitos humanos fundamentais e por renunciar à guerra. Trata-se de um documento completamente democrático que revolucionou o sistema político japonês, que sob a Constituição Meiji tinha baseado no princípio da soberania que residia no imperador.

Provisões
O Imperador: No seu capítulo 1º, artigo 1º, a Constituição do Japão declara que: "o Imperador deve ser o símbolo do Estado e da unidade do povo, derivando sua posição a partir da vontade do povo no qual reside o poder da soberania". Todos os actos do Imperador que sejam relacionados ao Estado requerem a consulta e a aprovação do gabinete, sendo que o imperador não possui poderes relacionados ao governo da nação. Renúncia à Guerra: O capítulo 2º consiste em um único artigo, o artigo 9º, que determina que o povo japonês "sempre renunciará à guerra" e que "as forças terrestres, marítimas e aéreas, bem como qualquer outro potencial bélico jamais serão mantidos". Direitos e Deveres Fundamentais: O capítulo 3º enumera os direitos e deveres da população, tais como a liberdade de expressão. A discriminação "na relações políticas, económicas ou sociais devido à raça, credo, sexo, posição social ou origem da família" é proibida. O povo tem o direito de manter "os padrões mínimos de vida" e o Estado tem a obrigação de promover o bem-estar social, a segurança e a saúde públicas. O direito à propriedade privada é declarado inviolável.
Legislatura Nacional: O capítulo 4º declara que a Dieta é "o órgão mais alto do poder estatal" e "o único órgão do Estado que pode criar leis".
O Gabinete: O capítulo 5º fala acerca do gabinete. O primeiro-ministro é designado através de uma resolução da Dieta, ao passo que ele, o primeiro-ministro, é o responsável por nomear e demitir os outros membros do gabinete. O gabinete é colectivamente responsável perante a Dieta. Se a Casa dos Representantes emitir uma resolução de não confiança (ou rejeitar uma resolução de confiança) a respeito do gabinete, todo o gabinete deve renunciar em massa ou então a Casa dos Representantes deve ser dissolvida dentro de 10 dias. Os Tribunais: O judiciário é descrito no capítulo 6º da constituição. A Suprema Corte Japonesa é a última instância de recurso com o poder de determinar a constitucionalidade da legislação e dos actos do governo, assemelhando-se ao nosso Supremo Tribunal Federal - STF. Finanças: O capítulo 7º diz respeito às finanças do governo e estabelece que a Dieta terá o total controle sobre a imposição de taxas e o gasto de fundos. Governos Locais: O capítulo 8º define o "princípio da autonomia local" para as entidades públicas locais.
 

Paulo Leite

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MITOLOGIA
A Criação do Japão
No princípio, existia apenas uma massa oceânica viscosa. Desta emergiu uma substância semelhante ao junco, que se tornou uma divindade, e ao mesmo tempo, duas outras criaturas divinas, um macho e uma fêmea. Não se sabe grande coisa acerca desta trindade primordial; mas diz-se que, da "alta planície do céu" onde moravam, foram produzindo gerações e gerações de deuses e deusas até que, a certa altura, surgiram as divindades Izanagi e Izanami, nomes que querem dizer, respectivamente, "macho que convida" e "fêmea que convida". Izanagi e Izanami desceram do céu para o caos oceânico, caminhando sobre um arco-íris, segundo a maioria das versões, como se fora uma ponte. Chegados ao oceano primordial, Izanagi mergulhou nele a sua lança. Ao levantá-la, as gotas que caíram da ponta solidificaram-se, formando assim a ilha de Ono-koro, "a que seca sozinha". Apesar de Izanagi e Izanami serem irmãos, casaram-se na ilha de Ono-koro. Aprenderam a arte de amar através da observação de duas alvéolas e ainda hoje estes pássaros aparecem associados ao casal. Nem mesmo o deus dos espantalhos consegue assustar as alvéolas, a recompensa pelo bem que fizeram. Entre a prole de Izanagi e Izanami contam-se acidentes geográficos, as outras ilhas japonesas, quedas d'água e montanhas, árvores, ervas e o vento. Foi o vento que completou a criação do Japão, pois, dispersando densas névoas que tudo cobriam, revelou pela primeira vez as ilhas japonesas no seu conjunto. O primeiro filho dos dois deuses morreu ainda no ventre da mãe e esta criatura, que se parecia com uma anémona do mar, foi evidentemente colocada no fundo do oceano. Todos os outros filhos sobreviveram. O último a nascer, depois de todas as ilhas japonesas terem sido criadas e povoadas, causou a morte da mãe, tratava-se do deus do fogo. Pouco depois de o ter dado à luz, Izanami adoeceu com febres altíssimas que a consumiam e que, finalmente, acabaram por matá-la. Izanami desceu então aos infernos, Yomi, a "terra da escuridão" onde, apesar dos seus protestos, Izanagi a seguiu. Izanami, para castigar o marido de a ter perseguido, escorraçou-o, ajudada por espíritos femininos horríveis, mas Izanagi conseguiu fugir para o mundo dos vivos. À saída de Yomi, Izanami gritou-lhe que, em vingança, despovoaria o mundo matando mil pessoas por dia, Izanagi replicou-lhe que, por cada mil pessoas que morressem, mil e quinhentas seriam criadas. Neste mito, o casal divino estabelece o modelo da natureza para todos os tempos e cria, pelo seu "divórcio", a vida e a morte. Izanagi, de facto, manteve a sua palavra e depois de uma purificação ritual que fez desaparecer as consequências da sua descida aos infernos, deu origem à deusa do Sol, ao deus da Lua e a Susanoo, o deus das tempestades, todo os três oriundos, segundo uma das versões, respectivamente dos olhos e do nariz de Izanagi.

Deuses
A religião xintoísta está na origem de toda a mitologia japonesa. Existe uma noção fundamental nesta crença que é dada pela palavra kami. Um kami não é propriamente aquilo que os ocidentais entendem por "deus", mas é o "supremo", o "elevado", a "divindade", num sentido muito geral. Tudos podem tornar-se num kami: seres humanos, árvores, montanhas ou pedras.

Amaterasu
Há muitos mitos que explicam relações naturais. O Sol e a Lua, irmão e irmã, não têm uma vida fácil. No seu reino celestial, cuja estrutura é, muito curiosamente, semelhante à do Japão, estão permanentemente sentados de costas um para o outro, daqui a existência do dia e da noite. É da deusa do Sol, Amaterasu, que descende a família imperial e de todas as lendas que sobre a deusa se contam, uma das mais conhecidas é a que se refere ao seu retiro numa caverna. Amaterasu e Susanoo não eram propriamente amigos. As suas contribuições como deus das tempestades tinham feito com que Susanoo se tornasse uma personagem incomoda. Certa vez, foi visitar os domínios de Amaterasu, com o pretexto de pedir perdão por um anterior comportamento incorrecto, mas em vez disso, soltou potros malhados nos campos de arroz da deusa, destruindo-os completamente e profanou muitos dos seus bens. Amaterasu, então, retirou-se para uma caverna e o mundo mergulhou na escuridão. E nunca mais saiu, até que uma outra deusa, acompanhada pelas 800 miríades de deuses menores, resolveu executar uma dança, alegre ou obscena, conforme as interpretações, do lado de fora da caverna. Ao mesmo tempo, os outros deuses faziam um barulho enorme e por fim, cheia de curiosidade, Amaterasu espreitou para fora e viu a sua imagem reflectida num espelho que, entretanto, tinha sido confeccionado. Foi este o primeiro espelho, espelho que faz parte das insígnias imperiais do Japão e depois deste episódio, nunca mais a alternância do dia e da noite foi perturbada.

Susanoo
Susanoo não se limita a ser apenas o deus das tempestades, também lhe chamam "divindade veloz e impetuosa" ou "o macho impetuoso". Depois do episódio da caverna, foi expulso do reino celestial de Amaterasu e dirigiu-se para a província de Izumo, na costa da ilha de Honshu banhada pelo mar do Japão. Daqui, Susanoo atravessou o oceano em direcção à Coreia, no continente, onde plantou florestas com os pelos da sua própria barba, é por isso que esta divindade aparece também relacionada às florestas. Há muitas outras lendas sobre Susanoo onde o seu papel nem sempre é negativo; uma das mais populares é a que conta como matou o dragão de oito cabeças de Izumo. Com oito taças de saquê, embriagou-o; noutra versão, o saquê tinha sido previamente envenenado. Susanoo tinha assim feito uso da sua coragem e esperteza a fim de salvar uma deusa menor, ainda jovem, cujas irmãs mais velhas tinham sido todas devoradas, uma em cada ano e durante muitos anos, pelo dragão. A heroína era a mais nova e, como era de se esperar, casou com Susanoo. Na cauda do dragão morto, Susanoo encontrou um sabre, o segundo elemento das insígnias imperiais. Numa altura em que não estava zangado com Amaterasu, caso bastante raro, resolveu oferecer-lho, recebendo em troca, as jóias que constituem a terceira e última insígnia do imperador. Amaterasu ainda viria a dar-lhe outras jóias, que Susanoo utilizaria depois para soltar os relâmpagos anunciadores do seu poder.

Uke mochi
Assim como o aparecimento das ilhas japonesas, também o aparecimento dos cereais e dos animais ligados à agricultura e à pesca possui uma origem mítica. Amaterasu enviou à Terra o irmão mais novo, o deus da Lua, para verificar se a divindade da alimentação, Uke mochi, estava cumprindo o seu dever. A fim de obsequiar este deus tão importante, Amaterasu e os seus irmãos tinham precedência sobre o resto do panteão, Uke mochi, ao mesmo tempo que olhava para as planícies, abriu a boca e dela saiu arroz já cozido. Da mesma maneira, regurgitou peixes e moluscos enquanto fixava o mar e, olhando para as colinas verdejantes, fez o mesmo com várias espécies de caça. O deus da Lua, Tsuki, não apreciou nada esta maneira original de servir um banquete e a sua fúria foi tão grande que matou o infeliz Uke mochi.
Mas mesmo depois de morto, o corpo deste continuou a cumprir a sua função; da cabeça emergiram vacas e cavalos, das sobrancelhas, bichos-de-seda, o milho-miúdo brotou-lhe da testa e do estômago, nasceu uma planta do arroz. Na mais antiga das duas crónicas xintoístas, Susanoo é apresentado como o deus protagonista desta lenda, mas na crónica mais recente, o Nihongi, é o deus da Lua quem acaba por matar Uke mochi.

Oh kuni nushi
Susanoo tinha por genro um deus ainda novo, Oh kuni nushi, "o grande senhor das terras", que, para ter a certeza de casar com a filha de Susanoo, não encontrou método mais eficaz do que o rapto. Depois de prender o cabelo de Susanoo às vigas da casa e de lhe roubar o sabre, o arco, as flechas e uma harpa, o casal fugiu. Ora, Susanoo que, entretanto, estava a dormir, foi acordado pelas cordas da harpa, que tocavam sozinhas enquanto Oh kuni nushi e a noiva fugiam. Sempre guiado pela música, encontrou-os; mas parece que ficou muito impressionado com a astúcia dos dois, pois não só autorizou o casamento como lhes permitiu guardar os tesouros que tinham roubado. Além disso, deu a Oh kuni nushi o governo da província de Izumo.

Suku na biko, o deus anão
Nas suas novas funções, Oh kuni nushi foi muito ajudado por um deus anão chamado Suku na biko, "o célebre homem baixinho". Os dois conheceram-se quando este chegou à costa de Izumo numa pequena jangada. O anão era filho da Divina Deusa das Provisões e muito estimado pelos seus dotes medicinais. Tornou-se inseparável de Oh kuni nushi; juntos curavam as doenças e cultivavam a terra em Izumo. Suku na biko morreu quando trepou num pé de milho-miúdo já maduro; o seu peso, junto ao dos grãos de milho, fez com que a planta se dobrasse e o projectasse em direcção ao céu. Mas este deus baixinho ainda hoje, volta e meia, aparece para guiar as pessoas até às nascentes de água quente, coisa que não é de espantar, pois sempre foi uma personagem simpática e amável.
 

Paulo Leite

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Inari, o deus do arroz
Inari, costuma ser representado sob os traços de um homem de barbas, mas parece que existe um certa confusão acerca do seu sexo, pois também pode aparecer como sendo uma deusa. A raposa é a mensageira de Inari, que, de resto, também toma, por vezes, a forma desse animal. Inari é o padroeiro dos alfagemes e, desde tempos mais recentes, de todos os mercadores em geral. Todos os anos, na primavera, o deus dos campos de arroz desce da sua morada nas montanhas e volta para lá no outono, facto que pode estar relacionado com a velha crença xintoísta de que as montanhas possuem espíritos ou deuses.

Hachiman
Wakamiya Hachiman é um kami identificado com o lendário imperador Ojin e mais tarde considerado um deus da guerra e uma actividade tutelar do clã guerreiro Minamoto. No período Heian, tornou-se o centro de grande devoção e culto representado em muitos santuários. Hachiman aparece em pinturas e esculturas de várias formas, mas é mais comum vê-lo como monge. Está directamente associado à deusa xintoísta Hime-gami (Nakatsu-hime) e é normalmente tido como uma encarnação do buda Amida.

Os Sete Deuses da Sorte
Os Sete Deuses da Sorte ou da boa fortuna, são muito populares no Japão. Um deles, cuja natureza budista está particularmente bem caracterizada, chama-se Hotei. Distingue-se dos outros pela sua grande barriga, que não deixa que o quimono se feche. Isto não significa que seja guloso; pelo contrário, é um símbolo da satisfação, do bom feitio e da grandeza de alma de Hotei. Jurojin é o deus da longevidade. Aparece sempre na companhia de um grou, uma tartaruga ou um veado, cada qual simbolizando a velhice feliz. Tem uma barba branca e, geralmente, traz uma vara ou um bastão sagrado com um rolo de papel preso que contém a sabedoria do mundo. Jurojin gosta muito de saquê, mas sempre com moderação, nunca se embebeda. Fukurokuju ou Fukurokujin tem uma cabeça muito comprida e estreita, e a boa sorte que representa combina a longevidade com a sabedoria. O seu corpo é tão pequeno que a cabeça é muitas vezes representada de maior tamanho do que as pernas. Não nasceu decerto no Japão, pois diz-se que, durante a vida terrena, foi filósofo e profeta chinês. Para o budismo chinês, Bishamon é considerado o deus da prosperidade. Os japoneses incluíram-no grupo dos deuses da boa sorte e representam-no sempre vestindo uma armadura e trazendo uma lança. Na outra mão mostra a moda budista mais característica, um pagode em miniatura. Estes dois objectos mostram que Bishamon combina o zelo missionário com os atributos guerreiros. Em vez deste, no Japão, o deus da prosperidade chama-se Daikoku. Protege os camponeses e é um deus alegre e bem-humorado. Traz às costas, dentro de um saco, um malho que tem o poder de satisfazer desejos exprimidos pelos mortais e costuma sentar-se em cima de dois fardos de arroz. Às vezes, podem ver-se uns ratos a comerem dos fardos de arroz, mas Daikoku é tão rico e tão bem-humorado que não se importa nada com isso. Ebisu, um outro deus da sorte, é um grande trabalhador e um exemplo do labor honesto. É o padroeiro dos mercadores e pescadores, mas nos seus atributos, apenas este último aspecto está representado; de fato, surge sempre acompanhado por uma vara de pesca. E finalmente temos Benten, a única deusa no meio do grupo. Está associada ao mar e muitos dos santuários que lhe são consagrados situam-se ou em ilhas ou perto do mar. Nos seus retratos ou estátuas, esta conexão revela-se muitas vezes quando a figura de Benten aparece montada ou acompanhada por uma serpente marinha ou por um dragão. Ela também representa as artes e os tipos de comportamento mais femininos. Entre todos os instrumentos musicais, prefere o biwa, um instrumento de corda cuja forma se assemelha à da mandolina. Não é portanto de estranhar que Benten surja muitas vezes relacionada com o lago que tem o nome e que faz lembrar o instrumento, o lago Biwa.

Criaturas e Espíritos
Tengus
Os tengus estão entre as criaturas mitológicas japonesas mais estranhas e mais antigas. Descendem do irmão de Amaterasu, Susanoo; divindades menores, são no entanto respeitadas e temidas. Ainda hoje se acredita na sua existência. Os tengus moram nas árvores das regiões montanhosas, vivem em colónias chefiadas por um rei tengu, servidos por tengus mensageiros ou "folhinhas". Fisicamente, são meio humanos, meio aves: possuem, ao mesmo tempo, asas e bicos ou narizes muito compridos. Às vezes, aparecem de cor avermelhada, com uns mantos feitos de pena ou de folhas e uns pequenos chapéus negros. Bons espadachins, mostram-se, psicologicamente, mais travessos do que maus.

Onis
Os onis aparecem com frequência nas lendas antigas. São demónios, muitas vezes de tamanho gigantesco, cor de rosa, vermelhos, azuis ou cinzentos. Têm geralmente chifres e, por vezes, três olhos; possuem ainda, como traços distintivos, três dedos nos pés e nas mãos. Podem voar, mas é raro utilizarem esta habilidade. Em certos casos, são apresentados como criaturas cómicas, mas é mais frequente mostrarem se cruéis, maliciosos e lúbricos. De qualquer modo, a inteligência não parece ser uma das qualidades dos onis. É possível que estas criaturas tiveram a sua origem na China e que chegaram ao Japão com a fé budista.

Kappas
O kappa é uma criatura mais inteligente do que o oni. Não é completamente malévola: pode ser apaziguada pelo homem e possuem certos dons, entre os quais o de endireitar os ossos. Uns pensam que o kappa é de origem ainu, outros que descende do macaco mensageiro do deus do rio; os kappas realmente parecem se com macacos, só que não têm pelo. Às vezes, em vez de pele, possuem escamas de peixe ou uma casca de tartaruga. De cor amarelo esverdeada, têm mais ou menos o tamanho de uma criança de 10 anos e uma reentrância no alto da cabeça que é a sua principal marca distintiva. Se a água que se encontra nessa reentrância for derramada, o kappa perde imediatamente os seus poderes. Os kappas vivem nos rios, nos pântanos e nos lagos e são vampiros, alimentando-se pelo ânus da presa. Gostam de sangue de cavalo, de boi e até do sangue humano. Alguém que fosse encontrado morto por afogamento com o ânus dilatado era logo tido por vítima de um kappa, assim como qualquer criança ou adulto que se afogasse e cujo corpo não fosse achado. Os kappas também podem violar as mulheres, uma característica que partilham com os onis. Além de gostarem muito de sangue, têm um fraco pelos pepinos. Um dos meios de os combater consiste em atirar pepinos com os nomes e as idades dos membros da família nas águas onde eles (os kappas) moram, desse modo essas pessoas não cairão nas suas garras. Os kappas são ainda conhecidos por cumprirem suas promessas. Apesar de possuírem muitos hábitos desagradáveis, primam pela boa educação.

Yuki Onna (A Mulher de Neve)
A Mulher de Neve é um espírito branco, lívido e fantasmagórico, que costuma aparecer durante as tempestades de neve e que embala os homens até que eles adormeçam e morram. É nova, tem um belo corpo e aparentemente um bom carácter.

CULTURA
Bunraku
O Bunraku é uma forma única de drama onde o sentimento da representação é elevado ao extremo, utilizando-se para isso de uma técnica altamente aperfeiçoada. Os temas da peça são, em geral, destinados ao público adulto. Embora isso venha mudando nos últimos anos, com o aumento do interesse de jovens japoneses pelo Bunraku. São histórias de amor e vingança, sacrifício e suicídio, inspiradas em lendas do Japão antigo. A estrutura do espectáculo compõe-se de elementos humanos e inanimados. Entre os homens, há três peças importantes: o narrador (tayu), o manipulador (ningyo tsukai) e o músico (shamisen). No Bunraku, cada boneco é manipulado por três homens, dotados de um altíssimo grau de habilidade. Um dos aspectos mais fascinantes da arte é o fato de o manipulador estar no palco, ao lado do boneco. Vestidos com trajes negros, que passam à plateia a ideia de invisibilidade, eles conduzem com rara mestria as acções dos personagens, que parecem ganhar vida própria. Nesse caso, é claro que se faz necessário um pequeno exercício de imaginação por parte do público, principalmente no início da apresentação, até se acostumar com a presença deste "fantasmas negros". Normalmente, o tamanho dos bonecos varia de 1 a 2 metros de altura. São feitos de madeira, pintados à mão e têm um elaborado mecanismo de controle das expressões da face e dos membros, por meio de fios ligados a "chaves" de comando. Cada manipulador é responsável pelo controle de determinada parte da marioneta. O principal (chamado omozukai), mais experiente dos três, cuida dos movimentos da cabeça, das expressões faciais e do braço e mão direitos. O outro (hidarizukai) controla as acções dos braços e mãos esquerdos, enquanto o terceiro (ashizukai) cuida das pernas. É o perfeito entrosamento entre os manipuladores que dará "vida" ao boneco. Há ainda o koruko, espécie de assistente, cuja função é de apoio ao manipulador. É ele quem entrega os instrumentos que serão utilizados em uma determinada cena. Não é fácil tornar-se um manipulador. Os treinos e ensaios são tantos, que as suas vidas acabam por se tornar numa extensão do trabalho e perfeição virando quase uma obsessão.
 

Paulo Leite

Moderador Honorário
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Por isso mesmo, há sempre um espelho colocado na entrada do palco, que serve para o manipulador verificar os últimos detalhes de sua performance. Os manipuladores mais experientes são elevados a um nível de grande importância dentro da cultura japonesa. Recebem o título de ningen kokuho, que significa "património cultural vivo" e, como um monumento, são praticamente "tombados" pelo governo japonês. O narrador também é figura importante na trama. É ele quem conta a história e faz as falas dos personagens. Além dele, há o instrumentista, que toca o shamisen, tradicional instrumento japonês de três cordas. O trabalho do narrador é fascinante. Para caracterizar as vozes dos personagens, ele utiliza diferentes tons, para distinguir um homem de uma mulher, um velho de uma criança ou o bem do mal. Coloca para fora todo o sentimento, mudando o ar de sua narração para descrever as passagens de uma cena para outra. Actualmente, o Bunraku vem perdendo popularidade. Nem de longe lembra os tempos áureos em que lotava os teatros em Kyoto, Tokyo e Osaka. As razões são várias e explicam-se pela própria mudança de gosto e comportamento do povo japonês. Hoje, essa arte é considerada muito mais um património cultural (a ser preservado) que uma actividade de lazer (a ser consumida). Além disso, as apresentações são muito longas, podendo durar mais de cinco horas.

No mundo actual, são poucas as pessoas que podem dispor desse tempo no teatro. Apesar de alguns jovens estarem interessados pelo Bunraku, a idade média dos integrantes anda nos 50 anos, um detalhe que, lamentavelmente, pode comprometer o futuro da arte.

A História do Bunraku
O joruri, forma estilizada de narração na qual o Bunraku se baseia, tem sua origem no século XIII. Na época, grupos de artistas andarilhos costumavam-se apresentar pelas aldeias do Japão acompanhados por um músico. No século XVII, muitos artistas já tinham aderido à moda de usar bonecos nas suas apresentações. Essa estrutura (boneco, narrador-manipulador e músico) foi o embrião do que hoje se conhece por Bunraku. A inovação da época foi a introdução de um assistente, com a função de controlar os movimentos dos bonecos. De coadjuvante, esse "ajudante de palco" passou a ganhar cada vez mais importância até atingir o status do manipulador actual. Mas a grande evolução do joruri deu-se quando, em 1685, um artista da época Gidayu Takemoto (1650-1714) construiu um teatro popular na região de Osaka, que recebeu o nome de Takemoto-za. Ele conheceu o dramaturgo Monzaemon Chikamatsu, autor de inúmeros roteiros de Kabuki que revolucionaram a arte dramática japonesa. A união dos dois mestres transformou o joruri de arte narrativa em drama. E o aperfeiçoamento técnico dos bonecos fez com que três manipuladores fossem necessários, em vez de apenas um. No início do século XIX, o produtor teatral Uemura Bunraku viajou a Osaka com o objectivo de construir um novo teatro. Quando, em 1872, o antigo foi transferido para o novo local e reconhecido oficialmente pelo governo, recebeu o nome de Bunraku-za. Com a fundação do rival Hikoroku-za, em 1884, os dois teatros viveram um período de grande popularidade. A partir do século XX, o Bunraku passou a ser reconhecido no Japão como uma arte teatral altamente sofisticada. É esse aspecto que o difere do Kabuki, mais popular e de mais fácil assimilação. Em 1955, a arte recebeu o título de "Importante Património Cultural Intocável", conferido pelo governo japonês. Oito anos depois, a primeira trupe de artistas era formada para apresentar-se pelo país afora. A partir daí, uma série de esforços de várias entidades e principalmente do governo da província de Osaka, culminou com a construção do novo Teatro Nacional de Bunraku, inaugurado em 1984.

Cerimônia do Chá
O chanoyu (cerimónia do chá ou, ao pé da letra, "água quente para o chá") tem sido de uma importância vital para a cultura tradicional japonesa. Nele convergiram muitos aspectos culturais que foram renovados: através de chanoyu, o ideal de wabi, o culto da pobreza, foi espiritualizado. Este conceito permitiu aos japoneses darem valor à cerâmica tosca, simples e irregular coreana e japonesa, bem como à fina cerâmica chinesa. Ficou assim aberto o caminho para uma nova estética. A pequena e rústica sala de chá tornou-se um mundo à parte dentro do qual as barreiras sociais eram temporariamente postas de lado. Aqui os mercadores e os homens da cidade podiam se misturar com os poderosos guerreiros ou nobres, partilhando todos o gosto pela simplicidade, por um lado, e por outro, por utensílios valiosos. Actualmente existem no Japão muitas escolas de chá. A maior parte delas ligam a sua origem directa ou indirectamente a Sen no Rikyu, no século XVI. Muitas serviam os shoguns, os daimyos ou os cortesãos, outras, os samurais e o cidadão comum. Todas partilhavam a mesma disciplina ritualista, etiqueta, estética e interesse por Zen. As três escolas que estão activas actualmente são as de Urasenke, Omotesenke e Mushanokojisenke, em Kyoto. Rikyu, baseando-se nos ensinamentos do Zen, reforçou a importância da execução das tarefas mais simples. A disciplina do chanoyu também considera importante a sobriedade e a graciosidade dos movimentos. A cerimónia do chá é um acontecimento social formal e os convidados, bem como o anfitrião, preparam-se para a ocasião. Primeiramente os convidados dirigem-se calmamente do portão de entrada de um pequeno jardim rústico, característico das casas de chá, para um portão intermediário. A entrada na casa de chá faz-se normalmente através de uma pequena entrada (nijiriguchi) de 70 cm de largura por 80 cm de altura, obrigando as pessoas a ajoelharem-se e rastejarem para poderem passar. O objectivo consiste em provocar a sensação de se ter entrado num outro mundo, longe das ansiedades do quotidiano. A nijiriguchi tinha também a função, no Japão feudal, de obrigar os samurais a deixarem de lado a espada antes de entrarem. O último convidado a entrar, fechava a porta de correr. Após ter entrado pela nijiriguchi, o visitante encontra-se perante a alcova ou tokonoma. Por volta do período medieval, a tokonoma foi incorporada nas casas de chá e nas casas particulares como espaços onde se expunham pergaminhos, cerâmicas ou flores de bambu em jarras. À entrada encontrava-se exposto um simples pergaminho. Este consiste normalmente numa simples linha de caligrafia executada por um sacerdote Zen. A caligrafia do excêntrico monge Zen Ikkyu de Daitokuji é particularmente apreciada nos círculos de chá.
Os visitantes tomam conhecimento do pergaminho que foi cuidadosamente escolhido pelo anfitrião e que está de acordo com a estação do ano ou com o espírito da cerimónia do chá. Depois de terem examinado o pergaminho, os convidados sentam-se à volta de uma pequena lareira quadrada de madeira no centro do chão. A lareira, lembrando a de uma casa do campo, é outra característica introduzida por Rikyu. Neste momento o anfitrião entra. O convidado principal agradece o convite e o cuidado posto nos preparativos e faz perguntas acerca da caligrafia do pergaminho e de outros objectos. Cada gesto da cerimónia do chá é cuidadosamente executado, bem como os movimento e o discurso. A conversa é breve e restringida apenas ao que se passa na sala de chá. No entanto, não se anula a naturalidade e a espontaneidade. Logo depois, o anfitrião serve uma refeição ligeira (kaiseki), que foi preparada em uma copa (mizuya) ao lado da sala de chá. O estilo das casas de chá variam consideravelmente. Rikyu preferia casas pequenas, com um tamanho para apenas um ou duas esteiras. Isto era o extremo do ideal da simplicidade rústica e do culto da pobreza. As casas de chá frequentadas pelos nobres e pelos daimyos eram elegantes pavilhões de oito ou mais esteiras. A maior parte das casas de chá estão acima do chão, sobre postes. As paredes interiores e exteriores são de argamassa, de madeira ou de bambu, propositadamente imperfeitas. Os telhados são de junco, casca de árvore ou ripas de madeira. Segundo Rikyu, o kaiseki deveria ser leve e delicadamente cozinhado e constituir um apelo para a vista e para o paladar. A palavra kaiseki provém, tal como muitos outros aspectos do chanoyu, do budismo Zen. Os monges budistas foram proibidos por Vinaya de comer após a meia noite. Os monges Zen chineses e japoneses faziam esforços físicos, por isso muitos mestres Zen permitiam-lhes que comessem algo ligeiro à noite. Em vez de se lhe chamar comida, referiam-se-lhe como uma pedra quente colocada no seu kimono - kaiseki. Após terem comido um fruto ou outra sobremesa da época, os convidados retiram-se por algum tempo. Enquanto descansam, o anfitrião prepara a sala para servir o chá. Este tem duas consistências: o chá espesso (koicha), mas formal, é cremoso, embora de gosto mais amargo. Todos bebem da mesma tigela em pequenas quantidades. O chá menos espesso é bebido mais tarde (usucha) em taças individuais. As taças de chá variam de acordo com o gosto daquele que faz o chá, da estação, ou da ocasião. As taças de "verão" tendem a ser mais baixas e largas para dispersar o calor e darem a sensação de frescura. As taças de "inverno" são mais altas para conter o calor.
 

Paulo Leite

Moderador Honorário
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Gueixas
Os bairros de gueixas de Kyoto mostram uma face impenetrável: fachadas de madeira antiga intermináveis; sobradinhos com persianas de bambu nas janelas, para impedir que se veja, mesmo de relance, o que se passa lá dentro. Foi em bordéis de Kyoto e em bairros do prazer de Tóquio e Osaka, que as gueixas surgiram no século 17, como dançarinas e cantoras. As primeiras eram homens, mas, em meados do século 18, a profissão já era dominada pelas mulheres, tradição que dura até hoje. A gueixa contemporânea é a elite da extensa indústria que evoluiu através dos séculos para atender aos desejos sensuais do homem japonês. Mas ela não é prostituta. Se fornece serviços sexuais, é por opção ou porque está envolvida em um relacionamento duradouro. O trabalho dela é vender sonho (de luxo, romance e exclusividade) aos homens mais ricos e poderosos do Japão. Dentro dos restaurantes e das casas de chá mais caras, enquanto os homens conduzem negociações delicadas, as gueixas servem saquê e têm a função de não deixar a conversa esmorecer - ao custo de milhares de dólares. As poucas mulheres que penetram no mundo das gueixas são atraídas pela imagem romântica ou pelo amor às artes tradicionais. Mas, antes da Segunda Guerra, a maior parte delas não tinha escolha: nascia no ramo ou era obrigada a entrar nele para sobreviver. Em uma sociedade em que o papel da mulher se restringia a ficar em casa ou no bordel, as gueixas conquistaram para si um nicho separado, criando uma comunidade de mulheres que ficou conhecida como "o mundo da flor e do salgueiro". Elas vestiam se com quimonos de seda luxuosos e buscavam a perfeição por meio da maquilhagem e das maneiras educadíssimas. No seu auge, no século 19, eram precursoras da moda e da cultura popular - as top models de sua época. Mas, quando a cultura ocidental tomou o Japão de assalto no pós-guerra, as gueixas ficaram congeladas no tempo, usando a tradição como seu maior atractivo. Uma gueixa (nome que significa "pessoa que vive pela arte") estuda a cerimónia do chá, caligrafia e um instrumento chamado shamisen e ensaia apresentações de dança - a única apresentação pública de seus talentos. Nesses shows extravagantes, elas se movem em uma série de poses elegantes e contidas, demonstrando pouca exuberância. Mas a arte que revelam em festas é outro assunto. Quando os homens se sentam para jantar, as gueixas ajoelham-se a seu lado, sorriem, oferecem quitutes e servem saquê. Quando o álcool começa a fazer efeito, as restrições e as línguas soltam-se. As gueixas brincam, tocam shamisen e cantam. Numa cultura obcecada pelo trabalho, fornecem a ilusão do romance para gente com raro acesso à emoção verdadeira. Apesar de seus dons artísticos, os japoneses dizem apreciar mais sua capacidade de conversar. Elas sabem sobre os factos mais recentes e estão a par das fofocas do mundo do teatro e do sumô. Conhecem o ego masculino e cuidam dele com se cultivassem um jardim. As gueixas e suas aprendizas, conhecidas como maiko têm uma vida agitada e cara.
Apesar de bom salário e fartas gorjetas, boa parte vai para a compra de quimonos, que podem custar milhares de dólares. Como elas não podem casar, muitas arranjam amantes mais velhos para obter apoio financeiro e emocional. Com o tempo, as jovens maikos costumam abandonar a rigidez da vida das gueixas, por isso a idade média das profissionais, que hoje em dia formam um grupo de menos de mil pessoas, gira em torno dos 40 anos.

Japonismo
Com a abertura dos portos japoneses a partir de 1850 e o aumento da presença de estrangeiros, americanos e europeus começaram a visitar o Japão e a efectuar contactos em primeira-mão com a sua arte e cultura. Repórteres, ensaístas e fotógrafos enviavam as suas impressões para a Europa. Uma cultura que estivera inacessível, praticamente ignorada durante mais de duzentos e cinquenta anos, tornou-se de súbito próxima e espantosamente diferente. A apreciação da arte japonesa na Europa foi estimulada por uma exposição em Londres, em 1862. Em 1867, em Paris, seguiu-se uma Exposição Universal que apresentava a arte japonesa e incluía cem ukiyo-e de Hiroshige e outros. Foram os ukiyo-e que atraíram particularmente o interesse de artistas e intelectuais. Consta que Félix Bracquemond iniciou a moda da arte japonesa quando encontrou uma cópia dos desenhos de Hokusai, Manga, em 1856, num caixote na loja do pintor de gravuras Delâtre e começou a fazer cópias a partir desse álbum. Cedo os irmãos Goncourt, Zola, Degas, Manet, Whistler e muitos outros competiam com a colecção de arte nipônica. Este surto de entusiasmo pelas gravuras japonesas e pela cultura em geral foi denominado de "japonismo" pelo crítico de arte francês Philippe Burty, em 1872. Vincent van Gogh era um admirador dos artistas japoneses de ukiyo-e. Ficou fascinado com a forma do traço, da cor e da perspectiva e da mestria com que compunham a figura e a paisagem. Este retrato do negociante de arte Julien Tanguy, pintado em 1887, mostra-nos o negociante parisiense tendo por detrás uma série de gravuras japonesas. Mais tarde, Van Gogh recuperou alguns dos motivos das gravuras para as suas paisagens e tipos regionais. Claude Monet (1840-1926) tomou contacto pela primeira vez com ukiyo-e nos anos 60 (1860) e começou a sua colecção a partir de 1871, com centenas de gravuras, principalmente de Utamaro, Hokusai e Hiroshige, muitas das quais pendurou na sua casa em Giverny. Monet ficou impressionado com a maestria com que criavam a atmosfera e a luz. O famoso jardim em Giverny, com os seus nenúfares, foi classificado como pertencendo ao estilo japonês. Abaixo: Mary Cassat (1845-1926) tomou conhecimento de ukiyo-e através de entusiastas como Degas e Pissarro e também com a visita à exposição de xilogravuras na École des Beaux-Arts na primavera de 1890, onde eram exibidas 89 gravuras de Utamaro. Nesta pintura, que faz parte de uma série chamada "A Carta", a influência da oiran (cortesã) Hinzauru de Utamaro é evidente. No entanto, Cassat transformou a cortesã de alto nível social em uma mulher burguesa. O papel com as suas conotações com o ato amoroso em Utamaro reaparece desta vez como uma carta de amor. À esquerda: entre os impressionistas, Toulosse Lautrec foi um dos que captou o espírito do mundo flutuante dos pintores de gravuras nipónicos, a composição plana das figuras, o destaque do primeiro plano, a perspectiva angulosa transformaram estas pinturas em cartazes da vida mundana parisiense, como o seu Divan japonais, de 1893.

Jardins Japoneses
Os jardins japoneses e os seus desenhos intrigaram e foram objecto da curiosidade dos visitantes ocidentais desde que os portugueses visitaram o Japão pela primeira vez, no século XVI. A arte japonesa do arranjo de jardins é antiga. Os jardins de pedra e sem água inspirados em Zen são bastante conhecidos, mas não são a única espécie de jardins nipónicos, pois já existia um conceito estético do jardim muito antes de terem sido introduzidos no Japão os ensinamentos Zen. Este movimento apenas acrescentou novas dimensões estéticas. Os jardins do século VII e do século VIII tinham elementos como lagos artificiais, pontes e lanternas à semelhança dos chineses e coreanos, ou a noção budista da montanha Sumeru como o centro do cosmo. O palácio imperial e as residências da nobreza do período Heian eram construídos sobre lagos artificiais com pavilhões de pesca num cenário de montanha. No período Kamakura, um grupo de guerreiros das províncias, bem como de nobres e de monges, começou a mostrar interesse na construção de jardins. O primeiro depoimento crítico do arranjo do jardim japonês, o Sakuteiki (Ensaio sobre a Concepção de Jardins), foi escrito por Tachibana Toshitsuna, no início do período Kamakura (1185-1333). A água surge como um elemento característico dos jardins e é apresentada sob as mais diversas formas. Em muitos casos, um simples regato pode sugerir a ravina de uma montanha, ao passo que uma ilha de pinheiros num lago artificial pode sugerir Matsushima ou outro local belo. Nos jardins Zen, a gravilha branca as rochas sugerem um rio a correr, um oceano ou, a água pode provocar um som fresco e calmo ao cair dentro ou sobre uma bacia de pedra. Entre os designers de jardins mais famosos da história do Japão conta-se o monge Zen Muso Soseki, do século XIV (1275-1351). Até os 50 anos, Muso viveu como um monge mendicante à procura da "luz". Ao longo de suas viagens fundou vários pequenos mosteiros nas montanhas, com jardins integrados no cenário natural. Mais tarde foi protegido pelos shoguns Ashikaga e pelo imperador Godaigo e nomeado abade dos mosteiros de Tenryuji e de Rinsenji, em Kyoto, onde concebeu maravilhosos jardins. Já no fim da vida retirou-se para o pequeno templo de Saihoji, onde criou um jardim utilizando o musgo como elemento principal e incorporando o ideal chinês de "dez visões maravilhosas".
 

Paulo Leite

Moderador Honorário
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Kabuki
Os dois teatros populares mais importantes para os habitantes das cidades no período Edo eram o Bunraku e o Kabuki. Durante algumas décadas, no final do século XVII e princípio do século XVIII, o teatro Bunraku eclipsou o teatro Kabuki. Contudo, em meados do século XVII, principalmente em Edo eram os teatros Kabuki que arrastavam multidões. Os actores famosos atraíam seus admiradores, em muitos casos os cortesãos e as senhoras do palácio do shogun. Durante o século XVII, os actores Kabuki tiveram que viver às próprias custas quando o xogunato baniu as mulheres (Onna Kabuki) do teatro, em 1629, as quais foram rapidamente substituídas por rapazes kabuki (Wakashu Kabuki). Quando foi condenado como socialmente indecoroso em 1652, todo os papéis passaram a ser representados por homens maduros (Yaro Kabuki). O Kabuki permaneceu sob a regulamentação do xogunato como uma forma necessário de entretenimento popular perversa, imoral e que não podia ser banida. Na realidade, este controle provavelmente contribuiu para o amadurecimento do Kabuki como expressão dramática. Os actores mais maduros, desprovidos dos atractivos e do aspecto cativante das mulheres ou dos rapazes, tinham de representar a aprofundar e emoção dramática para agradar ao público. Durante a era Genroku, depois de 1860, o teatro Kabuki evoluiu rapidamente e sátiras simples criadas pelos actores abriram caminho para peças mais complexas escritas por dramaturgos.
Nas primeiras décadas do século XVIII, o teatro de marionetas ultrapassou o teatro Kabuki na estima popular, contudo, os actores Kabuki voltaram a ganhar o apreço do público através das peças e das diversas técnicas teatrais do teatro de marionetas. O Kabuki era um acontecimento social e um entretenimento que durava o dia inteiro, onde se comia, bebia, conversava e se lançava-se olhares as beldades nas galerias durante a representação. No teatro Kabuki, os complementos como as perucas e a maquilhagem são uma parte fundamental do papel. Em peças históricas como Shibaruku, a maquilhagem é espessa, elaborada, fantástica como uma máscara, enquanto que em dramas do quotidiano é ligeira e realista. Como no teatro Nô, os atores Kabuki provêm a maior parte das vezes de famílias de actores e começam a ensaiar desde muito novos, aprendendo não só os papéis, mas todos os movimentos do Kabuki, figurinos e maquilhagem. Uma grande parte da popularidade do teatro Kabuki provém do seu maravilhoso e imponente cenário e dos figurinos coloridos.

Shodo
O Shodo é a arte milenar que utiliza os caracteres da caligrafia japonesa como forma de expressão artística. "Sho" significa caligrafia, escrita e "Do" quer dizer caminho. Para os japoneses, a caligrafia tornou-se muito mais que um meio de comunicação. Ao longo da história do oriente, a escrita transformou-se em actividade artística, religiosa e até uma maneira de meditação. A arte da caligrafia atravessou mais de 1,5 mil anos de história para sobreviver em pleno início de século XXI através da prática de centenas de milhares de pessoas no Japão e outros países asiáticos. As escolas japonesas mantêm o shodo no currículo escolar e os concursos promovidos anualmente pelo jornal Mainichi incentivam a disseminação da arte entre praticantes de todas as idades. No Brasil, um selecto grupo de professores e cerca de 500 pessoas praticam o shodo. Tinta à base de carvão, pincéis e papel branco são as matérias-primas básicas do praticante de shodo. Como em todas as artes, há padrões estéticos e técnicos, sobretudo para o iniciante, que começa reproduzindo kanjis, os ideogramas, e katakanas, a escrita mais simples, usada para palavras estrangeiras. As primeiras lições do shodo limitam-se à reprodução de katakanas. Em seguida, o iniciante avança para os kanjis em estilo kaisho (formas quadradas e traços mais estáticos). Mais adiante, o praticante começa a desenhar nos estilos gyosho e sosho (formas cursivas e traços mais sequenciais). Ainda há outros dois estilos de caligrafia utilizados no shodo: o tensho e o reisho, que são formas mais primitivas de escrita. Os estilos antigos são usados nos carimbos produzidos pelos artistas de shodo. O carimbo é uma espécie de assinatura das obras, geralmente batido com tinta vermelha. O material utilizado para a prática de shodo inclui a tinta negra à base de carvão, o sumi, também usada em outras artes, como o sumie; pincéis com cerdas de animais como carneiro, coelho, cavalo e rena e o washi, o papel japonês, produzido com fibra de bambu, palha de arroz ou bagaço de bananeira. Uma das características da caligrafia japonesa é que as pinceladas requerem habilidade e concentração, razão pela qual a arte apresenta um certo grau de dificuldade. À medida que vai avançando nos treinos, o praticante pode criar um estilo próprio e dar vazão à criatividade e à imaginação. A expressão dos ideogramas diferem de acordo com quem escreve, o momento em que se escreve e o que se pretende exprimir. Em níveis mais avançados, a individualidade do autor vem à tona através da forma dos traços e do conjunto, não se prendendo às regras da ortografia oficial.

Estilos
A caligrafia japonesa compreende seis estilos diferentes. O tensho é a escrita mais primitiva do oriente. O reisho surgiu a partir da simplificação do tensho. O kaisho é o estilo no qual os caracteres são escritos com linhas rectas, para facilitar a leitura. No gyosho e no sosho, o mais importante é a expressão estética. O kana, que surgiu da simplificação do kanji, utiliza formas mais simples.
A Milenar História da Caligrafia:
1300 a.C. - origem da escrita chinesa na Dinastia Yin.
221 a.C. - padronização da escrita (denominada tensho) em escala nacional na China da Dinastia Shang.
202 a.C. a 220 d.C. - predomínio do reisho, que era uma simplificação do tensho durante a dinastia Han.
200 d.C. - valorização da caligrafia como arte no final da Dinastia Han. Surgimento do shodo. Introdução da escrita de origem chinesa no Japão.
229 d.C. a 681 d.C. - surgimento de três estilos, o kaisho, o sosho e o gyosho, que deram origem mais tarde ao kanji durante a sexta dinastia.
681 d.C. a 908 d.C. - arte da caligrafia ganha importância na China durante a Dinastia Tang porque constituía parte obrigatória da cultura dos intelectuais e das classes superiores.
794 d.C. a 1192 d.C. - criação do kana no Japão no período Heian. Difusão do shodo na cultura japonesa.
1192 d.C. até o século XX - shodo ganha importância no Japão, integrando as principais manifestações religiosas, culturais e artísticas.
Após 1950 - popularização do shodo no Japão. Realização de concursos e exposições. Diversificação de estilos e manifestações.

Sumiê
O suiboku-ga, mais conhecido como sumiê (palavra que significa "pintura a tinta") consiste em uma técnica de pintura em preto e branco originada em mosteiros budistas da China, na época da dinastia Sung (960-1274). Trazida ao Japão pelos monges zen a partir do século XIV, o sumiê possuía temáticas religiosas que representavam elementos budistas, como o círculo, que indicava o vazio interior, ou da natureza, como as rochas e a água. Para o artista, o mais importante é retratar a essência do elemento a ser pintado e não a mera reprodução de sua aparência exterior. A partir do século XV, temas como pássaros, flores e paisagens também passaram a ser retratados. Alguns dos artistas mais importantes do sumiê são desse período, com destaque para Sesshu, o primeiro a criar uma linguagem peculiarmente japonesa para o estilo. Entre a Era Muromachi e a Azuchi-Momoyama surgiram pintores significativos, como Sesson Shoukei, Soukei Oguri, Oukyo Maruyama e Eitoku Kano. O lendário samurai Musashi Miyamoto, também foi um expoente do sumiê. Autodidata, ele começou a pintar em 1640, depois de percorrer inúmeros templos, tradicionais redutos do sumiê. O sumiê não está restrito somente às obras do passado. A técnica continua a ser usada por pintores contemporâneos, conquistando adeptos em todo o mundo. A maior dificuldade encontrada pelos artistas de hoje é a originalidade, ou seja, a busca por temas ainda não explorados e novas maneiras de expressar as temáticas tradicionais.
 

Paulo Leite

Moderador Honorário
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Como o sumiê possui traços semelhantes aos da caligrafia chinesa, muitos materiais utilizados na técnica podem ser aproveitados para a pintura, como o pote para colocar a tinta (suzuri), o pincel (fude), o papel (kami ou washi) e a tinta (sumi), esta última feita de carvão diluído em água. Os pincéis são as ferramentas mais importantes, pois a qualidade da pintura depende deles. Existe uma infinidade de pincéis, feitos com variados tipos de pelos, porém, há três categorias básicas: o grosso serve para desenhar, o suave para colorir e os dois usados juntos. O artista deve se concentrar no manejo do pincel. É um trabalho que requer muita atenção, pois a tinta não pode ser removida do papel nem alterada. O papel, fabricado manualmente, é geralmente feito do arroz, mas pode vir também da polpa do bambu. O papel mais comum é o xuan, de superfície branca, leve e absorvente. Utiliza-se também o papel de alumínio e cola, que possui uma superfície menos absorvente, sendo adequado para trabalhos com linhas finas.

Os Quatro Temas Nobres
A arte do sumiê possui alguns temas recorrentes. Os mais importantes são os quatros nobres (shikunshi), que evidenciam a profunda ligação com a natureza. São eles: a orquídea selvagem, o bambu, a ameixeira e o crisântemo. Considerada a mãe da pintura sumiê, a orquídea selvagem representa o verão, um espírito jovial, símbolo da graça e das virtudes femininas. A orquídea selvagem cresce no lugar considerado o mais inspirador de todos: onde a montanha encontra a água. O bambu é o pai da pintura sumiê. Caracteriza a simplicidade da vida e o espírito humilde, qualidades valorizadas no zen-budismo. Ele representa o inverno e é o tema mais pintado no oriente. Seu tronco simboliza a força e as virtudes do sexo masculino, reflectindo um senso de equilíbrio perfeito. Sua rectidão é comparada ao carácter íntegro e o tronco firme lembra a estabilidade inabalável, apesar de flexível. O seu centro é oco, remetendo ao sentido de vazio interior do zen. No frio mês de Janeiro, a ameixeira floresce, trazendo com ela o símbolo da esperança e da tolerância. Expressa a renovação e a continuidade da vida. O seu tronco retorcido inspira dureza, especialmente na existência árida do começo do inverno. Ainda assim, a ameixeira guarda a promessa da primavera e confirma-se quando os primeiros brotos delicados aparecem a cada Janeiro, em tempo de saudar o ano novo. Finalmente, a florescência tardia do crisântemo, cujas flores antecipam a chegada do inverno, desafiam o frio e triunfam no Outono.
Por sua perseverança e resignação, a flor representa qualidades como lealdade e modéstia. Devido à sua forma circular, é considerado o símbolo da vida familiar. Além de suas virtudes, o crisântemo é famoso por ser o emblema da família imperial japonesa desde o século X.

Teatro Nô
Actualmente os visitantes do Japão podem escolher entre o teatro de vanguarda ou o teatro tradicional. O teatro moderno experimental floresce a par das velhas formas teatrais: Nô, Kyogen, Bunraku e Kabuki. Estes derivam de uma mistura das primeiras danças e de representações dramáticas e atingiram uma grande intensidade dramática através de Kan'ami e Zeami, no período medieval. O Nô é um drama musical com danças e máscaras. A maior parte das peças Nô tem como tema um dramático encontro entre um espírito perturbado (shite) e um sacerdote ou observador (waki). Com este encontro o espírito pode encontrar alívio espiritual, embora o público fique sempre com a sensação de que o encontro possa se repetir. O Nô não é representado, mas "dançado", e os momentos de grande intensidade são expressos através das danças, a princípio lenta e solenemente, aumentando depois até uma intensidade controlada. A dança e o drama são acompanhados por uma flauta, por tambores e por cânticos. Os actores, principalmente o shite, usam máscaras e ricos roupões de brocado. As máscaras assinalam personagens tipo ou mais frequentemente estados de espírito. Os actores distorcem a voz, conferindo-lhe uma entonação extra terrena e expressam as suas emoções através do movimento. A princípio o teatro Nô era representado ao ar livre e nos templos. O moderno Nô no palco surgiu no período Edo. Todas as peças são representadas com os objectos mais simples e o cenário de fundo é um pinheiro antigo. O flautista e o tocador de tambores sentam-se atrás do palco. O coro situa-se no palco à esquerda dos actores.


CURIOSIDADES

Bandeira
O círculo vermelho que simboliza o Sol
A bandeira nacional do Japão é chamada de Hinomaru, palavra que significa literalmente "círculo do Sol". Não há certeza quanto ao primeiro aparecimento deste símbolo, embora já no século XII, durante as lutas por poder entre os clãs samurais Taira e Minamoto, os guerreiros tinham a predilecção por desenhar círculos solares em leques desdobráveis, conhecidos como gunsen. Nos séculos XV e XVI, quando figuras militares viviam em esferas de grande influência, o Hinomaru era amplamente utilizado como insígnia militar. Numa pintura antiga que descreve a batalha de Sekigahara, ocorrida em 1600, pode-se ver uma força militar cujas inúmeras bandeiras compartilham o Hinomaru. Apesar do círculo vermelho em um fundo branco ser o mais comum, em épocas passadas também existiam bandeiras com o círculo dourado em um fundo azul escuro.
A bandeira do círculo do Sol em barcos que transportavam o shogun
A utilização do Hinomaru como símbolo da nação japonesa começou com Toyotomi Hideyoshi, no século XVI e Tokugawa Ieyasu no século XVII, através de bandeiras colocadas em barcos enviados ao exterior. Uma pintura com cenas da cidade de Edo (actual Tóquio) do século XVII mostra uma bandeira Hinomaru sendo usada como símbolo de um navio que transportava o shogun. Durante o período de isolamento japonês (1639-1854), o comércio e qualquer outro tipo de relações com nações estrangeiras, excepto China, Coreia e Holanda, foram proibidos, mas depois de 1854, quando o shogunato Tokugawa começou a comercializar com outros países (incluindo os Estados Unidos e a Rússia), os navios mercantes japoneses fizeram uso novamente da bandeira Hinomaru.Em 1854 o shogunato Tokugawa aceitou a proposta de Shimazu Nariakira, do domínio de Satsuma, e ficou decidido que os barcos japoneses usariam "a bandeira do círculo vermelho sobre o fundo branco", para não serem confundidos com vassalos estrangeiros. A bandeira Hinomaru foi hasteada no Karin Maru, o navio oficial que carregava os oficiais japoneses enviados aos Estados Unidos em 1860.
O Hinomaru como a bandeira do Japão moderno
Em 1868, depois que o clã Tokugawa perdeu o poder político, o governo Meiji se estabeleceu. De acordo com a proclamação número 57, elaborada pelo grande conselho de Estado (Daijokan) em 27 de Janeiro de 1870, o Hinomaru foi reconhecido oficialmente como a bandeira do Japão para uso em expedições comerciais. O Hinomaru foi utilizado em prédios governamentais pela primeira vez em 1872, e a partir desse ano o calendário lunar foi substituído pelo calendário solar. Naquela época, inúmeras famílias de cidadãos comuns e estabelecimentos não governamentais, também expressaram o desejo de hastear o Hinomaru nos feriados. Nos anos subsequentes, o número crescente de notificações e documentos com pedidos semelhantes, reforçou o status do Hinomaru como a bandeira que simboliza o Japão.
A outra bandeira
Durante a Segunda Guerra Mundial uma outra bandeira japonesa era hasteada nas bases militares e utilizadas pelos soldados, de modo que ficou em bastante evidência, pois até hoje permanece no imaginário das pessoas. Trata-se da bandeira conhecida como insígnia naval, ou bandeira do Sol nascente. A bandeira naval possui 16 raios que se estendem do Sol às bordas da bandeira, foi introduzida em 1889 e utilizada até o final da Segunda Guerra Mundial. Muitos podem concluir erroneamente que a bandeira naval serviu como uma espécie de protótipo para a bandeira Hinomaru, o que é falso pois ambas as bandeiras já existiam na época do conflito mundial. A insígnia naval foi banida pelo Tratado de São Francisco, o qual proibia o Japão de ter as suas próprias forças armadas, mas em 1952 começou a ser utilizada para representar as forças de auto-defesa. A força naval readoptou-a em 1954.
 

Paulo Leite

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Hino
O hino japonês é famoso mundialmente por ser o hino nacional mais curto, pois possui apenas uma estrofe, que é cantada três vezes. O kimigayo, como é conhecido, teve sua origem no ano 905, durante a era Heian, quando foi publicado no primeiro livro de canções japonesas, o Kokinwakashu. A letra do hino originalmente celebrava a longevidade de idosos e autoridades. No ano de 1013 a letra sofreu uma alteração, mas foi na era Meiji, no ano de 1888, que a nação adoptou o hino oficialmente e o mesmo tornou-se uma música de louvor ao imperador, considerado uma figura divina, descendente dos deuses. Depois da Segunda Guerra Mundial o hino transformou-se em uma celebração ao povo japonês. A melodia foi composta por Hiromori Hayashi.
A letra do hino é:Kimiga yo wa Chiyo ni yachiyo ni Sazare ishi no Iwao to Nari te Koke no musu made

Que o teu reinado de paz dure bastante!
Que dure por centenas de anos
Até que essa pequena pedra se torne uma rocha maciça





e agora ..... これに従うことしたいですか?

Espero que gostem de historia....:):)

paulo
 
Estado
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